Naquela tarde chovia muito. Eu me lembro, estava nublado desde de manhã. Meus passos iam ao encontro das poças de água, atravessando o tecido de minhas meias, encharcando-as. Aquelas imagens continuavam em minha cabeça, o sangue, as armas, mesmo depois do massacre, eu ainda estava vivenciando tudo aquilo. Quem olhava, não seria capaz de adivinhar o que eu presenciara, a tirar pelo sangue escorrendo do meu corpo. Minha expressão era fria como a água que escorria por mim. O que acabara de acontecer? Eu não tinha certeza. Tudo o que era capaz de me lembrar, era de ter acordado e encontrar todos mortos, alguns desmembrados, outros nadando no próprio sangue, armas largadas perto de seus corpos. Uma carnificina ocorrera ali, dois homens estavam parados no local, um deles com um punhal na mão, de onde escorria sangue. Um passo, dois, três, quatro passos e ele já estava na minha frente.
Sacou o punhal, em menos de segundos, já havia me atingido com um corte profundo abaixo do busto. Apunhalou-me diversas vezes, não sei por quanto tempo, talvez muito, porque em certo momento, eu já não gritava mais. Quando os dois saíram, dei vinte minutos, e tentei levantar, em busca de ajuda. Aquilo era tudo que podia me lembrar. Minha visão começou a falhar, tudo ficou turvo, e enquanto caía, pude ver a silhueta de uma casa, com um letreiro de aparência velha, onde se lia: Casa dos sonhos.
Meu rosto caiu exatamente em uma das poças de água, tornando impossível respirar. O único motivo que levou-me a reagir, foi que aquela seria uma forma ridícula de morrer. Ergui a cabeça, na esperança de conseguir me arrastar, mas, assim que levantei a nuca, vi um sorriso travesso, e logo em seguida, vomitei mais sangue, e desmaiei.