Parte 5: Retoques e Fachada

O salão de gala continuava vibrante, com o tilintar de taças e o murmúrio de conversas flutuando sobre a melodia suave da orquestra. Giorno e Mista haviam se recuperado do momento intenso atrás das cortinas, mas a eletricidade entre eles ainda pairava, como uma corda esticada prestes a romper. Eles circulavam pelo salão, de braços dados, fingindo serem apenas mais um casal apaixonado, enquanto mantinham os olhos e ouvidos atentos a qualquer movimento de Vincenzo ou seus associados.

Giorno, no entanto, precisava de uma pausa estratégica. Ele parou perto de uma coluna decorativa, soltando o braço de Mista com um movimento gracioso. ? Vou ao banheiro retocar a maquiagem ? anunciou, a voz suave, mas firme, ajustada ao papel de jovem dama. O gloss em seus lábios ainda brilhava, mas ele queria garantir que cada detalhe do disfarce estivesse impecável.

Mista ergueu uma sobrancelha, um sorriso travesso surgindo em seu rosto. Ele se inclinou, a voz baixa para não atrair atenção. ? Banheiro masculino ou feminino, hein? ? brincou, os olhos brilhando com uma mistura de provocação e curiosidade. Ele sabia que Giorno estava comprometido com o disfarce, mas não resistiu à chance de cutucá-lo.

Giorno virou-se para ele, os cabelos dourados refletindo a luz dos lustres, e ofereceu um sorriso enigmático, quase desafiador. Seus olhos verdes reluziram, e ele inclinou a cabeça ligeiramente, o vestido rosa ondulando com o movimento. ? O que você acha, Guido? ? respondeu, a voz carregada de um tom provocador que fez Mista engolir em seco. Sem dizer mais nada, Giorno girou nos calcanhares, os saltos altos ecoando suavemente no chão de mármore, e dirigiu-se ao banheiro feminino com uma confiança que parecia natural.

Mista ficou parado, observando-o se afastar. A forma como Giorno se movia ? os quadris balançando levemente, a saia plissada dançando a cada passo ? era hipnotizante. Ele sabia que Giorno era andrógino o suficiente para passar despercebido como garota, especialmente com aquele vestido e a maquiagem sutil destacando seus traços delicados. Não era a primeira vez que Giorno usava um disfarce assim, e a facilidade com que ele navegava o papel deixava Mista igualmente impressionado e desconcertado. Ele tá gostando disso, pensou Mista, balançando a cabeça, mas o ciúme residual do encontro na mesa de canapés ainda queimava em seu peito.

No banheiro feminino, Giorno se posicionou diante do espelho de moldura dourada, o ambiente luxuoso com azulejos brancos e uma iluminação suave. Algumas mulheres retocavam seus próprios rostos, lançando olhares curiosos, mas nenhum de desconfiança. Ele abriu a pequena bolsa que carregava, tirando um tubo de gloss e um pincel de blush. Com gestos precisos, reaplicou o brilho nos lábios, o movimento lento e deliberado, como se estivesse ciente de que cada detalhe reforçava sua fachada. Ele ajustou uma mecha de cabelo, os dedos roçando a pele do pescoço, e por um momento, pensou em Mista ? no jeito como o pistoleiro o olhava, na possessividade ciumenta que o pegara desprevenido. Um leve rubor subiu às suas bochechas, mas ele o disfarçou com um toque extra de blush.

Quando Giorno voltou ao salão, a maquiagem impecável realçava ainda mais sua aparência etérea. O gloss fresco fazia seus lábios parecerem ainda mais convidativos, e o blush sutil dava um ar de vivacidade que contrastava com a frieza calculada de seus olhos verdes. Ele encontrou Mista encostado em uma parede, fingindo observar os convidados, mas os olhos do pistoleiro o encontraram imediatamente, como se fossem atraídos por um ímã.

? Pronta, princesa? ? perguntou Mista, estendendo o braço com um sorriso torto, mas seus olhos traíam a intensidade com que ele absorvia cada detalhe de Giorno. O apelido era uma provocação, mas havia um calor genuíno em sua voz.

Giorno aceitou o braço, deslizando os dedos pelo tecido da camisa de Mista com uma leveza que parecia quase intencional. ? Sempre ? respondeu, o tom baixo e carregado de subtexto. Ele se aproximou, o corpo roçando de leve contra o de Mista enquanto retomavam a circulação pelo salão, a fachada de casal apaixonado intacta. A proximidade era necessária para a missão, mas cada toque ? a mão de Giorno no braço de Mista, o ombro dele roçando no peito do pistoleiro ? parecia carregar um peso que ia além do fingimento.

Enquanto caminhavam, Giorno inclinou-se ligeiramente, sussurrando para que apenas Mista ouvisse: ? Algum sinal de Vincenzo? ? Seus lábios estavam tão próximos da orelha de Mista que o pistoleiro sentiu um arrepio, o perfume de lavanda de Giorno invadindo seus sentidos.

Mista engoliu em seco, tentando se concentrar. ? Ele tá ali, perto do bar, falando com dois caras ? respondeu, apontando discretamente com o queixo. ? Mas, sério, Giorno, você tá dificultando minha vida com esse jeito de... sei lá, ser tão convincente. ? Ele lançou um olhar de lado, os olhos descendo rapidamente para a curva da cintura de Giorno, delineada pelo vestido, antes de voltarem ao rosto dele.

Giorno sorriu, um brilho travesso nos olhos. ? Convincente é o que a missão exige, não é? ? retrucou, mas o leve aperto que deu no braço de Mista sugeria que ele estava gostando de provocar o pistoleiro tanto quanto Mista estava lutando para manter a compostura.

Eles continuaram a circular, os olhares fixos nos alvos, mas o espaço entre eles parecia carregado de uma tensão que não tinha nada a ver com a missão. Cada passo, cada roçar de tecido, cada troca de olhares era como uma dança perigosa, e Mista sabia que, disfarce ou não, o que estava crescendo entre eles não podia mais ser ignorado.