Parte 2: A Gala

O salão de baile da gala era um espetáculo de opulência: lustres de cristal pendendo como estrelas artificiais, mesas cobertas de linho branco imaculado e um mar de convidados em trajes elegantes, rindo e sussurrando segredos por trás de taças de champanhe. A música de uma orquestra ao vivo preenchia o ar, um valsar suave que convidava casais a dançarem no centro do piso de mármore polido. Para Giorno e Mista, no entanto, aquele lugar não era um conto de fadas ? era um campo minado de olhares curiosos e potenciais inimigos.

Eles entraram de braços dados, Giorno com um sorriso sereno que mascarava sua vigilância afiada, e Mista tentando não tropeçar nos próprios pés enquanto sentia o calor do corpo do mais novo contra o seu. O vestido rosa de Giorno ondulava a cada passo, a saia plissada roçando levemente contra as pernas de Mista, um lembrete constante da proximidade forçada ? ou talvez nem tão forçada assim.

? Lembra do plano ? murmurou Giorno, inclinando-se ligeiramente para Mista, os lábios quase tocando a orelha dele. O hálito quente enviou um arrepio pela espinha do pistoleiro. ? Circulamos, ouvimos conversas, nos aproximamos do alvo. E mantemos a fachada.

Mista assentiu, mas sua mente estava em outro lugar. Ele não conseguia ignorar como Giorno se movia com graça natural nos saltos altos, os quadris balançando de um jeito que atraía olhares de vários homens ao redor. Uma pontada de ciúme irracional o acertou, e ele apertou o braço de Giorno um pouco mais forte do que o necessário. ? Facada? Ah, sim, fachada. Tô ligado. ? Ele forçou um sorriso, passando a mão livre pela nuca. ? Mas se alguém olhar torto pra você, eu...

? Calma, "namorado" ? interrompeu Giorno, com um tom brincalhão, mas os olhos brilhando com algo mais profundo. Ele se virou para encarar Mista, os dedos traçando um padrão sutil no braço dele, subindo até o ombro. O toque era leve, mas carregado de intenção, como se estivesse testando os limites. ? Você precisa agir como se me quisesse só pra você. É parte do papel.

Antes que Mista pudesse responder, um garçom se aproximou com uma bandeja de bebidas. ? Champanhe para o casal? ? perguntou, com um sorriso educado.

Giorno aceitou duas taças, entregando uma a Mista com um gesto que parecia ensaiado, mas sentia-se íntimo demais: os dedos roçando os dele deliberadamente, demorando um segundo a mais. ? Obrigada ? disse ele, com uma voz suave e feminina que fez Mista engolir em seco. Eles brindaram, os olhos fixos um no outro, e Mista tomou um gole maior do que pretendia, o álcool queimando sua garganta enquanto tentava não imaginar aqueles lábios rosados em outro contexto.

Eles se moveram para o centro do salão, misturando-se aos convidados. O alvo da missão ? um homem corpulento de terno cinza, conhecido como Vincenzo, o traficante ? estava do outro lado, conversando com um grupo de associados. Giorno guiou Mista para mais perto, fingindo interesse em uma pintura na parede, mas na verdade posicionando-se para escutar fragmentos de conversa.

? Olha só, que casal adorável ? comentou uma mulher idosa ao passar por eles, os olhos cravados em Giorno. ? Vocês parecem tão apaixonados!

Mista, pegando a deixa, envolveu a cintura de Giorno com o braço, puxando-o para mais perto. O tecido do vestido era macio sob seus dedos, e ele sentiu a curva da cintura do mais novo, o calor da pele através da fina camada de seda. ? Ah, sim, ela é o meu tudo ? disse ele, com uma piscadela exagerada, mas o tom rouco traiu algo real. Giorno se aninhou contra ele, a cabeça descansando brevemente no ombro de Mista, o cabelo dourado roçando sua bochecha.

