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Prya pareceu um tanto surpresa, assim como os outros aspirantes, embora os de ouro e Asmita permanecessem apenas observando e um tanto satisfeitos. Algo como ?aquela competição prometia? era sentido no ar, por todos ao redor. O que não era diferente da reação de Max e seus amigos. Ao nos sentar próximas ali deles, recebemos um olhar todo admiração e respeito e um assovio baixinho que indicava surpresa.
- Não quero lutar com vocês na competição. ? Brincou ele todo engraçadinho e eu me toquei que poderia lutar contra ele. Engoli em seco. Não poderia. Não conseguiria.
- Ninguém vai querer depois dessa apresentação. ? Emendou o outro ao lado. Era um loiro de olhos claros de nome Albert. Alto, esguio e muito palhaço. Típico amigo-piadista. ? Tenho medo de morrer envenenado. E tenho medo de ver o rosto delas. Elas devem me odiar e vou morrer se eu vir a ?grande beleza? que possuem. ? Comentava e dialogava como se não estivéssemos ali. ? Ou alguma das duas me acham bonito, ham?
Elane riu e eu soltei um muxoxo de desprezo. Max deu-lhe um soco na barriga, sorriu sem jeito e perguntou.
- Então... Desafio Elane em um duelo particular. ? E a fitou sorrindo malicioso. Senti ciúmes. MUITO ciúme, mesmo sabendo que não era malícia no sentido pervertido da palavra. ? Aceita?
Senti certo receio dela, mas no fim levantou-se e acenou com a cabeça. As pessoas gritaram novamente. Asmita se aproximou bem ao meu lado, afastando os outros de mim e por respeito fiquei de pé ao lado dele. Talvez ele reconhecesse que eu tinha muitas perguntas a fazer, mas controlei a ansiedade. Era meu Mestre, reconhecia que me daria todas as respostas no momento certo. Observamos Elane e Max se apresentando à luta e a amiga fechando-se no Khan. Prya se aproximou de mim e com um gesto indicou que me convidava a um duelo também. Sorri abertamente, agradecendo usar uma máscara. Asmita pousou a mão em meu ombro, olhando-me sério depois. Com ele ali não tinha graça brincar de dar uma surra na amazona e... Okay, não vou fazer nada Asmita, não se preocupe. Ele sorriu ao perceber que eu compreendera e fomos para o campo, agora com todos se espalhando novamente e retornando aos treinamentos. Melhor assim.
Reverência respeitosa, notei que Max passava voando logo ao meu lado. Logo me recordei de uma cena de Chaves com seu Madruga falando ?Air Lines!?, mas deixa pra lá. Logo meu corpo ficou rodeado por uma luz intensa e azulada, com o lenço agora branco parecendo incrustado de várias pedrinhas de diamante. Prya atacou-me imediatamente com algo que lembrava o ataque de Mila, mas não era tão eficiente ou ao menos, não parecia saber usá-lo. Nada contra. Desviei com facilidade e no ar, dei uma espiadinha para o lado e vi Elane tranquilamente levitando com um escudo protetor ao redor de si, enquanto deixava Max cansar-se tentando atacá-la. Era teimoso. Muito teimoso. Será que não percebia que isso não adiantaria nada?
- Preste atenção na sua luta! ? Gritou a mulher avançando com tudo e por estar distraída, fui levada ao chão com uma espécie de voadora. Foi lindo. Não para mim, é claro. Alguns gemidos de dor da platéia e senti uma rachadura na minha máscara. Okay. Chega de brincar. Puxei as pernas e fiquei rapidamente na posição de lótus, gritando ?Ohm!?. Senti Prya voando e sendo afastada. Então voltei ao chão e concentrando o cosmo no braço direito, lancei um jato de luz azulada em sua direção, junto com o lenço. Não estava muito longe. Ela tentou desviar, mas esqueceu de puxar o braço esquerdo totalmente e ele foi acertado próximo ao pulso. Cortei um pouco ali com extrema facilidade. Bom, se for recordar que fiz isso em meu Mestre... Seria fichinha fazer isso em qualquer um.
Ela resmungou algo e eu decidi avançar rápido, envolvendo-a no lenço. Mas fiquei na vontade, porquê algo me barrou. Uma... Parede? De que?
