Incompletos

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Despedidas

    Hentai, Nudez, Sexo

    Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes

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    INCOMPLETOS

    Chiisana Hana

    Beta-reader: Nina Neviani

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    Capítulo II - Despedidas

    ? Amanhã logo cedo ela terá alta. É preciso que ela vá ao necrotério reconhecer o corpo do avô e assinar a liberação. Será que o senhor poderia acompanhá-la? Ela está tão frágil. ? uma médica pergunta a Shiryu, assim que ele sai da enfermaria

    ? Bom, se ela achar necessário, eu posso ir. ? respondeu, por pura falta de motivo para dizer não, e deixou o hospital. Almoçou num simpático restaurante da cidade e, apesar de ainda não sentir fome, provou todos os pratos exóticos que lhe serviram. Mais tarde, com a câmera em mãos, foi conhecer alguns pontos turísticos da região.

    Voltou ao hotel ao anoitecer e pediu o jantar no quarto. Depois de saborear a comida, ligou o notebook para checar seus e-mails.

    ? Três da Claire. ? disse e fez uma careta de insatisfação. Começou a abrir as mensagens. Em voz alta, leu a primeira:

    ?Meu bem, liguei para o flat onde você está morando e disseram que já faz três dias que você não aparece. Depois liguei para você e o celular só dá fora de área ou desligado, e eu sei que você não o desliga nunca! Então, liguei para os seus amigos e nenhum respondeu. Onde você está, meu bem? Estou preocupada. Mal nos falamos na saída do fórum quando assinamos... você sabe... não gosto nem de pensar nessa palavra. Tenho certeza de que você se precipitou... Sei que esse caminho tem volta.

    Responde, meu amor!

    Beijos, Claire.?

    ? A Claire é inacreditável. ? disse e começou a ler a mensagem seguinte, enviada cerca de meia hora depois da primeira:

    ?Shi! Sei que você checa seus e-mails com frequência! Por que não responde? E esse maldito celular? Por que desligou? Quero muito falar com você, saber se você está bem. Precisamos conversar! Responde, meu amor.

    Beijos ainda apaixonados, Claire.?

    ? Eu não acredito nisso. Não mesmo. ? disse e leu o terceiro e-mail:

    ?Shi, responde!

    Onde você se meteu? Estou completamente desesperada! Tenho medo de que você tenha feito alguma besteira! Se você não responder, quem vai fazer uma besteira sou eu! Responde, meu amor! Estou morrendo de saudades.

    Claire.

    P.S.: Te amo ainda mais que antes. Sei que vamos voltar.?

    Ele sorriu e balançou a cabeça incrédulo.

    ? Quando é que ela vai entender que acabou? ? indagou-se. Clicou em ?responder? e digitou: ?Estou viajando. Está tudo bem. Não trouxe o celular. Feliz Ano Novo. Shiryu.?

    Enviou a mensagem e apagou todas as que Claire enviara. Leu as próximas: alguns colegas de trabalho lamentando sua decisão de deixar a empresa, outros claramente tentando fazer com que ele contasse o ?real motivo? do pedido de demissão. Apagou todas sem responder. A mensagem seguinte era de Seiya e Saori, desejando um Feliz Ano Novo e mostrando algumas fotos de Paris. Respondeu essa mensagem com alegria. Falou sobre a festa de ano novo que os chineses armaram especialmente para os turistas e comentou rapidamente sobre o salvamento da moça. Seiya era seu melhor amigo desde a infância, tinha-o quase como um irmão, e Saori era uma boa amiga. Aproveitou e enviou-lhes também uma foto que tirara mais cedo no Jardim Botânico de Rozan.

    Quando retornou à caixa de entrada, Claire já tinha mandado uma resposta.

    ? Mas será que ela está grudada no computador? ? ele indagou, e leu:

    ?Feliz Ano Novo? Está me gozando? Como posso estar feliz se nos separamos? Eu só sou feliz com você.

    Viajou para onde, querido? Estou me sentindo tão sozinha... e você deve estar se sentindo também, não é? Não quer que eu vá te encontrar? Eu vou, seja lá onde for! Sei que ainda há uma chance para nós! Você ainda está aí? Entra no MSN! Vamos conversar! Por favor! Beijos, Claire?

    ? É incrível como ela sempre acha que sabe o que estou sentindo. Todos sempre acham que sabem! ? disse consigo e, irritado, fechou o notebook.

