Eclipsado

Sakura esboçou um fino sorriso ao se lembrar da intimidade compartilhada por eles. Ele a prometera tudo que ela quisesse... E ali ela estava aonde queria, tinha o que queria. Claro que para isso tudo tinha um preço: ela pertencia a ele. Tudo que ela via, tocava, utilizava ou possuía pertencia a ele.

Ela pertencia a ele.

Ele a lembrava isso a cada momento de tortura, compartilhada onde quer que ele quisesse. Onde quer que ele quisesse iriam fazer amor ou sexo. Ela pertencia a ele como um objeto.

Um objeto sexual.

Agora ela estava longe de todos seus amigos, longe de seu namoradinho Naruto. Ela se referia namoradinho com certo sarcasmo. Ela gostara dele, mas... Mas ela podia estar com Sasuke. Seu eterno amado.

Quanto tempo passou chorando a ida dele?

Muito.

Muito, muito, muito...

Muito tempo fora desperdiçado em lágrimas e lamentações. Ele jamais dera a segurança de que um dia voltaria...

Mas ele voltou. E com ele trouxe interrogações para a mente de Sakura, trouxe ameaças...

Céus!

Ele ameaçou matar Naruto!

Como ela podia estar com ele?

"Respire comigo..." ela podia jurar que ouvira Sasuke sussurrar cruelmente em seu ouvido.

Ela temia pela vida de Naruto. Ele ameaçou... Ela sabia que ele era capaz de tal ato. Frio e calculista, iria até o inferno para conseguir tudo o que ele queria. Ou como ele dissera:

"- Lhe pertencia.?

Um suspiro pesado foi dado por Sakura, que sentia um vazio acima do estômago. Aquele vazio parecia ser saudade. Parecia ser arrependimento e dor. Ela estava arrependida de estar ali com Sasuke. Então...?

Não.

Ela não estava arrependida de estar ali. Ela estava arrependida de só agora estar ali.

Ela era um monstro, foi o que sua consciência disse.

(Monstro...

Não!

...só está aí por si mesma...

Mentira! Não! Não, não...)

A quem está tentando enganar, Sakura-chan?

-Quem é você? -uma voz infantil tirou-lhe a atenção do programa culinário.

Ela virou-se de súbito, com medo que estivesse fazendo algo de errado.

-Hã? -ela murmurou, confusa.

Ela se deparou com a figura de um menino de cabelos e olhos negros, que devia ter a mesma idade que ela.

-Eu perguntei: ' quem é você?'. -o menino a respondeu, irritado.

A garotinha de olhos verdes e cabelos estranhamente rosas, respondeu:

-Sakura. Haruno Sakura. Sou a filha da empregada. -ela disse orgulhosa.

O menino se aproximou dela e a analisou. Cabelos da cor de chiclete de cereja...

-Quer ser minha amiga? -ele perguntou com as maçãs do rostinho pálido, coradas.

Sakura abriu um largo sorriso.

-Claro, ...?

Ele se deu conta de que não havia se apresentado.

-Sasuke. Uchiha Sasuke.

-Claro, Sasuke. -ela repetiu, ainda sorrindo. -Nome legal. -constatou.

Ele maneou a cabeça em agradecimento.

Ficaram em silêncio estudando um ao outro.

-Er...Você quer brincar comigo? - a pergunta surpreendeu Sakura.

-S-sim! -ela respondeu.

Então, Sasuke a puxou pelo braço até que subissem as escadas e chegassem no quarto dele.

-Esse é meu quarto. -ele disse. -Esta um pouco desarrumado, mas acho que sua mãe não vai arrumá-lo hoje.

Ela sorriu, encantada com a imensidão do quarto e com a quantidade de brinquedos. Viu Sasuke se sentar no chão e mexer em alguns bonequinhos de guerra. Ela timidamente se aproximou e sentou-se ao lado dele. O observou. Observou a forma sádica que ele declarava a 'morte' dos soldados.

Ele sorriu quando ela timidamente pegou um dos bonequinhos e começou a imitá-lo...

?

[i]Desde pequeno ele era sádico. Sasuke nascera com o dom do sadismo. Se é que isso se chama de dom. Ele tinha prazer de ver as outras pessoas sofrerem. Ele gostava de ver todos sofrerem...

Menos ela.

Sakura odiava ser a única não atingida com isso. Ele fazia tudo que ela queria, evitava quaisquer conflito com ela... Mas ainda a fazia sofrer.

Assim ela achava. Nunca se passara em sua cabeça que ela estivesse ali por própria vontade. Ela jamais seria tão...

Tão egoísta.

Levantou-se da espreguiçadeira e seguiu andando para dentro da mansão isolada. O interior da casa era perfeito, mas faltava algo. Talvez a casa fosse grande demais... Talvez ela só não gostasse dali.

Andou pelo corredor longo com uma parede de vidro que dava vista direta para o mar agitado. Aquele corredor parecia morto. Não havia quadros ou fotografias, só havia uma parede vazia.

Ela sentiu uma estranha nostalgia. Queria estar de volta em casa. Queria deitar em sua cama e chorar as infelicidades próprias.

"Você tem auto-piedade, Sakura-chan. Isso não é bom." novamente a voz de Sasuke sussurrou-lhe na mente. Ele vivia a lembrando de que ela tinha pena de si mesma.

Ele a fazia sofrer...

...enquanto ela se afogava em seus próprios medos. Nos medos de que as promessas de Sasuke fossem tão vazias quanto ele.

No fim do corredor, em uma pequena bancada, havia uma foto dos dois. Ela ficara admirada ao saber da existência daquela foto, mas agora ela não causava nenhum efeito nela. Só mesmo ódio.

Naquela foto, eles estavam felizes. Ela o olhava com intensidade e paixão. Ele apenas a olhava...

... sem expressão alguma!

Aquela constatação a fez recuar alguns passos até dar de encontro a uma parede. Ela sentiu aquilo doer na alma. No local entorpecido por ele há muito tempo atrás...

...quando ele se foi.

Ela manterá aquele local fechado e esquecido. Qualquer lembrança que tivesse dele, ela apagara. Melhor, guardara ali, escondido. Onde nem ela mesma conseguia achar.

Plinc...

Plinc...