Heaven Way

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    14
    Capítulos:

    Capítulo 5

    V - Memórias

    Álcool, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    A primeira sensação foi o frio. Conforme seus sentidos retornavam aos poucos, o mundo todo parecia um grande sonho, um sonho estranho, confuso, e com fortes doses de terror. Houvera outros sonhos, ele lembrava. Lembrava do sonho em que era criança de novo, e que corria pelos jardins do pai, estes terminando bruscamente em uma densa floresta q o assustava. Lembrava-se também do sonho em que era maior, devia ter uns 12 ou 13 anos nesse, agora não tinha mais medo da floresta, corria por ela com um arco curto, presente de algum amigo sem rosto no sonho, e caçava pássaros com ele, levou 3 para casa de volta naquele dia.

    Também se lembrava do sonho em que já estava tudo aquilo perdido. A grande tragédia já tinha recaído sobre sua vida e estava fugindo por aquela mesma floresta, outra vez, como a dois anos atras. Mas aquela criatura... e também havia o sonho com o velho e o outro rapaz

    - Vrael? Está acordando... - dizia uma velha e terna voz.

    Agora os sentidos já tinham voltado o suficiente para saber que aquilo não era um sonho. E que outros sonhos também não eram.

    - Velha... o que... - de repente as recordações se tornaram fortes e reais e ele projetou o corpo para frente sobressaltado - Essad! Onde esta... - uma súbita pontada de dor atinge suas costas, como se enfiassem ali uma adaga embebida por flagelo dos deuses* e torcido-a, uma dor q logo se espalha por quase todo o corpo como uma onda de choque e o lança de volta aos travesseiros contorcido de agonia.

    - Lorde Vrael! Não se levante! Ainda está muito fraco e a ferida em suas costas ainda não fechou tot...

    - Não sou Lorde nenhum... - sua voz estava fraca e rouca mas ainda era possível notar a raiva q sempre estava ali quando lhe dirigiam aquele titulo - onde está Essad? - disse apos respirar algumas vezes para aliviar a raiva e a dor - Por favor me diga que meu irmão...

    - Seu irmão está bem meu Lo... senhor... a menos de uma hora o encontramos dormindo ao lado de sua cama e o levamos para que pudesse ficar mais confortável. Passa tanto tempo quanto pode ao seu lado.

    Vrael apenas anuiu satisfeito com a cabeça antes de perguntar:

    - Por quanto tempo estive desacordado? - agora que o alivio da segurança de seu irmão tinha chegado, sentia-se cansado.

    - Pouco menos de uma quinzena, senhor. O encontramos caído e sangrando muito, tememos que não sobreviveria. - O rosto dela parecia cansado, mais que o normal, provavelmente ela mesmo esteve cuidando de suas feridas. Não me admira que tenham temido por minha vida, eu mesmo não acreditei que veria outro dia em minha vida.

    A Velha, como sempre a chamaram, era a mais antiga amiga da família, uma das poucas sobreviventes da tragédia, e acompanhava Vrael e seu irmão ao longo dos últimos anos, junto com mais alguns poucos seguidores sobreviventes que quiseram fazer o mesmo. Johde o padeiro, com seus braços peludos e sorriso afável era um deles, Jhude sua filha, Thorme que cuidava dos cavalos e mais uma dezena de outros compunham a sua comitiva.

    - Temos que partir em breve - disse fracamente - ja ficamos tempo demais aqui por minha causa, avise a todos que partiremos ao amanhecer.

    - Senhor, não vamos faze-lo, o senhor não pode nem se levantar ainda. Não partiremos, mesmo que lhes dissesse isso, não aceitariam. Não partiremos.

    Vrael estava fraco demais para discutir, e não tinha argumentos a menos que começasse a usar a autoridade de Lorde, que ele detestava com todas as forças, e que na verdade, nem era por direito sua. Era de seu outro irmão, o mais velho, o que o fizera odiar o titulo pela forma que o usou naquele dia, que tirou dele tudo que tinha, por um orgulho louco e demoníaco.

