The Last A: O Último Anis

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    Capítulo 25

    Kumate: Hakiro vs Eva - Parte 2

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Olá, pessoal. Como estão?

    Peço desculpas pela demora. Mas fiz valer a pena.

    Espero que gostem.

    ???? Atenção????

    Neste capítulo haverá conteúdo de violência extrema, com muito sangue, gore e desmembramentos. Se você é uma pessoa sensível a esse conteúdo, fica o aviso.

    A gravidade dos ferimento de Hakiro eram maiores que Jason imaginava...

    Com seu amigo agonizando ao chão, se engasgando em seu próprio sangue...

    Seu celular se tornou a sua única ferramenta para tentar fazer algo.

    Ele chamou pela polícia e, principalmente por Sr Hansen, pai de Hakiro.

    Segurando forte a mão de seu amigo, Jason aguardou ali, junto a Hakiro, para que a ajuda viesse rapidamente.

    Kazu, após receber o soco de Jason, simplesmente se afastou de todos, sumindo no meio da mata densa da região... Ele visivelmente percebeu que muito do que havia conseguido acabou se desfazendo em questões de minutos, tendo em vista sua falta de controle emocional diante os eventos, desde o Kumate a até o tratamento de Eva para com o Arauto, se estendendo a Jason...

    Enquanto isso, Piece 1 e Spark somente acompanhavam o desenrolar de todo o fatídico momento... não entendendo ao certo o que de fato estava acontecendo.

    E por um milagre, um helicóptero manobrou sobre a área, encontrando Jason e Hakiro, que estava morrendo. As lágrimas do jovem deixavam claro que ele tinha total noção do que estava acontecendo... mas que não aceitava.

    A ajuda veio, com ambulância e paramédicos altamente treinados, assim como vários policiais e, consequentemente, do próprio Sr Hansen e até Misato...

    Mas talvez essa ajuda viesse tarde demais.

    Horas depois...

    Hospital da Cidade de Etofuru | 03:00 AM

    Juntamente com Sr Hansen, Jason estava sentado na área de espera do lugar, mais precisamente no andar onde eram realizadas operações. Com um forte aparato policial no pátio do hospital assim como no saguão, parecia que uma nova crise estava prestes a ocorrer a exemplo da Blood Plague do mês passado na cidade de Etofuru.

    Sentados aos prantos no salão, lá estavam a Sra Natsumi Hakiro, mãe do jovem, Iamiko e Azika, que acudia sua filha que não parava de chorar. Sr Hansen abraçava sua esposa, a consolando, mas mesmo esse sentimento era difícil de suportar pelo policial experiente. Misato era a única que de fato conseguia lidar melhor com a situação, apoiando psicologicamente aos outros e coordenava aos outros policiais sobre os procedimentos de segurança.

    Jason, muito mais pensativo do que antes, não parava de imaginar coisas. Visivelmente abatido e agoniado pela situação crítica de seu amigo, essa sua imaginação o levou longe...

    — Jason... – Disse Sr Hansen, se sentando a seu lado – Se você tem algo para dizer, melhor fazer isso agora.

    — Sr Hansen, o Hakiro...

    — O que vocês estavam fazendo naquele lugar?

    — Nós... Sr Hansen...

    — Já estou sabendo de muitas coisas, Jason... Quem é Piece 1? E quem é Spark?

    — O que?!

    — Quem é Eva? E o que quer dizer a palavra Anis?

    — Senhor Hansen?!

    — RESPONDA! É DO MEU FILHO DE QUE EU ESTOU ME REFERINDO QUANDO PERGUNTO ISSO! MEU FILHO, JASON! ELE ESTÁ MORRENDO!

    ♪Música: Room of Angel♪

    ♪Compositor: Akira Yamaoka♪

    E entregue a suas angústias e ódio, Jason enfim diz:

    — Foda-se tudo... – Ele se levantou bem irritado – QUE SE FODA TUDO!

    — O que?! Do que está falando, Jason?

    — O CULPADO POR TUDO ISSO É KUON HARUKA E SUA IRMÃ HOMICIDA!

    — COMO É?!

    ♪Você repousa, silenciosamente diante de mim

    Suas lágrimas, elas não me significam nada

    O vento, assobiando na janela

    O amor, que você nunca deu

    Eu dou a você

    Realmente, não o merece

    Mas agora, não há nada que você possa fazer

    Então durma, em sua única memória

    De mim, minha querida mãe♪

    Jason não parou:

    — TODOS ELES SÃO ANIS! SÃO MONSTROS QUE QUEREM NOS CONTROLAR! ELES QUE SÃO OS CULPADOS DE TUDO! E ESSA TAL EVA TAMBÉM É UM ANIS! FOI ELA QUEM FEZ ISSO COM HAKIRO!

