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Naquele mesmo dia, Ashley recebeu alta, Johnny seu namorado a levou para sua casa levando com eles todos os pertences dela.
Otávio, quando soube, não ficou muito feliz com as notícias, mas não voltou numa decisão. Tentava acreditar que poderia ser o melhor, afinal, ter uma filha mal criada dentro de casa, isso lhe geraria dores de cabeça.
Maitê estava dentro do seu quarto. Estava triste e sentia saudades da sua irmã caçula. Ver a casa vazia e sem ela para lhe encher o saco era super chato. Mas teria que se acostumar, afinal Ashley estava vivendo a vida dela.
Deitada sobre a sua cama a jovem mexia no seu celular procurando alguma distração para aliviar o sentimento de tristeza e solidão que sentia. Os seus dedos rolavam para cima e para baixo no seu smartphone, porém não encontrou nada que chamasse a sua atenção. Tudo chato!
O tédio se fez presente em seu quarto e provavelmente alcançará toda a sua casa. Maitê pensava no que poderia fazer, mas nada vinha em sua mente. Ela para por um momento e coloca o seu celular em cima de sua escrivaninha que ficava ao lado de sua cama. A jovem estava triste e, ao mesmo tempo, sentia um sentimento de "vazio existencial" e "angústia". Não é uma novidade, já que a maioria do tempo eles sempre se fez presente na sua vida como dois amigos que nunca teve. Poderia ser início de uma depressão? Talvez não! A única diferença é que, quando esses sentimentos vêm, nem sempre estão na mesma proporção. E isso importa?
Enquanto pensava no que sentia, Maitê ouviu uma batida na porta do seu quarto e, ao abri-la, se depara com Verônica, sua mãe, que a olhava tristemente e o rosto inchado de tanto chorar. Me surpreendi com tal visão, mas algo dentro de mim me dizia que aquilo não era pela saída de Ashley. Me senti na obrigação de perguntar.
— Mãe, aconteceu alguma coisa?
Ela continuava me olhando enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto, eu a olhava fixamente e sentia por um momento o meu estômago se revirar. O que poderia ter acontecido?
— Maitê sua avó morreu.
Ao escutar me senti completamente imóvel, paralisada com as suas palavras por alguns segundos. Não conseguir raciocinar direito, o medo e o desespero começou a tomar conta de mim, as lágrimas desciam e os soluços já poderiam ser ouvidos.
— O quê? — Foi a única coisa no momento que conseguir dizer, minha mãe chorava do outro lado.
— Ela morreu de infarto fulminante. — Dizia aos choros, enquanto enxugava as lágrimas para falar novamente.
— Ela havia se aborrecido novamente com um de seus netos que morava com ela, devido a dívidas de drogas. Ele estava pegando as coisas de dentro de casa e vendendo, e sem falar que ultimamente ele estava sendo muito agressivo, não respeitando a idade avançada dela. Tudo isso colaborou, porém, eu soube que ninguém deu importância às queijas de dores no peito da sua avó. Achavam que era frescura até que ela veio a óbito.
— Sua avó tem problemas de saúde e estava lidando com a pressão alta, diabete e fibromialgia causado pelo estresse. Lastimável.
— Mais mesmo assim, ela não deveria ter morrido. — Dizia aos prantos não aceitando a perda.
— Maitê, minha filha.... Eu sei mais do que ninguém, afinal ela era a minha mãe. Eu cuidava dela, mandava dinheiro no que precisava, ia ao médico, mas ela fazia muitas coisas mais do que os meus outros irmãos. Ela teve cinco filhos e nenhum fazia por ela como deveria ser feito. Ingratos. — Chorava Verônica sentada sobre a cama de Maitê enquanto a jovem soluçava de cabeça baixa ao lado da porta do quarto.
A mãe de Verônica era uma mulher sofredora. Sofrerá muito na vida desde a sua juventude. Casara desde cedo, com apenas dezesseis anos, com um homem no qual todos acreditavam ser um bom partido porque ele sabia manejar muito bem uma inchada e também sabia como ganhar dinheiro e trazer sustento para a família. O problema é que ele era um homem pesado de língua, e iletrado, tinha uma boa lábia com as mulheres, o que deixava sua mulher bastante irritada. Esse relacionamento não durou muito tempo, apenas cinco anos, quando ele decidiu se juntar com as estrelas do céu, deixando três filhos nas suas costas. Falecera cedo por tentar separar uma briga que acontecia nos campos nos quais ele trabalhava.
