O jovem andava de um lado para o outro da luxuosa sala do seu apartamento na cobertura de um dos condomínios mais caros de Tóquio. Sua vida de luxo e boemia iria acabar se não fizesse alguma coisa logo. Seu pai não estava brincando com aquela ameaça de lhe deserdar caso não arranjasse uma garota para casar e dar um jeito na sua vida.
Encontrar a tal garota não era problema nenhum. Syaoran já a conhecia, e muito bem. Sakura Kinomoto.
Haviam estudado juntos durante todo o ensino médio na pequena cidade de Tomoeda, e por uma obra do destino a garota acabou sendo obrigada a se aproximar dele por causa da sua terrível dificuldade em matemática, e o jovem era o monitor da matéria em questão.
Syaoran jamais se dera conta dos seus verdadeiros sentimentos pela jovem, pensava sentir um amor fraternal, queria protegê-la. No entanto, o amor que sentia por ela era diferente, e percebeu isso tarde demais. Já havia a perdido. E o pior de tudo, para o seu melhor amigo: Eriol Hiiragizawa.
O rapaz jamais entendera perfeitamente o que acontecera, mas o pai de Eriol conseguira de alguma forma armar um estratagema e poucos dias depois da formatura de todos em Tomoeda, o noivado de Eriol e Sakura foi anunciado. Aquele foi um golpe muito duro para Syaoran que, após perceber o que sentia por Sakura, planejava convidá-la para sair e revelar seus sentimentos.
Syaoran sentiu-se traído por todos, e afastou-se dos amigos, passou a viver cada dia como se fosse o último, envolvido em escândalos, mulheres e bebidas. E não se importava com as broncas do pai ou os sermões dos anciões do seu antigo clã na China. Ninguém conseguia intimidá-lo. Ou era pelo menos que isso que Syaoran pensava até aquela conversa com o pai naquela tarde. Tudo bem que era filho bastardo, e vivera grande parte da sua vida na China com a mãe sem ter a menor idéia da fortuna da qual era herdeiro no Japão. Mas agora já estava acostumado com aquela vida de regalias, e também todo o mês mandava uma grande soma em dinheiro para sua mãe para que ela pudesse continuar vivendo bem, que fora renegada por todos da família Li quando ela revelou que Syaoran era filho de um relacionamento extra conjugal com um japonês. Após a rejeição de sua mãe pela sua família, Syaoran decidiu ir para o Japão para morar com o pai, mas por ter sangue chinês em suas veias ainda tinha que honrar com algumas tradições do clã, porém fora liberado da obrigação de assumir o templo e os negócios da família Li.
O rapaz, entretanto, mantinha pouquíssimo contato com os membros da sua família e apenas telefonava regularmente para a mãe e para uma prima muito querida.
Tudo o que lhe ocorria naquele momento era procurar Sakura. Não conseguia imaginar-se casado com nenhuma outra mulher que não fosse ela. Mas não tinha plano algum.
O que iria dizer quando chegasse diante da porta do apartamento que ela dividia com Tomoyo? E já fazia dois anos que não se viam. Seria muita cara de pau chegar lá e dizer:
?Oi Sakura, lembra de mim? Sou eu mesmo Li Syaoran. Estou aqui para dizer que te amo e para pedir que você largue aquele imprestável do Eriol e case-se comigo!?.
Ela iria acertar a porta na cara dele.
Syaoran ? O que você é afinal de contas, Syaoran? *Ele se perguntou enquanto mirava sua imagem no espelho que ficava perto de um móvel no canto da sala* Um homem ou um rato?
Por fora era tudo o que um garoto de vinte anos poderia querer ser. Alto, forte, com olhos cor de chocolate que conseguiam aquecer o coração da garota mais difícil. Mas tinha um gênio difícil. Era teimoso demais para ouvir as pessoas ao seu redor. E quando se tratava daquela garota de olhos que pareciam duas esmeradas, toda sua coragem parecia se esvair. Não sabia como agir, o que falar. Simplesmente ficava travado diante dela.
Syaoran ? Então, é um rato, Syaoran *disse desanimado.*
Ele sempre soube que tinha medo.
Amava Sakura. E muito. Havia se apaixonado por ela desde o primeiro instante em que a vira. Mas quando estudavam juntos tinha medo de admitir isso para si mesmo e sofrer por não ser correspondido uma vez que a jovem vivia suspirando por Yukito Tsukishiro. Tentou se convencer que era apenas um carinho o que sentia por ela. Para não sofrer. Por medo.
