Liandan

  • Finalizada
  • Kiia
  • Capitulos 12
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Aposta I

    Álcool, Drogas, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Violência

    Terra, tempos atuais – Japão, província de Hokkaido, capital Sapporo.

    O som infernal do despertador digital mostrava que já estava na hora de afastar-se da terra dos sonhos para ingressar no ritual mundano de ir ao colégio público chamado Usagi no Me. Apesar dos poucos meses morando naquela cidade, Ulric Knox, aos seus 17 anos já era líder bem sucedido de uma gangue de escola, de nome Black Rose. Mas não era por isso que o garoto mostrava-se ser um jovem rebelde em casa, ou era motivo de desgosto para o pai.

    Há sete meses, Ulric e seu pai, Claude Knox, estavam de mudança para a província de Hokkaido no Japão, e isso era graças à transferência que seu pai havia ganho para o novo País após longos, e cansativos anos de trabalho em uma empresa americana. Ele era um dos melhores engenheiros mecatrônicos, e ao receber a proposta de aumento acompanhada da transferência,  não soube negar a oportunidade.

    No começo, Ulric parecia ser o que mais sentia com a nova moradia, mas logo se acostumou à nova rotina, e superou até mesmo a distância com os conhecidos que viviam na cidade de Nova Jersey. Ele não era um garoto tímido, muito pelo contrário, havia sido algo fácil arranjar companhia, claro que não era o tipo de amizade que um pai gostaria de ver acompanhando seu filho, mas mesmo em sua cidade anterior, Ulric já tinha se envolvido uma ou duas vezes com assuntos “fora da lei”, por assim dizer. Mas o garoto era esperto, nunca tiveram a sorte de conseguir incriminar o rapaz, ele sempre dava um jeito de sair ileso da situação. Até mesmo o idioma diferente não havia sido problema. Ele tinha enorme facilidade para aprender aquilo que desejasse, e como seu pai fora avisado da transferência com dois meses de antecedência, foi tempo mais do que suficiente para o garoto conseguir falar o idioma fluentemente, assim como dominar a escrita.

    Levantando-se sonolentamente, Ulric deslizou seus dedos suavemente até o desprezível aparelho com a intenção de desligá-lo, e rumou ao banheiro praguejando o fato de que em pleno sábado teria aula naquela semana. Com a escova de dente na boca, e de frente para o espelho, o jovem contemplou sua face com olheiras no refletor. Seus cabelos originalmente loiros haviam sido escurecidos e exibiam mexas de tonalidade roxa. O cabelo preto era curto, e desfiado, porém macio e sedoso. Os olhos eram azuis e brilhavam como duas pedras preciosas. A pele era clara e bem cuidada, apesar das rixas e brigas, era raro encontrar algum machucado no corpo esguio e forte do rapaz. Ulric sem dúvida era um garoto vaidoso, e belo de fato. Ele sempre se preocupava com sua aparência, mas acima de tudo sua atenção era voltada para assuntos da gangue, onde como líder ele deveria lidar constantemente com os problemas, e ainda existia o preconceito por ele ser de outro país. Mas esse não era um dos maiores problemas de Ulric, pois ele havia conseguido vencer o antigo líder honestamente em uma luta, e muitos apoiavam suas decisões, porém, mesmo apoiando, apenas um membro da gangue sabia quem de fato Ulric era. O jovem era cuidadoso ao ponto de não deixar que ninguém soubesse sua identidade ou demais coisas sobre ele. Nem mesmo, o antigo líder conhecia Ulric ou sua aparência.

    Apesar de sua posição como membro da Black Rose, suas notas não eram baixas, e ele não era o tipo de aluno que se comportava mal, ou faltava com frequência. Longe disso, Ulric fazia de tudo para passar a imagem de aluno perfeito dentro da sala de aula, motivo pelo qual o pai, e até mesmo os professores não se importavam com sua aparência punk, já que orelhas, sobrancelhas, boca e até mesmo nariz eram os lugares mais enfeitados por piercings. Futuramente, ele planejava colocar um na língua, mas a falta de dinheiro não permitia. Mesmo com o uso dos acessórios, eles eram discretos o suficiente para não chamarem muita atenção, e mesmo quando o Presidente do conselho estudantil reclamava de sua aparência, Ulric obedecia retirando os piercings sem reclamar.

    - E assim começa mais um inferno. – cantarolou irritado voltando para o quarto para vestir o uniforme do ensino médio.

