Saint Seiya Future: A New Beginning

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    Capítulos:

    Capítulo 8

    A Confiança e O Segredo

    Spoiler

    Um tempo depois aprendemos que seguir visões de vidas passadas é perigoso. Obedecer a um cavaleiro que pode entrar no inferno e sair (sem motivo aparente) também é. Sentir saudades do mestre tornara-se normal e todos passaram a me chamar pelo nome que escolhi do nada, também sem motivo aparente: Mari. Max não descobrira ainda minha real identidade e Prya tornou-se uma grande amiga. Elane passou a privar-se da visão completamente, não abrindo os olhos para absolutamente nada. ?Fora do santuário?, eu e Max estávamos bem, com ambos fingindo ao outro que eram simples humanos mortais. Juan e Elane idem, mas ambos sabiam um do outro, e não era rara às vezes em que fênix aparecia exclusivamente para vê-la, ignorando totalmente a presença de outras pessoas ao redor. Era um tanto chato, mas os outros também aprenderam a ignorar tal fato.

    Asmita e os outros estavam ausentes há cinco meses, sem qualquer notícia. Sentir saudades da casa de virgem também se tornara normal. Os treinos se tornaram muito mais intensos e vários aspirantes ?mudaram de casa?. Simplesmente esqueceram-se de onde vieram e não mais voltaram. O preço era alto. Você era excluído da ?vida normal?. Como se você fosse apagado da história e nem sequer existisse. E talvez fosse mais seguro realizar essa escolha, mas ninguém tinha certeza. E uns dias depois, concordei que logo eu faria o mesmo. Mas o meu preço era alto demais. Isso era discutido diretamente com o Mestre do Santuário, que fechava para você o ?retorno ao lar? e apagava de lá a sua lembrança e existência.

    Como eu sabia do Max, eu me recordaria dele. Como ele não me reconhece nessa existência, a minha lembrança para ele seria apagada definitivamente. E mesmo que eu me mostrasse à ele aqui como Akemi de novo, seria um recomeço e não um reencontro. Elane insistiu para que eu contasse e cortasse ligação com a minha ?realidade?, mas ela sabia que isso não aconteceria. Se ele não tinha me contado, eu não iria contar à ele. Orgulho? Talvez. Mas lá no fundo eu sabia que era proteção. Ao que? Não sei. Coloquei na cabeça que era melhor assim e assim seria feito.

    Estávamos em Janeiro de 2191. O inverno ali era rigoroso, por causa de o santuário ficar literalmente em cima de um complexo de montanhas e as vilas em pequenas colinas ao sul. Da casa de escorpião para cima, nevava ininterruptamente e fazia um frio congelante até a base das montanhas e colinas. Ventava forte e àquilo cortava a sua pele se não houvesse proteção adequada. E para meu horror, eu não sentia frio. Eu suportava todo aquele clima com tranqüilidade sem usar roupas de frio e casacos grossos. Elane me xingava todos os dias sempre que houvesse oportunidade por isso. Mas eu não tinha culpa, simplesmente acontecia.

    As competições estavam mais próximas, ocorreria dali alguns dias, mais precisamente ao final de Janeiro. Estávamos no dia sete, o início seria no dia 28. Ansiosos, era normal ver alguns treinarem com mais afinco e dedicação. Entre eles, é claro, Elane. Com sua armadura de aspirante e uma capa imensa de couro por cima, fechada na frente com botões grandes, além de um capuz. A cor era negra com detalhes em vermelho. Estava quieta meditando acima da minha cabeça, enquanto eu costurava símbolos no meu lenço de forma concentrada e cantando baixinho alguns mantras. Usava meu cosmo em cada linha e curva dos desenhos, formando assim uma ligação especial entre eu e a arma usada. Ao contrário dela, usava apenas a armadura de aspirante com uma capa azul nas costas. Nada mais.

    Meus dedos já estavam um tanto cansados e doloridos quando enfim parei. Deixei a agulha e a linha de lado, recolhendo-as em uma maletinha e enrolando o lenço na cintura. Ergui-me e olhei para cima. Elane estava imóvel lá há três dias. A única coisa que se movia era seu cosmo vermelho intenso. Alguns aspirantes engraçadinhos falaram que ela se tornara uma lâmpada da vila de noite, sendo útil para iluminar algumas trilhas. Antes de entrar naquele estado profundo e surreal de meditação, me avisou que tentaria alcançar o Nirvana sozinha e que poderia demorar a sair daquela posição. E que sendo assim eu não me preocupasse. E assim eu fazia né.