Um tempo depois, a mãe de Verônica se casou de novo com um homem que dizia que ela era uma mulher bonita, assim como o sol é para o dia, a lua para a noite, a beleza dela o encantava! Obviamente, ele era conhecido como o "homem das cantadas", e para conquistá-la arranjava flores para oferecê-las todos os dias. Infelizmente, seu amor não durou por muito tempo, depois que se casara, ele se tornou um homem agressivo, verbal e fisicamente. Seu ciúme era extremamente possessivo e toda vez que ele bebia ficava descontrolado, e falava mais do que o necessário. A mãe de Verônica, não aguentando mais de tanto sofrimento, fugiu para longe, levando com ela os seus quatro filhos que tivera com ele e os outros três com o antigo marido. Totalizando sete crianças.
Ela criou os seus sete filhos sozinha na casa que outrora seria dos seus pais. Ela viveu por eles, deu tudo o que podia para todos eles, fez o que pode e o que não pode! Porém, quando eles se tornaram adultos, não retribuíram todo esse amor que recebera desde a infância. Pelo contrário, recebeu ingratidão e abandono, mas não de todos. Existiam também os seus netos que fora morar com ela no qual só lhe trazia dores de cabeça.
— Quando será o enterro? — Perguntava Maitê para Verônica enquanto colocava as suas duas mãos sobre o rosto. Estava arrasada!
— Eu não sei. Mais se arrume, porque nós iremos para a casa da sua avó agora. Lá é aonde o corpo será velado. — Só disse isso e saiu andando pela casa, estava arrasada e fazia o mínimo de esforço para não perder a razão.
Maitê imediatamente saiu correndo e foi em direção ao banheiro para tomar banho, deixando separado suas roupas preta de luto e a sua mochila. Aquele dia seria um dia triste para todos nós!
Alguns minutos depois, Verônica já estava pronta e o seu marido também. Os dois estavam vestidos de roupas pretas para representar luto enquanto Maitê ainda se preparava.
— Maitê vamos você já está pronta? — Gritava Verônica ao pé da escada, não estava com muita paciência para esperar por ela ou para ficar gritando, estava nervosa e o atraso dela só piorava as coisas.
— Já estou aqui. — Falava enquanto descia as escadas as pressas.
— Vamos o seu pai já está nos esperando, lá fora. — Dizia olhando para o chão, seu olhar era triste e ela fazia um grande esforço para não cair em lágrimas. — Eu apenas acenei com a cabeça em confirmação.
Entramos todos no carro que era dirigido pelo meu pai Otávio, minha mãe estava sentada no banco ao lado dele com um lenço nas mãos, enxugando as lágrimas, e eu estava sentada nos bancos de trás ao lado da janela, observando as casas que ficavam para trás à medida que o carro seguia o seu percurso.
Ao chegar na estrada, pegamos um enorme engarrafamento devido a um terrível acidente de moto que acontecera. O motoqueiro tentava empinar a moto no meio de muitos carros e, por causa disso, acabou se desequilibrando e batendo bruscamente em um carro que vinha em alta velocidade. Infelizmente, o motoqueiro não sobreviveu, mas as pessoas que estavam sobre o carro estavam envoltas em quatro pessoas, algumas delas ficaram feridas e outras desacordadas. Espero que fiquem bem.
Algumas horas se passaram e finalmente conseguimos sair daquele maldito engarrafamento para entrar em uma terrível estrada de barro cheia de buracos que nos fazia pular e chacoalhar por horas. Infelizmente, não poderia acelerar o carro para não acontecer risco de acidente, ou cair do despenhadeiro. Tínhamos que aguentar, eu me sentia num liquidificador que revirava e balançava até não poder mais.
A casa de minha avó ficava um pouco mais adiante, e eu já podia ver as pessoas que eu conhecia e também aquelas que não faziam parte da família entrando e saindo da casa. Um verdadeiro alvoroço! Provavelmente é para ir ver o corpo.
Na frente da casa, estava cheio de gente, uma conversava entre si, outras choravam inconformadas e outras gritavam ao ponto de serem seguradas pelas pessoas que estavam ali presentes, e os filhos e netos não estavam diferentes. Todos estavam sofrendo pela perda repentina de minha avó. "Uma pessoa querida pela vizinhança, porém não valorizada pela família".
— Que bom que vocês chegaram. — Dizia uma tia que saiu para nos receber, ela era a filha mais velha da minha avó. A primogênita o nome dela é Hadassa
— Viemos assim que soubemos. — Dizia Verônica enquanto abraçava Hadassa. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
— Onde está Ashley? Ela não veio com vocês? — Perguntava Hadassa para Verônica, vendo que ela não estava presente.