    Todos os dias, o menino tinha que fazer um esforço tremendo para convencer-se de que ele deveria frequentar a escola. Afinal, ele era um gênio, mesmo sem prestar atenção nas aulas, ele sempre sabia do que se tratava o assunto, tinha enorme facilidade para aprender as matérias, por isso, era admirado por muitos professores e alunos.

    Já pronto Ulric desceu as escadas, e deparou-se com a ausência do pai. Era algo comum devido ao trabalho de Claude, e o menino de fato não se importava. Ele mesmo preparava suas próprias refeições, que eram uma das poucas coisas na qual não era bom. Graças às aulas de conhecimento doméstico que tinha na escola, Ulric sabia se virar na cozinha, mas devia admitir que a sua comida era somente suportável.

    Sem se preocupar com o café da manhã, o jovem pegou o simples obento feito na noite anterior, e em seguida pegou a pasta da escola sobre a mesa, e assim, partiu em sua costumeira caminhada para o colégio Usagi no Me.

    Não demorou muito para ele avistar os portões metálicos abertos do enorme colégio de três andares, quatro se contassem com o terraço, que tinha entrada proibida para alunos, porém, Ulric e seus amigos sempre davam um jeito de passar os intervalos naquele lugar.

    Logo na entrada, ele pode avistar ao longe Miraini Mori, ela era uma pedra em seu sapato. Era apenas um ano mais nova que ele, tendo assim 16 anos, mas mesmo assim estava na mesma classe que Ulric. Era uma garota inteligente de fato, mas a personalidade dela incomodava o rapaz...

    - Olha só quem veio empestear o colégio com seu fedor de lobo podre!

    A voz irônica chegou aos ouvidos de Ulric e ele trincou os dentes em um sinal de irritação. Aquela menina tinha o dom para deixá-lo fulo. Era uma jovem de personalidade forte, de fato. Miraini aproximou-se do rapaz com um sorriso provocativo no rosto. Os cabelos castanhos eram comprimidos com pequenas mechas em frente às orelhas, um rabo de cavalo preso no alto do lado esquerdo, e uma franja desfiada completava o penteado da menina. Os olhos pequenos e puxados, típicos de japoneses, eram negros e expressavam a malicia da jovem.

    - Digo o mesmo. Florzinha de merda. – cumprimentou ele no mesmo tom de voz de Miraini.

    A maioria das pessoas se sentiriam ofendidas, ou no mínimo irritadas, porém Miraini soltou uma sonora gargalha amigável. Os olhos e demais expressões de Ulric relaxaram ao ouvir a risada da amiga. Sim, amiga, pois apesar das desavenças, eles eram bons amigos. Ninguém sabia explicar como aqueles dois haviam tornado-se tão próximos e se comportavam daquela maneira tão intimida. Talvez fosse pelo fato de que Miraini era uma das poucas garotas da escola que participavam de algum clube de luta e era realmente boa no que fazia. Ela era integrante do clube de kendo, cujo era senpai e participava constantemente de torneios representando a escola. Sem dúvida era uma ótima lutadora. Talvez por esse motivo, Ulric a admirava e a tratava com devido respeito. Miraini era como uma irmã mais nova para ele, esse poderia ser um dos motivos pelo qual eles tanto brigavam.

    - E como está o braço, hein? – Com a voz esbanjando preocupação, mas com a expressão normal, ele voltou a falar referindo-se ao braço da amiga. Na última competição que ela participara, não só havia perdido como também quebrara o braço.

    Miraini olhou para onde a lesão ocorrera, não estava mais enfaixado com o gesso, na verdade havia retirado no dia anterior após a escola. Não havia sido um caso tão grave para ficar mais de um mês engessado.

    - Bem. Mas de acordo com o médico terei que ficar ainda alguns dias sem poder treinar. – afirmou ela balançando a cabeça negativamente. Ela não gostava de ficar entediada, e o amigo sabia que Miraini não iria obedecer a essas ordens.

    - Hoje tem treino de kendo que horas? – questionou ele caminhando ao lado da amiga. O sinal agora soava indicando que todos deveriam entrar nas salas.

    - Logo depois das aulas, por que? – com a sobrancelha erguida, e curiosa por saber o interesse repentino, ela não escondeu que imaginava que Ulric fosse tramar algo.

    - Quero poder ver a florzinha perder outras pétalas. – brincou ele revirando os olhos azuis esbanjando sarcasmo.

    ...

    As aulas correram incrivelmente rápidas, o que não era algo que fazia muita diferença para Ulric, que ainda iria ficar mais um pouco, como prometido, para assistir o treino da amiga, ou como ele gostava de chamar “a poda da flor mal cheirosa”.

