?O que deve haver por trás de todo esse manto negro que nos cerca? O que pode estar imerso nessas profundezas? Que mistérios estão só esperando por nós? Bom... não sei por que tento... creio que mesmo me fazendo tantas perguntas, ninguém as entenderá como eu gostaria...?Pensava uma garota que possuía os cabelos castanhos na altura de seus ombros, a pele rosada esbanjando saúde e os olhos cor de avelã, estava deitada sobre a relva de seu quintal olhando para o céu à noite. Áurea era o seu nome, ela possuía cerca de seus dezessete anos. Frequentava a escola ainda e almejava ser uma grande astrônoma.
A vila onde assistia era realmente pequena e se localizava próximo a um castelo medieval abandonado, este se situava ao lado de uma extensa campina que terminava em um alto penhasco. O local era rodeado por árvores bastante altas, o que o fazia parecer isolado do restante do mundo. Era simples, sem luxo, mesmo vivendo ainda em pleno século XXI. O que o fazia ser assim? Lembranças de um tempo de reis e rainhas.
Áurea voltou de sua aula, em plena segunda-feira. Passara sua tarde realizando suas tarefas diárias, porém à noite, correra para o sótão de sua casa ? que possuía uma faixada esbranquiçada com detalhes em madeira escura, construída em dois andares ? e montara seu telescópio, seu fiel companheiro. Sua moradia era de certo tanto afastada da cidade, no final de um rua e na divisa da floresta, onde via-se um caminho de terra por entre as árvores, este terminava no castelo, ou nas ruínas do que um dia foi.
?As estrelas estão tão lindas hoje, porém... Algo está muito triste?. Pensou com um aperto em seu coração olhando aqueles pontos brilhantes. Repentinamente, assim que afasta seu olhar do telescópio, nota uma flor, uma íris branca, em seus pés. Ela procurara por alguém olhando da sacada de onde estava, porém não viu nada além de folhas, árvores e... estrelas. A íris estava amarrada a um fragmento de pergaminho. Este dizia:
?Corra meteorito brilhante! Corra e se encontre com seu ponto final, onde ficará eternamente unida com a terra firme. Corra e encontre o local de onde esta fora retirada por um mero pecador. As flores esperam até meia noite.
Ass.: Um passado.?
Completamente confusa ela corre até sua mãe: - Mãe! ? Gritou um tanto quanto eufórica enquanto descia as escadas, sem saber o por que de tamanha euforia, não fazia a mínima ideia do que seria aquilo. ? Mãe! Mãe! Mãe! Onde posso encontrar íris aqui?
- Filha?! Que isso? Calma... ? Disse um tanto quanto incomodada com a agitação da jovem.
- Sem tempo pra isso, diz aí, mãe! Anda..
- Calma... Bem... Deixa eu ver... Acho que só encontrará íris próximo ao castelo... mas... está tar- BAM! ? Nesse instante a porta bate interrompendo a fala de sua mãe. Já era quase meia noite.
Andando em meio aquela trilha que ligava a vila e o castelo Áurea começava a se arrepender, porém pensava que já andara o suficiente para desistir, então seguia em frente. Via um clarão ao longe, ela notava que era a luz da lua por entre a folhagem densa das árvores. Seguindo o caminho, via uma igreja gótica aos pedaços, com parte de seu teto e com os vitrais quebrados, mas... as íris haviam decorado tão bem que fizeram do local o mais belo já visto. Arrastavam-se no chão como um tapete branco e perfumado. Ao entrar, viu um anjo de pedra com uma de suas asas quebradas na parede, a lua inundava o ambiente com sua magia.
-Olha o que o universo trouxe a mim... Minha estrela cadente... Seu brilho finalmente chegou...? Dizia um garoto alto, com cabelos pouco ondulados na altura de seus ombros, eram loiros e brilhavam com o luar. A voz do garoto era suave, esbanjando juventude, e sedutora, mostrando indícios de certo amadurecimento. Ele usava uma máscara prateada em seu rosto, esta não possuía detalhes, era simples e lisa. Trajava ainda um manto negro que cobria todas as suas vestes. Caminhou em direção à Áurea em passos calmos, ajoelhou-se frente à ela. ? Deixe-me te levar para ter um belo sonho, minha dama...