    O irmão sempre fora diferente, amado, temido, e até adorado por alguns logo que nasceu. Os Vhrarielis eram uma família antiga, que possuía as terras isoladas e férteis que ficavam rodeadas pela Floresta Antiga, que poderia bem ser parte também de suas posses, se alguém alguma vez tivesse domado a floresta. Eram descendentes dos antigos elfos da noite, uma raça pouco mais antiga do que os elfos que ainda viviam hoje. O próprio castelo, cidade, e todos os monumentos e construções que lhes pertencia foram construídos a muito pelos próprios elfos da noite. Mas com o passar dos milênios os elfos da noite começaram a se misturar com os humanos e com os outros elfos e ao longo do tempo, suas características se mostraram recessivas diante das outras, exceto pelos cabelos negros que permaneceram sempre, embora vez ou outra, principalmente entre os nobres da Clareira da Noite como eram chamadas as posses da família Vhrarielis e seus vassalos, apresentassem fortes semelhanças com seus antepassados. O próprio Vrael possuía traços élficos, mas bem suaves e não poderia nem de longe ser confundido com um elfo, mesmo sendo considerado um dos mais parecidos com os antepassados que haviam por ai. Mas não era assim com seu irmão. Ele possuía os cabelos negros e rosto fino que Vrael também possuía, mas tinha mais. Logo que nasceu assustou a todos com suas orelhas pontudas, mesmo que não fossem tao pontudas quanto as dos elfos, eram suficientemente pontudas, uma característica que não se via a pelo menos três seculos. Conforme foi crescendo, mostrou que possuía agilidade, destreza e força também não vistas a muito e logo foi dito que o sangue dos elfos da noite se tornara forte outra vez. Mas ser diferente assim não tinha feito bem a mente dele. Se considerava único verdadeiro Vhrarielis e que toda a população de Clareira da Noite era lixo impuro e não nutria por eles nem a menor das afeiçoes. Mas dois anos atras sua loucura tomou dimensões impensáveis. Um dia Vrael viu seu irmão chegar montado em um dragão, era a coisa mais assustadora e maravilhosa que já tinha visto, mas o que seu irmão fez não foi nada maravilhoso, apenas assustador.

    - Chega desse lixo impuro, todos vocês! Nenhum é digno de viver aqui, NENHUM É HERDEIRO DESTA TERRA!! - dizia o irmão embebido em ódio e loucura - Não somos a maior nação do mundo por causa dessa gente! Os elfos da noite nunca foram subjugados mas sua impureza corrói e apodrece minha terra. E só há uma forma de sarar essa terra de vermes como vocês... - nesse momento Vrael já estava paralisado pelo horror e sendo carregado para longe pelo pai. Mas aquele terror não se comparava com o que viria pela frente - e essa forma é o FOGO! - terminou o irmão.

    Dali pra frente nada ouve alem de fogo, morte, horror e medo. em apenas um dia seu irmão havia matado mais da metade das forças de seu pai com o dragão, incendiado o castelo e matado sabe-se lá quantos inocentes, antes de partir para os céus. Não se passavam cinco dias antes que subitamente atacasse de novo. Depois de alguns ataques foi atras deles. No ataque que realizou matou seu pai, sua mãe e mais um monte de outros.

    Poucos dos que eram queridos a Vrael ainda restavam, e nenhum mais do que o irmão mais novo, e era por eles que temia. Em sua cama, apos a Velha se retirar, apertou as colchas chorando com as recordações.

    - Precisamos sair daqui... ele pode vir nos matar a qualquer momento.

    A porta repentinamente se abriu e um garoto de cinco anos passou correndo por ela, quase pulando em cima dele, mas parou com a recordação de seus ferimentos e o abraçou docemente.

    - Que bom que acordou irmão - Essad estava a beira das lagrimas - achei que me deixaria também.

    - Nunca te deixarei Essad.

    Vrael deu um sorriso ao irmão, o mesmo que sempre dava, algo para tentar convencer o coração jovem do irmão de que estava tudo bem.


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