    O vento estava bem gelado e fui rodeando algumas casas por algumas trilhas, evitando lugares molhados para não escorregar e consegui alcançar uma feita de madeira pesada e escura. Recém-erguida e decorada. Todas as minhas coisas enfim estavam ali e não foi difícil guardar os itens de costura. Havia uma sala pequena, uma cozinha com fogão a lenha e um armário embutido com ervas e raízes. Comida fresca era colhida na hora aos fundos da casa na horta e no pomar. Carne tinha que ser caçada e preparada e geralmente os vizinhos faziam juntos. E nem todos eram cavaleiros ou aspirantes, só para constar. E você era visto como um semi-Deus se possuía uma armadura. Havia um quarto e o banheiro era o rio lá embaixo. Elane morava logo do lado. Por questões de privacidade, foi melhor assim. Só por causa do Fênix, caso contrário ainda estaríamos juntas na mesma casa.

    Como de costume, tirei a armadura e troquei para um kimono leve. Acendi o fogão e comecei a cozinhar e preparar um chá. No meio do processo, alguém bate na porta da frente. Achando ser Prya, mando entrar. E para meu horror, era Max. E sim, eu estava de máscara. Ele parou no parapeito da porta recostado de forma curiosa e ficou me olhando. O que ele estava fazendo ali?

    - Pois não? ? Perguntei me virando com o bule e uma caneca. Passei por ele e caminhei até uma pequena mesa, onde depositei o chá e procurei canela para ralar e por em cima no armáriozinho que tinha ali. O rapaz ficou me observando todo o processo e com um sorriso suave nos lábios, entrou na minha frente.

    - Vim lhe dar um recado. ? O tom era divertido, como se quisesse analisar a minha reação diante do que ele falaria. ? Há alguém lhe esperando na casa de virgem. ? E folgadamente roubou meu chá e tomou. ? Isso é bom... ? Elogiou, mas eu não escutei.

    A única pessoa que mandaria recado assim era... Virei às costas e saí correndo, ignorando o fato de estar vestindo um kimono leve num frio congelante. Passei por Elane, que ainda meditava e parei ali, perto dela. Gritei seu nome várias vezes, mas ela não me escutou. Bom, eu tentei... E voltei a correr a toda a velocidade e subir as imensas escadarias das doze casas. Não havia ninguém ali e fui sentindo várias barreiras se desfazendo conforme eu passava ao ?notarem? que eu era amazona. Em poucos minutos eu estava na casa de virgem. Era noite e estava tudo escuro, fracamente iluminada por conseqüência do meu cosmo usado para aquecer o corpo um pouco. Eu era resistente ao frio, mas ainda continuava sendo humana. Fazia leves sombras nas paredes e com certa nostalgia fui caminhando até os jardins.

    - Alguém? ? Perguntei e não obtive resposta. Pisando no jardim me espantei. Estava lindo sob a luz da lua, com a cachoeira totalmente congelada e cristalina e um tapete branco e fofo de neve. As flores estavam em pequenos brotos congelados e um vento forte rodava o local. Olhei ao redor e vi de longe uma pessoa um tanto familiar demais. Um sorriso surgiu em meus lábios e um sentimento bom me invadiu. Asmita estava de costas observando a árvore central e colhendo alguns frutos. ? Mestre... ? Falei alto para que ele me escutasse. E então ele se virou, com o rosto sereno e aparentando estar bem cansado, além de ter em torno do corpo alguns machucados bem sérios. Vestia uma túnica branca com capuz, amarrado com uma corda dourada na cintura. A túnica estava manchada na região do peito e tinha ali um corte imenso que ainda sangrava. E a única explicação para que ele ainda estivesse de pé era... ?É o Asmita?. Aproximei-me dele um tanto assustada, enquanto ele sorria e me estendia uma das mãos.

    Quando segurei a mão dele notei que estava bem quente, como sempre foi, mesmo que o ambiente estivesse com a temperatura negativa.

    - Por Athena... Como você ainda está de pé? ? Exclamei olhando o seu machucado no peito e a expressão cansada que ele tinha. ? O que aconteceu? Onde estão os outros? ? Eu me referia aos cavaleiros que estavam com ele na viagem.