- Muralha de cristal. Você não vai conseguir passar. ? E riu. A Bitch riu.
Irritada, fiz surgir o rosário, mas como reconhecia meu ataque ela reverteu a situação desfazendo a muralha e puxando meu braço e levando-me ao chão. Com isso, ela me estendeu a mão. Havia ?finalizado? a luta. Breve, devo dizer. O pulso dela estava mesmo sangrando e me ofereci para ajudar, mas ela recusou. Nem queria mesmo. Com isso me virei para o lado e observei que Max ainda tentava atacar Elane.
- Não é desse jeito que se ataca ela. A barreira é total. ? Observei para ele. Deveria me agradecer.
- Ela vai se cansar uma hora... ? Não mais do que você, idiota. ? E vai desfazer isso... ? Ela ficou dias com o Khan já, impossível. ? E vou conseguir... Vencê-la. ? Ai! Como era teimoso!
Retornei para as arquibancadas e fiquei distante, olhando todos. O Mestre do Santuário, os Cavaleiros de Ouro presentes... Notei então que Câncer não estava ali. Achei estranho. Ele não estava lá em Leão um tempo atrás e muito menos ali. Quando eu ia indagar Asmita, um barulho de gritos e ao virar o rosto para olhar, Elane de pé e Max no chão. Ela estendia a mão para ajudá-lo a se levantar e o ouvi prometendo que ainda conseguiria. Revirei os olhos. Sentei-me ao lado dos outros. Asmita ainda permanecia de pé e um tanto parecido à uma estátua.
- Não vai me perguntar a razão da mudança do seu cosmo? ? Sua voz era séria. Estremeci de leve.
- Você me ensinou de uma forma que acabei por imitar seus ataques, técnicas e poderes. E na luta contra Elane eu despertei a verdadeira essência do meu poder. Ela despertou o dela, e ela felizmente tenderá para seguir seus passos. ? Eu não sentia ciúmes dele com ela, pelo contrário. ? É isso?
- Exatamente. ? E de repente vi que em uma de suas mãos havia um cristalzinho. Era uma espécie de pingente azulado em formato difícil geometricamente falando, todo lapidado como um diamante. Ele brilhava de leve e aparentava ser bem trabalhada e cuidada. Ele segurava aquilo nas mãos e logo reparei que da pedra, havia uma extensão para uma espécie de colar fininho, provavelmente de ouro branco. E logo me recordei que eu sabia que pedra era aquela. Era uma gema de nome água marinha. Ele pegou minha mão, colocou ali dentro da minha e a fechou, segurando-a com certa dor visível em seu rosto. ? Usa isso quando necessário. ? E saiu, sem olhar para trás.
- Mas... ? Ele já estava lá longe, então sussurrei. ? O que é isso? ? E observei mais de perto, perplexa. Aquilo deveria ser muito, muito, MUITO caro. Era incrustado de pedrinhas preciosas, além de realmente ser ouro branco. Quando eu estivesse precisando de dinheiro, eu venderia, obrigada. E sorri. Jamais venderia aquilo.
Algo sentou-se ao meu lado. Era Elane. Ela pareceu tão perplexa quanto eu acerca daquele colar e ficamos discutindo a sua utilidade, enquanto os cavaleiros de ouro seguiam com uma multidão de cavaleiros de prata atrás de si. Com exceção de alguns, é claro. Iam até a sala do Mestre, no topo de uma montanha imensa. E o sentimento de observá-los subindo era estranho. Um misto de intimidação e admiração.
Belfort de Sagitário era um rapaz novo e sério. Extremamente educado e polido, com uma gentileza que só pelos Deuses. Tinha por volta de vinte e três anos e era... Magnífico. Sua armadura esbelta, com asas de ouro, chamava a atenção para ele no meio do pequeno grupo. Olhos atrevidos, acinzentados e uma expressão rígida e séria. Cabelos negros e lisos, curtíssimos. Tinha três pupilos, todos homens, e um deles era amigo de Max. Sabíamos por conta de Asmita que Belfort tinha um amor verdadeiro e profundo por Mila, mas nunca demonstrara isso abertamente. Era o nosso Mestre que havia sem querer invadido os sentimentos do outro e ?lido? as situações. Mila o considerava apenas um irmão e companheiro. E Belfort morria de ciúmes de Asmita.