    Pegou papel e lápis numa pasta e começou a desenhar. Era um hobby que tinha na adolescência, mas que abandonara há tempos. Desenhou as paisagens que vira durante a tarde e, a certa altura, supreendeu-se a desenhar um rosto feminino triste, com uma lágrima que escorria pelo cantinho do olho. Achou que a lágrima devia ser de sangue e que merecia ganhar o tom vermelho, mas não tinha trazido lápis de cor. Deixou o desenho como estava. No dia seguinte compraria os lápis e terminaria. Ficou olhando o papel e pensando na moça que salvara e na solidão que ela devia estar sentindo. Depois, despiu-se e deitou-se na cama. Logo adormeceu.

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    Dia seguinte.

    ? Como se sente? ? uma enfermeira perguntou a Shunrei, enquanto a ajudava a vestir o vestido branco, pois o pescoço ainda estava bastante dolorido, o que dificultava os movimentos.

    ? Mal. ? ela respondeu. ? Mal, mas não pelos machucados. É aqui dentro que dói.

    ? Consegue ir ao necrotério? ? a moça disse, ignorando o comentário de Shunrei. Estava tão acostumada a lidar com pacientes diante de perdas, que já não se comovia.

    ? Acho que sim. ? levantou-se e calçou as sapatilhas com a ajuda da enfermeira.? Agora já pode ir. Está de alta. Se sentir algo estranho, não hesite em voltar.

    ? Certo. Obrigada.

    ? De nada.

    Caminhou lentamente até o local que lhe indicaram. A cada passo que dava, a dor no peito adensava-se e tornava a respiração mais difícil. Viu a placa que indicava o necrotério. Entrou. Um funcionário levou-a a uma segunda sala, onde havia várias macas cobertas por lençóis. Ele descobriu uma delas, apontou para o rosto do morto e, enfastiado, perguntou:

    ? É esse?

    Shunrei olhou o homem. A face enrugada costumava carregar sempre um sorriso terno, mas agora trazia apenas a crueza da morte repentina.

    ? Sim... ? balbuciou. Aproximou-se do cadáver e tocou-lhe a fronte. ? Meu vovozinho, e agora?

    ? A senhora tem que assinar aqui. ? o funcionário disse friamente, empurrando uma prancheta com papéis. - É para liberar o corpo.

    Ela assinou e o homem tornou a cobri-lo.

    ? Vai levar ou vai mandar a funerária buscar?

    ? Quê? ? ela indagou, confusa.

    ? O morto. Vai levar?

    ? Ah, eu vou providenciar uma funerária. ? disse e saiu.

    Sentia a cabeça girar e chorava discretamente. Do lado de fora, apoiou-se na parede para não cair. Era a primeira vez que se sentia tão desolada. Nem quando o noivo morrera tinha sentido uma dor tão corrosiva. O noivo. Há tempos não pensava nele. Era um bom noivo, pelo menos para ela, a despeito do que pensavam os demais. Era bruto, isso era fato, mas sempre a tratara bem, na medida do possível.

    Ela sempre tinha vontade de rir quando ele tentava fazer-lhe alguma delicadeza. Vez ou outra acontecia de ele chegar a sua casa com algumas flores, e era inevitavelmente engraçado ver aquele homem rude, talhado pelo trabalho duro na lavoura e pelas brigas onde sempre se metia, segurando um desmantelado buquê de flores roubadas de algum jardim. Com certeza em algum lugar havia um jardineiro desolado, pois ela sabia que para arrancar algumas flores ele devia ter feito um belíssimo estrago em todo o jardim.

    De toda sorte, era um bom noivo. Estava certa de que se casaria com ele, seria uma esposa dedicada, e teriam muitos filhos. Até o dia em que lhe trouxeram o noivo morto, com uma faca fincada no peito e o rosto desfigurado, e jogaram-no em sua cama. Disseram que tinha brigado por causa dela. Passado o choque, muito mais que dor, ela sentiu um certo alívio. E durante muito tempo culpou-se por não lamentar a perda como devia e por constatar que ele realmente não fazia falta. Entretanto, se não sentira a falta do noivo, a morte do avô causava justamente o oposto: doía mais que qualquer outra coisa na vida.

    Deu alguns passos, ainda cambaleantes, murmurando consigo que devia cuidar do sepultamento e tentando pôr as ideias em ordem.

    ? Oi. ? Shiryu disse ao se aproximar dela.

    ? Oi. ? ela respondeu, um tanto confusa, e murmurou, aparentemente consigo. ? É preciso tomar as providências...