? Você é um ator nato ? sussurrou Giorno, mas sua voz tremia levemente, e Mista percebeu que o pulso dele acelerava sob o toque. Eles estavam tão próximos agora que Mista podia sentir o ritmo do coração de Giorno contra o seu peito. O fingimento estava se tornando perigoso, borrando as linhas entre missão e desejo.

A orquestra começou uma nova música, mais lenta e sensual, e casais ao redor começaram a dançar. Giorno ergueu os olhos para Mista, um desafio silencioso neles. ? Dança comigo? ? perguntou, a voz baixa, como um convite proibido. ? Pra vender melhor a história.

Mista hesitou por um momento, o coração martelando. Ele não era o tipo de cara que dançava em galas, mas ali, com Giorno olhando para ele daquele jeito ? os lábios entreabertos, os olhos semicerrados ?, ele não conseguiu recusar. ? Tá bom, mas não pisa no meu pé com esses saltos ? brincou, levando Giorno para a pista.

Eles se posicionaram, Mista com uma mão na cintura de Giorno e a outra entrelaçando os dedos dele. O mais novo se encaixava perfeitamente, o corpo moldando-se ao de Mista como se pertencessem um ao outro. Enquanto giravam devagar, o vestido de Giorno roçava contra as pernas de Mista, e ele sentiu uma onda de calor subir pelo corpo. Giorno inclinou a cabeça para cima, os lábios a centímetros dos de Mista, sussurrando: ? Ouvi algo. Vincenzo vai se encontrar com alguém no jardim em dez minutos. Precisamos seguir.

Mas Mista mal registrou as palavras. Seus olhos estavam fixos nos de Giorno, no brilho da maquiagem que realçava suas feições delicadas, na forma como o corpo dele se pressionava contra o seu a cada giro. ? Giorno... ? murmurou, a voz grossa de emoção. Sem pensar, ele baixou a cabeça, os lábios roçando levemente a testa do mais novo, um gesto que poderia ser visto como afetuoso, mas que enviou faíscas por ambos.

Giorno congelou por um instante, os olhos se arregalando, mas então ele retribuiu, passando os braços ao redor do pescoço de Mista, puxando-o para mais perto. ? Cuidado ? sussurrou, mas havia um tremor em sua voz, uma vulnerabilidade que Mista raramente via. ? Isso pode não ser só fingimento pra mim.

A música continuou, mas para eles, o mundo encolheu para aquele abraço. Mista sentiu o corpo de Giorno se render ligeiramente, os músculos relaxando contra os seus, e uma urgência cresceu dentro dele ? não pela missão, mas por algo mais primal. Ele deslizou a mão pelas costas de Giorno, sentindo a curva da espinha sob o vestido, e por um momento, imaginou arrancar aquela fachada, revelar o verdadeiro Giorno por baixo.

De repente, Vincenzo se moveu em direção às portas do jardim, e Giorno se afastou ligeiramente, quebrando o encanto. ? Vamos ? disse, mas sua mão permaneceu na de Mista, apertando com força. Eles saíram da pista, ainda de braços dados, o ar entre eles carregado de promessas não ditas.

No jardim, sob as luzes das lanternas, eles se posicionaram nas sombras, escutando a conversa do traficante. Mas enquanto observavam, Mista não resistiu e puxou Giorno para um canto mais escuro, encostando-o gentilmente contra uma parede coberta de hera. ? Sobre o que você disse... ? começou, os olhos queimando nos de Giorno.

Giorno o silenciou com um dedo nos lábios, mas então, num impulso, substituiu o dedo por um beijo leve, rápido ? um roçar de lábios que era ao mesmo tempo inocente e incendiário. ? Depois da missão ? murmurou contra a boca de Mista. ? Agora, foque.

Mista assentiu, atordoado, o gosto de gloss e champanhe nos lábios. A missão prosseguia, mas algo irreversível havia mudado entre eles naquela gala. O fingimento havia se tornado real, e o que viria depois... bem, isso era uma história para outra noite.