Rosae vermillus - O clã das rosas vermelhas

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    Capítulo 16

    Ante diem: Antes do dia - parte 2

    Violência

    - Como vai seu maldito! - disse Natan, apontando a arma de cano longo para minha cabeça. Olhei para ele com desprezo, mas no fundo sabia que não iria atirar. Ele abaixa a arma e olha para a estrada atrás de si. - Sua amiga, está chegando. Liguei para a Sara faz alguns minutos, ela está vindo se encontrar com a gente, e vem para buscar você. Aquela maluca dirige feito uma homicida... já deve estar chegando logo. Então vermezinho, levanta essa sua bunda do meu carro e vê se ''vaza'' daqui assim que ela chegar!

    Natan termina por enfatizar sua elegância com uma cusparada no chão e passa a vigiar a rua, de costas para mim. O sangue dos frascos já estava no fim e Marcos tira finalmente as agulhas de mim. Me levanto e permaneço sentado olhando a garota ao meu lado.

    - Não sei o que é preciso para ser seu amigo ou aliado de agora em diante Marcos. - disse por fim. - Mas para mim, continuo tendo o mesmo respeito por você. Nada vai mudar minha opinião sobre seu caráter, mas não sei quanto à você. Talvez chegue um dia em que termine vindo me caçar.

    Marcos nada disse, apenas me encarou por cima dos óculos como sempre fazia, indecifrável. Ele tinha mostrado sua força e agilidade perseguindo e abatendo a garota ao meu lado, Karen. E agora eu sabia o por que senti suas mãos frias uma vez, ainda na escola. Era o sangue de vampiro, tinha esse efeito colateral em humanos que injetam ou ingerem o sangue contaminado. Não se tornam vampiros mas adquirem certas características peculiares. Marcos havia chegado a esse ponto para caçar suas presas, seu ódio ou motivação não podiam ser subestimados.

    Ainda olhando para Karen, a garota recém transformada, que agora jazia sem força ao meu lado, tive uma idéia que não sabia se aprovariam.

    - O que vai fazer com ela? - quis saber.

    - Não tirei ainda todo seu sangue. Quando ele se esgotar, e tiver sido armazenado em um lugar seguro, ela será jogada para queimar ao sol. Vampiros não são como humanos. Não se pode acorrentá-los no porão e alimentá-los com pratos de comida e pães esperando que seu sangue seja restituído. É impossível torná-los ''bolsas vivas'' de sangue recarregáveis. Vampiros só recuperam sangue bebendo direto da fonte.

    - Embora seja isso que certos vampiros fazem com humanos por aí - disse Natan, finalmente olhando para mim novamente. - Guardam eles em lugar seguro e os mantem vivos para as horas certas de lanchinho... E é isso que eu e meu tio temos enfrentado esses anos todos. Nós salvamos, ou ao menos terminamos com o sofrimento dessas pessoas. Nós procuramos as ''fazendas de sangue'', são muitas por aí.

    -Entendo... - disse baixo. - Mas se for possível, poderiam me deixar tentar uma coisa? Seria pedir demais, se eu quisesse levar ela comigo? Gostaria de tentar conversar com ela antes, na presença de Lucius. Se ele julgar que ela é meramente uma ameaça, ele mesmo irá eliminá-la...

    - Quer mais uma sanguessuga pro seu grupo seu vermezinho... Só um ''vermezinho'' mesmo para ser tão legal com esse tipo de lixo. Cuidado com suas atitudes, um dia será apunhalado pelos próprios aliados se continuar escolhendo seus parceiros sem pensar - disse Natan, numa expressão que demonstrava bem sua desaprovação.

    - Por mim tudo bem, será sua responsabilidade. - disse Marcos - Mas não será de graça. Estará levando algo nosso, então queremos algo de vocês também. Todo o nosso acordo com seu grupo gira em torno disso, logo você vai entender. E o que vou querer, é sua ajuda com um assunto dos caçadores. Quando chegar a hora, vamos te chamar e você virá para completarmos nosso objetivo. Isso inclui lutar ao nosso lado contra seres como você, é tudo que posso dizer por enquanto. Será por uma vez apenas, embora seja arriscado e por isso mesmo vamos precisar de você. O que me diz? Vai ajudar seu professor? Ainda tenho algumas coisas para te ensinar e se vier comigo vai poder descobrir.