    Acompanhando o treino de kendo, o jovem observava que ele realmente era alguém diferente, especial. Uma coisa que desde pequeno tinha, era sempre ter facilidade no aprendizado, era um prodígio, e era também o orgulho de sua falecida mãe Holly Knox, cujo havia morrido quando Ulric tinha apenas cinco anos de idade. O garoto se comportava melhor do que até mesmo o pai com relação à ausência da mãe, ele parecia entender que a vida continuava independente de quem vivia ou morria, bem diferente de Claude. Quando criança, a frieza de Ulric chegava a assustar os demais, mas com o tempo o garoto havia aprendido a controlar e fingir sentimentos. Aquela brincadeira era fácil demais para ele. Não que ele fosse “falso” o tempo inteiro, mas sabia atuar muito bem quanto necessário caso precisasse escapar de alguma situação, ou moldar aquela situação ao seu favor.

    Miraini não podia treinar, o mestre responsável pelo clube de kendo não permitia, e como resultado, a jovem apenas assistia aos movimentos dos bokens. Ela estava irritada, mas não podia ir contra as ordens de seu superior.

    O motivo para Ulric continuar no dojo mesmo sem sua amiga participar do treinamento, era que ele gostava de assistir lutas marciais justamente pela sua facilidade para aprender algo apenas observando, e analisando. Ulric era um gênio perigoso, isso seus inimigos deviam admitir.

    - Isso é injusto. – reclamou Miraini baixinho ao lado do amigo. Ela realmente queria voltar a treinar o mais rápido possível, e amaldiçoava o maldito que havia quebrado seu braço em sua última competição.

    Soltando uma risada divertida, e baixa, Ulric levantou-se a fim de sair, tinha ainda outros assuntos para resolver. De pé, ele bagunçou os cabelos presos da jovem que bufou irritada.

    - Vou indo, até mais e vê se não faz loucura.

    Com o conselho e o sorriso ainda em lábios, Ulric partiu. Ele tinha que ser cuidadoso agora, pois tinha assuntos para tratar com a gangue. Gangue... Ulric repetiu a palavra mentalmente, não gostava do som ou das letras que compunham a palavra. Preferia acreditar que aquele era seu pequeno império. Desde que era criança, uma coisa que o menino não conseguia evitar era o fato de querer mandar, de querer governar, de estabelecer ordens, e saber guiar. Ele era um líder nato. Por esse motivo, sempre se envolvia com pequenas gangues na busca de criar seu próprio reinado, e ao que parecia dessa vez tudo caminhava para perfeição.

    Para não ser descoberto por inimigos, ou até mesmo por membros da Black Rose, Ulric tomava todo o cuidado possível. No meio do caminho, havia passado em uma estação de metro, onde usando o banheiro fizera questão de trocar de roupa, algo que não chamava a atenção. Quando finalmente chegou ao pequeno esconderijo do grupo, adentrou por uma das passagens “secretas”, onde logo colocou seu disfarce. Não era algo tão incrível, apenas roupas negras e surradas, sobretudo de mesma cor, e por último, o rosto era parcialmente oculto por óculos escuros, e o capuz do, sobretudo. Não era algo que escondia totalmente o rapaz, mas como Ulric quase não tinha contato com seus “súditos”, assim como ele gostava de chamar, não havia problema. Às vezes, conforme sua vontade e humor, o rapaz usava outra roupa ou acessórios diferentes.

    - Problemas, apenas problemas. – murmurava enquanto massageava as têmporas. Costumava ser assim nos últimos três meses.

    Black Rose não só era a gangue que dominava somente o colégio Usagi no Me, mas também era o grupo de delinquentes que comandava pequena parte da cidade de Sapporo, méritos do atual líder, Ulric. Por esse motivo, gangues rivais apareciam constantemente em uma tentativa de derrotar a Black Rose. Porém, nunca alguém havia conseguido derrotar o rapaz, cujo era chamado por seus companheiros e inimigos de Ookamimun, que significa “Lobo da Lua”. Talvez fosse por seu ar misterioso, ou por sua solidão, que as pessoas haviam colocado este apelido em Ulric, mas a verdade era que o rapaz não ligava, até gostava do suposto nome.

    - O que temos pra hoje? – indagou o líder do grupo quando esbarrou em Saguro, um rapaz de cabelo topetudo e laranja. O ruivo era o braço direito de Ulric e o único que sabia a identidade de Ookamimun.

    O ser de corpo forte, e alto sorriu divertido ao ver o amigo. Jogou fora o que sobrara do cigarro após dar uma última tragada na droga.

