- Allives, que faca é esta?
- Não queria ter que fazer isso, majestade, mas, será necessário acertá-la. - ele disse, com tristeza na voz, como se relembrasse de algo perturbador.
- Irá tirar minha vida? - disse em voz baixa, começando a me preparar para a possível morte.
- Não irei mata-la. O golpe doerá, mas, depois ficará tudo bem. ? ele disse, e antes que pudesse reagir, enfiou a faca em meu abdômen.
Não gritei. Via o sangue cair, a carne cortada, mas,não sentia dor. Aquilo soava tão familiar... Machucados indolores. Meu corpo perdia forças, e despencava no chão.
- Rainha, por favor, me perdoe... ? ele disse, ajoelhando-se em minha frente, e colocando-me de joelhos. ? Vai passar, não preocupe-se, ficarei com você por quanto tempo desejar.
- Não doí. ? Falei, sinceramente.
- Não? Bom, então... - ele parecia confuso - Pode dizer o seu objetivo agora?
Assenti com a cabeça, tentando conter o sangramento. Lembrava de algumas coisas, seriam as palavras certas?
- Tente de novo, dizer seu objetivo. ? ele falou, firmemente.
- Neste vasto mundo,manter a paz, juntamente com os outros grandes impérios que o governam. Mas, não os impérios dos mortais, e sim, os de pessoas, tão especiais quanto os habitantes dessa casa. Poderes sobre os sonhos,talvez sobre a mente, e a capacidade da batalha, sempre me acompanhando. ?
- Não esqueceu-se de algo... ? ele perguntou com receio ? majestade?
- Cada alma que solta-se do corpo, empresta-me sua cópia, com a mesma energia, ou seja... ? nessa hora, senti algo escorrer pela minha boca, e supus que fosse sangue ? Tenho a ajuda dos mortos...
Olhei para o belo rosto de Allives, e um sorriso aliviado nele surgiu. Começou a aproximar-se, seu olhar calmo estava sobre mim. Colocou a mão sobre o corte, profundo, e vi a ferida começar a se fechar. O rapaz empalideceu.
- Obrigada, Allives. ? disse, quase que no automático.
- Está agradecendo? ? indagou Allives.
- Isso foi para me ajudar ,imagino.
- Inimaginável... - ele disse, baixo, e antes que eu pudesse notar, ele caíra no chão, e apertara a cabeça com força. - Está vindo, está vindo... Voltando, com certeza, voltando... Ele está... Ah.... - essas eram as únicas palavras que pude entender de todas as que falara enquanto se sentava encolhido no canto daquela estranha sala, parecendo devidamente horrorizado.
- Allives? - Senti vontade de rir ao ver a cena, como uma mãe que vê o filho molhar o lençol. Não entendia esse terror,mas, eu devia saber de algo, que ainda não me lembrava diretamente. - Quem está vindo? - tentei soar reconfortante, já que ele empalidecia cada vez mais. Aliais, até seus olhos pareciam clarear.
Ele pareceu levar um tabefe na cara. Começou a se levantar ,ainda cambaleando, enquanto tentava recuperar as forças.
- Vindo? Por que alguém estaria vindo, majestade? - ele falou, soando nervoso.
Uma voz, de uma antiga vida talvez, me disse para pressioná-lo, como se fosse atacá-lo, para fazê-lo falar, ou aquela conversa não daria em nada.
- Não minta para mim, vampiro. - falei, sem raciocinar direito.
Ele estremeceu, e recuou para o canto da sala.
- Vampiros só vivem para copular se alimentar e sentir prazer... Não tem como eu ser um, minha senhora.
Que desculpa esfarrapada. A situação mudara rápido, mas, o conhecimento me vinha a mente.
- Os vampiros não mais simples maquinas de matar, e você sabe disso. Eles tem inteligência, e uma habilidade inegável para batalha... É claro, sempre houve aquele contra-tempo do alho, da cruz e do sol,mas, eles conseguiram resolver tudo com um pouco de raciocínio. Para o sol, bastou apenas durante o dia, usarem uma camada protetora com a luz da noite, e cercar seu território com luz artificial. Para o alho, basta desviar-se, ou apenas esmagá-lo, e por fim, o temor das cruzes terminou quando esta espécie tão inteligente fez um acordo com a igreja, bebendo somente o sangue de criaturas más, ou humanos realmente desprezíveis. Você pode muito bem ser um. - me aproximei, e fiz com que este sentasse no chão, ajoelhando-me perto dele. - Confie em mim, meu caro. Conte-me seus temores, e eu o ajudarei a matá-los.
Ele respirava devagar,mas, com certa dificuldade na voz, disse:
- Eu lhe entrego minhas memórias... Faça de mim um homem de novo... - Com aquela última frase, mesmo que por pouco tempo, ele deixou de parecer uma menina com genitais masculinos.