Capitulo 06- Lagrimas da partida
A caminhada dos dois não parecia ser nada fácil, eles tinham um longo caminho a percorrer... A estrada que levava ao vilarejo era muito íngreme e sem nenhuma segurança, era feita de terra apenas, mostrando que foi aberta de qualquer jeito apenas para constar ter um caminho.
Os olhos que o seguiam antes mesmo de adentrarem no vilarejo, ainda os observava nas sombras, quem eram eles? Como saber... Apenas seus olhos seguiam o homem e a pequena menina, na sombra um sorriso se libertava da face de um dos vultos.
―Está quase na hora... ?Falou uma das vozes a mais irritante e rouca.
―Quase... Mas não ainda, está me ouvindo!?Repreendeu a voz confiante novamente, com eles parecia ter mais uma pessoa que apenas os acompanhava.
Ao longe Listel e Shina seguiam subindo a montanha que era um grande desafio para eles, e por precaução Listel seguia lentamente para não ter risco de se machucarem, Shina apenas caminhava ao lado do pai em silêncio, enquanto ele se recordava de suas travessuras com seu amigo.
Para ele, Klaus sempre foi alguém que se podia confiar e contar sem medo algum, e com este sentimento que ele retornava a Grécia, e assim a caminhada continuava, na metade do caminho um deslizamento de rochas bloqueava a chegada, fazendo Listel e Shina pararem.
―Acho que é o fim da linha para vocês!?Falou uma sombra sobre as rochas.
―Quem é você??Perguntou Listel colocando sua atrás dele em proteção.
―Sou seu pior pesadelo... ? Disse o homem gargalhando enquanto mais dois homens surgiam um ao lado do primeiro enquanto o outro homem bloqueava o caminho para voltar ao vilarejo.
A sombra foi sumindo e revelando a face do homem conforme ele se aproximava, ele não parecia ser perigoso, mas as aparências enganam, ele deveria ter um metro e setenta, corpo magro mais bem definido, seus cabelos eram negros, uma linha de três riscos sobre o olho direito, representando ser de um ataque que sofrera há muito tempo.
O outro era mais baixo com um metro e sessenta, de cabelos ruivos e sarnas, pele clara, o de trás era o maior e mais forte deles pelo menos fisicamente, seu cabelo era um moicano, em cor loiro, músculos a mostra e os três usavam uma espécie de uniforme, pois os três possuíam ombreiras, e proteção do peito e dos braços assim como as pernas.
―O que vocês querem??Perguntou Listel segurando a pequena Shina trás dele.
Listel também era forte, os vários anos nas forjas lhe concederam um ar imponente mesmo com sua idade, mas nem ele conseguiria com os três ao mesmo tempo, ainda mais tendo que proteger sua filha.
―Nós só queremos tudo que você tem! Fora um pouco de diversão. ?Gargalhou o homem com a cicatriz no olho.
―Sinto muito, não tenho dinheiro, nem nada de valor... ? Expôs Listel enquanto a pequena Shina tremia de medo.
Ali sozinhos eles não tinham para onde fugir estavam cercados e encurralados, como ratos preso em um canto sem saída.
― Bem terei que ver com meus próprios olhos se não tem nada de valor, e se for verdade... Bem terei que brincar com você e sua pequena filha.
―Isso nunca!? Esbravejou de raiva, enquanto a pequena Shina o agarrava fortemente a calça de seu pai.
― Olha só temos um corajoso aqui, mas isso não é suficiente meu velho. ? Falou o gigante que bloqueava o caminho de volta... _Sabe por quê? Porque você não é nada, veja!
Listel olhou para ele sem tirar os olhos dos outros, enquanto o gigante de moicano acertou um soco em uma das árvores próxima a ele derrubando-a instantaneamente, fazendo Listel e Shina ficarem surpresos.
―E isso não é tudo... ? Falando isso o homem com a marca das garras no rosto ergueu um imenso pedaço de rocha como não se fosse nada.
