Capítulo 3

Aguentei viva a aula de Física e as outra duas de Ciências. Aproveitei bem. Poderia ser aquele, meu último dia na escola.

Cheguei em casa. Vi que minha mãe estava vestida com o vestido que usou no enterro do meu pai, que morreu há 4 anos atrás de infarto. Me lembrei que hoje fariam 4 anos que ele morreu. Como contaria a ela hoje? Acho que vou ter que deixar para amanhã...

- Mamãe chegou há muito tempo ? - Perguntei entrando na cozinha e vi que ela estava com os olhos inchados. Ela preparava o chá com as mãos trêmulas.

- Não - Disse ela secando o rosto. Ela não notou que eu havia chego. - Como foi seu dia?- Nós nunca fomos amigas intimas, mas depois da morte de meu pai, isso mudou.

- Um pouco confuso e...

- Ai! - Fui interrompida por seu grito de dor. A água quente do chá.

- Mamãe, deixa eu terminar. Tome um banho e deite. Vai se sentir melhor.

Ela simplesmente assentiu e subiu as escadas.

Terminei o chá e levei para ela com alguns biscoitos na bandeja.

- Mamãe? - Bati na porta do quarto dela. - Posso entrar?

- Pode sim!

Abri a porta lentamente, andei até o criado mudo em passos curtos e cautelosos, coloquei a bandeja ali e sentei na beirada da cama, onde minha mãe estava deitada. Passei as mãos sobre os cabelos castanhos como os meus. Com a diferença de os meus serem compridos, sempre presos em um rabo de cavalo, e os delas serem curtos, sempre presos em um coque com grampos.

- Está tudo bem? - Perguntei sabendo que não estava.

- Sinto falta dele. - Disse ela friamente, sem mais lágrimas.

- Eu também. Muita. Mas com o tempo, a gente aprende a conviver com a saudade e a perda. - Disse me levantando quase chorando. Chorar perto dela não iria ajudar muito.

- Quem sabe. - Disse balançando os ombros e esticando as mão para pegar o chá.

- Estou no meu quarto fazendo alguns deveres escolares atrasados. Me chame se precisar. - Disse andando em direção a porta.

Ela não respondeu. E eu não iria fazer dever escolar nenhum.