Tudo ao seu redor era água, seus olhos estavam fechados, pois os cristais de sal quando vinham, ardiam. Seus cabelos dançavam ao remexer das águas, ela estava submersa no mar. Levantou as pálpebras para fitar o caminho, não via nada, apenas a escuridão. Nadou para submergir, foi em vão, quando mais subia, parecia que a distância aumentava. Entrou em pânico, o ar não vinha, estava acabando. “Socorro! Socorro!” gritou em seus pensamentos confusos. Levantou os braços na esperança que alguém a puxa-se, mas esse alguém não veio. Agora, ela se viu sobre a água, alguém gritava. Onde estou? Indagou olhando ao redor. À frente dela, alguém pulava de um precipício, um ser de cabelos brancos e roupas pretas. Não dava para ver seu rosto, com uma bola de ferro presa em seus pés, o ser afundou.
Ainda sobre o mar, viu alguém no precipício olhando para baixo, não era quem tinha pulado e sim outra pessoa. Estava usando uma capa preta, assim como o outro era impossível ver seu rosto. Ela tentou gritar, sua voz não saiu. Ela estava realmente ali? Começou a afundar, uma bola de ferro apareceu presa em seu pé. Novamente o ar não vinha, enquanto afundava igual ao outro, ela gritava, esperneava, queria fugir dali. Viu-se quebrada no fundo do mar, com os orbes pretos fitando o nada, a mão inutilmente estendida, estava morta. As folhas de um salgueiro balançavam, criando uma nevasca de folhagens dentro do mar. Alguém dançava ali perto, o Jardim Das Ilusões estava submerso também.
Os sonhos são meras conversas do consciente com o inconsciente, não é?
Então era isso, ela estava apenas sonhando, prevendo o futuro, mostrando o que queria. Nada ali era verdade, certo? Sentada a beira do precipício, suas pernas balançavam, ia pular? Seu desejo seria morrer afogada nas águas do mar? Mas e as pessoas que ela amava? Ou seria apenas uma pragma? Eles correspondiam aos seus requisitos? Quem seriam eles? O Jardim sem si? As ilusões eram Eros? Apenas a aparência contava? Oh! Isso seria errado, não é?
A garota ainda presa no fundo do mar abriu os olhos. Os grandes orbes negros brilhavam e seus cabelos não dançavam mais. A criatura que dava piruetas, agora estava morta também, estática. Quanto tempo se passou? Era possível ouvir correntes sendo puxadas, ela estava presa por correntes, não pela bola de ferro. Estava fora da água, acorrentada a uma grande estátua. De mármore negro, a peça causava medo em qualquer um, suas grandes asas cortavam o vento produzindo um som agudo.
Algo se arrastava pelo solo, vinha em sua direção. Era possível ouvir gemidos vindos da criatura, o som de pedras e areia sendo deslocados avisava do perigo. Ela queria sair dali, tinha que sair dali. O bicho era uma serpente vermelha enorme, suas presas não cabiam dentro da boca, os olhos pretos cintilavam. A menina começou a agitar-se, as correntes presas sem nenhuma folga, machucavam-lhe a pele, sangue brotava e a serpente parecia vir mais rápido. O anjo negro no qual a menina estava presa tomou vida, as correntes desapareceram. A menina correu para longe dali, agora tinha duas preocupações: a serpente ainda vinha e o vulto que continuava parado.
Por mais que ela corresse, não era suficiente, nunca se afastava. Quando se deu conta, um homem estava correndo atrás dela, e a serpente? Essa era a questão, a serpente virou um homem, seus cabelos eram vermelho cor de fogo, os olhos ônix, presas afiadas bem comportadas dentro da boca. Um toque de malicia em seu olhar fez com que a menina gritasse por socorro. Um pouco, mais á frente, viu o ser de roupas negras e grandes asas. Era notável a alegria que surgiu em seu rosto, ele poderia ajuda-la a escapar. Correndo com os pés descalços e feridos, a felicidade se misturava com a dor.
Finalmente estava frente a frente com o anjo negro, pediu, não, ela suplicou por ajuda. Um olhar frio foi jogado sobre ela, ele irá me ajudar? Pensou. O semblante sério do outro se transformou em um singelo sorriso. Sim! Ele iria ajudá-la. Quando a garota foi agradecer, as feições do anjo mudaram novamente, “Perdi meu interesse em você” murmurou. Virou-lhe as costas, abriu suas grandes asas negras e partiu. O outro homem de olhos ônix já estava atrás dela, com os olhos semicerrados observava à presa. A garota por sua vez, perdeu os movimentos das pernas, o pavor subiu-lhe a cabeça.
Com as grandes presas, uma ferida foi feita na menina que caiu. O sangue formava uma poça de baixo dela, seu vestido branco tomou a tonalidade avermelhada. Ainda com os olhos abertos, ela deu adeus à vida.
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Sob o teto da cabana, El dormia. Lágrimas escorriam de seus olhos, passando por suas bochechas até molhar o pano. Quando as pálpebras abriram-se, ela viu-se só. Onde estava Hiver? Ela levantou-se, olhou ao redor e agora realmente se deu conta que realmente não tinha ninguém ali. Esfregando as pequenas mãos nos olhos, ela enxugou as lágrimas. O sol já brilhava lá fora, os carvalhos de raízes brilhantes perderam o glamour. Ela era a única coisa viva ali.