Como ele poderia fazer isso? Não era possível um humano fazer isso... Quem eram eles, estas eram algumas das perguntas que Listel fazia, e vendo isso se tornava evidente que ele não poderia contra eles, mas mesmo assim ele estava decidido a proteger sua filha não importava como faria isso.
―O que achou velhote? Ainda pretende bancar o valente??Perguntou o grandão enquanto o ruivo nada se pronunciava, ele parecia ser irmão do cara de cicatriz, pois os dois possuíam uma ligeira semelhança.
? DROGA!O que vou fazer??Se perguntava Listel diante de uma situação crítica como aquela ele só poderia tentar escapar, mais como faria isso?
O homem da cicatriz se aproximou de Listel.
?Vocês tiveram azar meu amigo... ? Sorria vendo a expressão tensa de Listel. ―Sabe, você não precisaria passar por isso se não fosse o santuário!?Exclamou com fúria.
―Por quê??Perguntou Listel buscando tempo para pensar em algo.
― Vou contar já que talvez vocês não saiam dessa com vida. ? Falou ele olhando para o ruivo e o cara grande de moicano que se aproximaram fechando ainda mais o cerco.
― É uma história longa, mas a encurtaremos resumindo. ?Falou o gigante de moicano.
― Não interfira Mambu! ? Gritou o da cicatriz. ?Eu quero ter o prazer de contar a história para que ele entenda a dor e por que de tudo isso.
Parecia que o gigante temia o homem da cicatriz, mas pela força que demonstrava mesmo seu físico não aparentando realmente deveria ser bem mais forte que ele.
―Sabe... Chamo-me Thiodor, e este carinha aqui é meu irmão Thifonte, somos órfãos e vivíamos nas ruas até descobrirmos o santuário, seguimos para esta terra, para termos um lugar, mas este lugar nem de longe poderia se chamar de ?LAR?, pois é o lugar que mais tira vidas!? Cuspiu as palavras com desprezo.
― Mais pelo que ouvi no vilarejo todos parecem gostar do santuário como um templo. ?Argumentou Listel
― E na verdade é... Mais para nós é um templo da morte, os aldeões não sabe das duras penas que passamos naquele lugar, mas isso era antes.Pois não mais acontecerá, estamos reunindo dinheiro para sumir deste lugar maldito.
― Vocês estão fugindo??Perguntou Listel se surpreendendo, já que com a força que tinham não precisariam se preocupar.
― Estamos aqui no santuário. Existe uma lei por aqui que diz que os aspirantes, soldados ou cavaleiros não podem abandonar o santuário e se o fizerem serão mortos. ? Falou o cara de moicano.
―Mambu! Já não disse para interferir??Falou Thiodor gritando enquanto o gigante abaixa sua face em tristeza.
Isso tudo era surpreendente, Listel estava achando tudo muito surreal, pela forma como à senhora na venda se referia ao lugar onde ficavam os cavaleiros, era completamente diferente do que Thiodor desenhava para agora, qual versão era verdadeira... Qual acreditar? Não tinha como dizer quem estava certo ou errado, mas o perigo era eminente, pois mesmo que eles estivessem certos, sua fúria mostrava que estavam cegos por irá e raiva.
―Continuando... Passamos por longos e árduos treinamentos para que? Para morrer por uma deusa que nunca vimos!?Falava o homem que só demonstrava fúria, Thifonte apenas o olhava como se sentisse pena do próprio irmão mais não falava nada.
―Mais eu sou apenas um viajante em busca de um amigo. ?Falou Listel.
― Não minta! Escutamos sua conversa com a velha da venda... Você esta indo ao encontro de Klaus! Ele foi o cavaleiro que aplicou o treinamento de eliminação de muitos aspirantes, você sabe qual a forma de sair do santuário??Perguntou Thiodor olhando para pequena Shina que se escondia atrás de Listel.
―Não, qual seria??Perguntou Listel rezando por um milagre já que escapar parecia impossível.
―Só existem duas maneiras... Você sai como um cavaleiro ou como um cadáver, os que não usam estes meios são considerados desertores. É isso o que nós somos!