    ? É. A médica pediu que eu viesse com você, mas eu achei que não devia. Então fiquei esperando que saísse. Quer ajuda?

    ? Sim, por favor. ? ela respondeu, enxugando as lágrimas. ? Eu não sei nem por onde começar.

    ? Então venha. Aluguei um carro. Posso levá-la aonde precisar.

    ? Obrigada.? disse e acompanhou o rapaz.

    Os dois passaram o resto do dia cuidando do enterro e, ao cair da tarde, com um pequeno cortejo, subiram a montanha em direção ao modesto cemitério localizado no topo. Os poucos amigos do velho fizeram-lhe uma pequena homenagem, declamando emocionadamente seu poema preferido. Cabisbaixa, Shunrei ouviu tudo e lembrou-se de como o avô amava os poemas de Li Bai, o maior poeta do mundo, segundo ele. As vozes dos amigos misturaram-se à do avô, que ressoava em sua memória.

    ?Entre as flores há uma jarra de vinho.

    Sou o único a beber: não tenho aqui nenhum amigo.

    Levanto a minha taça, oferecendo-a à Lua:

    Com ela e a minha sombra, já somos três pessoas.

    Mas a Lua não bebe, e a minha sombra imita o que faço.

    A sombra e a Lua, companheiras casuais,

    divertem-se comigo, na primavera.

    Quando canto, a Lua vacila.

    Quando danço, a minha sombra se agita em redor.

    Antes de embriagados, todos se divertem juntos.

    Depois, cada um vai para a sua casa.

    Mas eu fico ligado a esses companheiros insensíveis:

    nossos encontros são na Via Láctea...?(1)

    Os poucos presentes aplaudiram e, sob o som das palmas, ele foi enterrado. Um a um, os presentes cumprimentaram Shunrei. Boa parte deles também cumprimentou Shiryu, pois a notícia do salvamento já havia percorrido toda a cidade. Ele julgava que não era para tanto, tinha apenas tirado a moça do carro, mas parece que para aquelas pessoas tinha feito algo realmente incrível.

    Quando enfim o avô foi enterrado e todos, exceto Shiryu, foram embora, ela ajoelhou-se diante do túmulo e chorou copiosamente. O rapaz apenas observou-a sem nada dizer. Conhecia aquela dor e sabia que era preciso deixar que parte dela saísse junto com as lágrimas. Quando ela enfim se levantou, sentiu tontura outra vez, cambaleou e foi amparada por Shiryu.

    ? Tudo bem? ? perguntou.

    ? Sim. Eu estou bem. É que já faz horas que não como nada. Deve ser por isso que estou tonta.

    ? Então vai ter que comer! Não pode ficar assim.

    ? Eu não sinto fome.

    ? Eu sei. Vi que não comeu quase nada no almoço. ? disse, lembrando que tinham almoçado juntos depois de resolverem os detalhes com a funerária. Ela mal tocara a comida e falara apenas poucas palavras . ? Concorda que sem comer não dá?

    ? Sim. Eu vou para casa e lá verei se consigo comer alguma coisa. Obrigada por tudo mais uma vez.

    ? De nada. Quer que eu a leve?

    ? Não precisa. Já lhe dei muito trabalho. Além do mais, a casa é aqui perto.

    ? Imagina. Se precisar de mais alguma coisa, estou lá no hotel. Não fique com vergonha de me procurar.

    ? Obrigada. ? disse e, a passos lentos, foi embora.

    Ele desceu a montanha. Lá embaixo, ainda olhou a rua, movimentada àquela hora, e pensou em dar uma volta, mas acabou resolvendo voltar ao hotel. Jantou no restaurante. Lá, a colega de Shunrei aproximou-se e perguntou como tinha sido o enterro. Ele descreveu a cena rapidamente, antes que o gerente começasse a gritar com a moça. Depois de jantar, trancou-se no quarto. Como tinha comprado os lápis de cor antes de passar no necrotério, pôs-se a colorir os desenhos que fizera no dia anterior. Aproveitou e fez mais alguns. Depois, ligou onotebook e abriu o e-mail só para ter a certeza de que a ex-esposa tinha mandado mais algumas dezenas de mensagens, às quais não se deu ao trabalho de ler. Não gostava de ser cruel, mas sabia que se começasse a ser gentil com ela acabaria por lhe dar esperanças. E a última coisa que queria era voltar para sua antiga vida.