    - É uma longa história Akemi, mas só eu sobrevivi. E creio que foi assim com os outros de ouro também. ? Sua voz era mansa e com delicadeza ele soltou minha mão para se aproximar mais e segurar meu rosto. ? Você está diferente. ? Eu queria entender o que ele dizia com isso, se nem meu rosto ele poderia ver devido à máscara. Suspeitei que fosse algo interno, já que ele mantinha os olhos fechados também.

    - Só você sobreviveu? Mas o que te atacou? ? E meus dedos foram tentar tocar o peito dele, mas ele desviou com elegância e abaixou minhas mãos.

    - Minos. ? Respondeu de forma objetiva. Ao que eu sabia, era um dos três juízes do inferno. Isso talvez significasse que Pandora o tenha mandado até o grupo de Asmita. ? Não se preocupe comigo. Estou vivo. ? E forçou um sorriso, mas reconhecia que estava decepcionado com alguma coisa.

    - O que aconteceu? ? Minha voz agora era mais firme, eu queria saber o que aconteceu de verdade, não que todos morreram no caminho.

    - Aprendeu a ler meus sentimentos? ? Perguntou divertido e virando-se para entrar na casa a passos lentos. Eu o seguia e ouvia atentamente. ? Athena foi encontrada e protegida dentro do meu grupo por alguns dias, mas por questão de segurança ela foi passada ao de Calista. Não é um bebê recém-nascido como todos pensavam, Athena já é adolescente e adquiriu a consciência do que ela é e representa. Tem dezoito anos. O bebê que foi visto e chamou a atenção do santuário era uma armadilha de Pandora. Como eu cheguei lá primeiro... ? E parou para respirar um pouco, como se recordasse de cenas desgostosas. ? Minos estava lá para nos matar. Athena apareceu depois de sentir nossa presença e fui obrigado a sair do Khan para protegê-la. ? E recostou-se em um dos pilares de cabeça baixa. ? Com a guarda baixa, fui atacado. Calista apareceu e levou a Deusa, deixando comigo o dever de matar Minos. ? E parou, talvez para que eu assimilasse o que ele contara.

    - E como é que Athena apareceu do nada? ? Eu sinceramente odiava a visão de uma Deusa fresca que tentava se matar por motivos idiotas.

    - Eu a deixei segura, mas ela me desobedeceu às ordens. ? Falou um tanto desanimado. ? Ela é imatura ainda.

    - Imatura a ponto de fazer um cavaleiro de ouro quase ser morto? ? Na realidade, só o vislumbre de ter meu mestre morto por conta de infantilidade de Athena, era no mínimo odioso.

    - Não fique brava, ela descobriu há poucos dias. ? E ergueu novamente a cabeça. ? Temos que ter paciência com ela.

    - Paciência? Só por que ela é Athena não significa que...

    - Akemi... ? Falou com autoridade, me fazendo calar a boca. Resmunguei baixinho depois. ? Seu dever é protegê-la e não odiá-la.

    - Mas você poderia estar morto agora. ? Falei muito baixo, quase inaudível, mas sabia que ele escutaria.

    - Eu sou Asmita de virgem. Nada mais e nada menos que isso. E só existe um lugar para onde os cavaleiros se dirigem, o local para onde a morte nos acena. ? Aquilo me atingiu como um tapa na cara. Ele não se importava com as pessoas que gostavam dele então? Quer dizer que todos os cavaleiros passam por milhares de testes e sacrifícios para morrer? Não fazia sentido. ? Um dia você vai entender isso. ? E sorriu com doçura em seguida. ? Não significa que eu não me importe com as pessoas ao meu redor. Eu também morreria por meus amigos e pupilos, mas eles devem entender quem eu sou perfeitamente. Ainda mais você, Akemi. ? E se aproximou de novo, erguendo meu rosto que estava fitando o chão. ? Você está diferente, mas ainda precisa aceitar a realidade que escolheu viver.

    - Asmita... ? Sussurrei e ele se virou entrando nos seus aposentos. Compreendi que deveria ir embora, então fui descendo novamente todo o caminho e quando enfim cheguei onde Elane estaria, ela já não estava mais lá. E minha cabeça rodava no que Asmita havia falado. Era verdade tudo o que ele havia dito, eu sabia, mas tinha sérias dificuldades de aceitação. Entrando em casa, notei que Max ainda estava lá. Sentado na minha mesa brincando com minhas ervas. Resmunguei alto e tomei os potes das mãos dele, guardando-os em seus devidos lugares.

