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"Após o final da Guerra Santa no Século XX, Hades é teoricamente derrotado pelos Cavaleiros de Bronze Seiya e seus amigos, ao lado de Saori. Ficando na cadeira de rodas, impossibilitado de se mover ou falar, Pégasus ficou sob os cuidados da Deusa Athena, onde ocorre os fatos de Prólogo do Céu.
Athena então diz que irá reencarnar após 200 anos, com a promessa de não deixar cair no esquecimento a história daqueles a quem tanto amou, e quem tanto tentou proteger. Tudo em vão? Não, claro que não.
Os sobreviventes tomam conta do que restou do Santuário e o local sagrado é protegido até o século XXII. Aproximando-se da época da reencarnação da Deusa, o Mestre do Santuário toma as providências óbvias. Recruta crianças para treinamento de todos os lugares do mundo, enquanto procuram pela Deusa reencarnada."
Na Grécia, há duas Amazonas Aspirantes. Elane e Akemi. É Julho, o dia está ameno, o ano é 2190.
- Vamos mais cedo. Vai se trocar. ? Elane já estava com a roupa e pronta, e sua máscara natural. Os cabelos em um rabo de cavalo certinho e bonito. Suspirei e aceitei.
Os detalhes da roupa dela era vermelho com bronze. Os da minha era verde com a mesma cor. E enquanto minha máscara possuía um detalhe em espiral que descia do olho direito até a metade da bochecha, a dela era um desenho em formato de máscara ao redor dos olhos. Cada uma, ao adquirir a máscara, fazia seu próprio desenho nela como uma espécie de marca pessoal. E amazonas eram uma espécie de "Guerreiras" de Athena que mantinham o rosto escondido e só o revelavam a quem amava ou as conhecia antes, como família. E por serem mulheres, treinavam juntas e se uniam com o intuito de proteger-se e proteger umas as outras.
Nosso mestre era o cavaleiro de virgem, Asmita. Era um budista calmo e paciente, com técnicas disciplinadoras e interiorizadas. Como pessoa era quieto e silencioso, mas sempre disposto a usar qualquer coisa como lição de vida ou dicas de batalha. Parecia ler os sentimentos melhor que os outros cavaleiros de ouro. E lá estávamos nós novamente, sentadas em posição de meditação ?aquecendo? a mente para depois aquecer o corpo.
Ele estava quieto, observando-nos quando a amazona de Áries sobe até a casa de virgem um pouco preocupada. Era linda. Sua máscara dourada, com finos desenhos delicados em prata contornando toda a extensão do rosto e a armadura que cobria-lhe o corpo inteiro, além de uma capa branca caindo de lado. E seu nome era Mila.
- Asmita, por favor, vem comigo. ? Seu tom era de urgência e de pronto ele ergueu-se do chão. ? É a vila ao lado. ? Sem hesitar, ele a acompanhou. Eu e Elane nos encaramos, confusas.
- Há algo ruim na vila desde que chegamos, mas pensei que estava sob controle. ? Comentei confusa. Já não conseguia mais me concentrar. Sem o mestre ali parecia infinitamente difícil conseguir.
- Tente voltar à meditação. Se o Mestre voltar, podemos começar a treinar de verdade. Não se preocupe. ? Sua voz era firme e parecia me dizer delicadamente para não me meter em assuntos do Santuário daquela forma.
Dei de ombros e tentei. Fechei os olhos e respirei profundamente, segurando um rosário entre meus dedos e emanando meu cosmo (que era um tom esverdeado) suavemente ao redor do corpo, ampliando devagar e de forma segura, sentindo meu corpo começar a levitar. Elane a essa altura já estava lá no topo da casa, era melhor que eu naquilo e mais rápida. E o cosmo dela parecia sangue vivo de tão vermelho que era.
As percepções aumentam e de olhos fechados, sentimos melhor as pessoas, o ambiente e quem estava ao redor da casa de virgem. Asmita conseguia sentir todos no santuário, não era a toa que ocupava aquela casa. Um tempo depois, algo ou alguém lançou uma bola de "cosmo" até a nossa direção e ao abrir os olhos por debaixo da máscara, juntas conseguimos mentalmente parar aquilo e foi quando rodei o olhar pela casa e vi um cavaleiro de bronze de cara feia nos encarando.