A história do jovem rapaz não fazia sentindo, era como se um mundo estranho se abrisse repentinamente diante de Listel e sua pequena filha, nem de longe ele esperava por isso, será que sua jornada acabaria ali com sua pequena filha? Será que não conseguiria manter sua promessa a falecida esposa?
São perguntas que somente o tempo poderia responder, isso se eles tivessem este tempo, já que suas vidas estavam nas mãos das ?Moiras? que tinham um senso de humor terrível, as três irmãs que possuíam a roda da Fortuna com o poder de determinar o destino de mortais e deuses.
Usando a Roda da Fortuna as três irmãs eram capazes de tecer fios, estes fios giravam na roda e posicionava e decidia o destino de todos os indivíduos, agora as vidas inocentes dependiam do que elas iriam decidir a respeito, será que o tempo deles se esgotou... E seu único caminho era para o submundo?
O destino nem sempre sorri para todos. Listel enfrentava um grande desafio, Não parecia ter chance contra seus inimigos, que mais que perdidos, estavam cegos de ódio, sendo dominados por sentimentos que apenas os destruiriam podendo não ser nem hoje ou amanha, mas que chegaria a hora que suas ações gerariam conseqüências.
Como é dito em um dos mais antigos provérbios chinês que são usados para simbolizar a realidade da vida: ?Você pode escolher o que semear. Mais é obrigado a colher o que plantar?. Para cada ação haverá uma reação. E estes jovens rapazes que estavam corrompidos de forma profunda e dolorosa, aprenderam da forma mais difícil isso...
―Sabe amigo... ? Falou Thiodor como se aquilo fosse à coisa mais natural do mundo. ?Tudo que queríamos era um lar, uma família. ? Disse tranquilamente olhando nos olhos castanhos de Listel.
―Eu posso entender... Era o que queria também. ? Disse Listel com um pesado suspiro ao lembrar a morte de sua esposa que era tudo ou grande parte de sua família, para ele que agora só restará à pequena Shina.
―O que você pode entender!?Gritou Thiodor aumentando a voz.
―Entendo seu desejo de ter uma família, sempre fui sozinho nunca tive ninguém que olhasse por mim, meus pais não sei quem são se estão vivos ou mortos, por isso sei o que quer dizer. ? Disse Listel sem afrouxar seu aperto no ombro da pequena garotinha de cabelos verdes.
Shina estava ouvindo coisas que não soubera, seu pai sempre se fechou em uma muralha impenetrável quando ela perguntava se ele tinha pais, ele apenas desconversava e mudava de assunto, ela se perguntava se aquilo era mesmo verdade ou ele estava dizendo aquilo apenas para arrumar uma forma de escapar.
― Isso que disse e só mais uma prova que jamais entenderá o que sentimos!?Falou Thiodor se virando para seu irmão e Mambu.
Seus rostos estavam tristes e com pesar talvez relembrando cicatrizes que não cicatrizaram... Não em seu corpo, mas em sua alma e na memória lugares difíceis de se curarem com remédio ou tempo.
Intrigado Listel perguntou:
?Porque isso é prova que não os entendo?
―Por que você pergunta? É simples... Você que nunca teve ninguém, não pode entender o que é ter pais, os amá-los e depois os verem morrer diante de seus olhos.
―Isso é doloroso, mais não justifica seus atos. ? Recriminou Listel.
― E o que você sabe? Perder alguém é muito pior do que nunca ter tido, pois se acostuma desde sempre, mas quando temos afeto o carinho e vê isso ser arrancado de você!?Falou Thiodor com os olhos embargados.
― Acha que nunca ter dito é melhor do que ter e perder? Se for se engana!- Disse Listel olhando nos olhos de Thiodor.
―Isso mesmo! Nossos pais foram mortos cruelmente... Eles eram boas pessoas e tiveram suas vidas roubadas, mandadas a Hades antes do tempo.
― Como você sabe que não era o tempo deles??Perguntou Listel.
