O salão de gala brilhava sob a luz dourada dos lustres, o burburinho de risadas e taças tilintando ecoando enquanto os convidados se moviam em um balé social. Giorno e Mista haviam retornado do jardim após escutar a conversa de Vincenzo, mas precisavam manter a fachada de casal apaixonado enquanto aguardavam o momento certo para agir. No entanto, uma pequena distração os separou momentaneamente: Mista foi interceptado por um garçom oferecendo drinks, e Giorno, sempre atento, aproveitou para se aproximar da mesa de canapés e salgados, estrategicamente posicionada perto de um grupo de associados de Vincenzo. Ele queria ouvir mais, captar qualquer detalhe útil.
A mesa estava repleta de iguarias: canapés de salmão defumado, brusquetas com tomate e manjericão, mini-quiches reluzindo com queijo derretido. Giorno, com o vestido rosa plissado ondulando suavemente, pegou um prato pequeno e fingiu escolher algo, os olhos varrendo o salão enquanto seus ouvidos captavam fragmentos de conversa. Ele parecia perfeitamente integrado ao ambiente, a maquiagem sutil realçando seus traços delicados, os cabelos dourados caindo em ondas sobre os ombros. A luz refletia no gloss de seus lábios, e ele sabia que estava atraindo atenção ? exatamente como o disfarce exigia.
Um homem se aproximou, alto, de terno azul-marinho impecável, com um sorriso confiante que beirava a arrogância. Ele parecia ter pouco mais de trinta anos, o cabelo penteado para trás e um relógio de ouro brilhando no pulso. ? Desculpe-me, signorina ? começou, a voz suave, mas carregada de intenção. ? Não pude evitar notar a jovem loira mais encantadora do salão. Esse vestido... parece feito para você. ? Ele se inclinou ligeiramente, o olhar percorrendo Giorno de cima a baixo, demorando-se nas curvas delineadas pela seda rosa.
Giorno ergueu uma sobrancelha, mantendo a compostura. Ele ofereceu um sorriso educado, mas distante, sabendo que precisava manter a fachada sem encorajar o homem. ? Obrigada pelo elogio ? respondeu, a voz suave e feminina, ajustada ao papel. ? Estou apenas aproveitando a festa. ? Ele pegou um canapé, fingindo interesse na comida, mas o homem não recuou.
? Uma beleza como a sua não deveria estar sozinha ? insistiu o homem, dando um passo mais perto, o tom agora claramente flertante. ? Posso te oferecer uma bebida? Ou talvez uma dança? Prometo ser um cavalheiro. ? Ele estendeu a mão, como se esperasse que Giorno a aceitasse.
Antes que Giorno pudesse responder com uma recusa educada, uma sombra se interpôs entre eles. Mista surgiu como um trovão, os olhos estreitados e a mandíbula travada, a expressão tão sombria que parecia pronta para explodir. Ele colocou o braço ao redor da cintura de Giorno, puxando-o para si com uma possessividade que não passava despercebida. ? Ela não tá sozinha ? disse Mista, a voz baixa, mas cortante, cada palavra pingando ciúmes. ? E também não tá interessada, cara. Cai fora.
O homem piscou, surpreso, mas o olhar de Mista era tão intimidador ? com um brilho perigoso que sugeria que ele não hesitaria em sacar uma arma, missão ou não ? que o desconhecido recuou. ? Sem ofensas, amigo ? murmurou, levantando as mãos em rendição antes de se afastar rapidamente, desaparecendo na multidão.
Giorno ficou paralisado por um momento, o coração acelerado. Ele não estava acostumado a ver Mista assim ? o pistoleiro era descontraído, brincalhão, até meio atrapalhado às vezes, mas naquele instante, ele parecia um predador defendendo seu território. O aperto na cintura de Giorno era firme, quase protetor, mas havia algo de selvagem nisso que o pegou desprevenido. Ele sentiu um arrepio percorrer a espinha, não exatamente de medo, mas de uma mistura de surpresa e algo mais... intrigante.
? Vamos ? disse Mista, a voz ainda tensa, enquanto guiava Giorno para um canto mais reservado do salão, perto de uma cortina de veludo que oferecia alguma privacidade. Eles pararam, e Giorno se virou para encará-lo, os olhos verdes brilhando com uma mistura de irritação e curiosidade.
? Você não precisava ter agido assim ? disse Giorno, cruzando os braços, o que fez o vestido realçar ainda mais suas clavículas. Ele inclinou a cabeça, o tom firme, mas com um toque de suavidade. ? Eu sei me virar, Mista. Era só um flerte bobo, eu ia dispensá-lo.
Mista bufou, passando a mão pelo cabelo, o chapéu laranja ligeiramente torto. Ele se aproximou, o rosto a poucos centímetros do de Giorno, os olhos castanhos ardendo com uma emoção crua. ? Você viu como ele te olhava? ? retrucou, a voz rouca, carregada de ciúmes que ele não conseguia mais esconder. ? Como se você fosse... sei lá, um troféu. Tava te devorando com os olhos, Giorno. Eu não ia ficar só olhando!
Giorno piscou, surpreso com a intensidade de Mista. Ele abriu a boca para protestar, mas então notou o rubor nas bochechas do pistoleiro, o jeito como seus punhos se cerravam, como se ele estivesse lutando contra o impulso de fazer algo impulsivo. Havia algo de vulnerável naquele ciúme, algo que ia além da fachada de ?namorado? da missão. Giorno sentiu o próprio coração acelerar, e um sorriso sutil curvou seus lábios.
? Você tá com ciúmes, Guido? ? perguntou, a voz mais suave agora, quase provocadora. Ele deu um passo à frente, reduzindo o espaço entre eles, o tecido do vestido roçando contra a perna de Mista. ? Não sabia que você levava o papel de namorado tão a sério.
Mista engoliu em seco, os olhos descendo rapidamente para os lábios de Giorno antes de voltarem a encará-lo. ? Não é só o papel ? admitiu, a voz mais baixa, quase um sussurro. Ele estendeu a mão, hesitante, os dedos roçando a manga do vestido antes de segurar o braço de Giorno com delicadeza. ? Eu... eu não gostei de ver aquele cara tão perto de você. Não sei explicar, mas... droga, Giorno, você tá me deixando louco com esse vestido.
Giorno sentiu o calor subir ao rosto, mas manteve a compostura, embora o toque de Mista enviasse faíscas por sua pele. Ele inclinou a cabeça, os cabelos dourados caindo sobre um ombro, e respondeu com um tom que era ao mesmo tempo desafiador e íntimo: ? Então, o que você vai fazer sobre isso, ?namorado??
Mista sorriu, um sorriso torto, meio enciumado, meio encantado, e puxou Giorno para mais perto, as cortinas os escondendo parcialmente dos olhares curiosos. ? Só não me provoca mais, tá? ? murmurou, mas seus olhos diziam o contrário, brilhando com um desejo que tornava difícil distinguir onde a missão terminava e os sentimentos verdadeiros começavam.
Eles ficaram ali por um momento, a tensão entre eles quase sufocante, até que Giorno se afastou com um sorriso enigmático. ? Vamos focar na missão ? disse, mas o leve aperto que deu na mão de Mista antes de voltar ao salão sugeria que a conversa estava longe de terminar.