- O que pretende invadindo a casa de virgem, garoto? ? Perguntei calma e séria. O treinamento incluía controlar a raiva e os sentimentos ruins e negativos.
- Talvez ele queira confusão. ? Complementou Elane com malícia. Eu era melhor em ser calma do que ela, só para constar.
- Onde está o Asmita? ? Perguntou irônico. Eu revirei os olhos, voltando ao chão com elegância.
- Não sabemos. E por que não volta ao campo de treinamento? ? Respondeu Elane tomando a frente. A diferença de treinar pessoalmente com um cavaleiro nível ouro e estar no campo é o seu potencial. Não que fôssemos melhores, mas o Asmita viu algo em nós. E as chances não eram maiores do que o resto dos aspirantes, isso dependia unicamente da dedicação pessoal. E aquele garoto ficava na base de campo cuidando dos aspirantes, pois já era um cavaleiro.
Ergui a mão direita e segurei o ombro de Elane, indicando que podia ir com calma.
- Porquê está aqui? ? Perguntei com educação.
- Não é do interesse de meras aspirantes. ? Respondeu metido e ríspido.
- Eu o derrubo em menos de três minutos. ? Comentou Elane para mim com divertimento. ? Aposta quanto?
- Que ele agüenta ao menos cinco. Se eu ganhar quem vai treinar com o Asmita hoje é você. ? Sempre ao final do dia, depois de treinarmos uma com a outra, o mestre escolhia uma para ir com ele. E quem ia, apanhava muito. MUITO MESMO.
- Fechado. ? E deu um tapinha na minha mão em gesto de cumplicidade e eu abri espaço e me encostei em um dos pilares para assistir. Senti a presença de mais alguns ao redor e suspirei. Eles eram loucos não é? Se Asmita voltasse, ou se eles fossem educados, tudo se resolveria. Do pior ou do melhor jeito, eram eles quem estavam escolhendo.
O garoto pareceu incomodado com a nossa confiança uma na outra e irritado pela aposta. Sorri divertida ali quieta, enquanto na maior elegância a amiga se aproximava do infeliz e com certo charme elevava o cosmo bem devagar e parecia imersa em fogo em poucos segundos. Elevou uma das mãos até próximo ao rosto e a outra mantinha o rosário envolvido ao redor de um braço inteiro protegendo a barriga. E naquele gesto clichê de ?vem cá meu amor? com o dedo indicador foi à gota dágua para o garoto atacar. Seu cosmo era roxo escuro e ele se moveu muito rápido e atacou usando as pernas e o joelho. Acho que o ?Galope do Unicórnio? é o suficiente para nos dizer qual armadura ele possuía. Interessante. Eu tinha um lenço verde ao redor da cintura que usava nas lutas, mas ela tinha o rosário, que eu só usava na meditação.
Com agilidade, ela se desviou e o garoto fez um buraco imenso no chão. Então ele era bom? Elane pareceu notar e com o intuito de ?não brincar? mais, atacou flutuando no ar e unindo as duas mãos em forma de oração e seu ataque era um mantra. Um choque de energia envolveu o corpo do rapaz e ele caiu no chão pela primeira vez. Irritado, saiu a atacar no clássico corpo a corpo. Em questão de luta assim, eu era melhor que Elane por não ter ainda ataques usando o meu cosmo, mas ela se defendia bem, ora recebendo alguns golpes na barriga, ora metendo socos super legais no rosto do garoto. E eles ficaram assim, numa velocidade surreal de ataques, durante quatro minutos. Ela já tinha perdido a aposta à essa altura e eu duvidei que eu ganharia. Era tudo muito equilibrado. E do nada, ela recebeu o primeiro golpe do garoto e bateu com tudo contra um pilar, quebrando-o ao meio.
Ele sorriu daquele jeito irônico e senti raiva. Já ia me aproximando quando uma mão segurou meu ombro. Era Asmita. Eu tremi dos pés a cabeça, ele estava com expressão indiferente, mas percebia-se certa... Preocupação?
