ÍCARO Sombra da Justiça

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    A Sombra da Justiça

    Álcool, Drogas, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Violência

    Uma nova noite cai sobre a cidade de Covervil. Como num chamado sobrenatural, sou convocado para agir. A vida noturna é sempre agitada por essas bandas, enquanto lojas e ambientes familiares fecham e saem de cena, bares e casas de shows escancaram suas portas para iniciar seu turno, onde não há lugar para regras, ou limites para a perversidade humana.

    Observo as ruas escuras, onde a maldade prospera. Os sons da violência ecoam à distância, essa é minha deixa para intervir. Deslizo entre os muros e permaneço oculto nas sombras dos arranha-céus. Como um manto protetor, a escuridão se tornou minha maior aliada. Os gritos são abafados à medida que me aproximo. O local da vez? Um beco aleatório. A vítima? Uma jovem que teve a infeliz ideia de cortar caminho para casa e agora, se encontra indefesa, nas mãos de dois agressores prestes a roubar sua inocência.

    A garota semi despida tenta, sem êxito, se desvencilhar dos braços musculosos que a pressionam contra a parede, enquanto o magricelo balança uma faca e ameaça cortar seu pescoço. Minha presença não é percebida até que eu decidi me revelar. O brutamontes vacila assustado e a menina foge sem olhar para trás. O outro homem se vira impaciente, com olhos vermelhos, pupilas dilatadas, boca pálida e cheia de feridas, indicam que está sob efeito de algum bagulho e algo me diz que essa não é a primeira vez.

    ? Aí, seu otário, tu ferrou com minha noite ? disse enquanto aponta a lâmina em minha direção ? e isso não vai sair barato!

    Então, desferiu um golpe para furar meu olho esquerdo, mas sem o menor esforço, eu pude desviar e redirecionei a mão do criminoso para frente até que a faca afundou em seu próprio estômago.

    Um resmungo engasgado pôs fim em sua valentia antes mesmo de se debruçar no chão gelado e imundo. Ergui os olhos, o comparsa dele me encara incrédulo e trêmulo. Ameacei atacar e ele disparou rumo à avenida. não importa tamanho, tipo físico ou raça, a reação ao me ver é sempre a mesma. Como dizem: a primeira impressão é a que fica. Neste caso, não posso permitir que um malfeitor como este saia impune.

    O muro estremeceu quando atravessei as sombras da parede e emergi do outro lado a tempo de alcançar o fugitivo. O cara arregalou os olhos ao me ver, então, analisa o movimento de pedestres na calçada, depois o fluxo de veículos na rua e sorri descontrolado. Talvez pense que por ser uma noite badalada, por estar em local aberto e no centro da cidade eu não seria capaz de atacá-lo. Não. É mais provável que esteja rindo de nervoso mesmo, por se deparar comigo outra vez.

    ? Porra, quem você é, o Batman? ? berrou ofegante e desorientado.

    Nem me dou ao trabalho de responder, essa escória já me fez perder tempo demais. A escuridão ao meu redor se agita, abala as estruturas, o poste mais próximo pisca de forma irregular como se estivesse em curto. As sombras tomam a forma de tentáculos que, em resposta a minha vontade, suspendem o corpo de meu adversário e, em seguida, seus membros são retorcidos em pleno ar. Por fim, o estalo dos ossos partidos se assoma a confusão barulhenta de automóveis que passam em alta velocidade, ruídos de buzinas e o bate estaca ritmado de músicas eletrônicas presentes na maioria das boates.

    Quando me afasto, a interferência elétrica cessa e a lâmpada volta a brilhar de forma constante. Nesse momento, sinto uma fugaz satisfação de dever cumprido, junto com o gosto da justiça e o perfume da liberdade de caminhar entre os vivos outra vez, mas esse sentimento logo dá espaço para o vazio profundo de saber que não estou nenhum pouco perto de purificar essa cidade. A maldade tem se proliferado aos montes como ratos de esgoto, ou baratas. Insetos malditos! Não importa quantas delas você esmague, sempre surgem mais e a cada dia, o ciclo se repete.

    Não tenho uma base secreta para retornar, ou mesmo uma identidade para esconder. Longe dessas batalhas é como se eu não existisse. Uma figura que surge quando o mal está prestes a acontecer e depois some na escuridão, como um fantasma que se veste de noite e aparece apenas para cumprir seu dever de vingar os inocentes e punir aqueles que perturbam a paz. Muito distante de ser um herói. Eu sou a Sombra da Justiça.


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