    - O mesmo de sempre. – informou o capanga revirando o bolso em busca do maço de cigarros que estava quase vazio. – Aqueles merdinhas da Chi o Koete, querem revanche. Será que eles não cansam de tanto levar porrada? – lançou ao ar uma risada maldosa.

    Chi o Koete era uma gangue nova formada pelo antigo líder da Black Rose. Shisa Soru era o apelido e nome de guerra do atual líder da gangue rival de Ulric. Ambos compartilhavam de uma rixa que durava mais tempo do que sequer eles podiam imaginar. Talvez algo que tivesse haver com vidas passadas, isso é claro, se Ulric Knox realmente acreditasse nessas estúpidas crendices.

    - Muito bem Saguro, eu tenho sido bastante paciente até aqui... Mas... – Ouve uma pausa – Piedade apenas irá fazer com que esses idiotas continuem a nos atacar, porém chega. Esta na hora de finalmente colocarmos o tal sangue nas cruzes daqueles idiotas. - informou Ookamimun com uma voz séria, fria e sem emoções, a verdadeira face de Ulric finalmente estava à mostra.

    O punk soltou uma risada divertida e levantou-se apresado já com um novo cigarro acesso entre os dedos.

    - Claro, porque Ookamimun não perdoa aqueles que entram em seu caminho, não é mesmo, chefe? – questionou com um tom de voz zombeteiro. Ele havia entrado na brincadeira.

    As portas de metal do galpão foram abertas, e uma forte luz invadiu o ambiente escuro onde antes Ulric e Saguro conversavam.

    O fiel braço direito do líder foi o primeiro a cruzar a abertura, e logo todos os mais de oitenta membros da Black Rose pararam seus afazeres para dar atenção ao comunicado dos dois componentes mais fortes do pequeno grupo.

    - Escutem todos, seus bando de merdas! – bravo como sempre, o punk iniciou o diálogo do alto de uma sacada, que após descer as escadas dava no salão onde os demais se encontravam. – Temos um serviço a ser feito.

    Todos pareceram se empolgar com a notícia de Saguro, e a euforia foi ainda maior quando a silueta do Ookamimun fui vista saindo do breu. Mas ele não desceu as escadas como Saguro havia feito.

    - Sim, meus caros. Nosso reinado esta sobre ataque. – A voz autoritaria do jovem foi entrando juntamente com ele no salão. Muitos tinham medo de Ulric devido à maneira como Shisa Soru havia sido derrotado e humilhado diversas vezes na frente de todos.

    - Não podermos mais ter piedade contra a Chi o Koete, eu desejo ver o sangue deles em minhas próprias mãos. – houve uma leve pausa por conta do urra de vitória dos gângsteres. Eles pareciam ter gostado da ideia. – Sim, meus bravos súditos, é chegada a hora. E aqueles que se colocarem em nosso caminho terão todos o mesmo fim.

    Com o fim do discurso houve um barulho alto e inconfundível de tiro, porém, havia sido abafado pela estrutura do galpão onde a Black Rose vivia, e quantidade de membros que impedia o eco. Era Ulric que segurava uma pistola de pequeno porte. Sua mira certeira havia destruído uma lâmpada queimada que se encontrava no fundo do salão. Os estilhaços caíram sobre alguns homens de Ookamimun, mas todos apenas se alegraram e transbordaram empolgação com um grito de guerra.

    - Não desejo piedade. Apenas humilhação, está na hora de mostrarmos do que a Black Rose é capaz. – completou.

    Satisfeito com o resultado, Ulric retirou-se voltando ao salão negro de antes. Tinha que pegar seu boken, não que ele tivesse costume de usá-lo nas brigas, mas era um objeto que gostava de sempre levar consigo, era quase de estimação.

    - Um belo discurso, hein, Ookamimun? – comentou Saguro dando mais uma tragada na droga. O ruivo era um rapaz novo, não devia passar dos 18 anos, porém, a barba por fazer e as cicatrizes deixava-o com uma aparência envelhecida. Ulric se perguntava como, e quando o amigo havia parado naquele mundo, mas isso não era importante... Ele só tinha uma coisa na cabeça no momento.

    - Discurso? – O moreno permitiu-se abrir um sorriso debochado. – Apenas palavras tolas, e, isso não me interessa. O que me cativa no momento, meu bom amigo, está longe disto, apenas desejo ver sangue, e não me importo o quanto seja necessário derramar para saciar essa minha sede.

    Sem proferir sequer mais uma palavra, Ulric retirou-se. Mais uma guerra estava prestes a ser iniciada, e se dependesse do próprio comandante da Black Rose, nem um homem sairia vivo desta rebelião.

    Fim Aposta I


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