- Elane continua. ? E sorriu com certa amorosidade para mim. Acenei com a cabeça positivamente e tentei me concentrar na luta ao lado do mestre. O garoto pareceu perder a compostura, mas fazia parte das regras terminarem a luta se você convocava uma. Não era permitido luta entre Cavaleiros, a não ser que um estivesse ajudando o outro a treinar ou houvesse algum motivo mais sério do que apenas... "Picuinhas pessoais".
Ela então se ergueu e eu pude ver o rosário entre os dedos dela brilharem muito num tom alaranjado. E então algo muito surreal aconteceu. Cada bolinha que compunha o rosário foi para um lado e todas envolveram o corpo do rapaz num golpe que se assemelhavam a pequenas agulhas voadoras. Elas rodearam seu corpo e o prendeu em duas voltas, dando-lhe um choque terrível. E ele caiu inconsciente no chão. Nisso, quatro rapazes apareceram e numa reverência à Asmita, um deles decidiu falar. Elane recolhia o rosário e voltava para perto de mim.
- Senhor, o cavaleiro de Touro Aldebaran nos manda dizer que logo os aspirantes das doze casas vão entrar nas competições. ? O garoto lá disse, ao mesmo tempo em que o de Unicórnio recobrava a consciência e irritado voltava para seu grupo e ficava quieto, no seu lugar.
- Mas porquê as competições vão começar mais cedo do que o esperado? ? Perguntou levemente preocupado.
- Porquê já fazem duzentos anos. ? Respondeu cordial.
E ele pareceu perdido. Como se algo o lembrasse há quanto tempo tudo havia começado. Acenou com a cabeça e os dispensou. Então nos fitou, de olhos abertos. Era assustador, Asmita nunca abria os olhos. Em hipótese alguma. E agora estava ali, revelando que possuía um belo par de olhos azuis. Como era... Era... Lindo. Eu fiquei um pouco tonta. E Elane também pareceu desconcertada. Como um pai amoroso ele sorriu e nos convidou a sentar mais ao fundo, onde possuíam alguns tapetes.
Com relação as competições, são para adquirir algumas das armaduras de bronze disponíveis. As de ouro foram as primeiras a serem conquistadas, depois as de prata e agora algumas de bronze. O Santuário estava se recompondo, já que já se passaram 200 anos desde a última Guerra Santa. Athena já havia reencarnado e era necessário possuir seus Cavaleiros.
- Quero treinar com ambas hoje. ? Dizia ele um tempo depois. Antes nos explicou que Athena estava Terra e precisava ser encontrada. E o Mestre do Santuário disse para alguns cavaleiros de ouro recrutar outros aspirantes e se dividirem pelo mundo a procura. ? E de olhos abertos. ? Ou seja, com toda a energia que ele possuía e guardava para si. Com todo o cosmo dele. Era hoje que eu morria em treinamento.
- Antes de qualquer coisa, deixem-me perguntar. Elane, e aquele golpe? ? Perguntei surpresa.
- Foi intuitivo. O rosário me ajuda a focar energia e liberá-la em todo o seu poder e intensidade. ? Explicou com calma, sorrindo sem que ninguém pudesse ver. ? Mestre, pode me responder algo antes?
Ele assentiu que sim.
- Vamos participar da competição, certo? ? Ele assentiu novamente em resposta. ? Se conseguirmos as armaduras, deixe-nos lutar ao seu lado?
- É claro que permito. Mas antes disso, o dever é lutar por Athena. ? E foi sério. Com um suspiro gostoso, levantou-se e me chamou com o olhar. Eu seria a primeira? Cara, que medo. Que medo. Que medo.
Obediente, me levantei. E em questão de segundos tudo de repente ficou claro em minha mente, compreendendo a necessidade de um treinamento tão "duro" aquele dia. Se Athena havia despertado, Asmita provavelmente se ausentaria, mas iria querer deixar as pupilas preparadas e de preferência com Armaduras. Nenhum cavaleiro de ouro sairia do Santuário sem antes fazer isso com seus alunos. E isso fez surgir em ambas aquele sentimento todo respeitoso pelo Mestre aumentar infinitamente e poder enxergar através dos olhos dele toda a bondade e força que ele possuía.
