CAPITULO 03 - A Perda.
O dia do nascimento da pequena Shina tinha sido difícil, mas no final tudo acabou bem, pelo menos parecia isso... Só que o fato era que o parto havia esgotado Maya, tanto que sua saúde se tornou frágil e delicada, ela não podia se esforçar muito. O brilho esmeralda em seus olhos já não brilhavam como antes, parecia que o parto ou sua filha sugara mais que gemidos e dor, retiraram também sua energia vital, pois a fraqueza e o cansaço eram sempre presente nela. Os dias se passaram e as coisas permaneciam da mesma maneira. Enquanto Listel trabalhava nas forjas, sua mulher ficava em casa com a pequena Shina, que não ciente das coisas se divertia e brincava, aproveitando tudo a sua volta que era novo para ela.
Maya já não conseguia mais trabalhar, pois o que quer que ela tivesse agora não a deixava se concentrar ou sequer usar suas habilidades de costureira, a atenção dela era sempre distante, mas o amor dela por sua filha e seu marido não havia diminuído. Ela se sentia impotente, e assim alguns anos se passaram e a pequena Shina crescia forte e saudável.
- Amor, acho que devemos levá-la ao médico. - falava o homem, preocupado, vendo a mulher deitada na cama.
- Querido, não há nada que um médico possa fazer. - disse a mulher, sorrindo fracamente vendo sua pequena menina dando passos ao chão.
O homem olhava para ela e não sabia o que fazer nesta situação, pois nunca havia se deparado com isso antes. Seus pais morreram cedo, e viveu sua vida toda em um orfanato até atingir maior idade e começar a trabalhar para se sustentar. Sua vida era sofrida, mais não triste; ele nunca sentiu a dor de perder alguém, já que não se lembrava de seus pais. Quando conheceu Maya, sua mulher, tinha certeza que havia tirado a sorte grande, pois o que ele poderia a oferecer a esta senhorita? Um mero ferreiro... Talvez o que ele tinha a oferecer não poderia ser comprado com dinheiro ou jóias, mas com o amor, pois assim como ele se apaixonou por ela, ela também se apaixonou por ele assim que seus olhos se cruzaram. Ela passava pela rua da cidade, ao escutar um estranho barulho e um brilho que lhe chamou a atenção, um som forte e estridente seguido de pequenas faíscas saíam quando algo pesado se chocava contra o metal.
Lembranças de como Listel conheceu Maya agora surgiam em sua mente com facilidade e sem aviso, como se pressentisse que algo iria acontecer. Ele se recordara do primeiro momento que seus olhos cruzaram os dela... Ele estava na forja, fazendo seu trabalho, quando ela sem avisar, adentrava vagarosamente e em silêncio dentro da forja. O local era rústico, coberto de metal por todos os lados; era escuro, sendo iluminado apenas por uma fornalha em chamas ardentes, que dançavam em vermelho e laranja, quando novamente o som se fez presente estralando alto e iluminando a silhueta de um homem de cabelos verdes, onde sua pele brilhava com o calor da fornalha e do metal, forçando a jovem Maya cobrir os olhos pelo brilho ofuscante das pequenas faíscas que saiam do choque dos dois objetos se colidindo. Um leve suspiro seguido de um grito rompeu de seus pulmões.
- Aiiiii - disse ela, se afastando alguns passos.
O som da voz dela fez o homem que trabalhava sem cessar se sobressaltar. Ele estava tão concentrado que não a percebera.
? Você está bem senhorita?! - perguntou o homem, se aproximando dela, preocupado.
- Sim, estou... Eu acho que o brilho forte das faíscas atordoou minha visão, mas estou bem. - disse ela, se apoiando em uma madeira grossa que sustentava o peso do teto.
- Que bom, acho que seria melhor a senhorita ir, aqui não é lugar para uma moça como você estar.
- Desculpe se atrapalho, apenas senti curiosidade de saber o que era o som que ouvia. - falou a mulher, se recuperando do brilho que a cegava por um momento.
- O som era meu martelo senhorita, o uso para dar forma ao metal.
- Hum... Posso pedir um favor? - falou a mulher, se segurando ainda a madeira.
- Sim, claro. Precisa de alguma coisa? - falou o homem, preocupado que ela pudesse ter se machucado, e com isso perder seu trabalho.
