Harvest Moon Meus Amigos da Cidade Mineral

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    Capítulo 10

    A fazendeira desorientada

    - GAROTA, CADÊ OS MEUS PRODUTOS? ? urrou Zack.

    - Desculpe-me, Zack, por favor. Mas é que eu acabei de plantar as sementes de pepino e não tenho nada pra vender ? disse Julie, tentando se desculpar e se afastando dele.

    - Eu não compro só frutas e legumes, Julie ? ele explicou, agora calmamente. ? Você também pode me vender produtos coletados da própria natureza, sabe, como estamos na primavera, você pode encontrar galhos de bambu, erva azul, erva amarela e erva branca. Além de mel da sua árvore.

    - Souberam do que aconteceu com Manna e Duke na noite passada? ? perguntou o Prefeito a Julie, Anna, Won e Mary, que estavam em frente ao casebre da fazendeira.

    - Manna e Duke? ? perguntou Anna, surpresa e chocada. ? O quê?

    - Os dois brigaram na Hospedaria do Doug e? bom, ele está vivendo na estalagem agora ? disse o Prefeito.

    - Julie! Julie? ? Ann gritou ao chegar ? O que você está esperando para começar a coleta, hein menina? Vamos!

    - Já vai! ? gritou uma mulher de dentro da casa, pouco tempo depois da batida à porta. Ao abrir, Sasha sorriu para Anna ao vê-la. ? Até que enfim! Achei que não viesse, entre.

    - Eu viria mais cedo se soubesse o que tinha acontecido ? disse Anna, subindo as escadas atrás de Sasha, com pressa. ? E como ela está?

    - Nada bem. Foi a pior briga deles. Eles quase se bateram ? disse Sasha baixinho pouco antes de abrir a porta do quarto de Manna e entrar. ? Você tem uma visita ? disse, sorridente.

    - Quem? ? perguntou a voz chorosa de Manna e Anna pôde ouvir ela soar o nariz e soluçar uma vez.

    - Amiga! ? Anna correu para a cama de casal e abraçou Manna. Instantaneamente, seus olhos lacrimejaram e as duas começaram a chorar.

    Sasha olhou para elas, sentindo um aperto no coração. Não lhe agrava ver tal situação acontecendo com uma de suas amigas. Lembrava de tudo que haviam passado juntas na adolescência, os planos que traçaram, e agora via as três tendo que assumir suas difíceis vidas adultas e aquele desejo de voltar aos tempos de juventude, que às vezes ardia em seu coração, só crescia dentro dela.

    - Como assim não se lembra? ? perguntou Ann a Julie, impaciente e frustrada.

    - Simplesmente não lembro. Não dá pra justificar ? respondeu a jovem loira, observando seu cachorrinho tropeçando nas próprias patinhas miúdas ao tentar perseguir uma borboleta. ? Ele falou algo sobre ervas e mel da minha árvore.

    Ann e Julie estavam passando pela cabana de Gotz à procura de coisas para sua coleta, mas até agora, o cesto de Ann só estava cheio de um monte de capim, folhas e ramos que elas nem conheciam e pegaram por ali.

    - Mel da sua árvore? ? perguntou Ann, intrigada. ? Tem mel lá?

    - Aham. Mas eu não seria idiota de tentar tirar mel de lá?

    - Hum?a gente podia tentar. Sabe, a Mary tem muitos livros úteis sobre esse tipo de coisa. Se a gente fosse lá e?

    A porta da cabana de Gotz abriu com estrépito e ele saiu dela com seu ar rabugento de sempre. Ao vê-las, Julie pensou tê-lo visto sorrir, mas o bigode e a cara sempre fechada dele impediram que ela tirasse conclusões mais claras.

    - Bom-dia, meninas ? ele disse e elas responderam. Então ele olhou para o cachorrinho que começara a latir ao ouvir a voz dele. ? Parece que seu pulguento acha que manda agora que tem uma dona.

    - Digamos apenas que meu lindinho não precisa mais das suas toras ? disse Julie, orgulhosa ao ver seu cachorrinho latindo para ele. Na última vez que encontrara com Gotz, ele havia sido a pessoa mais grosseira do mundo, então não podia dizer que sentia grande apreço por ele ?, ele tem uma casa agora, sabe.

    - Bom mesmo ? ele voltou a caminhar e as meninas foram com ele. ? E o que vocês duas estão fazendo aqui uma hora dessas?

    - Estou coletando coisas pra vender ?pro? Zack e Ann ?tá? me ajudando.

    - Hum? ? ele espiou a cesta por cima do ombro de Julie. ? Vai conseguir um bom preço com tanto mato inútil ? disse, sarcástico.

    - Ah valeu! ? disse Julie, decepcionada.

    - É que a dona Julie aqui ? Ann apontou a fazendeira, olhando feio para sua nova amiga ? não lembra das instruções que Zack passou pra ela.