―EU SEI! Não era hora, era cedo demais... ? Uma lágrima rolou do olho com a cicatriz de três garras de Thiodor.
― Não ter é muito pior! Vocês pelo menos conheceram a alegria e o amor, enquanto os que não têm pais apenas são esquecidos e obrigados a se virarem, mas nem por isso se tornam bandidos ou assassinos.
―Dói perder quem amamos!?Falou o garoto ruivo...
―Eu sei disso... Perdi alguém muito importante para mim. Mais importante que a minha vida. ? Uma lágrima rolou da face de Listel também.
Todos ali se lembrando de suas perdas estava tornando aquele momento completamente estranho e sem propósito algum, até mesmo o gigante Mambu parecia triste e ao mesmo tempo furioso, tentando sufocar suas raiva fechando o punho com tanta força que os nó de seus dedos faziam estranhos sons, como ele estivesse se contendo para não destruir tudo a sua frente.
―Vocês não percebem que agindo assim estão apenas se tornando iguais aqueles que tiraram a vida de seus pais??Perguntou Listel tentando colocar razão naqueles três.
―E o que tem isso??Gritou Mambu.
Esta frase foi como um tapa na cara ou um balde de água fria, Listel entendeu que talvez eles não tivessem mais jeito.
― Ser igual aos que tiraram as vidas de nossos pais não parece ruim... Pois tiraram vidas de inocentes como se não fosse nada e não tiveram o castigo que mereciam, destruíram famílias e saíram impunes nem todos têm o que merecem neste mudo!?Falou Mambu.
―Já sabemos o que queremos, nada que você diga nos fará mudar de idéia, vamos atrás de nossos desejos, não quero ser mais um tolo como muitos que morreram por uma deusa que nem sequer é capaz de salvar pessoas inocentes... - Falou Thiodor emanando um estranho brilho do seu corpo.
―Como eu disse não tenho dinheiro, muitos menos alguma coisa de valor. Se quiser podem constatar por vocês mesmo... Tome olhe!? Jogou as malas aos pés de Thiodor e Thifonte.
―Thifonte! Veja se o que ele diz é realmente verdade!- Falou Thiodor para seu irmão.
―Sim! Agora mesmo... ? Rapidamente o garoto ruivo se abaixo e fez uma varredura nas malas de Listel, mas nada encontrou.
―Alguma coisa de valor??Perguntou Thiodor ainda emanando o estranho brilho vermelho que saia de seu corpo.
Depois de olhar todas as coisas realmente foi confirmado que não havia nada de valor, apenas roupas, de homem e de criança, fora alguns portas retratos e cartas.
―Irmão! Não tem nada de valor aqui. ? Anunciou Thifonte.
― Vejo que o que disse é verdade... - Anunciou Thiodor encarando o muro de rochas da montanha.
―Será que poderia nos deixar passar agora?- Perguntou Listel.
―Sinto muito, mas isso não será possível a não ser que me responda com a verdade.
―O que quer saber?
―O que veio fazer realmente no santuário a procura de Kauls?? Perguntou tentando se manter controlado.
―Ele é um antigo conhecido dos tempos de orfanato eu e ele éramos do mesmo lugar.
―Sei. Você sabia que ele é um cavaleiro??Perguntou Thiodor.
―Soube no vilarejo que passamos, mas isso não me interessa só quero revê-lo e me assentar por aqui.
―Acho que isso não vai acontecer... Sabendo que você é amigo de Kauls, é uma chance que não posso desperdiçar.
―O que quer dizer com isso??Perguntou Listel, enquanto a pequena Shina tremia com os olhos prestes a derramar lágrimas.
― Irei matá-los para que ele sinta o que sentimos, isso o fará entender um pouco nossa dor... Espero que estejam prontos!
Mais uma vez o destino parece brincar com Listel, ele acreditou que estava quase liberto do perigo, mas isso foi apenas uma alegria momentânea, os garotos aspirantes a cavaleiros desertores não os deixariam ir assim, como Listel irá reagir a isso? Vai encarar o desafio ou se dará por vencido?
