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Escrevi uma carta. Diferente, com escritas penosas, e significativas. Enfiei-me em meu quarto, e dali só saia tarde da noite, após achar que era o suficiente daquele dia. Tanto escrevi, e re-escrevi. Errei, e seus concertos me custaram noites. Li poemas, e tiras romanticas para ter uma noção do que eu faria no próximo dia. Minhas notas caíram, e na época, eu precisava delas com abundância. Mas eu nem ligava, eu amava e meu objetivo estava traçado. Eu não esperava mandá-la tão cedo, afinal, eu tinha certeza do meu limite de tempo. E demoraria o necessário para alcançar a perfeição.
O tempo passava. Os dias me pareciam anos, as palavras me secavam, e quando escrevia, minhas memórias sumiam. Apenas ele, e só ele permanecia intacto em minha mente. E isso que me motivava a continuar escrevendo. Calos nos meus dedos, horrores de machucados com os lápis descascado, canetas sem tinta toda hora, fome, desgosto, tristeza, desmotivação, má intepretação dos outros... É, coisas ruim vieram a acontecer. Mas nada impossível. Eu terminaria a carta.
Passou-se um ano e meio, e eu já estava terminando meu árduo trabalho. Faltavam-me as últimas palavras. Eu escrevi a carta toda, e o fim dela me foi um desafio. O que eu faria em questão a mais preciosa parte da carta? Eu queria que ele entendesse todos os meus sentimentos em simples palavras, finais e definitivas. O que eu queria que ele entendesse, seriam apenas essas palavras. O resto da carta... Era só o resto.
Eu não sabia exatamente onde ele morava, o garoto era um segredo à milhas de distância de mim. Escrevi apenas o que sabia no destinatário, e mandei pelo correio sem ninguém saber. Essa carta existia apenas pra mim, e logo para ele. E apesar de que eu o via todos os dias, nunca falei com o mesmo. Ele não sabia que eu existia, e para mim, ele era mais que uma vida.
Não sei o que tanto me encantava nele. Seu sorriso, seus olhos, seu jeito, seus habitos, tudo, literalmente tudo nele era perfeito pra mim. Deus havia alcançado a perfeição em uma pessoa, para os meus olhos humildes e solitários. Sempre fui fria e sozinha, apenas eu e meus sentimentos incandescentes, como um vulcão prestes a entrar em erupção. Mas, eu não conseguia entrar em erupção, não conseguia falar pra ele o que sentia, não conseguia falar o que eu pensava, não falava com ele em hipótese alguma. Eu o amava mais que minha própria vida. Claro que não é uma verdade, mas, é o que parecia.
Eu esperei anciosamente pela resposta dele, todos os dias após a carta ter sido enviada. Mas, como antes, ele nem olhava na minha cara. Eu achei isso estranho demais, e sem mais delongas fui ao correio. E a resposta foi a mais simples: ??Sua carta já foi mandada há duas semanas, mas como é longe, talvez tenha demorado para chegar.?? A moça foi bem simpática, mas me deixou preocupada com a forma em que falava.
O que eu não sabia, era que havia errado o endereço, e haviam mandado minha preciosa carta para Eslováquia, na Europa!! E naquela hora eu não lembrava o que tinha escrito no destinatário, não exatamente! Eu fiquei desesperada! Me iludi e fui enganada! Eu não sabia o que fazer, estava tensa. Outra pessoa leria minha carta, leria meu nome, saberia meus sentimentos. Afinal, eles podiam traduzir a carta. Oh merda, o que eu ia fazer? Era exatamente isso que eu pensava e fiquei desesperada mesmo. O assunto me deixou abalada, e nem olhar pra ele mais eu olhava.
Mais um ano se passou. E eu mesclei meus sentimentos com a paisagem, e os fui esquecendo, mas não os perdendo. Eu havia crescido muito, e mudado minha forma de pensar e fazer as coisas, meus gostos e meu estilo. Eu me transformei. E me via antes, diferente do que me imaginava hoje. E com o tempo, percebi sua atenção voltada a mim. Toda hora me olhando, me estudando. Com 16 anos de idade, ambos trocávamos olhares cálidos. Mas mesmo assim, o meu vulcão estava longe da erupção.