    - Como sabia que Asmita havia retornado? ? Perguntei rispidamente.

    - Eu estava no jardim da casa de virgem recolhendo uns ingredientes. Sabe, também gosto de ervas. ? E levantou-se para me olhar arrumando a prateleira. ? E ele chegou e pediu que eu chamasse alguma das pupilas dele. E como a outra estava lá meditando e não respondia... Chamei você.

    - Hm. ? Eu estava com ciúmes dele ter entrado na casa do meu mestre. Notando o que se passava, ele riu de forma divertida. ? Ela já saiu de lá, por acaso ela passou aqui?

    - Sim, e eu disse que você estava lá em cima. Mas ela alegou estar cansada demais e foi para a casa dela. ? E roubando uma maça, mordeu ela e se aproximou de mim sorrindo. ? Bons treinos amanhã. Obrigado pelo chá e pela maça. ? Eu revirei os olhos e fechei a porta com força. Como era irritante às vezes. Espero que fique bem se esquecendo da minha existência, por que nem sequer se deu ao trabalho de dizer à outra Akemi que iria fazê-la ?esquecer-se dele?. Idiota.

    Suspirei vencida e tirei a máscara, caindo na cama. Queria conversar com Elane, mas supus que ela estava exausta e nem sequer acordaria aos meus chamados. E assim, adormeci.

    ?Um sonho perturbador. Apontavam-me o dedo e me culpavam constantemente de alguma coisa, enquanto o coração doía e gritava por arrependimento e remorso. Lágrimas queimavam meu rosto enquanto eu procurava algum objeto cortante ou alguma coisa que me fizesse dormir. O desespero era sufocante e qualquer coisa que pudesse amenizar a dor era bem vinda. Barulhos à porta e em prantos, abro-a com as mãos trêmulas. Um rosto manchado de lágrimas me encara e diz ?Vem cá...? e me abraça. O remédio é imediato. A dor passa e eu desfaleço em seus braços. Era um homem.?

    Era Max. Um tanto diferente, mas ainda assim eu sabia que era ele. Não sabia dizer se isso se tratava do futuro ou presente, mas como eu nunca tive premonição na vida, fica fácil saber o que pode ser. Meu coração batia forte e a respiração era falha. Levantei da cama procurando algo para me refrescar e tomei uma água que tinha por ali. Minha mão tremia e aquilo me tocara profundamente. Por que raios aqueles sonhos surgiam sem aviso e eu ficava tão abalada? E me vi chorando sem entender o porquê. Abri a janela e vi que estava amanhecendo. O sol começava a despontar no horizonte anunciando um novo dia. E peguei minhas coisas para um banho longo, ainda tinha tempo. Descendo a trilha, encontro Elane lá embaixo também, imersa no rio e de máscara.

    - Aconteceu algo Akemi? Parece perturbada. ? Falou com suavidade, enquanto penteava os cabelos.

    - Bom dia para você também. ? Falei rouca enquanto tirava o kimono e pulava na água em um mergulho fundo. Quando emergi, ouvi que ela apenas repetiu a pergunta. ? Sonhei de novo. ? Ela saberia que era o mesmo sonho que eu estava tendo há meses.

    - Presta atenção nos detalhes do sonho e tenta descobrir algo de novo. ? Sugeriu com simplicidade. ? E o Mestre?

    Suspirei profundamente e lhe contei tudo da noite anterior. Ela contou que me escutava sempre chamar por ela, mas não poderia sair do transe. Segundo ela, ?estava longe demais?. Não se alterou um mínimo que fosse por conta do ocorrido.

    - Como você pode ficar tão impassível diante disso? O mestre quase morreu! ? E por conta de uma menina mimada que renasceu como Athena na terra.

    - Ele mesmo te deu a resposta. Não foi? ? Seu tom de voz era agora um tanto impaciente. ? Tem certas coisas que você aprende tão rápido... Mas o simples e básico vai me dizer que não compreendeu ainda?

    Bufei indignada, saindo do rio sem falar nada.

    - Você sabe que eu to certa e não admite. Não é? ? Insistiu ela me seguindo. ? Akemi... Vai me dizer que ainda não amadureceu isso na sua mente? ? E me segurou pelo braço, já que eu ia subindo a trilha irritada. ? Ou por acaso mantém sentimentos pelo Mestre? ? Insinuou algo a mais além de respeito e admiração.