    - Muito bem. - disse, embora alguma coisa ainda me preocupasse quanto as condições. - Temos um acordo.

    De fora da van ouvi Natan rindo baixo:

    - Você é interessante, vermezinho...

    - Por que me chama de vermezinho? - perguntei irritado.

    - Ele se refere ao nome em latim de seu clã; ''Rosas vermelhas''. É uma piada interna, não se incomode. - disse Marcos.

    - Como assim? - perguntei ainda curioso e confuso. E nesse momento o carro de Sara chega, fazendo a volta feito uma homicida como Natan havia dito, cantando pneu bem na nossa frente.

    - Pergunte direto para ela mais tarde. - disse Marcos.

    O vectra prata estacionou e ela desceu com cara de poucos amigos. Quase tinha me esquecido de todas as ligações dela que deixei de atender. Tinha vacilado com ela e com o pessoal que confiou em mim. Mas mesmo brava, ainda era a loira mais estonteante que eu já havia conhecido. Acredito que Natan também pensava assim, a julgar pelos olhares que trocou com ela.

    - Olá caçadores, acabamos nos encontrando antes da próxima entrega. Vamos resolver isso logo pois o tempo está passando. - disse ela. - Saia daí Leandro, não vamos te torturar... Muito!

    Ela ficou bem chocada quando me viu sair da van com Karen nos braços. Uma vampira em estado de torpor com uma estaca nas costas, mas no fim eu a convenci a levá-la, ao menos até que Lucius pudesse dar seu parecer. Me despedi de Marcos, acenei com a cabeça para Natan.

    - Se cuida vermezinho! Tenha uma boa viagem ...- disse ele - Dirija com cuidado garota! Sua doida...

    Foi assim que partimos dali com mais alguém que possivelmente entraria para o grupo. Foi assim que deixei Marcos e Natan com a promessa de que os ajudaria quando chegasse a hora. Cada dia que passava, me afundava cada vez mais nesse mundo estranho e fascinante dos vampiros.

    Durante a viagem, Sara correu o tempo todo, com cara emburrada e muito irritada. Algumas vezes me advertiu, ou me ofendeu, mas no final, olhou dentro dos meus olhos e me fez prometer que tomaria mais cuidado, e que fosse mais sincero com ela e os outros. No fundo ela tinha razão. E depois disso ela voltou a sorrir um pouco e relaxou.

    Contei para ela sobre o ''vermezinho'', e Sara ficou um pouco irritada.

    - Ainda com essas besteiras... Natan é um idiota!

    Sara me explicou que o nome do clã, escolhido por Lucius era ''Rosae Vermillus''. Oficialmente chamavam mais por ''clã de Lucius'', mas esse era o nome que nosso ''líder'' Lucius havia adotado pela sua paixão por essas rosas vermelhas, que por sinal são cultivadas aos montes pelo nosso jardineiro particular, o velho Pedro. Rosae, significa simplesmente ''rosas'', e Vermillus para todos os efeitos é ''vermelho''. Contudo, também se refere ao ''pequeno verme'', ou ''cochonilha'' inseto do qual era extraído o corante carmim.

    Nós éramos o clã das rosas vermelhas, e era assim que o clã enviava mensagens de paz ou convites de aliança e integração aos outros. Uma rosa vermelha era enviada juntamente de cada carta ou bilhete escrito à mão pela excelente caligrafia de nosso líder. Me lembrei que no dia em que vi Marcos pela última vez na sala de aula, ele segurava uma rosa nas mãos. Naquela ocasião eu não poderia imaginar seu significado.

    - Natan ouviu Lucius falar sobre a origem do nome uma vez e desde então não para com essa brincadeira. Ele também faz isso com o Vinícius, então vê se não liga muito pra isso. - disse Sara, assim que estacionamos.

    Estávamos em casa. ''Seguro outra vez'', foi o que pensei.


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