Listel ficou completamente confuso e nervoso com as palavras de Thiodor que penetraram até o mais profundo lugar de seu corpo, Mambu sorria de forma que parecia se deliciar com as palavras de Thiodor, só por imaginar podendo quebrar os ossos do corpo do homem de cabelos verdes que protegia sua filha com seu próprio corpo.
―Sinto muito por isso... Realmente sinto!?Falou Thiodor em tom de quem estava triste de verdade.
―Se sentisse, não faria isso!? Retrucou Listel Nervoso.
―É preciso, é algo que se torna necessário fazer. ?Disse Thiodor.
― Irmão... Isso não é certo. ? Falou o garoto ruivo que se colocou entre Thiodor e Listel.
―Não se meta nisso Thifonte! Você deveria estar do meu lado. ? Cobrou apoio do irmão menor.
― Eu o apoio, mas... Isso não parece certo! E não trará nossos pais de volta. ? Falou o garoto ruivo com evidente pesar nos olhos mostrando que ainda sentia muita falta dos pais que perdera.
―De fato não os trará, mas me fará sentir muito melhor!?Sorriu diabolicamente Thiodor.
―Você não deve fazer isso!?Abriu os braços se prostrando em defesa de Listel e sua filha.
― SAIA DA FRENTE THIFONTE! Ou compartilhará do mesmo destino que aguarda estes dois... ? Empurrou violentamente o garoto ruivo ao chão.
Thifonte caiu com muita facilidade no chão de pedras e terra vermelha fazendo uma leve cortina de poeira se erguer a sua volta.
― Não te reconheço mais irmão... ? Olhou Thifonte incapaz de reconhecer a face de seu irmão banhada por fúria.
Thiodor fixou seus olhos no do seu irmão e viu medo nos olhos dele, e se deu conta do que havia feito contra a sua única família e entrou em conflito com ele mesmo em pensamentos.
―Desculpe Thifonte... Não foi minha intenção. ? Falou Thiodor.
―Pedir desculpas não resolve tudo e não altera os fatos meu rapaz. ? Se pronunciou Listel.
―CALE A BOCA! ? Gritou Thiodor se abaixando próximo ao local onde seu irmão estava caído.
―Veja o que acabou de fazer... ? Listel continuava forçando Thiodor a enxergar o caminho errado que seguia, ele precisava mostrar isso para sua filha e a si mesmo também.
A vida e feita de escolhas e responsabilidades com grandes poderes, dons ou habilidades vem muitas dúvidas, medos e deveres estando você pronto ou não para cumpri-las. Para ser um cavaleiro digno de servir Athena e preciso mais que ser poderoso, e preciso possuir um conjunto de elementos como amor, fé, Justiça, determinação, coragem, e acima de todos estes e preciso ter ?Humanidade?.
―Irmão... Veja no que você se tornou. ? Olhou Thifonte nos olhos de Thiodor.
―Realmente me perdoe irmão... ? Falou Thiodor completamente envergonhado.
―Vocês precisam buscar por caminhos melhores... ? Disse Listel sem fazer movimentos bruscos.
―Não existem outros caminhos para pessoas como nós! ?Thiodor olhou amargamente por sobre seu ombro para Listel que o encarava.
―Por que não??Perguntou Listel.
―Acho que você ainda não entendeu... Somos desertores! Nosso caminho se resume apenas ?a morte?- Falou Thiodor erguendo seu irmão do chão.
―Não consigo compreender isso. ? Se questionou Listel enquanto a pequena Shina tremia em silêncio enquanto ainda se agarrava a calça de seu pai.
―Este é o mundo de um guerreiro... Uma vez encaminhado na doutrina para se tornar um cavaleiro não se pode voltar atrás ou você se consagra um cavaleiro ou morre tentando... ? Explicou Thiodor de costas a Listel enquanto verificava que seu irmão estava bem.
―Isso é muito cruel e injusto!?Criticou o sistema usado.
