Capítulo Único

Eu olhava atentamente para os valores que estavam sobre o cardápio. Folheava página por página. Escolher qualquer coisa que gostaria de comer seria bom, o problema é quando os seus olhos veem algo que supostamente ficaria pesado para o bolso. Seria um problema!

Sentada sobre a cadeira, de um restaurante chique, a garçonete me olhava de uma forma impaciente. Já fazia praticamente uns dez minutos que estava à espera, algo que talvez em sua mente esteja pronunciando palavras inapropriadas ao meu respeito pela demora. Deveria ser novata, não precisava ficar no aguardo enquanto existiam outros clientes para atender

— Eu quero esse aqui. — Apontava para o cardápio, mostrando para a jovem garota que aparentava ter uns dezenove anos. Era uma chapa completa com carne, legumes e frutas e acompanhamentos, arroz e feijão-tropeiro

— De suco eu quero. Suco de laranja natural e sem açúcar, por favor! — Falava, colocando o cardápio sobre a mesa.

— E você? — Perguntava a jovem, para a minha amiga que estava do meu lado. Uma amiga de infância, no qual eu a convidei para jantar, em um dos restaurantes chiques que ficava perto do meu trabalho. Um dos quais sempre tive vontade de conhecer, porém, me faltava coragem, por não querer  ir sozinha. Ela só aceitou vir se eu pagasse a conta dela, dizendo "quem convida é quem paga a conta". Infelizmente não tive outra escolha.

— Eu quero uma coca. — Falava sorrindo para a garçonete que anotou tudo e saiu.

Ela usava um vestido longo super provocativo e que tinha uma abertura de um lado sobre a perna, enquanto eu apenas usava roupas sociais sem muito protocolo. — Quem você está querendo chamar atenção? — Perguntava, enquanto a via olhar para os lados sorrindo.

— Quem sabe aqui eu não acho um homem rico para casar. Se eu viesse simples, seria mais difícil de ser notada.

— Creio que aqui não seja um lugar ideal. Mas se você achar, consiga dois.

— Se eu conseguir, não se preocupe, amiga. Arranjarei um boy para você desencalhar. Afinal, você está precisando, não é? Fica o dia todo lendo livros e estudando. Você vive dizendo que está sem tempo para isso. Não vai casar nunca!

— Anna, você está me entendendo mal. Se eu não passasse a maioria do meu tempo estudando, recusando rolês, bebidas alcoólicas e saídas nos finais de semana ao longo dos anos. Eu não teria chegado onde cheguei. Me formei na faculdade, consegui um emprego no qual eu queria e fui promovida. Eu suei para chegar até aqui, e quantos aos homens? Eu sou uma pessoa seletiva.

— Eu penso diferente!

— Eu não vou discutir com você, nossas opiniões são divergentes. Você não se preocupa com o futuro, apenas com o presente, por isso acha que deveria aproveitar enquanto é jovem. Se eu pensasse assim, afundaria e destruiria tudo o que conquistei e o que pretendo conquistar. — Anna, apenas colocou a mão sobre o rosto, ela também não estava mais afim de dar continuidade àquele assunto. Estava ficando chato!

Depois de alguns minutos de silêncio, um garçom aparece trazendo um suco de laranja sem açúcar e uma coca. Logo depois, a garçonete aparece trazendo as comidas, a carne sobre a chapa e as batatas fritas que Anna havia pedido depois.

A comida estava boa, tiramos algumas fotos, pedimos sobremesas, bebemos vinho e tudo parecia estar perfeito. A música ao vivo estava suave, o homem cantava baixo e lento apenas pelo toque do violão. Um ótimo lugar para um encontro romântico. Quando a música acabou, eram dez horas da noite. Os músicos se organizavam para ir embora e nós também precisavamos ir. Chamei a garçonete que havia nos atendido e pedi a conta. Ela saiu e, em menos de dois minutos, ela voltou com uma porta conta e uma maquininha na mão. Ao olhar para o valor, meus olhos se arregalaram e eu estava incrédula. — R$ 850,00 reais? Isso tudo? — Era o que eu pensava. Eu não tinha condições de pagar tudo isso, o valor excedeu os meus limites previstos. Pediria ajuda à Anna? Provavelmente não! Ela saiu sem nenhum R$ 1,00 real no bolso, confiando em mim. E agora? — Coçava a minha cabeça enquanto a garçonete arqueava as sobrancelhas, ela notou o meu nervosismo e queria saber como eu pagaria.

Tentei manter a calma e sorri para disfarçar. Pelo visto, não poderemos ficar para lavar os pratos porque provavelmente sairemos daqui presas e algemadas. Minha cabeça começou a doer, eu não tinha ideia de como eu faria para pagar todo aquele valor.

— Me diga, esse valor é referente de tudo o que consumismo? — Perguntei a garçonete, acreditando numa possibilidade de reduzir o valor.

— A maioria sim. Mais tem os 10% dados aos garçons inclusos e um pequeno valor que será dado aos cantores referente às músicas que vocês ouviram. — Respondeu à jovem.

— Os 10% e o valor aos cantores são obrigatórios? — Perguntou Anna

— Não! Mas se vocês quiserem fazer essa generosidade.

— Hoje não! Quem sabe na próxima. — Falou Anna sorrindo para garçonete que apenas ficou séria. Ela também notou o meu nervosismo quando olhei para o papel.

O valor caiu para R$ 798,00 reais e mesmo assim eu ainda estava preocupada de como eu iria pagar. Passei 500 no cartão mais faltava R$ 298,00 reais. Olhei as minhas contas bancárias atrás de algum valor e estavam todas zeradas. Meus olhos se encheram de lágrimas, nunca passei tanto constrangimento assim. Não sabia o que fazer, até que... Por um momento, Anna se levantou da cadeira e tirou um cartão de crédito da bolsa. Pagou o valor que faltava. Desgraçada! Me viu passando sufoco e não falou nada.

— Vamos embora, estou cansada. Foi divertido, obrigada por me chamar para comer. — falou enquanto pegava o seu cartão de volta e colocava sobre a bolsa e caminhava em direção à porta. Por um momento, eu senti vontade de estrangulá-la, mas o que fizemos foi apenas rir dessa situação do lado de fora do restaurante.

Na próxima vez estarei levando um valor a mais caso ocorra algum imprevisto novamente.