A Aceitação

Severus ficou um momento sozinho na sala, olhando com ar perdido para a parede vazia, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer. James Potter o amava, o amava tão intensamente que preferia que ele fosse feliz, mesmo que ele não estivesse em sua vida.

Sentia lágrimas de frustração deslizando por seu rosto sem que conseguisse evitar. O sonho enchia sua mente, as palavras de seu colega ecoavam em seus pensamentos. Colocou as mãos em seu rosto molhado e soltou um gemido abafado, tentando aliviar a dor que sentia em seu coração.

Olhou para a porta aberta, e percebeu que estava deixando escapar a chance de ser feliz. Mas seria realmente feliz? Ou seria tudo mentira? Será que se arrependeria para o resto de sua vida? Ou teria finalmente sua felicidade, ser amado como sempre desejou?

Essas eram algumas das perguntas que ecoavam em sua mente emaranhada pelos pensamentos. Ele queria ser feliz, queria estar com James. Sua máscara de confusão se transformou, seu coração lhe revelando o que tanto queria esconder. Gostava de James, não, amava-o. Todos aqueles sonhos que tinha com seu colega, toda a vez que se sentia machucado com as brincadeiras de Potter e seus amigos. Não podia ser só raiva, ódio dele. Ele o amava.

Olhou para a porta, não sabendo se correria atrás dele, ou esperaria por um momento oportuno. Mas suas pernas começaram se movendo sem sua permissão. Saiu da sala com uma rapidez impressionante, e olhou em volta do corredor, percebendo que estava vazio. Seguindo seu instinto, correu para a direita, rezando a Merlin para que tivesse escolhido o caminho certo.

Virou a esquina e viu James parado na Grande Escadaria, esperando que os lanços das escadas parassem à frente dele.

– James! – Gritou, sua voz saindo um pouco esganiçada devido ao choro. O Gryffindor olhou para trás, seu rosto espelhando um misto de tristeza e confusão, vendo o Slytherin correndo em sua direção. De cabelo desalinhado e roupa amarrotada, Snape parecia mais tenso e derrotado que nunca.

Mas foram as lágrimas que escorriam por suas bochechas e os olhos avermelhados que o fizeram dar dois passos em sua direção, preocupado com seu estado. Snape parou à sua frente, de respiração ofegante. Se olharam nos olhos e o Slytherin respirou fundo várias vezes, tentando normalizar sua respiração.

Respirou fundo várias vezes, tentando normalizar sua respiração e, quando se sentiu melhor, deu um tapa no ombro de James, que se afastou.

– Você é um idiota. – Repreendeu, ignorando a expressão admirada do Gryffindor – Pensou mesmo que eu iria falar do nada que te amo? Eu sou um Slytherin, acha que iria declarar aos sete ventos que estou apaixonado por você?

– Mas, Severus… - Começou James, mas ele o interrompeu, xingando:

– Seu bobo… - Olhou para os olhos amendoados, que continham um brilho de tristeza e, ganhando coragem, se atirou para seus braços, agarrando seu pescoço. James o segurou com suavidade e a perícia de um apanhador e, antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, sentiu os lábios finos de Snape contra os seus.

 Uma mistura de emoções explodiu em seu peito, seus pensamentos se desvanecendo aos poucos de sua mente. Fechou seus olhos, aproveitando o momento. Abraçou o corpo magro do Slytherin e aprofundou o beijo, não conseguindo acreditar que Severus o estava beijando, mesmo depois da conversa fracassada que tiveram.

Sentiu uma mão fria acariciando seus cabelos rebeldes, sua pele cor de café se eriçando com o toque, e soltou um gemido baixo de prazer. Os toques de Severus o arrepiavam, o caraterístico odor a ervas entrando em seu nariz, acalmando seu machucado coração.

– Severus… – Murmurou, se afastando de sua boca e enterrando seu nariz nos cabelos de seu colega, sentindo que ele tremia ligeiramente em seus braços.

– Eu… eu também te amo, James. – Escutou a voz insegura do Slytherin e seu coração falhou uma batida. Olhou nos olhos dele, vendo que os olhos negros, normalmente opacos, continuam um brilho fora do comum. Não conseguindo aguentar a vaga de felicidade que tinha acometido seu peito, agarrou o rosto de seu colega e o beijou apaixonadamente.

Escutou um gemido surpreso, e sentiu que ele relaxava aos poucos. Severus colou seu corpo ao dele, desejando mais contato. Suas mãos acariciavam os cabelos rebeldes, enquanto sentia as mãos de James em seus quadris. Severus nunca se tinha sentido tão desejado, os beijos de Potter lhe transmitiam uma sensação de puro prazer ao longo de seu corpo. Suas cabeças estavam inclinadas, seus narizes quase se tocando. O ar escasseava aos poucos e se afastaram. James observou, fascinado, o rosto ruborizado do garoto à sua frente, seus lábios finos estavam inchados e seus olhos ónix brilhavam intensamente.

– Você é lindo. – Declarou, apaixonadamente, e percebeu o desconforto do Slytherin, que respondeu:

– Não sou nada.

– Sim, você é. – Insistiu James e Severus se calou, vendo o olhar apaixonado que ele lhe dirigia.

O corredor ainda continuava deserto, os alunos ainda não tinham saído do Salão Principal, senão se escutariam conversas animadas.

James, com o rosto tenso, mas determinado, pegou nas mãos finas do Slytherin, que o observou com um misto de vergonha e desconfiança. Sentiu seu coração falhar uma batida quando o viu beijando seus dedos finos com suavidade e carinho.

– Namore comigo. – Pediu, o olhando nos olhos. Severus sentia seu coração batendo descompassadamente contra seu peito. Nunca pensou escutar essas palavras de seu inimigo de infância, aquele garoto que sempre o machucava para conseguir sua atenção.

Normalmente seus sonhos eram compostos por cenas mais picantes, não continham palavras de amor e carinho, revelações apaixonadas, só muita sensualidade. Sua hesitação trouxe uma sensação de apreensão no peito do Gryffindor. Temendo uma recusa, estava pronto para retirar suas mãos, quando escutou a voz baixa de seu colega:

– Sim… - Seu coração bateu rapidamente ao escutar essas palavras, e abriu um sorriso de pura felicidade. Estava pronto para o agarrar e beijar com toda a paixão, quando Severus continuou:

– Mas quero que nossa relação seja secreta.

– Secreta? – Perguntou James, confuso. Severus o olhou nos olhos e continuou, com seriedade:

– Penso que é melhor ninguém saber que estamos tendo um…relacionamento. – Potter sentiu uma pontada dolorosa em seu coração, e não respondeu a seu pedido. Mas a voz tensa de seu namorado revelou um pormenor que não tinha pensado:

– Tenho receio que meus colegas tentem me machucar por estarmos juntos. – O Gryffindor se sentiu mais relaxado, percebendo que Severus não sentia vergonha dele, mas tinha receio de represálias.

– Está bom. – Respondeu, o abraçando. Severus correspondeu ao abraço e escutaram um ruído abafado vindo de seu estômago. Colocou as mãos em sua barriga, e comentou, seu rosto ainda um pouco ruborizado, o que o tornava encantador, na opinião de James:

– Estou com alguma fome.

– Você quer ir à cozinha? – Perguntou James, o observando atentamente.

– Sim. – Respondeu seu namorado, e caminharam em direção à cozinha do castelo.

Continua…