O salão de gala ainda pulsava com vida, mas Giorno e Mista haviam encontrado um canto mais reservado, próximo a uma varanda que dava para o jardim. As cortinas pesadas de veludo bloqueavam parcialmente a luz dos lustres, criando uma bolha de intimidade onde o som da orquestra chegava abafado. Eles haviam acabado de circular pelo salão, mantendo a fachada de casal apaixonado, mas a tensão entre eles parecia crescer a cada toque, a cada olhar. A missão estava em segundo plano agora, pelo menos por alguns minutos, enquanto se recompunham após a última troca de provocações.
Mista estava inquieto, os dedos tamborilando na grade da varanda, o chapéu laranja inclinado sobre os olhos como se tentasse esconder o turbilhão de pensamentos. Ele queria perguntar algo desde o momento no jardim, desde o quase-beijo que ainda queimava em sua memória, mas a coragem vacilava. Giorno, ao seu lado, parecia calmo, o vestido rosa brilhando suavemente na luz fraca, os cabelos dourados caindo em ondas perfeitas. A maquiagem recém-retocada fazia seus lábios parecerem ainda mais tentadores, e Mista sentia que estava perdendo a batalha contra seus próprios impulsos.
Finalmente, incapaz de se conter, ele se virou para Giorno, a voz saindo mais rouca do que pretendia. ? Giorno, você... ? Ele hesitou, passando a mão pelo cabelo, o coração batendo tão rápido que temia que os Sex Pistols, escondidos em seu cinto, começassem a zoar. ? Você já beijou alguém...? D-digo... ? Ele parou, o rosto vermelho, percebendo o quão direta e desajeitada a pergunta soava.
Giorno virou o rosto para ele, os olhos verdes brilhando com uma mistura de surpresa e diversão. Um sorriso sutil curvou seus lábios, e ele inclinou a cabeça, o movimento fazendo o vestido roçar levemente contra a perna de Mista. ? Nunca me atrevi a beijar ninguém ? respondeu, a voz suave, quase tímida, mas com aquele tom controlado que era tão característico dele. Ele baixou o olhar por um instante, como se estivesse confessando algo mais íntimo do que queria admitir.
As palavras acenderam uma chama em Mista, uma mistura de surpresa, excitação e algo mais profundo que ele não conseguia nomear. Ele piscou, a boca entreaberta, tentando processar o que acabara de ouvir. ? Virgem... v-você diz? ? perguntou, a voz falhando, o rubor em seu rosto agora impossível de esconder. Ele se aproximou um passo, incapaz de resistir à gravidade que Giorno parecia exercer sobre ele.
Giorno ergueu os olhos, encarando Mista diretamente, e por um momento, o ar entre eles pareceu estalar com eletricidade. Ele sentiu o próprio rosto esquentar, mas a maquiagem ? o blush cuidadosamente aplicado, o gloss brilhante ? disfarçava o rubor natural que subia às suas bochechas. Ainda assim, seus olhos traíam uma vulnerabilidade rara, uma rachadura na fachada fria que ele costumava manter. ? Completamente ? respondeu, a palavra saindo em um sussurro, carregada de uma honestidade que parecia desarmar ambos.
Mista ficou em silêncio, os olhos arregalados, o coração disparado. A confissão de Giorno era como uma faísca jogada em gasolina, incendiando algo dentro dele que ele vinha tentando ignorar a noite toda. Ele deu outro passo à frente, reduzindo o espaço entre eles até que o calor do corpo de Giorno era quase palpável. O perfume de lavanda da colônia dele misturava-se ao ar, e Mista teve que se segurar para não tocar o rosto do mais novo, para não traçar a linha dos lábios brilhantes com o polegar.
? Completamente, é? ? repetiu Mista, a voz baixa, quase um ronronar. Ele inclinou a cabeça, os olhos descendo por um instante para o decote sutil do vestido, para a curva delicada do pescoço de Giorno, antes de voltarem aos olhos verdes. ? Isso... isso é meio inesperado, sabe? Você com essa cara, esse jeito, esse vestido... ? Ele gesticulou vagamente, como se o vestido explicasse tudo.
Giorno riu baixo, um som que era ao mesmo tempo tímido e provocador. Ele se aproximou um pouco mais, o tecido da saia plissada roçando contra a perna de Mista, um contato que parecia intencional. ? E você, Guido? ? perguntou, o tom quase desafiador, mas com um toque de curiosidade genuína. ? Quantos corações você já quebrou com esse charme de pistoleiro?
Mista engasgou, pego desprevenido pela virada na conversa. Ele esfregou a nuca, o sorriso torto voltando ao rosto, mas agora com um brilho de nervosismo. ? Eu? Bem, eu... não sou exatamente um galã, tá? ? Ele hesitou, então decidiu ser honesto, pelo menos em parte. ? Já beijei, sim, mas... nada que me fizesse sentir como agora. ? As palavras escaparam antes que ele pudesse segurá-las, e ele imediatamente quis se enterrar de vergonha.
Giorno arqueou uma sobrancelha, o sorriso se alargando. Ele estendeu a mão, os dedos roçando levemente o braço de Mista, um toque que era ao mesmo tempo gentil e eletrizante. ? Como agora? ? perguntou, a voz suave, mas carregada de uma intensidade que fez o ar parecer mais pesado.
Mista engoliu em seco, sentindo o calor do toque de Giorno como se fosse uma chama. ? É, como agora ? murmurou, os olhos fixos nos de Giorno. ? Você tá me deixando louco, Giorno. Esse disfarce, essa missão, esse jeito de me olhar... ? Ele parou, a respiração irregular, e por um momento, pareceu que ia se inclinar para beijá-lo, missão ou não.
Mas Giorno, com um controle que era quase cruel, recuou um passo, o sorriso ainda nos lábios. ? Vamos focar na missão, Guido ? disse, mas o aperto em seu braço antes de se afastar era uma promessa silenciosa. ? Temos um carregamento pra interceptar, lembra?
Mista bufou, meio frustrado, meio encantado, e ajustou o chapéu. ? Tá, tá bom, chefe. Mas isso aqui não acabou ? disse, apontando entre eles, o tom meio brincalhão, meio sério.
Giorno apenas sorriu, virando-se para voltar ao salão, o vestido ondulando com o movimento. ? Veremos ? respondeu, a voz um sussurro que ecoou nos pensamentos de Mista enquanto eles retomavam a fachada de casal apaixonado, prontos para continuar a missão, mas com algo novo e inegável queimando entre eles.