Um dia, ouvi meu nome numa conversa, e disfarcei estar estudando para prestar atenção. Acho que eles nem sabiam que aquele nome era meu. Mas contavam uma história interessante, e não entendi os motivos para o meu nome estar naquela conversa. Apenas esperei terminarem os comentários alheios, para perguntar o que havia acontecido de fato, e descobrir o ??motivo??.
- Oi, tudo bem? ? Falei para o grupo do nono ano. ? Eu ouvi uma parte da história que vocês contaram, e achei interessante, será que podiam me contar? ? Pedi gentilmente. Percebi seus olhares duvidosos. E com razão, afinal, eles não me conheciam, nunca me viram nem nada do tipo. Mas foram atenciosos e contaram-me toda a história.
??Uma garota um dia mandou uma carta, cheia de carinho e lindas palavras. Demonstrou todo o seu sentimento escondido há tempos naquele papel. A carta, sem querer foi destinada à outro lugar, longe do esperado. Uma senhora simples, recebeu essa carta, e a leu com muito gosto. Mandou então, para o seu irmão. O mesmo leu, e repassou a carta para outro parente. Seu parente leu, e mandou para um conhecido. O mesmo leu, e mandou para um amigo. Todos leram o destinatário, e passavam de pessoa em pessoa, para descobrirem onde é esse lugar. E para você ter uma noção, a pequena carta foi conservada por todos que a pegaram, e a leram. A mesma, passou praticamente pelo mundo todo. E por incrível que pareça, passou de mão em mão com o mesmo objetivo. Mas, a carta ainda não chegou ao destinatário, e todos crêem que esse momento chegará logo. Essa menina misteriosa, ficou conhecida como ??a menina que amava nas cartas??.
Essa história me comoveu. E me passou pela cabeça a carta que eu havia feito há um ano, que havia ido para Eslováquia, e eu pensei que essa menina poderia ser eu, até a ficha cair, e instantâneamente eu me chamar de idiota, pelo pensamente hipócrita. Mas, por um lado, aquilo fazia mesmo sentido. E eu tinha ouvido meu nome naquela conversa. Será que...? Sim, era isso que eu pensava. E eu continuei pensando desse jeito durante as duas seguintes semanas. Isso me incomodava muito.
Enfim, o tempo passou. E um dia, na escola, me excluiram de tudo. Percebi comentários grosseiros, a atenção praticamente toda voltada a mim. Eu já não queria estar ali naquele dia. No fim da aula, o Takashima ? o garoto pelo qual eu sou apaixonada ? veio falar comigo, acompanhado de um papel.
- Oi... ? Ele falou tenso, respirando fundo, olhando para o papel e para mim.
- Oi, Takashima. ? Essa era a primeira vez que eu falava com ele. Realmente, ele era lindo, e gentil. E meu amor por ele voltara repentinamente. E com isso, fiquei vermelha instantâneamente. ? Algum problema? ? Perguntei colocando as mãos fechadas nos bolsos largos da calça.
- Eu recebi sua carta. ? Ele falou, ficando em silêncio absoluto.
- Minha carta... Então, eu... ? Simplesmente gaguejei.
- Por que não veio falar comigo? ? Perguntou sério. Um onda de culpa me tomou completamente.
- E-eu... ? Murmurei, mas ele ouviu. Eu não sabia o que fazer, estava como uma estátua na frente dos olhos mais lindos do mundo, voltados a mim.
- Eu também não fui falar com você. ? Admitiu. E quando aquelas palavras entraram em meus ouvidos, meu coração batia forte, meu rosto estava quente e provavelmente corado. Tentei virar de lado, mas nada adiantou. ? Eu não acreditei no que eu li aqui...
- T-Takashim... ? Eu falei seu nome pausadamente. Mas, ele começou a se aproximar de mim, e minhas pulsações foram a um milhão.
- Você é a menina que amava nas cartas que todos tão comentando. ? Ele foi se aproximando. ? Vou respondê-la aqui então, tudo bem? ? Ele continuou se aproximando lentamente do meu rosto. E nossos lábios à milímetros de distancia. Sua respiração agora estava árida, e eu quase derretendo ali.
- Tudo bem, claro, eu...
- Te amo também.