Dimitri de Capricórnio era o palhaço em pessoa. Não havia um momento sequer que não brincava, não sorria e não divertia os outros em momentos tensos. Tinha só uma pupila mulher, de nome Aghata. Alguns diziam que ela era sua filha, embora continuasse como apenas um boato. Era alto e com um andar elegante. Olhar invasivo e uma postura que tinha o dom de ocupar muito espaço. Olhos verdíssimos e de tonalidade bem clara, um sorriso estonteante e uma voz bem marcante e provocativa. Típico galanteador barato, estilo ?How you Doin???. Aparentava ter pouco mais de trinta anos. O segundo mais velho dos de ouro.
Magnus de Aquário era imponente, marcante e belo. Talvez houvesse uma tendência em ser homossexual, mas qual o problema? Era elegante e delicado e com um sotaque forte francês. Cabelos compridos e claros, chegando a ser bem loiro. Olhos azuis da cor do mar profundo e os lábios um tanto rosados, mas só em contraste com a cor branca da pele. Um sorriso tímido e uma voz baixa e melodiosa. Diziam às lendas que ele cantava maravilhosamente bem. E por onde passava, arrancava suspiros de qualquer ser feminino ou masculino que se sentisse atraído por homens. Aparentava ser bem jovem, pouco menos de vinte anos. Tinha um único pupilo homem da sua idade. E me interessei em saber como ele obtivera a armadura tão cedo. Mantinha ao seu lado Calista de Peixes. Pareciam um casal, embora fosse notável que eram irmãos de sangue. A beleza era hereditária, pelo visto.
Ainda com o colar nas mãos, senti saudade de Asmita. E foi com enorme desagrado que segui Prya junto de Elane até a vila ao lado. Max despediu-se de nós, chamando-me de ?Mari? e fazendo Prya desconfiar. Antes que ela abrisse a boca, cortei rispidamente.
- Ele é meu namorado e não sabe que sou amazona. Se falar meu nome verdadeiro, vou ficar bem irritada. ? Como se eu conseguisse intimidá-la, mas eu ficaria realmente bem descontrolada se ele descobrisse minha real identidade. E eu ainda não conseguia engolir o fato dele nunca ter me contado.
Chegando lá, era uma casinha simples de madeira, com um beliche confortável, um banheiro e uma cozinha com fogão à lenha, além de uma prateleira com várias frutas e coisas pra se fazer e cozinhar. No quarto havia uma cômoda para roupas e um armário com ervas e sementes para uso medicamentoso.
Joguei-me na cama e com Prya longe da nossa nova casa, tirei a máscara e respirei com força. Usávamos o cosmo para enxergar e respirar, mas era tranqüilizador poder tirar um pouco aquilo. Observei a rachadura com desgosto e estiquei o corpo todo, tirando as partes da armadura de aspirante com os pés ainda deitada.
- Vou tomar um banho. ? Comentei sentindo urgência naquele processo. ? Prya disse que ali atrás tem um rio e que ninguém o usa. ? Prendi os cabelos em um rabo de cavalo e abri tudo para procurar alguma toalha. Achei duas. ? Precisaremos trazer roupas e coisas nossas depois para cá. ? E então notei que Elane estava observando a fresta da janela do quarto concentrada, sem mascara também. ? O que foi?
- A vila é ocupada por humanos. E eles parecem camponeses da idade média. Estou só observando. ? E sorriu de leve. Notei o quanto ficava diferente mostrando o rosto. ? Pode ir, eu vou depois. Vou fazer alguns medicamentos para passar em você e depois alguma comida...
- Deixe que eu faço a comida. ? E pisquei, abrindo uma portinhola nos fundos e enrolada na toalha, carregando uma cestinha com produtos de higiene, desci uma trilha íngreme e no meio do mato até um rio. A água era límpida e fresca. E o sol estava se pondo.
Entrei na água no clássico pontinha do pé e quando mergulhei por completo ali, comecei a me lavar e distraída não notei que algo me observava. O colar que Asmita me dera já pendurado no pescoço e totalmente nua ali imersa na água. Era fundo e gostoso, semelhante à um pequeno poço. Então o barulho de alguém pisando em pedrinhas e galhos finos que se quebravam. Sobressaltei-me e saí da água, enrolando-me na toalha e catando a cesta e colocando tudo ali dentro. Observei ao redor e naquele susto minha mão subiu de encontro ao colar e senti-o quente. Ele brilhava intensamente e me envolvia em uma nuvem de calor gostosa. Subi correndo de volta para casa e no meio do caminho, ainda no mato, ouvi alguém caindo e gritando de dor.