―O mundo é cruel... Os deuses gostam de brincar e jogar com humanos como se fossem peças de um tabuleiro, somos apenas fantoches usados para a diversão e bel prazer de suas divindades...
? Não creio que seja assim. ? Falou Listel convicto.
―Não? E como seria então??Quem se pronunciou agora foi Mambu que se aproximava ainda mais de Listel.
― Acho que somos nós que fazemos nossas escolhas... O caminho cabe a cada um escolher. Existem pessoas que fazem do sol apenas uma mera mancha amarela, mas a outras pessoas que fazem de uma pequena mancha amarela o seu próprio sol.
―Isso é belo na teoria, mas a pratica é completamente diferente. - Falou Mambu com visível desconforto.
― Acho que vocês ainda podem ter uma vida melhor do que esta, só depende de vocês querem!?Falou Listel olhando para os três.
―HÁ,HÁ,HÁ ? Gargalhou sem qualquer emoção em sua risada. ? Vida melhor? Você diz. Não se iluda ou tenha pena. Nossas vidas acabaram quando decidimos nos tornar cavaleiros- Falou Thiodor.
―Bem... Não entendo suas regras ou costumes. Tudo que peço é que permitam que prossiga meu caminho... - Falou Listel apreensivo enquanto a pequena Shina mal se mexia ou respirava agarrada ao pai.
―Já disse! Você não sairá daqui com vida. Klaus sentirá na pele a dor que passamos claro não será da mesma forma mais será um bom começo. - Olhou Thiodor com seus olhos flamejando uma aura furiosa.
―Não faça isso IRMÃO!?Gritou Thifonte tentando agarrar o braço de Thiodor.
Mais já era tarde demais... Thiodor emanou um forte brilho vermelho de seu corpo, quando ergueu seu punho e lançou uma poderosa rajada de luz vermelha na direção de Listel e Shina.
―CUIDADO!?Listel se colocou a frente do ataque para evitar que acertasse sua filha.
As roupas de Listel se transformaram em trapos rasgados... Sua camisa não existia mais, apenas algumas tiras estava sobre seu corpo que estava com vários cortes, enquanto sangue escorria por todos os lados, mas se manteve de pé se virou meio ângulo para olhar a pequena Shina.
Com a voz fraca e cortante quase um suspiro perguntou:
- Você esta bem querida? ?Perguntou sorrindo para a garotinha que chorava descontroladamente.
Ela não conseguia falar apenas balançou a cabeça positivamente confirmando que estava bem, e que não tinha sequer um arranhão, seu pai formou um escudo completo com seu próprio corpo.
―Que bom... ? Falou Listel caindo ao chão com os olhos fechados.
―PAPAI, PAPAI!?Correu Shina desesperada em direção ao corpo caído de seu pai onde pousou a cabeça dele em seu colo.
―Irmão... Por quê?!??Chorou Thifonte completamente desnorteado.
―Era preciso... ? Falou Thiodor simplesmente.
―ASSASSINO! Assassino... ? Gritou a pequena Shina com seu pai nos braços coberto de sangue, fazendo uma poça que os envolvia.
― Já está feito... Mas não acabado preciso terminar o que comecei- Caminhou lentamente na direção da pequena Shina.
―Se despeça de seu pai e deste mundo garotinha. Logo você partirá deste mundo também. ? Falou Thiodor voltando a emanar um brilho vermelho que brilhava em seu punho direito em cor escarlate, como se uma pequena nuvem carregada de raios estivesse na palma de sua mão.
A garotinha chorava completamente perdida e desolada por ver seu pai caído... Sangrando sem poder fazer nada para ajudá-lo. Primeiro perdeu sua mãe ainda pequena e agora perderia seu pai de forma tão trágica e violenta como ela lidaria com isso?
Ela pelo menos terá tempo para lamentar a perda de seu pai ou seguirá o mesmo caminho que ele para o Yomostsu? Apenas um milagre poderá salvar esta pequena garota de seu destino...