- De certa forma sim, quero que me chame pelo nome... Me chamo Maya. - disse ela, olhando nos olhos dele com a fraca luz que iluminava o lugar.
- Muito prazer Maya, eu me chamo Listel. - disse ele, sorrindo para ela.
Assim aconteceu o inicio de um amor lindo e verdadeiro. As lembranças bateram em Listel como uma faca atravessando seu peito, uma sensação de angústia e perda o invadia, ele não sabia explicar. Para sua mulher que falava e olhava para ele não passaram nem sequer uma fração de segundos, mas para Listel foi como se visse sua vida passar diante de seus olhos. Ele voltou a si e viu sua mulher pegando a pequena criança que caminhava sorrindo até os braços de sua mãe.
- Maya? - chamou o homem, serio.
- Sim querido? - respondeu a mulher, pegando a menina nos braços com dificuldade.
- Tomei uma decisão... se você não tiver uma melhora até amanhã a levarei ao medico, não importa o quanto custe e nem que você não queira ir. - falou o homem, a encarando seriamente.
- Está bem querido, não quero preocupá-lo, mas quero que me faça uma promessa antes... - disse a mulher, serenamente olhando para seu marido.
- O que quiser, meu amor. - respondeu o homem, rapidamente.
- Prometa que cuidará de nossa filha se algo me acontecer...
As palavras pegaram o homem de surpresa, que novamente sentiu seu coração se apertar. A pequena Shina não entendia o que estava acontecendo, mais Listel entendeu perfeitamente a situação, ela estava sentindo que algo ia acontecer.
- Querida, não se preocupe, nada vai acontecer... você logo vai se recuperar e poderemos ser uma família feliz. - disse o homem, tentando esconder o medo e o nó em sua garganta.
- Eu sei querido... Mas quero que me prometa...! - disse a mulher.
- Está bem minha querida, eu prometo cuidar de nossa filha com minha vida. - disse o homem, com lágrimas brilhando em seus olhos, embora ele lutasse para não derramá-las.
- Que bom amor. - a face da mulher se suavizou.
As coisas não são como queremos ou esperamos, e o temor do homem se realizou... A noite havia passado, e ao amanhecer sua mulher jazia em sua cama, sem vida... com o rosto branco e tranqüilo coberto de paz. Quando o homem percebeu que sua mulher não mais ali estava, que só a casca vazia estava daquela que fora sua esposa, apenas dor se podia ver em sua face.
- MAYA! - falava o homem, segurando a mulher pelos ombros e sem resposta.
O sol brilhava como sempre, mas algo estava errado... uma sensação... o homem balança sua mulher desesperado em busca de uma resposta que jamais teria...
- Como foi me deixar Maya! O que farei sem você? ? o homem, desesperado, cai sobre o corpo sem vida de sua esposa, deixando as lágrimas rolarem descontroladamente sobre o rosto pálido de sua mulher.
Em sua mente, as palavras da promessa veio em sua cabeça. Ela sabia que ele poderia cometer uma loucura, ela sentia que seu fim estava próximo, mas estava em paz, pois amou e foi amada e teve uma linda menina; teve a chance de viver o bastante para vê-la crescer, mesmo que por pouco tempo apenas.
- POR QUE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! - gritou o homem com toda a força de seus pulmões, deixando mais lágrimas escorrerem pelos seus olhos violentamente.
O grito foi tão angustiante e mortal, que espantou todos os pássaros próximo a sua casa que ficavam nas copas das árvores, despertando até mesmo sua filha, que veio ver o que era aquele barulho, e esfregando as mãos nos olhos para afastar o sono viu seu pai chorando. Ela caminhou até a cama, onde foi pega pelo seu pai no colo, que olhava tristemente para sua esposa desfalecida. Desviando os olhos dela, ele olha para sua filha e sorri, secando as lágrimas.
- Querida... Mamãe está dormindo, ela está sonhando, ela precisa descansar; ela foi para um lugar de paz, mas nós teremos que ficar por aqui mais um tempo até nos encontraremos com ela.
Ele abraça a menina e chora muito, se deixando acabar em lágrimas. A dor não tinha tamanho, o mundo dele caiu, sumiu debaixo de seus pés. A menina não entendia a situação e apenas abraçava seu pai fortemente por um longo momento, sem entender o porquê dele estar daquele jeito.
Continua...