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Estava sentado diante a estátua predominante do salão, meditando como era habitual. Ou melhor, tentando meditar.
Algo estava diferente. Estava se sentindo estranhamente mais forte.
Não conseguia se concentrar. Cada vez que fechava os olhos via a imagem do sonho, que estava tendo frequentemente, nos últimos tempos.
Sonhava que estava, junto com os companheiros, diante dos deuses. Estes falavam que a imagem deles não havia sido esquecida, e que por tudo que fizeram até então, iriam ser castigados. De repente, via os olhos de Saga sangrando e o corpo de Mu ferido. Ouvia um gemido de dor da boca de Shura e dos outros. Mas estes, não conseguia ver. Quando uma forte dor lhe atingia o peito, acordava.
Se perguntava o que significava este sonho.
O porque de ver seus companheiros, mesmo aqueles que já estavam mortos, sofrerem tanto.
"O que quer dizer" ? Pensou.
Abriu os olhos e imaginou quanto tempo estava ali tentando se concentrar. Não sabia, apenas tinha impressão que era muito tempo.
- Você, também, está muito calado ultimamente ? Disse olhando a grande imagem de Buddah.
Fazia dias que não ouvia Buddah falar. Nem mesmo quando queria perguntar algo. Apenas ouvia sua voz ecoar nas paredes do grande salão.
Suspirou um tanto cansado. Já era noite e sabia que daquele jeito não iria conseguir mais do que se irritar tentando, inutilmente, se concentrar.
Levantou e caminhou até o quarto.
Passou pela porta dupla e se dirigiu para esquerda, onde havia uma porta dupla de vidro, que dava para uma pequena varanda. A cama estava na frente da porta de entrada, apenas a alguns passou desta.
Sentou na beirada do colchão, olhando para o chão sem entender a mensagem do sonho. Tinha quase a certeza que aquilo era uma mensagem.
Balançou a cabeça no intuito de afastar os maus pensamentos que o assombravam a mais de uma semana e deitou calmamente, ainda com a roupa que passou o dia e, fechou os olhos.
A luz da grande lua cheia, que entrava pela porta de vidro aberta, iluminava o local.
- Shaka! ? Ouviu um sussurro em voz feminina e delicada, lhe chamar.
Estava sonhando?
- Shaka! ? Outra vez a voz.
Não, não é um sonho. Abriu os grandes olhos azuis e, ainda deitado, percorreu os olhos pelo quarto.
Parou seu olhar na cortina de ceda branca, que "dançava ao som" da brisa que entrava de leve pela porta da varanda.
Não sabia explicar, mas sentia o corpo relaxado, e estava se sentido em tranze.
Aos pouco sentiu a vista ficar turva?cada vez mais turva.
Ouviu passos apressados passarem perto de si. Abriu os olhos rapidamente. Sentia o corpo frio e, logo percebeu que estava deitado em um banco de pedra. Levantou e percorreu o olhar por onde estava. Era um corredor muito largo. Véus coloridos estavam pendurados no teto, e iam até o chão. Esvoaçavam de leve pela brisa que entrava por entre os enormes arcos na parede. Dali tinha uma bela vista da cidade que se movimentava lá em baixo.
Aquele ambiente parecia-lhe familiar.
Caminhou entre os véus e viu um homem moreno que caminhava de um lado para outro. Vestia uma roupa típica da alta casta de sua terra.
"Estou na Índia" ? Pensou
Ouvia os gritos de um bebe, vindo de uma das portas a sua frente. Não conseguia saber qual era.
Uma mulher morena, com um vestido comprido, vermelho e, como um véu na cabeça a condizer com a roupa, estava alterada. Dizia algo, para o homem. Shaka não conseguia ouvir, devido aos gritos que, iam aumentando com o passar do tempo.
Aproximou-se cautelosamente para tentar escutar o que ela falava. Quando percebeu que estava suficientemente próximo, encostou na parede bem atrás de um véu cor de vinho.
- Ele é nosso neto ? Dizia a mulher, impaciente, para o homem que não parava de andar de um lado para o outro.
- É filho de um estrangeiro ? O homem respondia com raiva ? Como quer que eu aceite isso?
- Porque se importa tanto com isso? ? A mulher segurou nos braços do moreno.
- Você não vê! É uma vergonha para nossa família.
- Ninguém vai reparar?
- Como ninguém vai reparar? ? O homem diz indignado, empurrando a mulher de leve, afastando-a ? Não vê? É cega! Aquela criança tem a pele branca e olhos claros. Não é de nossa raça.
- O que importa? É nosso neto!
- Essa criança pode nos levar a ruína. Nosso povo jamais vai aceitar isso. Eu já tomei minha decisão.
Neste momento passos apressados vinha atrás de Shaka no corredor.
Shaka se assustou. Não sabia o que fazer, não tinha onde se esconder. Foi quando uma presença se fez sentir do seu lado. Não conseguia ver seu rosto, mas identificou logo a voz.
- Não se preocupe, eles não podem te ver. ? Disse aquela voz tão calma.
- Porque? ? Perguntou um pouco assustado.
- Porque estamos de passagem por esta época ? Respondeu a voz ? Apenas observe.
Olhou de volta para onde estava o homem e a mulher.
Cinco homens os cercavam. Estavam com túnicas pretas e turbantes, também, negros. Eram barbados e tinham espadas curvas na cintura.
"Guardas" ? Pensou.
- Não ? Disse a voz ? Mercenários.
Shaka olhou na direção da voz, mas não via ninguém, apenas sentia aquela presença. Queria fazer perguntas, mas não agora. Agora queria saber o que se passava.
O homem deu alguma ordem para os outros. Estes, quando começaram a caminhar em direção a uma porta, a mulher do véu vermelho começou a gritar e a segurar o braço de um deles.
O homem que deu as ordens segurou-a enquanto eles empunhavam a espada e entravam pela terceira porta a contar do casal.
O choro da criança parou. Shaka fez menção de correr na direção daquela porta, mas parou ao ver a porta a sua frente se abrir.
Uma mulher de cabelos lisos, compridos até a cintura, loira, vestida com uma túnica típica indiana, preta, saiu correndo dessa porta, para o lado oposto do casal. Levava algo nos braços. "o bebe" ? admirou-se.
Os homens que agora saiam da sala, falavam que não encontraram nada.
Por azar o avô da tal criança olhou na direção onde a mulher corria. Apontou para lá e começou a correr seguido dos cinco homens, deixando a mulher de vestido vermelho ali sentada em um banco de pedra, chorando.
No momento em que os homens passaram por Shaka, este virou rapidamente para correr. Tinha que fazer algo. Tinha que detê-los.
Passou por um véu branco, outro marron?outro que já não distinguiu a cor. Aquele corredor parecia interminável, os véus pareciam se multiplicar tapando a sua visão. Já não via os homens.
Foi quando sentiu um forte vento passar por si, fechou os olhos por segundos e, quando voltou a abri-lo estava em outro local.
- Olhe a sua volta ? Disse a voz suavemente.
Continua?