Allives batia na porta, e pelos suas vestimentas, compreendi que aquela cena era a continuação de sua fuga. Chovia. As nuvens também choravam, poderiam estar sendo caridosas, ou talvez apenas estivessem depressivas com sua própria razão de sofrer. A criança ainda chorava, e apertava o ombro com força. Dois criados que de alguma forma eu reconhecera como Mihcaia e Angel, atenderam a porta. Mihcaia tinha olhos lilás, e cabelos castanhos; usava uma roupa típica de empregada inglesa, mas, uma pequena tiara de pano na cabeça. Pendurado as suas costas, estava Angel, com seus olhos azuis, e cabelos louros, com suaves mechas brancas e pretas, ele podia ter sete anos, e parecia doente; usava uma camisola branca, com três botões no pescoço. A mulher, que aparentava ter dezesseis anos, sorri, ao olhar o menino. Passa a mão esquerda sobre seus cabelos, num gesto gentil, e o aproxima.
- Bem vindo, All. - ela disse carinhosamente. Allives não a conhecia, mas, não recuara. - Você não se lembra ainda, mas, logo vai entender. Nós somos amigos, e eu prometo, que não serei que nem o tolo do Xeax. - dito isso, Mihcaia segurara a mão de Allives, que tremia, e o levara para dentro da casa. Angel dera um breve sorriso.
Queria conhecer Mihcaia, ou reencontrá-la, pelo modo como as coisas pareciam funcionar nesse lugar. Allives certamente, teria uma afeição enorme por ela. Não sentirá ciúmes, pois com certeza, sabia que devia algo á aquela mulher, e que ela já havia sido tão gentil como quando fora com Allives, com minha pessoa. Ela, me ajudará na primeira encarnação como Rainha. Agora, só era preciso saber como. Me desviara de meus pensamentos, e voltara á olhar para as memórias. Allives agora parecia um ano mais velho, e vestia a parte de cima de um terno negro, com uma gravata igualmente preta; Seu short ia até o a coxa, e era da mesma cor que o terno. Os sapatos eram negros, e usava meias até abaixo do joelho. Ele caminhava com um livro branco debaixo dos braços. Ele corria num corredor escuro, que reconheci imediatamente. O corredor, que criara um caminho de sangue, levando-me a Allives. Ele se virou para uma porta que um segundo antes não estava ali, e entrou, reaparecendo em um belo jardim de rosas. Haviam rosas vermelhas, brancas, e azuis, todas juntas, porém, um pouco mais afastadas, rosas negras floresciam solitárias, já começando sua existência desacompanhadas. Mihcaia sentava-se no meio da mistura de flores, e parecia estar plantando mais rosas. Angel estava deitado no colo de sua irmã, com o mesmo ar doente de antes, porém, parecia se alegrar com a visão das flores, as quais deixavam o local vivo. Allives sorriu ao vê-los, e sentou-se na frente de Mihcaia. Mihcaia sorrirá, e Angel, que adormecera, resmungará algo.
- All, por que demorou tanto? ? ela perguntará.
- Perdão, ainda não consigo achar a porta rápido... ? ele respondeu.
-Ao menos você está melhorando. Da última vez, lembra-se de que foi parar na Escandinávia? ? ela disse, dando risinhos.
Allives assentiu sorrindo.
- Então, hoje, você aprenderá sobre os símbolos que representam a Rainha. Como sabe, você, fará parte do grupo de pessoas que a acompanham e ajudam, para ajudar o mundo mortal á chegar mais perto de uma possível utopia. ? ela começou. ? Você é um abençoado dos poderes dela, assim, conseguiu achar este local. Eu sei que compreende que se não encontrasse nossa residência, seria pego por Xeax, então, sabe o que deve á ela. Prosseguindo, vê estas rosas? Á rosa, é um dos símbolos, assim como o céu, o mar e a espada. Não engane-se, pensando em coisas melancólicas, mas, concentre-se somente nas rosas. Estas plantas, não tem cheiro, vê? ? disse acariciando uma rosa azul. ? No momento em que nossa rainha nascer, uma nova rosa crescera sem nem ao menos ter sido plantada, e todas estas aqui, ficarão brancas. Quando ela estiver no caminho para cá, elas começarão á ganhar cor novamente, e quando estiver nestes terrenos, o perfume de rosas encherá completamente o local. Por isso, quero que sempre se mantenha atento a estas flores, compreende?
Ele assentiu, concentrado.
- Mih, então, todas as rosas que eu vejo em locais afastados da casa, são das reencarnações passadas da rainha? ? ele perguntará.
- Exatamente! Que bom que está entendendo. ? ela disse com alegria, e começando a ninar Angel em seus braços. ? Vamos entrar, está esfriando.
A cena mudará para uma que eu já conhecia. Vi-me retirando a cabeça de uma poça de água, e agora, vira o dono do sorriso, e do meu provável salvador. Allives. Aquilo não me surpreendia.
- Alteza? ? ouvi a voz de Allives.
Virei-me, e notei que as cenas haviam terminado. Olhei para Allives, e lembrei-me de minha promessa, abraçando-o logo em seguida, porém, sem soltar. Aproximei minha boca de seu ouvido, e sussurrei ainda enlaçando-o.
- Meu querido, devo lhe agradecer por suas memórias, porém, preciso que diga-me algo agora com urgência. Eu sei que você já pressentiu algo, e que vê com mais clareza do que eu, então diga-me: Quem são os invasores que aproximam-se?
Senti o corpo dele tremer, e percebi que ele tentava soltar-se, porém, mantive-me firme, e tornei a repetir a pergunta:
- Quem são Allives? Esconder de mim a informação não fará ela deixar de ser real. ? disse-lhe agitada.
Ele tentará soltar-se novamente, e o apertei com mais força. Pelo bem maior então. Fiz com que ele deitasse no chão, sua expressão era amedrontada. Sentei por cima dele, e logo abaixei meu corpo, chegando incrivelmente perto do rosto dele, e sussurrei com a voz mais ameaçadora que tinha.
- Fale.
- Ele! Ele está vindo com seus companheiros! Ele, ele... ? ele falava numa expressão de choro, e mesmo já tendo compreendido, perguntei ainda na voz fria.
- Quem?
- X-Xeax... Ele está vindo... E é para me buscar. ? disse, soltando a última palavra junto com um gemido, e apertando seu ombro.