- Seu Hentai! ? Era Elane. Olhei ao redor e vi a alguns passos além de mim do lado direito, a menina com o pé em cima das costas de um garoto. Parecia aspirante. E parecia apenas estar observando com malícia. ? Se tornar a ver-nos nesse rio você morre! Tá ouvindo?
Ele resmungou positivamente e disse que não iria ver mais. Ela estava com máscara e virou pra mim ali distante, gritando para que eu ouvisse.
- Pode matá-lo, ele viu seu rosto! ? Havia uma incrível maldade em seu tom de voz. Eu ri e disse que não, entrando na casa. Vesti-me com algo leve e coloquei a máscara agora já regenerada (Armaduras e máscaras possuem vida e se ficarem descansando, se concertam sozinhas). E com o lenço enrolado na cintura como numa espécie de kimono, sai lá fora de novo, onde eles ainda discutiam ferozmente.
- Deixa ele ir, Elane. Você traumatizou o garoto, ele não vai fazer nada depois disso. ? Meu tom de voz era manso e suave.
- Não antes de saber quem ele é. Qual seu nome? ? E o pegou pelo colarinho erguendo-o no ar. Suspirei um tanto cansada. Precisava dormir.
- H-Heru... ? E ele caiu no chão com violência. ? Eu não sabia que eram amazonas. ? Reclamou irritado e levantando-se. ? Sinto muito tê-la visto nua, senhorita, mas se eu julgasse que fosse uma de nós jamais faria isso por respeito à seu rosto, que devo dizer, é belo. ? Só faltou o How you Doin. Ameacei atacá-lo, então ele se encolheu todo. ? Sinto muito, novamente. Posso ir embora?
- Quer dizer que você fica olhando as camponesas no rio, seu pervertido? ? Indaguei perplexa.
- Não qualquer camponesa, apenas as orientais. ? E sorriu malicioso. E depois saiu correndo e sumiu, porquê eu lancei-lhe o rosário na raiva. Quando o objeto retornou para minhas mãos, entramos.
- Eu vou lá tomar banho agora e volto para cuidar de você e comermos. ? E desceu, sumindo pela trilha.
Então tratei de fazer algo para comer. Escolhi uma salada de frutas e uma salada imensa com verduras e legumes. Quando ela subiu, comemos e conversamos acerca de tudo e do treinamento. Além da ausência do Mestre.
- Ele te deixou algo valioso. No meu país (Brasil) você está proibida de usar isso. Virará a esquina e vai ser assaltada. ? E rimos juntas.
- Ele levará um soco no meio das fuças, isso sim. ? O assaltante, no caso. ? Eu o escondo na roupa. Não se preocupa.
- E Max? ? Perguntou ela repentinamente. Eu parei de comer e encostei o prato longe na mesa. Ambas estavam sem máscara. ? Não precisa falar se não quiser.
Suspirei profundamente, acenei que não com a cabeça e me arrastei até a cama. Deitei ali e permaneci em silêncio enquanto Elane passava pomadas e compressas nos machucados e hematomas da luta. Em seguida ela se deitou e eu fiz o mesmo processo nela. Minha expressão era triste e depressiva, mas ela respeitou minha decisão de silêncio e não perguntou mais ou sequer tocou naquele assunto. Pelo contrário, ficava comentando e me incentivando a pensar no uso daquele colar. Então eu lhe contei do brilho, da nuvem quente e tal quando pressenti algum tipo de perigo.
- Jamais Asmita iria embora e deixaria suas duas pupilas desprotegidas. Ele me deixou seu rosário. ? E então percebi que era verdade. Asmita deixara o rosário dele com Elane. Sentadas no meio do quarto, ficamos estipulando hipóteses sobre o colar e o rosário e em seguida, vestimos as roupas normais. Iríamos sair da Grécia e voltar ao Brasil, onde morávamos juntas quando havia momentos de paz. Prya já sabia da nossa decisão e nos deu ?uma folguinha merecida?. Havia assuntos no mundo ?normal? que precisava resolver.