    - Como? ? Perguntei um tanto tonta. ? Está dizendo que acha que eu gosto do Asmita mais do que apenas Mestre? Enlouqueceu Elane? ? Isso não era verdade, eu só não gostei de saber que a Deusa era tão infantil. Logo ela, que deveria ser a maior inspiração para os aspirantes e cavaleiros. Não podia ser desse jeito.

    - Ou você é burra ou gosta do Asmita como homem. ? Disse de forma dura, me soltando e se enrolando na toalha para subir na minha frente. ? Athena desce à terra como uma de nós, pondo-se à mercê de nossos defeitos e sentimentos e você ainda reclama dela? Como é que você ousa fazer isso? Por que ou é isso, ou você se abalou além do permitido pelo Mestre.

    Assustei-me. Nunca vira na vida a amiga falar tão sério como agora. Apenas consegui abrir e fechar a boca, mas sem emitir som algum. Na realidade eu ficara cega pela sensação da perda do Mestre e não analisara isso tão a fundo como ela estava me mostrando agora.

    - Da próxima vez que você for idiota como está sendo agora, evita deixar seus sentimentos tão expostos. Nem precisava ter a disciplina toda que o Asmita nos deu para que percebesse seu ódio pela Deusa. Não foi pela humana que ele quase morreu. Foi pelo que a humana representa aqui. Foi por saber que ela ainda vai despertar como Deusa e cumprir o seu papel. Ele, em contrapartida, estava fazendo o dele. Ele é Asmita de Virgem, o que você queria que ele fizesse? ? E se aproximou de mim dois passos, assustando-me ainda mais. ? Ele ocupa uma das doze casas, é considerado um dos mais fortes cavaleiros e por isso talvez tenha sobrevivido, o que você esperava dele? Me fala Akemi, você queria que o Asmita deixasse a Deusa morrer? Queria que ele jogasse no lixo tudo o que é e sabe para simplesmente não fazer o seu dever?

    - Claro que não... ? Murmurei baixinho.

    - Então pensa direito da próxima vez. E só existirá uma oportunidade na sua vida para que você esteja certa e o seu mestre errado. E não é agora, como uma aspirante, que isso vai acontecer. ? Finalizou sumindo pela trilha e indo para a sua casa. Tive de me sentar ali no chão para conseguir organizar as idéias. Mas a única conclusão que cheguei foi que ela estava certa em tudo o que disse.

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    - Não acha que foi muito dura com ela? ? Perguntou Juan quando viu a mulher entrar na casa e ir se trocar para os treinos. Ele vestia a sua armadura sem o capacete e estava sentado na cama dela.

    - É melhor eu ser dura com ela agora, do que ela receber uma lição penosa do Mestre depois. Ou quem sabe, morrer por pura infantilidade num campo de batalha qualquer. E ainda jogando fora o sacrifício de outros cavaleiros. ? Respondeu com um pesar visível na voz.

    - Talvez você esteja certa. Quando a encontrei aquele dia, ela estava sob o efeito de uma ilusão fortíssima. E ela misturou isso com as reminiscências de vidas passadas.

    - Ilusão de quem? ? Perguntou Elane preocupada, terminando de vestir a armadura e pegando o rosário do mestre para prender no braço direito. ? Como é que você sabe disso?

    - Ela acha que pegou as impressões do local. E viu o que queriam que ela visse. Foi Pandora. E eu sei por que já fui vítima disso antes. ­? Era sincero seu tom de voz, mas muito óbvio que não era apenas isso.

    - E como você sabe que é uma ilusão e não a realidade se nem ler a mente de Akemi você pode? ? Insistiu a outra se aproximando dele e segurando seu rosto, como se quisesse procurar algo além das palavras ditas.

    - Ela recebeu um colar de Asmita, não foi? Ele brilhou protegendo-a de acreditar nas cenas e fazendo-a perceber que não era realidade. Ela ficou confusa. E por pouco não foi controlada por Pandora e lutou contra mim. Ela sabe quem está perto do Inferno, ela tem poderes para isso. ? E se afastou da namorada com agilidade, dando as costas para sair.

    - Como você sabe tanto de Pandora? ? Perguntou Elane com visível ciúme.

    - Eu já vivi no inferno. Por isso eu sei. ? E saiu, sem dar chances de mais perguntas.