    - É, nossa fazendeira é mesmo um prodígio da cidade grande ? disse Gotz zombando dela. ? Mas eu esperava que você soubesse alguma coisa, Ann. Tantos anos trabalhando no botequim do seu pai e não aprendeu nada?

    - Não é um botequim, Gotz ? disse Ann, sentindo-se ofendida. ? E eu sempre trabalhei atrás de um balcão, não fuçando ervas por aí! Bem que você podia nos ajudar, afinal vive enfurnado nesse matagal?

    Ele lançou um olhar feio para elas e resmungou alguma coisa. Julie já imaginava que ele não fosse dar alguma ajuda, quando ele voltou a falar.

    - Olha, eu tenho toras pra cortar e deixar prontas como todo bom lenhador?

    - Mas eu vi você reclamando outro dia que nem ?tá? conseguindo trabalho! ? disse Ann num tom choroso e ao mesmo tempo indelicado.

    - Garota, isso é problema meu ? disse Gotz, sério e ainda mais rabugento.

    Não era difícil perceber ele havia ficado profundamente ofendido com o comentário de Ann, e Julie tentou aliviar a situação:

    - Gotz, por favor, nos desculpe, mas ? ela pegou o cesto de Ann e mostrou pra ele ? pelo menos diga o que dá pra vender daqui.

    - Tenham um bom dia ? disse ele e, sem responder, apenas continuou a caminhar em direção ao Lago da Mina, deixando as duas para trás e sem ajuda.

    Como Ann mesmo disse, ele devia mesmo estar com dificuldades em arrumar trabalho e Julie sentiu pena dele misturada com um pouco de raiva. Embora ele parecesse tão sentimental quando uma rocha, Julie imaginou que aquilo devia ser somente uma máscara para um homem solitário que apenas se considerava auto-suficiente.

    - Grosso! ? disse Ann, revoltada. ? O que vamos fazer?

    - Ué ? disse Julie ? O que íamos fazer antes: pegar um livro com a Mary.

    - Eu estava na Julie ? contou Anna, sentada diante de Manna na cama ? quando soube o que aconteceu senão teria vindo mais cedo.

    - Ela te contou? ? perguntou Manna. Seus olhos estavam inchados e sua face vermelha. Ainda usava uma camisola e haviam três lencinhos largados na mesa-de-cabeceira, provavelmente do choro que devia ter durado a noite toda. Sobre o corpo dela, um grosso edredom que cumpria a tarefa de aquecer seu corpo.

    - Não. Thomas contou ? disse Anna, devagar.

    - O Prefeito? ? disse Sasha, parecendo surpresa. ? Que fofoqueiro! ? suas amigas concordaram ? E como ele ficou sabendo?

    - Bom, o que eu queria saber é por que eu não fiquei sabendo? ? perguntou Anna, indignada. ? Até a Julie sabia antes de mim!

    - A Julie estava lá ? disse Manna ? e Basil também estava, pensei que ele fosse te contar, mas?

    - Basil não me conta essas coisas ? contou Anna, frustrada. ? Ele acha errado falar das pessoas pelas costas, mas isso não seria falar de você e sim contar a uma amiga sua algo que te aconteceu. Mas deixa que depois acerto as contas com ele.

    - Na verdade ? começou Manna ?, eu pedi pra que ninguém contasse. Aliás, você foi à casa da Julie e encontrou Thomas lá?

    - Por favor, não chame aquilo de casa. É um casebre e dos piores. Não sei como aquela menina tem coragem de morar lá ? disse Anna, arrogante.

    - Ai meu Deus ? disse Sasha. ? Já vão falar da pobre fazendeira, mas isso pelo menos tira as suspeitas dela, não? Afinal se ela fosse bancada pelo Prefeito, aposto que ele daria a ela algo melhor. Talvez um quarto na estalagem.

    - Sasha, eu não falaria se eu não tivesse visto, ? começou Anna a dizer ? mas quando eu estava naquele barraco do mato, Thomas veio falar intimamente com Julie, mas eu e Won nos recusamos a sair e deixar os dois a sós?

    - Won? Won também estava lá? ? pergunto Sasha, surpresa.

    - Estava sim. Queria ganhar uma nova cliente, sabe, mas voltando à história, Thomas, nosso querido Prefeito, convidou Julie, pessoalmente, para ir à Corrida de Cavalos com ele! ? disse Anna, satisfeita por ter uma notícia tão grandiosa em mãos, fazendo Manna arregalar os olhos.

    - Uau! ? comentou Manna, limpando o rosto em prantos. ? Isso diz? muita coisa. Então parece que nossa querida fazendeira não é tão pura assim.

    - Tem certeza disso, Anna? ? Sasha olhava pra ela, desconfiada.

    - Ué, foi o que eu vi ? e Anna prosseguiu ? e mais: ela se desculpou pelo olho! Isso diz muita coisa também, não?

