Parte 8: Interceptação no Porto

Porto de Nápoles ? 23h54

A brisa salgada batia forte no cais deserto. As luzes do porto estavam apagadas por ordem da Passione; apenas o luar prateado refletia nas águas escuras e nas caixas empilhadas. O Santa Lucia, um cargueiro médio de bandeira panamenha, deslizava silencioso, faróis apagados a 500 metros da costa, exatamente como o segurança havia avisado.

Giorno e Mista chegaram de lancha rápida, ancorando atrás de um guindaste enferrujado. Giorno já havia trocado o vestido rosa por um conjunto preto de calça justa, jaqueta de couro e botas leves ? o disfarce de gala dobrado na mochila. O cabelo dourado estava preso num coque baixo, a maquiagem removida com lenços umedecidos. Mista, de colete à prova de balas e chapéu laranja, carregava a pistola na cintura e os Sex Pistols prontos no coldre.

? Equipe Alfa em posição ? sussurrou Bucciarati pelo comunicador. ? Barco desce âncora em dois minutos. Bravo já cerca o armazém da Via Toledo. Vocês dois: confirmação visual das caixas. Sem confronto desnecessário.

? Entendido ? respondeu Giorno, a voz fria e precisa. Ele ergueu binóculo térmico. ? Três caixas, selo azul, convés de popa. Confirmado.

Mista agachou ao lado, os olhos fixos no navio. ? Tripulação mínima. Dois vigias na proa, um na ponte. O resto deve estar dormindo. ? Ele girou o tambor da pistola. ? Sex Pistols prontos. Se precisar, derrubo os refletores em três segundos.

O Santa Lucia ancorou com um rangido metálico. Uma rampa desceu lentamente. Três homens em macacões escuros começaram a descarregar as caixas, empurrando-as num carrinho até o cais. Placa do caminhão estacionado: NA-...47. Tudo batia.

00h01 ? Ação

Giorno fez sinal: avançar.

Eles deslizaram pelas sombras dos contêineres, passos abafados. Mista ergueu a mão; os Sex Pistols saíram do coldre como vultos dourados, pairando no ar.

? Pistola 1, 2 e 3: refletores ? ordenou Mista, baixo.

Três disparos abafados. Puf. Puf. Puf.

As luzes do cais explodiram em faíscas, mergulhando a área em escuridão total.

Os carregadores congelaram.

? Chi è là?! ? gritou um.

Giorno já estava em movimento.

Gold Experience surgiu num flash verde-dourado. Um soco no chão: raízes grossas brotaram do concreto, enredando as pernas dos três homens em segundos. Eles caíram, imobilizados, sem tempo de sacar armas.

Mista saltou à frente, pistola apontada.

? Mãos ao alto. Passione. Fim da linha.

Um dos homens tentou alcançar o rádio.

Sex Pistols nº 5 desviou a bala que Mista disparou para o alto, ricocheteando-a no rádio ? tlim! ? destruindo-o.

Bucciarati e Narancia surgiram das sombras, algemando os carregadores. Fugo já abria as caixas com uma chave de fenda:

? Três quilos de pó puro em cada. Selos falsos. Perfeito.

00h07 ? Fechamento

Giorno se agachou ao lado do líder da tripulação, agora de joelhos.

? O comprador. Nome. ? A voz era calma, mas carregada de autoridade.

O homem engoliu em seco.

? Signore Moretti. Chega amanhã, 14h, Via Toledo. Carro preto.

Giorno assentiu.

? Obrigado.

Mista guardou a pistola, os Sex Pistols voltando ao coldre com um plim satisfeito.

? Sem baixas, sem alarde. Bucciarati, armazém amanhã?

? Sim. Vocês dois voltam pra base. Descansem. ? Bucciarati deu um leve sorriso. ? Bom trabalho, Don. E você, Mista? ótimo controle de fogo.

Mista coçou a nuca, meio sem graça.

? Valeu. Só segui o plano do chefe.

Giorno já se afastava, a mochila com o vestido rosa pendurada no ombro. Sob o luar, ele parecia menor sem o disfarce, mas a postura era a mesma: impecável, intocável.

Mista correu para alcançá-lo.

? Ei, loirinho. ? Parou ao lado, ofegante. ? Missão concluída. Duas vezes numa noite. Você tá me devendo um sorvete.

Giorno ergueu uma sobrancelha, mas o canto da boca subiu num sorriso quase imperceptível.

? Depois. Ainda tem o armazém amanhã.

Eles embarcaram na lancha que os levaria de volta à base. O motor ronronou baixo, cortando a água negra.

A noite estava encerrada.

A missão, selada.

O que viria depois ? entre eles ? ainda era uma página em branco.