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    - Algum problema Akemi? ? Uma voz masculina aproximando-se de mim perto do rio. Como eu estava vestida e com máscara, não me importei. Era Heru.

    - Não, eu estou bem. ? Menti sem muita convicção e virei o rosto para trás, observando o companheiro aspirante que se tornara amigo. Era tão íntimo que sabia de todos os meus dramas pessoais com Max e evitava chamar-me por Akemi perto dele. Assim como Prya, Elane e Juan. Não que eles concordassem com minha decisão, mas respeitavam sem dizer nada.

    - Ouvi você brigando com Elane. ? Insistiu com jeitinho, sentando-se do meu lado.

    - Você estava nos observando...?

    - Não, eu estava passando e ouvi. ? Respondeu com sinceridade. ? Quer me ajudar a fazer café da manhã e me contar o que se passa? ? Sugeriu sorrindo. ? Sei que não está bem. ? E me estendeu a mão atencioso, ao que eu segurei com firmeza. Levantamo-nos juntos e fomos subindo até sua casa.

    Fui lhe contando em detalhes tudo o que aconteceu durante o caminho, expondo meus sentimentos e depois contando sobre a briga (ou puxada de orelha) da amiga. Ele apenas sorriu de leve e acenou para que eu continuasse, sabia que ia além disso.

    - E eu reconheci que ela estava certa, mas não quero que pense que gosto de Asmita... Não da forma como sugeriu que fosse. Ele é como um pai. Nada mais. ? Era totalmente franco. Nunca amei Asmita como homem. Isso era reservado a Max. Apenas.

    - Fale para ela. ? Sugeriu com simplicidade, abrindo a porta de sua casa e dando-me passagem para entrar. ? Não é mais fácil?

    - É, é mais fácil. Mas creio que ela está um tanto irritada comigo. O que eu senti e disse ao mestre pareceu heresia contra Athena, não foi bem assim... ? E suspirei, entrando no quarto dele e fechando a porta. Era todo organizadinho. ? Vou me trocar, já vou pra cozinha te ajudar.

    - Sem pressa. ? Comentou ele fazendo barulhos característicos de quem começava a cozinhar ou preparar algo.

    Assim que saí do quarto com a armadura de aspirante e o lenço brilhante e decorado na cintura, a porta da frente se abriu e Juan entrou. Assim, sem pedir licença. Heru e ele não se davam bem e precisei entrar na frente.

    - Espera ai Juan, isso é falta de educação... ? Eu sabia que era inútil falar esse tipo de coisa para ele, mas mesmo assim o fiz.

    - Preciso falar com você. ? Disse olhando-me fixamente. ? Agora.

    Eu ODIAVA aquela mania que ele tinha de sair puxando a gente para fazer o que ele queria na hora que ele quisesse.

    - Vou tomar café com o Heru e depois vamos juntos treinar. Podemos conversar depois. ? Insisti sentindo o outro amigo atrás de mim começar a se irritar. ? Por favor, Heru, não briga...

    - É urgente Akemi. ? Falou ele com sinceridade. ? Por favor. ? Arregalei os olhos e senti que Heru abriu um sorriso de satisfação. Gostavam de ver um ao outro fazendo algo que eles não gostavam de fazer. No caso de Juan, pedir desculpas era raríssimo. E por favor eram palavras que não existiam em seu vocabulário.

    - Tudo bem. É rápido? ? Vai saber. Da última vez que conversamos fui arrastada inferno adentro.

    - Sim. ? Respondeu objetivamente dando as costas e saindo, esperando que eu o seguisse.

    - Já volto. ? Disse para Heru em tom de desculpas e ele apenas sorriu para mim. Era sempre compreensivo. Diferente de Elane, que era um tanto quanto dura, Heru era doce e sensível.

    Afastamo-nos da vila um pouco e em um local reservado, virou-se para mim e começou a me explicar e dizer o que se passou entre nós aquele dia. Disse da ilusão de Pandora, explicou o que o colar fizera e da capacidade da ?Penélope? de controlar a mente das pessoas. E que eu havia confundido reminiscências e ilusão.

    - Por que demorou todo esse tempo para me contar? ? Era essa a principal dúvida. Eu confiava nas palavras de Juan e se ele dizia que sabia o que se passou, era porque sabia.