Não era mentira aquela história de que os olhos são a janela da alma. Asmita parecia preencher todo o local com seu cosmo quente e dourado. Ficava tão mais lindo assim. Hum-Hum. Estando frente a frente, ouvi o assovio baixinho de Elane e sorri nervosa. Eu já sei que vou morrer, precisa mesmo incentivar isso?
O cumprimento budista ocorreu então como uma curta reverência ao oponente e quando nos erguemos eu mal podia ler os movimentos dele. Eu fui parar à metros de distância dele em instantes e no chão. Era diferente das outras lutas e era óbvio que ele queria ensinar algo com aquilo, como por exemplo ?nunca se meta com os cavaleiros de ouro? ou coisa semelhante. Pisquei algumas vezes, sentindo meu pâncreas levemente amassado. Eu recebera um golpe na barriga sem nem perceber e fui sentir a dor depois.
- Seu dever hoje é me dar um único golpe. ? Ouvi a voz do mestre em algum lugar e por pura falta de concentração, não consegui distinguir de onde vinha. ? Vai se deixar cair no chão assim por um único golpe meu? E eu não fiz nada além de empurrar você. ? Era uma provocação muito séria. Ele estava disposto a ir adiante e eu comecei a tentar entender o motivo daquilo tudo. Dar um golpe nele era impossível. Pior ainda com ele de olhos abertos. ? Controle seus sentimentos, ou nunca vai conseguir me achar.
Levantei-me devagar e atenta ao meu redor, mas fui lançada para cima com velocidade e senti as costas baterem no teto e cai em queda livre no chão, formando rachaduras no mesmo. Até que ele pegou leve, poderia ter me matado com aquele golpe. Fiquei de joelhos e senti cada músculo do corpo dolorido, mas aquilo ainda não era nada para uma amazona receber. Eu é que estava tensa demais e assustada com o mestre ali. Então o encontrei bem atrás de mim. Belo local. Previ o golpe nas costas por causa da movimentação, mas não consegui desviar dele e o corpo afundou no chão, com as rachaduras se desfazendo e abrindo espaço para a absorção do golpe.
Senti que receberia um chute forte para finalizar o processo, mas me virei e tentei (não que eu tenha conseguido efetivamente) pará-lo com os braços protegendo o corpo. Não consegui repelir, apenas me defender de ter mil costelas quebradas e absorver o golpe de forma homogênea, onde afundei mais no chão. Ele se afastou e quase pude sentir a agitação interior dele.
- Aprendeu a prever meus movimentos? ? E pá, ele estava na minha frente. Como? Como ele se moveu tão rápido? Fiquei surpresa demais para reagir e novamente fui jogada longe por um ?toque? na barriga. Asmita tinha um charme especial. Os ataques dele eram por toques e acúmulo de cosmo nas partes especiais. Ponta dos dedos, dos pés e onde ele quiser e achar necessário. Assim como Elane fez com o rosário, Asmita fazia em qualquer lugar do próprio corpo. Eu senti uma pressão imensa no meio do corpo que se espalhou aos poucos e me prendeu o ar quando me choquei contra um pilar, que se partiu em mil pedaços e comecei a me perguntar quando é que a casa cairia abaixo depois de tantos pilares quebrados.
Não fosse pelo treinamento ao longo daqueles anos, eu teria perdido a consciência ali agora, mas me ergui o mais rápido que consegui e corri atrás de uma parede onde começava o labirinto de qualquer uma das doze casas. Suspirei forte e era impossível saber onde Asmita estava por ter o cosmo dele em todo e qualquer lugar da casa. ?Ache a fonte Akemi, a fonte...?
Mas eu não conseguia achar a fonte. Então novamente ele brotou do chão e bem na minha frente. Bem perto. Eu podia sentir agora a fonte de todo aquele mar de cosmo dourado (não que isso atrapalhasse a visão normal), mas já era um pouco tarde né?
- Você está fugindo ao invés de lutar. Está assustada demais. ? E antes de qualquer coisa, um toque na região do meu peito e algo explodiu. Senti o corpo queimar e levei um choque terrível. Era um ataque de verdade e não apenas um golpe. Era semelhante ao de Elane, mas posso afirmar que a intensidade era surreal. E me vi sem o sentido da visão.