    Conhecera Claire na festa de fim de ano da empresa, dois anos atrás. Era filha de um dos executivos americanos, tinha acabado de completar dezoito anos e começara a trabalhar como modelo para se distrair. Acabou por construir uma carreira bem sucedida. Era muito bonita, alta, magra. Tinha os cabelos loiros, lisos, na altura da cintura, e os olhos de um azul quase cinza. Ele ficara encantado pela beleza dela, e ela pela dele. Trocaram telefone na festa e começaram a namorar poucos dias depois. Em alguns meses, já estavam casados. Mas, já nos primeiros meses, ele começou a se questionar porque tinha se casado. Foi quando percebeu que se casara mais para tentar preencher o vazio que sentia na sua vida do que por amor a Claire. Já tinha vinte e oito anos, um histórico de namoros duradouros, mas mornos, e quando ela apareceu, agarrou-se a idéia que todos tentavam lhe empurrar goela abaixo: era hora de se casar. Tentou ser um bom marido, era amoroso, fazia as vontades da esposa, mas nada disso era espontâneo. Eram sempre gestos calculados, feitos sob medida para agradá-la. O que com o tempo, foi tornando tudo em sua vida muito artificial. Então, já que o vazio que sentia, ao invés de cessar, aumentava a cada dia, decidira pedir a separação. E o pedido caiu como uma bomba atômica no apartamento onde viviam. Lembrava-se claramente da cena, passada seis meses atrás.

    ? Como é? ? Claire perguntou, sem entender direito o que ele tinha dito.

    ? Eu não quero mais. Quero me separar de você. ? ele respondeu em voz baixa, mas muito convicto.

    ? Você quer se separar? O que há, meu amor? Nós somos tão felizes! ? ela retrucou assustada.

    ? Não. Eu não sou feliz. ? ele continuou.

    ? Eu não faço você feliz?

    ? Não se trata de você. Sou eu. Eu não me sinto feliz com esse casamento... eu... nós não devíamos ter nos casado tão rápido.

    ? Mas nós nos amamos! É natural!

    Ele quis dizer ?eu não amo você?, mas não disse.

    ? Preciso de um tempo para mim. Preciso parar um pouco.

    ? Mas não precisamos nos separar para isso! Por que não tira férias? Poderíamos fazemos uma viagem! Uma praia deserta, que tal? Eu e você...

    ? Não, Claire. Não. Eu estou indo embora.

    ? Indo embora? Não! O que deu em você? Não vai embora, não! Eu não vou deixar. ? gritou, já entre lágrimas.

    ? As minhas malas já estão no carro. Só estava esperando você chegar para conversarmos. Você pode ficar aqui no apartamento e...

    ? Não aceito! ? ela interrompeu. ? Não aceito a separação! Não assino nem morta!

    ? Estou indo. ? ele disse e se levantou.

    ? Não vai, não! Eu sou sua mulher! ? ela gritou e ficou na frente dele.

    ? Não é minha dona. ? disse, sempre em tom baixo. ? Eu vou sair agora. Depois, quando você estiver mais calma, conversaremos melhor.

    ? Eu não estou nervosa! Eu estou furiosa! Você tem outra, não é?

    ? Você está me confundindo com um qualquer. ? disse. Depois saiu e fechou a porta atrás de si. Claire tornou a abri-la e, a altos brados, pediu ao marido que ficasse. Ele, que não gostava de escândalos, voltou-se para ela e disparou:

    ? Cada grito que você dá é mais um motivo para eu ter certeza de que minha decisão é correta.

    Ela parou de súbito, e apenas observou-o entrar no elevador.

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    Shunrei chegou em casa e deixou-se cair no sofá, sem ânimo para mover um músculo sequer. O resto de sol daquele dia entrava por uma fresta da janela e pousava exatamente sobre o retrato que estava na mesinha de centro: ela e o avô, felizes, no dia em que ele a levara a Shanghai pela primeira vez. Perdeu-se nessa lembrança, pensando em todos os momentos que passaram juntos e em como eram felizes. Adormeceu. Quando acordou, o que via através da fresta era um céu negro. Levantou-se com dificuldade, pois a cabeça girou outra vez, e aproximou-se da janela. Não havia lua aquela noite. A companheira do poeta, e de seu avô, já tinha se retirado de cena. Foi até a cozinha e, mesmo sem ter vontade, comeu um pedaço de pão e tomou um copo de leite. Depois, enfiou-se entre as cobertas e chorou até adormecer outra vez.

    Continua...


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