    - Por que eu tive a certeza disso quando vi os cavaleiros de ouro retornarem com uma Athena adolescente. O santuário inteiro caiu na armadilha de Pandora. ? Explicou. ? E também, eu estava fora. Não tinha como entrar no campo de treinamento para falar com você ou Elane.

    Era verdade. E se ele aparecia, a prioridade era a namorada. Totalmente compreensível.

    - Então todos já voltaram?

    - Apenas Li de gêmeos não retornou. Segundo seu mestre, ele está com dificuldades em sair do inferno e pediu que apenas uma pessoa fosse tentar buscá-lo.

    - Você? ? Perguntei perplexa. ? Porquê você?

    - Ele foi e ainda é meu Mestre. E eu já vivi no inferno. Portanto, sou o único apto para fazer isso. ? E suspirou preocupado. ? Disse à Elane que sairia para outra missão do Santuário, mas não disse o que. Só disse a você porquê te devia uma explicação mais convincente.

    - Obrigada pela confiança. Ela vai saber disso? ? Eu conhecia o quanto Fênix era reservado até para Elane, e sabia que ela iria atrás se soubesse aonde ele ia. Portanto...

    - Não. Ela irá atrás de mim. E é perigoso. Asmita a ensinou entrar lá sem que perca a alma ou morra, mas eu não a quero lá dentro.

    - Asmita sabe entrar no inferno? ? Tipo assim, ele sabe e eu não sei.

    - Meditando. Ele leva a alma até lá e materializa com o próprio cosmo um corpo de carne. Ou seja, ele se duplica. E isso faz ele perder todo o cosmo que acumulou até que ele se esgote e morra de verdade. Mas Asmita não é Elane. ? Tão simples. Disse tudo. E indicou que iria embora virando as costas e dando um passo na direção oposta ao que eu estava.

    - Posso lhe perguntar uma coisa? ? Apressei em dizer.

    - Não garanto que saberá a resposta. Pergunte. ? Por que Juan era tão frio e reservado?

    - Pandora tem ou teve algum tipo de ligação sentimental com você? ? Isso incluía amizade, amor, qualquer coisa.

    - Não. ? E pareceu sincero. Mas essa sinceridade me incomodou. Se não havia sentimentos, como conheciam tão bem um ao outro?

    - Você já serviu a ela? ? Insisti.

    - Era só uma pergunta. Não duas. ? E foi caminhando e indo embora, sempre deixando a gente falando sozinho. E não que a resposta dele me explicasse alguma coisa. Bufei baixinho e entrei na casa de Heru novamente, ajudando-o no café e depois fomos juntos até o campo.

    - Sabe se Athena já está no santuário? ? Perguntei a ele, que acenou que não.

    -x-

    Lá na frente, no campo de treinamento, estavam todos os aspirantes, cavaleiros e amazonas que se possa imaginar. Todos curvados em posição de reverência e uma linda garota segurando um báculo dourado e vestida de branco. Um cinturão de ouro, um bracelete da mesma forma e um enfeite no cabelo em forma de raminhos dourados. Sua beleza era magnífica e seu olhar possuía um amor e bondade infinitos. Seu cosmo era imenso, quente, acalentador e balsamizante. Curava corações e feridas e instigava uma coragem surpreendente. Sorria feliz, chorava emocionada por alguma coisa e enfim, sentava-se em uma poltrona lá no alto das arquibancadas. Estava rodeada por todos os de ouro, menos Li e Câncer, e o Mestre do Santuário ficava exatamente ao seu lado. Todos ainda estavam curvados e não pude resistir ao que estava sentindo. Era totalmente inexplicável. Foi como se eu visse e sentisse a razão de Asmita tê-la protegido. E caí de joelhos e cabeça baixa em forma respeitosa de saudar a Deusa que finalmente retornava aonde deveria estar.

    - Aprendeu não é? ? Era Elane. Não reparei, mas estávamos ao seu lado. Heru fizera a mesma coisa e apenas sorriu consigo mesmo, como se achasse graça da minha situação.

    - É. Talvez eu realmente tenha aprendido. ? Sussurrei para a amiga, que apenas indicou que estava feliz. Senti ao longe, o cosmo de Juan saudando a Deusa e em seguida, sumindo por algum portal. Notei que Elane ficara inquieta. E senti um aperto no coração. Eu não poderia dizer nada. Não tinha o direito de quebrar a confiança de fênix em troca da insegurança de Elane.


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