— Ashley teve que fazer umas coisas, mas logo estará aqui. — Mentiu Verônica para Hadassa. Na verdade, ela não sabia sobre a sua filha caçula, afinal Ashley não tinha respondido nenhuma de suas mensagens, principalmente a respeito de sua avó. Porém, se ela tivesse dito a verdade, isso não seria bem-visto diante dos parentes.
— Jura? O que seria mais importante sobre a morte de sua avó? As outras coisas podem esperar. — Falava séria e desapontada, afinal Ashley era uma das sobrinhas que Hadassa mais gostava.
— Eu sei mais logo ela estará aqui, afinal de contas todos os filhos estão presentes? — Perguntava tentando mudar de assunto. Hadassa apenas me observava séria como se estivesse desconfiando de alguma coisa.
— Todos estão, só faltavam vocês. Me diga, minha irmã, por que vocês demoraram tanto para chegar? — Perguntava Hadassa curiosa.
— Demoramos devido a um engarrafamento na estrada. — Respondeu Otávio, sem paciência.
— Entendo. Bom, estamos todos nos organizando para o enterro da nossa mãe, que será amanhã às 10:00 horas. Optamos enterrá-la por aqui mesmo, no cemitério dessa região e não na cidade. Pelo fato de ser um lugar onde ela amava estar. Mesmo sendo contra as minhas vontades e acredito que sejam as suas também, Verônica. — Falava olhando para a sua irmã. Otávio apenas cruzou os braços.
— Estou chateada, não queria que fosse por aqui, porém não temos mais tempo de discutir isso e nem de convencer a ninguém a fazer nada. Só peço que nos ajude com a contribuição de vocês para os gastos do velório e também porque não queríamos que ela fosse enterrada de qualquer jeito e sim de uma maneira mais digna. Você me entende? — Otávio colocou uma de suas mãos sobre a boca. Isso estava estranho, para quê ela queria uma contribuição dos sete filhos e dele também que era genro para um enterro simples sem muita cerimônia, como no cemitério daquela região, na qual diz ela que eles optaram por lá. Isso estava parecendo que Hadassa estava tirando proveito da situação.
— Esse lugar era o lugar em que ela amava estar. Os seus pais moravam aqui e foram enterrados aqui e ela sempre dizia que, quando morresse, queria ser enterrada no mesmo lugar onde os pais dela foram sepultados. Acredito que era uma forma de reencontrá-los após a morte. — Dizia Verônica, olhando para Otávio e Maitê, que estavam calados. Hadassa apenas consentia com a cabeça.
— Verônica. Nossos irmãos nem esperaram o corpo esfriar e já estão brigando pela casa. Eles querem vender e dividir o dinheiro para todos. Eu simplesmente não concordo ainda é muito cedo para pensar nisso, mais eles são teimosos. — Falava Hadassa com o olhar cheio de raiva.
— Hadassa. Eles nem parecem que a amavam, ela fez tudo pela gente, dedicou a sua vida inteira por nós e é assim que eles retribuem? — Falava Verônica revoltada com o que ouviu.
— Exatamente Verônica. Admito que falhei e me arrependo em relação a isso. Permitir um de meus filhos morasse com ela, acreditando que como ele era jovem cuidaria dela afinal ela era uma idosa de setenta e cinco anos e precisaria de alguém para estar com ela e a minha filha caçula para dar apoio. O problema é que ele trouxe muitas dores de cabeça e eu não fiz praticamente nada. Eu deveria ter me importado mais, e não ter ficado quieta. — Os olhos de Hadassa estavam em lágrimas.
— O maior problema do ser humano é achar que um dia isso nunca vai acontecer com a gente. Por isso, não levamos as coisas tão a sério como deveria. — Falava Otávio sério, olhando para ela. Hadassa apenas deu um pequeno sorriso sem graça. Otávio era sincero demais, por isso não gostava dele.
— Onde o seu filho está agora Hadassa? — Perguntava Verônica para sua irmã mais velha.
— Depois que ela morreu ele fugiu, porque sabia que todos os culparia. Eu não sei onde ele está agora. — Falava em prantos.
— Eu sou uma mãe irresponsável...
— Isso é verdade. — Falava Otávio cruzando os braços novamente olhando para sua cunhada.
— Se você fosse uma verdadeira mãe exemplar, jamais colocaria seu filho problemático na casa de senhora de idade avançada para aliviar o seu fardo. Tentou fugir de um problema e caiu em outro. A morte dela não é culpa dele e sim sua. Porque foi você quem o colocou lá. Irresponsável. Agora, por favor, pare com esses choros falsos, que em você não há nenhum arrependimento e nem remorso, você não me engana.