Áurea mostrou-se imóvel durante todo o tempo, ainda em estado de choque. Aquela voz... Não lhe era estranha. Ele beijou-lhe a mão. A jovem sentiu-se caindo, porém ambos começaram a levitar, mais e mais alto. Só então que olhara para baixo e notara seu corpo no chão, como se tivesse adormecido lá mas, em silêncio, Áurea deixava-se levar. Sobrevoaram todo o castelo e o vilarejo, viram as ruínas da antiga sociedade medieval que residia ali, sobrevoaram uma bela cachoeira e uma enorme planície verde e então voltaram para o ponto de partida. Ela o olhara tentando entender o que acontecera, porém ele seu alguns passos para trás e sumira em meio à escuridão das sombras das ruínas do jardim do castelo, de pronunciar uma palavra sequer.
Áurea caminhou até sua casa, estava relativamente confusa. Tinha certeza do que vira, mas não saberia dizer se era realidade. Quando seu celular a despertou, ela se levantara com um susto e batera a cabeça em seu telescópio ? ela ainda estava na sacada do sótão ? ?Foi tudo um sonho? Mas... Como?? Ela olha para a sua mão e vê uma flor branca ? uma íris, ?Como isto veio parar aqui se nada daquilo aconteceu?? Perguntava-se continuamente, estava consideravelmente confusa.
- Mãe... Você... Sabe onde posso encontrar íris? ? Perguntou para saber se não havia apenas sonhado.
- Nessa época do ano, filha? Não faço a mínima ideia. ? Respondeu surpreendida com a pergunta. ? Ande logo ou vai se atrasar para a aula, mocinha! ? Deu leves empurrões em sua filha que andara um pouco mais rápido.
- Tá, tá, tá!
Áurea não se conformava com o que havia acontecido, queria mais explicações. ?Não foi um sonho! Eu sei que não!? Tentava se convencer. Quando uma voz ressoa em sua mente, uma voz familiar, que nunca havia a escutado...
?- Vossa Majestade??
- Áurea! Acorde! ? Disse o professor irritado. ? Uma moça do ensino médio não deve dormir na sala de aula!
- De-desculpe professor! ? Dizia sem jeito. ? Prometo que não vai se repetir! ? Disse já em pé.
- Áurea, o que fez na noite passada? Parece que não dormiu... ? Comentou Karin, sua colega de classe, que por ventura, sentava-se ao seu lado.
- N-não s-sei bem.. Deixa eu prestar atenção na aula... ? Apoiou sua cabeça em uma das mãos.
?É... Deve ter sido só um sonho mesmo...?. Chegando a sua casa ela deita em sua cama e põe as mãos sob o travesseiro e sua face nele, tentava se conter, conter as lágrimas, pois havia se apaixonado por um garoto cujo não sabe sequer o nome. A jovem dos olhos cor de avelã move uma de suas mãos e sente algo e o puxa - uma carta - abre e percebe uma letra diferente da noite passada.
?Encontre-me às onze da noite na ponte próxima ao castelo. Tenho um segredo antigo a contar-lhe, um segredo que deveria ter dito a ti antes,
naqueles dias...
Onde o sol e a lua dançavam em harmonia e as estrelas brincavam conosco....
Estarei te esperando...
Ass.: Alguém que te conheceu.?
- O que estão tentando fazer comigo?! Querem me deixar louca?! ? Começou a chorar confusa.
As horas se passaram, não; para Áurea, se arrastaram e ela saiu de casa em direção à ponte com passos largos, ansiosos, estava claro o suficiente para não se precisar usar sequer uma lanterna. A lua brilhava alta e forte. Quando chegou, alguém, provavelmente uma mulher, trajava uma capa marrom escuro, usava o capuz desta e segurava uma vela. Áurea assustara-se, pois as vestes pareciam sujas e rasgadas também, além disso, apenas enxergava o queixo dela, pois o gorro ocultava o resto. Ela corre em direção a Áurea, que trajava vestido curto branco, solto e com laços nos ombros e uma fita em seu cabelo, também branca. A mulher que segurava a vela com uma mão, segura a mão direita de Áurea e a puxa correndo para uma parte onde as sombras encobriam tudo. Parece que desceram algumas escadas e entraram em alguma parte do castelo.
- Ele ama você, é segredo, não lhe diga que eu disse a você! ? A jovem encapuzada sai correndo e deixa a sua vela cair.
- Espere aí! Quem é você? ? Era tarde demais para que ela a respondesse. A vela apagou-se e graças a uma fresta nas ruínas ela conseguiu chegar a voltar para sua casa.