Mesmo enciumado, incentivou Sakura a se declarar para o seu amor de infância, e a consolou quando ela foi rejeitada. E quando se deu conta do que sentia pela amiga, mais uma vez teve medo. Não queria perder a amizade dela.
Syaoran ? O que poderia acontecer? *Syaoran se perguntou enquanto largava-se no sofá, e ficou encarando o teto.* No máximo você iria levar um fora, ela ficaria estranha com você por uns tempos e logo esqueceria o assunto.
No entanto, Syaoran tinha que admitir: Era covarde. Poderia fazer qualquer coisa naquele tempo (ganhar todos os jogos de basquete ou as lutas que participasse), mas quando se tratava de Sakura Kinomoto não tinha coragem. E teria que fazer algo! E urgentemente. Sabia onde ela estava estagiando como professora de educação física de um colégio para crianças com menos de dez anos de idade. Iria até lá e conversaria com ela! Falaria tudo de uma vez só, sem pensar, assim não deixaria o medo o dominar.
E com esse pensamento, Syaoran acabou caindo no sono.
[...]
Wei ? Jovem Syaoran... *o rapaz resmungou e girou o corpo para o lado, caindo do sofá.*
Syaoran ? Belo jeito de me acordar, Wei *Syaoran disse aborrecido enquanto sentava-se.*
Wei ? O senhor acabou adormecendo no sofá outra vez *Wei respondeu com simplicidade.*
Syaoran ? Que horas são? *Syaoran perguntou ainda bem sonolento.*
Wei ? Passa das dez horas da manhã, Jovem Syaoran *Wei respondeu após consultar seu relógio de pulso.*
Syaoran ? O quê!? *Syaoran berrou enquanto se levantava em um pulo.* 'Tô' atrasado!
Wei ? Atrasado? *Wei perguntou enquanto erguia levemente a sobrancelha.* Para que, jovem Syaoran? Não me diga que já marcou com alguma garota tão cedo...
Syaoran ? Não é isso! *Syaoran retrucou irritado.*
Wei ? Então... *Wei parou para pensar um pouco.* Resolveu voltar para a universidade.
Syaoran ? Esfriou mais ainda *Syaoran disse, mas deu um leve sorriso. Trancara sua matricula na universidade de administração ainda no primeiro período.* Mas acho que terei que pensar nessa possibilidade logo, logo.
Wei ? Então para onde o senhor vai tão ?cedo?? ? Wei perguntou ressabiado. Seu jovem mestre nunca saia da cama antes das doze.
Wei era um dos antigos empregados na sua casa na China. Quando Syaoran resolveu ir para o Japão, o ancião prontamente se colocou a disposição para acompanhá-lo. Conhecia-o desde menino, e reprovava o modo como Syaoran estava vivendo, mas esperava que seu jovem mestre colocasse o bom senso no lugar e voltasse a agir de forma mais ajuizada.
Wei ? Eu preparei o seu café... *Wei começou a dizer, mas foi prontamente interrompido.*
Syaoran ? Não tenho tempo nem estou com fome, Wei, obrigado *o rapaz disse enquanto revirava o guarda-roupa.*
Wei ? Estou realmente começando a ficar preocupado, senhor *Wei disse assustado.*
Syaoran apenas riu enquanto fechava a porta do banheiro. Tomou um banho não muito demorado, afinal queria chegar à escola onde Sakura trabalhava antes que ela saísse. Imaginava que seria mais fácil encontrá-la lá, depois convidá-la para tomar algo e despejar tudo o que sentia de um fôlego só! Sem covardia dessa vez.
Wei ? Jovem Syaoran *Wei perguntou assim que o rapaz deixou o banheiro.* O senhor não vai fazer nenhuma bobagem, não é mesmo?
Syaoran ? Que bobagem eu poderia fazer sóbrio há essa hora, Wei? *Syaoran retrucou emburrado.* Eu vou apenas encontrar uma antiga amiga de escola.
Wei ? A senhorita Kinomoto? *Wei perguntou com os olhos brilhando por trás dos óculos, de pura animação.*
Syaoran ? Quer gritar isso um pouco mais alto para Tókio inteira ouvir, Wei? *Syaoran estreitou levemente os olhos em sinal de irritação.* E por que você acha que é a Sakura?
Wei ? Palpite *Wei sorriu e logo em seguida deixou o quarto.*
Syaoran terminou de se arrumar rapidamente, e só gritou da sala para Wei (que estava na cozinha) que não sabia se iria voltar para o almoço.
Wei ? Boa sorte, jovem Syaoran *Wei murmurou baixinho assim que ouviu a porta ser fechada.*
Continua...
***
Por: Jennifer Cavalcante