— Otávio. — Reclamou Verônica para o seu marido. Hadassa apenas se calou por alguns segundos, sua expressão era de raiva.
— Admito que eu não tenho sido uma boa mãe e eu que deveria ter feito mais. Mas isso não lhe dá o direito de me julgar assim. Afinal de contas, quem é você? Como pode dizer que os meus choros são falsos? Você é louco? Você não passa de um.....
— Hadassa, pare! — Interrompia Verônica. — Não era isso o que ele queria dizer.
— Era exatamente o que eu queria dizer. — Falava Otávio, interrompendo Verônica. — A verdade dói, não é? Você sabe que eu tenho razão, por mais que você não queira aceitar.
— Vai embora. Eu não quero ver você aqui. — Falava Hadassa, cheio de raiva, seus olhos pareciam fuzilá-lo.
— Não se preocupe assim que ela for enterrada, eu irei embora, afinal não haverá mais motivos para eu estar aqui.
— Acho bom. Sua presença é desagradável. — falava dando as costas para ele.
— Não mais do que a sua. — Provocou Otávio. Hadassa pensou em dizer muitas coisas pela ousadia dele, mas preferiu se calar e seguir em frente. Tinha coisas importantes para fazer e não perder tempo com ele.
— Gente, o que foi que aconteceu aqui? — Perguntava Maitê para os seus pais. Vendo Verônica pôr as mãos sobre o rosto.
— Por favor, Otávio não cause mais problemas com Hadassa e nem com mais ninguém. Não hoje. — Implorava Verônica.
— Não estou causando problemas. Sua irmã que não gosta de ouvir a verdade e vem depois bancar a vítima.
— Vamos indo, é melhor. — Chamava Verônica, seu marido e a sua filha para entrar da casa.
Ao chegar na casa, vendo todos ali presentes chorando, vizinhos, amigos, filhos e netos, alguns estavam à base de remédios e outros sentados com os olhos vermelhos de tanto chorar. Era um cenário triste que transmitia muita dor diante de todos, alguns se lamentavam por não ser melhor e os outros se desculpavam diante do caixão que estava posto na sala frente à porta de entrada.
Maitê olha para a sua mãe que estava debruçada a Otávio e chorava como uma criança. Ela vai até o caixão que estava aberto e observa a sua avó que estava deitada com as mãos cruzadas na altura do peito, envolta de flores artificiais que cobriam toda a sua cama e forro que cobria toda a extensão do caixão, inclusive o falecido. Sua pele branca tinha perdido a coloração, seu nariz tinha algodões e a sua boca estava colada. Sua expressão facial estava tranquila, parecia até que estava dormindo. Nem aparecia que ali seria a sua última vez que a veria. Pena que tinha de ser daquele jeito!
Lágrimas caiam sobre a face da jovem garota. O que ela diria naquele momento a sua avó, de algum lugar na qual ela estivesse, pudesse ouvi-la? — Obrigada, seria suficiente?
Maitê pensava no que poderia dizer, mais as palavras certas não vinham. Até que.....
— Mãe? Tem como a senhora vir aqui um instante? — Maitê chama a sua mãe para perto do caixão, deixando a todos que estavam ali presentes curiosos.
Verônica se aproxima de Maitê com os olhos em lágrimas. — O que foi?
— Ela está peidando, isso significa que provavelmente ela está viva. — Dizia com um grande sorriso no rosto.
— O quê disse? — Perguntava Verônica, irritada. Maitê estava brincando com ela?
Algumas pessoas que estavam dentro de casa começaram a murmurar e outros falavam baixo a respeito da jovem. Vendo Maitê que estavam falando dela, abriu a boca e, quando pretendia pronunciar algo, é interrompida pelo seu pai que a repreende.
— Maitê, que absurdo é esse que você está dizendo? E pior, no momento inapropriado como esse?
— Não mais..... — Antes que Maitê pudesse se explicar, Otávio a interrompe novamente.
— Entenda uma coisa antes que saia por aí falando besteiras. Existem bactérias no nosso sistema respiratório e, quando a pessoa morre, essas bactérias chegam às correntes sanguíneas, iniciando o processo de decomposição. Em outras palavras, elas digerem e eliminam gases com mau cheiro que estão alojadas no estômago e intestino. E por isso que você pensou tal coisa, e não deve sair por aí falando sem pensar.
— Ah! É... Desculpe, pai, eu pensei.....
— Você não pensou nada, vá se sentar. — Reclamava Otávio, sua filha, pois ele não queria que as pessoas pensassem que ela estaria zombando. Maitê apenas obedeceu.