- Pretende mesmo fazer isso, mestre? ? Perguntei preocupada, mas calma ao mesmo tempo.
- Sua visão está atrapalhando muito. Agora você pode me achar, não pode? ? E estremeci. Eu me sentia perdida sem a visão. Eu não era o Asmita que conseguia tudo sem isso. Fiquei cega. Totalmente cega. E pela primeira vez desde o início do treinamento comecei a sentir medos. ? Use seu cosmo para ler ao redor por você. ? Até que ele era bonzinho. ? Mas enquanto não superar seus medos não vai conseguir fazer isso. ? Então, como se estivesse num mar de escuridão caminhei lentamente até o início da casa e senti a presença de Elane. Senti que ela estava tão assustada quanto eu.
- O que meus medos têm a ver com isso? ? Era óbvio que eu não estava a fim de enfrentá-los.
- Tudo. ? Essa foi a única resposta. Eu ainda não entendia e não iria atacar as cegas.
Algo envolveu meu corpo e senti as mãos do mestre me prendendo por trás passando os braços pelos ombros me imobilizando. Era tão... Quente. Mas sem malícia aqui ham? Era quente mesmo, mas só por causa do cosmo dele. Como ele chegara ali? Talvez um detalhe ajude. Os cavaleiros de ouro atacam na velocidade da luz. Asmita em especial atacava com essa velocidade e com toda a intensidade de olhos abertos.
- Ainda acha que estou de olhos abertos? ? Perguntou calmo bem baixinho. ? Ainda acha que não é capaz de confiar em ninguém? Se você confiasse no mestre que tem, lutaria bem melhor e saberia que nunca pensei em matar você. Mas isso não significa que não vou fazer o necessário para que você aprenda as lições. ? E então ele me soltou devagar e a raiva daquelas insinuações tomou conta de mim. Sabia onde ele estava e comecei a tentar golpeá-lo, mas ele me parava com muita facilidade. ? Não foi assim que te ensinei a lutar. ? E outro toque na região do peito, aquele calor terrível e outro choque. Dessa vez eu caí de joelhos no chão, trêmula. Havia perdido a audição.
Senti vontade de chorar, sentindo-me totalmente indefesa e uma confusão de sensações me ocorreu. Asmita se aproximou e pude usar o cosmo para ler seus movimentos. Dava passos lentos na minha direção enquanto eu me concentrava e uma luz verde e escura me envolvia o corpo inteiro. ?Leia, leia, leia...?
Então ele ergueu a mão para mim com a intenção de me ajudar a levantar. Sem erro, ergui a minha na direção dele e com firmeza e segurança fui posta de pé. Não podia ouvi-lo e duvido que ele falara algo, mas foi o suficiente para iniciar uma segunda luta. E dessa vez parei o golpe dele no tempo certo e impedi de ser jogada aos ares novamente. Sem distrações como visão e audição eu podia senti-lo melhor e conseguia lutar com mais dedicação. Meus movimentos se tornaram mais limpos e objetivos, mais rápidos, um pouco melhor sim. Mas não o suficiente para conseguir golpeá-lo. Retirei meu lenço da cintura e consegui usá-lo como complementação dos golpes. Ele era fino em largura, mas bem longo em comprimento, além de resistente. Tentava ?enrolar? qualquer parte do mestre, mas ele se desviava com visível facilidade. Enquanto Elane concentrava o cosmo dela no rosário, eu fazia assim no lenço. Ele se tornava afiado e perigoso, podendo decepar a cabeça de qualquer um. Mas ele nem passava perto de Asmita.
Então perdi meu alvo. Ele desaparecera. Escondera o cosmo e não o liberava mais. Então dentro da minha cabeça escutei uma voz. ?Só o cosmo não basta para me encontrar, apenas para ler meus movimentos.? Mas o que ele queria, afinal? ?Tem medo de morrer?? E como não? ?Tem medo de me dizer a verdade e admitir seus mais profundos sentimentos?? Como ele sabia da minha dificuldade em dizer a verdades e confiar nas pessoas? Algo tocou minhas costas e outra explosão ocorreu. Senti dor no corpo inteiro e mais um choque. Havia perdido agora a fala. Não podia gritar ou emitir qualquer tipo de som. Só me restava o tato e olfato agora. E então os cheiros das coisas se tornaram muito fortes. E as sensações também.
