The Game

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    Capítulo 5

    Novamente só.

    Mesmo tendo plena certeza que era a única ali, resolveu ir olhar fora da cabana. Quando saiu, agora teve realmente certeza. Não adiantava chamar pelo estranho, estava só ali. Passou as mãos pelos cabelos negros e tomou coragem pra começar a andar. Abandonou a moradia frágil, estava faminta, mas ali não dava para procurar nada para comer. Resolveu então, enquanto andava refletir sobre o sonho que teve. Sabia que sonhos nada passavam de conversas, então, o que significava seu sonho? Seria na verdade uma previsão do futuro? Poderia acontecer, não é?

    Fitando o horizonte, ela tentou criar uma rota de volta ao Jardim, ainda tinha uma missão. Com passos firmes, ela rumou para o leste. Em suas lembranças, era naquela direção o Jardim. Andou um bom tempo dentro do bosque, até que encontrou uma velha estrada de pedra. As pedras com o formato de trapézios, algumas outras pedras com formatos arredondados preenchiam os espaços que ficavam. A estrada em alguns trechos faltava algumas pedras, mas isso não era problema. Enquanto caminhava sobre a estrada de pedra, El viu uma silhueta parada vestindo um manto preto e estava um pouco abaixada. Chegando perto, notou que era uma velha, a mulher olhou na direção de El com um fraco sorriso nos lábios. Parada na frente da mulher, El notou que era uma velha, seus olhos eram azuis, o rosto repleto de rugas, mas seu sorriso acalmava a alma confusa da boneca.

    - Não consigo subir na estrada. ? comentou a velha.

    A estrada era um pouco mais alta que o solo. O que El não entendeu, por que a mulher não conseguia passar pela estrada.

    - Por quê? ? indagou.

    - Estradas foram feitas para os vivos viajarem, não uma velha morta.

    - Não! Você esta aqui... ? a boneca tentou pegar no braço da mulher e puxa-la para estrada, mas suas mãos passaram pela pele, era um fantasma -... Como?

    A velha riu.

    - Estou na fila dos mortos, esperando minha vez no paraíso, porém para chegar lá, preciso passar por aqui.

    Uma onda de tristeza passou pela mente de El, queria ajudar, mas não sabia como. Também tinha que chegar logo no jardim, destrói-lo era seu objetivo agora. Novamente a mulher sorriu, e balançou a cabeça, como se estivesse mandando El continuar sua jornada. Mesmo não querendo, suas pernas começaram a se mover, depois de algum tempo, apenas via o preto da roupa da mulher. Estaria a mulher destinada a continuar ali por séculos?

    Mesmo por um pequeno espaço de tempo na companhia da outra, El ainda estava só. Fitava os céus, notando que o fim da estrada não era visível. Já era de tarde, o sol estava na metade do céu, logo ia se esconder atrás da terra ? ela não tinha tempo para ver o pôr do sol. Já estava esgotada, não sabia por quanto tempo tinha andado. Quando se deu conta, já era noite. A Lua estava enorme, iluminando tudo ? mesmo estando de noite -, a boneca deitou no meio da estrada e ficou vislumbrando a beleza do satélite.

    --

    No ponto mais alto do Jardim, uma sombra também olhava para a Lua. Escondida nos arbustos, proibida de sair dali, ela desejava a beleza da bola brilhante. Sabia que não podia pegá-la para si, nem copia-la, mas mesmo assim a queria. Um pouco longe dali, dançando seu réquiem, a Bailarina Negra desejava alcançar a Lua, dançar sobre ela. Era impossível. Seu vestido negro balançava de acordo com a brisa, eternamente, não existia nem dia nem noite. A bela borboleta invejava a beleza da lua, com a marca negra nos braços, passava a mão tentando apagá-la, era impossível. Seus olhos brilhavam de desejo, impossível.

    Deitada em uma raiz, outra ilusão olhava a Lua. Era preguiçosa demais para querer ir até lá, para querer ter sua beleza, pra que? Já era amada por todos, era bela, não tinha motivos para tais desejos. Sentado em um dos galhos, o Amor assim como os outros também olhava a Lua, lembrava-se dos tempos que sua amada estava lá com ele.

    --

    Além da Lua, vários pontos luminosos enfeitavam a noite. Alguns deles eram vermelhos, formavam desenhos e El tentava imaginar histórias. Criou algumas que, possivelmente ia contar para alguém. Por algumas horas ficou imaginando as histórias, até que adormeceu. Na metade da noite ? já de madrugada -, despertou com alguns barulhos. Ao abrir os olhos, El se deparou com inúmeras luzes verdes flutuantes. Arregalou os olhos e ficou boquiaberta, além das estrelas e da Lua, mais coisinhas deixaram a noite linda. Ela levantou-se e tentou pegar os pontos luminosos, não conseguiu, eram rápidos demais. Chegou à conclusão que nem tudo era para ser tocada, a natureza ela bela por si só. Sentou-se novamente no meio da estrada, assim observando encantada os pequenos vagalumes dançarem nos céus noturnos.

    Já de manhã, alguma coisa cantava em meio à floresta, uma brisa gelada soprava, o clima estava agradável. A boneca acordou, estava toda espalhada, se alguém fosse passar pela estrada, não dava para desviar, teria que passar por cima da menina. El passou os dedos dos olhos, levantou e olhou ao redor. Os pontinhos verdes brilhantes tinham ido embora, como tudo na vida da boneca. Sempre esteve só no final das contas.


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