A noite havia chegado, era uma noite fria e cheia de tristeza. Momento de muita dor para a família que estavam todos ali para passar os seus últimos momentos antes de ser levada ao cemitério quando amanhecer. A despedida é sempre dolorosa, é como se fosse um pedaço de você que foi embora e não voltará mais, principalmente quando se trata de anti querido. A dor é ainda maior.
Quando amanheceu todos ficaram tensos e nervosos porque logo chegaria o momento mais difícil da vida de cada um. O sepultamento e a despedida final. Eles não estariam enterrando uma pessoa qualquer, e sim uma mãe para os filhos, uma avó para os netos e bisnetos, uma pessoa querida e de caráter para os amigos e vizinhos. Uma pequena flor do jardim que Deus decidiu colher para si. Era o final.
Otávio, alguns tios e sobrinhos se puseram cada um ao lado caixão para que pudesse levá-lo ao cemitério. O carro da funerária já estava no aguardo. Eles suspenderam o caixão que estava posto em uma espécie de mesa apropriada e levaram até a porta com os pés apontado para a rua, sendo acompanhado pelos filhos e parentes e depois iriam os vizinhos e amigos prestar solidariedade.
Maitê apenas observava, era uma cena triste de ver e pensava que ela nunca mais deixaria a sua cama a pontada para porta para que os seus pés estivesse de frente a eles. Porque isso lembraria a sua avó e também porque os mortos eram levados assim.
Choro e mais choro já podiam ser ouvidos. O carro já havia partido ao seu destino para o seu último adeus. Cada um pegaram os seus carros, outros iam de carona e outros preferiram ir andando. Já que o cemitério não ficava tão distante, apenas uma boa caminhada para quem preferia ir a pé.
Ao chegar no cemitério, Verônica e a sua família observam o caixão que havia sido posto sobre uma mesa de pedra para que pudesse ser velado pela última vez antes do sepultamento. Promessas, pedido de perdão, arrependimentos e choros podiam ser ouvidos. Todos estavam aproveitando seu último momento antes do adeus. Quando enfim a hora chegou, o caixão já estava sendo levado para ser enterrado. Alguns optaram, em meio à caminhada, cantar músicas nas quais ela gostava de ouvir. Essa atitude confortava literalmente os corações de algumas pessoas que estavam ali presentes. Era um momento em que a vida estava ensinando que ninguém vive para sempre e também que a valorização é enquanto está vivo para que o arrependimento não sobrevenha.
Enquanto o coveiro estava terminando de enterrá-la e colocando as flores sobre a terra, ao lado estava tendo outro sepultamento. Enquanto nós estávamos chorando pela nossa perda, do outro lado, aquela família também estava chorando pela sua perda. Uma coisa é certa. Aquele lugar era um lugar que mostrava a todos que, quando enfim a hora chegar, não poderia levar nada do que construiu em vida, apenas as suas obras, sejam boas ou más. Infelizmente, é a realidade. "Um dia, as nossas memórias poderiam ser esquecidas".
O sepultamento acabou e todos estavam voltando para as suas casas, uns chorando e outros se lamentando. Enquanto todos estavam se distanciando, seguindo os seus rumos de volta para casa, Maitê caminhava de passos lentos e observava a sua mãe, que estava inconsolada e inconformada, sendo segurada pelo seu marido que a ajudava a andar. Não a julgaria, afinal se sentia da mesma maneira que ela.
Por um momento Maitê olha para trás não virando o seu corpo apenas a sua cabeça para o lugar onde pusera sua avó.
Sua doce avó, que cuidará dela e de sua irmã quando crianças, que colocava remédios em suas feridas quando se machucava, que costurava e remendava as suas roupas, que lhe dava dinheiro para comprar doces, que encobria os seus erros para não apanhar. Não haveria mais... Nunca mais nessa vida. Pois ela brilhará com as estrelas, porque o seu papel aqui na terra acabou.
Ao observar aquele túmulo, ela então decidi dizer umas últimas palavras antes de ir embora, acompanhando a sua família que estava adiante. Acreditava que talvez em outro mundo, seja lá onde ela estiver, talvez possa ouvi-la por um momento ou por uma última vez. Aquelas palavras que outrora não conseguiram dizer.
— Adeus doce Margarida. Obrigada por tudo.
A jovem poderia dizer muitas coisas, mas ela nunca foi boa em se expressar e mostrar sentimentos. Agradecer por tudo era a única coisa que Maitê conseguia fazer naquele momento. Lágrimas desciam sobre a sua face, enquanto o vento bagunçava os seus cabelos.
— Eu te amo. — Maitê volta a sua caminhada de volta para casa sem olhar para trás.
Continua.