Sem perceber, estava imersa no próprio cosmo sem conseguir esconder a própria presença. Andava pela casa a procura do alvo, um tanto irritada, enquanto conversava mentalmente com o mestre a respeito dos meus medos. E com isso fui abaixando a guarda sem perceber, deixando um rastro de luz verde por onde passava. Senti a presença de algo do meu lado e descobri ser Asmita quando senti o toque de seus dedos em meu ombro. E lutei melhor do que da outra vez, mas ainda assim, não era o suficiente. Cheguei próximo de envolvê-lo com o lenço, mas não consegui. E meu corpo já reclamava de estar exausto, mas não podia parar. Não tinha como parar. E uma pergunta dentro da minha cabeça. ?Se fosse por Athena, você daria seu melhor? Eu quero seu melhor Akemi e sei que você pode mais do que isso.?
Senti certo arrepio com aquela pergunta. E se fosse por Athena, você seria melhor? Então, pela primeira vez, reparei que o mestre nunca havia saído do lugar. Eu é quem caminhava perdida na casa sem orientação. No início ele se escondia, mas nunca Asmita havia mudado a posição. Com as pernas cruzadas e as mãos em posição de oração, há meio metro do chão e com o cosmo a envolver-lhe o corpo... Estava sempre ali. Ele só me cutucava e me orientava para dizer ?oi, é aqui?. Parei de emanar meu cosmo e me virei de frente para ele. Elane veria luzes douradas e lilases saírem do corpo do mestre em formato de flor de lótus, que se abria conforme usava o poder de restrição dos sentidos em mim. Ela estava quase aberta. E ele liberaria todo aquele cosmo no oponente assim que lhe tirasse todos os cinco sentidos, matando-o.
Quando pareci ter encontrado a luz, sem usar do toque, mas apenas de seu poder direcionado, senti-me ser jogada contra uma parede logo atrás e perdi o olfato. Assim como as forças e caí semi-inconsciente no chão. Não conseguia me levantar mais. Sem que eu pudesse perceber, Elane se levantara preocupada do chão, mas Asmita a parou com um gesto de mão.
- Ela precisa superar isso. Ela precisa saber o que vai enfrentar. ? Disse sério, fazendo a outra voltar a sentar-se logo atrás para observar. Todo o tempo em que estivera observando a luta, eu parecia perdida por conta de ir perdendo os sentidos humanos. E não conseguia encontrar o Mestre, tão perto de mim. O desespero e o medo me cegavam mais do que a própria restrição de sentidos. E quando finalmente consegui deixá-los de lado, já parecia fraca demais para lutar.
?Vai se deixar abater por não ter 4 dos cinco sentidos?? Não mestre, eu não iria, eu só não sei o que fazer! E com um esforço colossal, consegui me manter de pé, mas visivelmente cambaleante. Eu não tinha sentido algum. Só o tato. E meu cosmo não conseguia ler mais nada. E eu havia perdido a orientação de onde Asmita estava.
E com um último choque, perdera o tato. O único sentido que me restava era o sexto, a intuição, o cosmo. Se ele me tirasse aquilo, meu corpo se tornaria uma casca vazia e sem alma. Meu cosmo estava fraco, quase inexistente e o corpo não agüentaria mais um único golpe. Eu morreria antes disso.
- Mestre! ? Gritou Elane assustada, mas ele não lhe deu atenção.
?O que te mantém de pé? O que ainda te mantém viva?? O que me mantém viva? ?Qual é o seu objetivo a não morrer aqui e agora?? Acho que sou nova demais para isso. ?Todos tem algum objetivo pelo qual decide lutar e não morrer.? Era isso que ele queria saber esse tempo todo? Porquê simplesmente não perguntou? Talvez por que nem eu mesma soubesse responder, mas Asmita... ?Se eu mover um dedo, você morre.? EU NÃO QUERO MORRER! O desespero começou a tomar conta de novo. Ou será que isso eram esperança e persistência? Eu não estava descontrolada, só não queria morrer. ?Por quê? Por que não quer morrer??