    - Sabe, é normal que o Prefeito seja cortês com ela já que ela é nova por aqui e assumiu aquele lixo de lugar ? disse Sasha, em defesa de Julie. ? Além do mais, ela me pareceu muito educada e gentil, então mesmo que ela tenha alguma coisa secreta com o Prefeito, isso não a torna uma pessoa pior.

    - Ela é um pouquinho legal, mas pretendo continuar investigando sobre o relacionamento dos dois ? insistiu Anna olhando para Sasha, decidida, e então voltou seu olhar para Manna. ? E o que você vai fazer, querida?

    - Sobre? ? perguntou Manna. ? Há tantas coisas pra fazer!

    - Sobre tudo oras! ? disse Anna com um leve tom de impaciência. ? Sobre o seu casamento, sobre o Vinhedo da Aja, sobre sua filha?

    - Bom, pretendo manter minha paz e pra isso, ficar longe do Duke e fechar o vinhedo até tudo isso se resolver é a melhor solução ? disse Manna, séria.

    - E você tem previsão de que isso vá se resolver logo? ? perguntou Sasha.

    - Não sei. Mas vai ser assim que sair o papel da separação ? respondeu Manna, séria, deixando as amigas surpresas.

    - Ali ? apontou Ann enquanto voltavam para a cidade, dando a volta pela cabana de Gotz pela direita e atravessando uma ponte de madeira ? fica a Fazenda Yodel, onde trabalhar o Barley, que tem uma netinha linda chamada May.

    - Acho que conheço essa May ? comentou Julie, lembrando de uma garotinha que ela vira com Stu, o neto de Ellen, no Supermercado.

    - Ele vende vacas e ovelhas. Pode ser uma boa ter uma dessas e participar do festival. Geralmente nunca temos concorrentes daqui. E lá ? ela aponta o lado oposto ? é a Fazenda Poultry, onde a doce e gentil Lillia vende galinhas. Cresci com os filhos dela, Rick e Poupori. Poupori é minha amiga, você vai gostar dela.

    Ao saírem dali, as duas viraram à esquerda e seguiram em direção por um caminho que Julie conhecia bem, pois era o mesmo que levava ao Supermercado de Jeff. Naquele momento, entretanto, ele estava deserto, embora ela pudesse sentir cheiro de comida sendo preparada em alguns lugares e ver algumas pessoas passando nas ruas próximas àquela. Enquanto caminhavam, Ann contava, entusiasmada, casos engraçados e brincadeiras que ela fazia com seus amigos de infância na cidade, como, por exemplo, quando ela, aos doze anos, puxou o rabo de uma vaca do Barley e a vaca começou a correr desembestada pelo campo em pânico, tendo um ataque de diarréia, que acabou fazendo com que todos os que acompanhavam Ann na traquinagem corressem desesperados e grande parte da bosta atingisse a boneca predileta de Poupori. Para sua surpresa, a casa de Anna ficava praticamente do lado esquerdo da casa de Ellen. Ann se aproximou da porta e começou a bater à espera de uma resposta. Quando Ann abriu a boca para gritar, Basil abriu a porta.

    - Ann, Julie! ? ele sorriu para elas, surpreso. ? Que surpresa vê-las! Como vão?

    - Estamos bem ? respondeu Julie, retribuindo o sorriso. Achava que Basil também se incluía na lista de caras legais da Cidade Mineral. Conhecera-o depois na Hospedaria do Doug na noite anterior logo após ele ajudar a apartar a briga entre Manna e Duke e acabara gostando dele ? e você?

    - Vou bem também ? ele respondeu. ? Sabe, eu acabei de voltar da minha caminhada diária na Colina-Mãe e ?tô? fazendo o almoço porque nem Mary nem Anna estão em casa, então ?tô? meio ocupado, mas querem entrar? ? ele disse, abrindo a porta por completo e apontando para sua casa modesta, mas aparentemente aconchegante com o visível toque feminino de Anna nela.

    - Não, obrigada ? disse Ann, pondo as mãos no bolso do macacão jeans. ? Não queremos te atrapalhar e temos um pouco de pressa. A Mary. Onde ela está?

    - Bom, acho que ?tá? na biblioteca ? ele disse, apontando a porta ao lado. ? Ela disse alguma coisa sobre preparar tudo pra quando ela abrir pra todo mundo ? ele lançou um olhar para a estante onde estava a televisão e viu uma chave sobre ela ? ?inclusive acho que ela até deixou a porta aberta.

    - Tudo bem ? disse Ann, andando até a porta da biblioteca. ? Vou conferir.

    Sob os olhares de Julie e Basil, Ann virou a maçaneta e abriu a porta da biblioteca. Entretanto, o que ela não viu não foi uma jovem bibliotecária arrumando os livros nas estantes e sim uma bibliotecária presa em um caloroso beijo com o neto do ferreiro. Ao vê-la, os dois cessaram instantaneamente o beijo e olharam para Ann assustados.

    CONTINUA

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