- Mestre! ? Insistiu Elane com a voz tímida.
- Ela não quer morrer. E por isso não vai. ? Respondeu curioso, como se analisasse um objeto precioso. Quem olhasse isso agora o acharia psicopata, mas era apenas uma lição. Aquela que talvez fosse definir a personalidade das duas.
?Por que não quer morrer?? Repetiu ele na minha mente, insistindo em obter a resposta. Algo dentro de mim reagiu. Por que eu não quero deixar de lutar ao lado de meus amigos. Por que eu não quero abandonar ninguém e por simplesmente temer a morte. ?Não tema a morte. Enfrente-a!? Claro, e como? ?Lembrando-se que você não vai morrer se não quiser.? E isso é verdade?
Algo começou a reagir mais e comecei a sentir de dentro de mim um calor imenso. Senti forte a presença de Asmita e de Elane. Eu não sabia, mas ambos estavam a me incentivar a reagir fazendo doação de energia e cosmo para mim. Libertei-me daquilo e consegui ter mais consciência do que acontecia, só por que Asmita permitiu e me pus de pé. Então ele ergueu um dedo na minha direção e um feixe de luz envolveu meu corpo inteiro e senti sendo-me devolvido os sentidos um por um. Quando recobrei a visão, notei que minha máscara estava quebrada e com certa delicadeza a tirei. Por respeito, ele tornou a fechar os olhos e notei um sorriso discreto em seus lábios.
Sorri decidida e fechei os olhos, elevando o corpo meio metro do chão usando o cosmo para me sustentar e segurei o lenço nas duas mãos, que pareciam brilhar junto comigo e decepariam qualquer coisa. Lutaria também de olhos fechados. E seria digno vai.
Fiz uma reverência e observei que ele não estava disposto a começar aquilo. Em um golpe pessoal lancei o lenço ao redor do meu corpo e girei as pernas junto para acompanhar o movimento, cortando os pilares restantes ao meu redor. Ao tocar as paredes de pedra, elas explodiam e se cortavam como se fossem macias e gelatinosas. Então a casa de virgem desabou, com Elane me xingando eternamente e saindo debaixo dos destroços e sentando-se mais longe, mas ainda podendo ver tudo com calma. Asmita não moveu um único dedo. E quando ele decidiu, seu cosmo explodiu e se expandiu acertando-me em cheio. E ele voltou a ficar de pé, mas eu fui lançada para cima e caí no chão em queda livre. Mas caí com jeito, de pés e joelhos no chão, amparando a própria queda.
E começou enfim uma luta de verdade, onde eu ia com tudo e ele apenas desviava, paralisava e imobilizava os golpes recebidos. Mas eu já conhecia os movimentos possíveis do mestre. Meu azar era não ser tão rápida quanto ele. Num golpe de sorte, entretanto, finalmente acertei-lhe o pulso com o lenço cortando-o e fazendo um profundo corte ali. Ele se assustou, mas sorriu, finalizando a luta.
Preocupada, me aproximei do Mestre e envolvi seu pulso com o meu lenço para estancar o ferimento num gesto de desculpas. Queria acertá-lo, não feri-lo assim.
- Não fique assim, seus golpes são mais afiados que os meus. ? E bagunçou meus cabelos. ? Depois quem vai reconstruir a casa são vocês. ? Aaaaaah não! ? Agora é sua vez, Elane. ? E lhe estendeu a mão para puxá-la. Meu sorriso para ela foi imenso.
- Boa sorte. ? Falei com certa malícia.
Ela seria melhor que eu, mas seria muito interessante observar. E foi só agora que senti o quanto estava machucada e quebrada, precisando de descanso. E fiquei refletindo sobre a lição de ?você não vai morrer se não quiser?.
Sentada, abracei os joelhos e ergui os olhos para observar a luta entre Elane e o Mestre. Eu estava levemente preocupada. As dores do Tesouro do Céu eram muito incríveis, mas eu não saberia dizer se ele usaria o mesmo método contra ela. Seria um pouco previsível demais. E a lição era diferente.