    — Jason, o que você disse é mesmo verdade?!

    — ESSE BANDO DE FILHOS DA P*TA QUE ESTÃO POR TRÁS DE TUDO DE RUIM QUE ESTÁ ACONTECENDO NESSA CIDADE! ATÉ EU SOFRI NAS MÃOS DELES! EU, HAKIRO, IAMIKO... ESSES MONSTROS ANIS F*DERAM COM A VIDA DE TODO MUNDO E EU TENHO COMO PROVAR!

    — Jason, isso que você está dizendo... Meu Deus! Jovem... Isso tudo que disse...

    — Vai, prende essa gente toda! Chama o exército, forças armadas... Só acabem com esses desgraçados! Quase perdi minhas memórias... Mas eles fizeram isso com Hakiro! Quase mataram minha prima! E irão fazer coisa pior se vocês não acabarem com eles agora!

    Mas antes que o Sr Hansen pudesse fazer algo, já que o nervosismo tomou conta de sua mente, pelo rádio ele ouviu ruídos, com uma voz que chamava por ele:

    — SENHOR HANSEN!

    — Hã? Hakatesuno?! O que houve?

    — Senhor, estamos sendo atacados!

    — Como é?!

    ♪Está aqui uma canção de ninar para fechar seus olhos

    Good bye...

    Foi você que sempre desprezei

    Eu não sinto o bastante por você pra chorar 

    [oh well...]

    Está aqui uma canção para fechar seus olhos

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye.♪

    Misato, que surgiu de dentro de uma das salas do interior do hospital, logo percebeu que algo de muito ruim estava acontecendo.

    — Eu ouvi gritos... Sr Hansen, o que houve?

    — Hakatesuno disse que...

    Não havia muito tempo para fazer algo, já que Sr Hansen percebeu que a situação estava fora de controle: um tremor foi sentido na estrutura do edifício do hospital, o que aumentou ainda mais o nervosismo de todos que estavam alí. E do rádio:

    — AHHH... SENHOR HANSEN...

    — Hakatesuno, o que está acontecendo?

    — SENHOR, MATARAM TODOS! ISSO AQUI VIROU UM GENOCÍDIO!

    — O QUE?! SAIA JÁ DAÍ!

    — Senhor... Ele me viu!

    — Quem?!

    — Um jovem... Ele está com orelhas de gato e congelou metade do andar...

    Adivinhem quem surtou?

    — É O KUON! – Gritou Jason.

    — Kuon?! – Perguntou Misato.

    Logo o elevador indicou que alguém estava subindo até o andar onde estavam Sr Hansen, Jason e Misato, que já se armou com sua pistola, a exemplo de Hansen. O som do rádio da polícia continuou, com o policial dizendo:

    — Senhor... SENHOR! ELE CORTOU O MEU BRAÇO! AHHHH! SENHOR!

    — HAKATESUNO?!

    ♪Tão insignificante, dormindo profundamente dentro de mim

    Você está se escondendo, perdido, sob os esgotos

    Talvez voando alto, nas nuvens?

    Talvez você esteja feliz sem mim

    Tantas sementes foram plantadas no campo

    E quem poderia espalhar tão abençoadamente

    Se eu tivesse morrido nunca teria me sentido triste

    Você não me ouvirá dizer “Me desculpe”

    Onde está a luz, imagino se está chorando em algum lugar?♪

    Um som seco logo foi ouvido, dando fim a transmissão. Algo de muito ruim estava acontecendo, principalmente após as luzes do andar começarem a ficarem piscando. Logo vários pacientes começaram a sair de seus leitos, pessoas recentemente operadas e que estavam se recuperando... saíram pelos corredores vomitando sangue, assim como seus familiares que estavam os visitando. O caos tomou o andar em questão de segundos, trazendo a tona todo o terror dos Anis que só Jason conhecia.

    — SHIZUKA, ELA ESTÁ AQUI!

    — Shizuka?! – Perguntou Sr Hansen – Isso que você está dizendo não faz o minino sentido!

    Ela mesma apareceu no corredor, caminhando tranquilamente. E essa sua mesma calma característica foi o que chamou a atenção de Natsumi Hakiro, que Imediatamente começou a vomitar sangue, que evoluiu e começou a ser expelido por seus ouvidos e olhos, manifestando totalmente a Blood Plague, com a mulher indo ao chão em óbito.

    Horrorizado por ver sua esposa inerte e toda ensanguentada ao chão, Sr Hansen estava transtornado e confuso por tudo que ocorreu, não acreditando no que estava acontecendo, com o desespero o dominando por completo. E nesse mesmo instante, antes que Azika e Iamiko pudessem fazer algo, ambas sofreram com o controle mental de Shizuka, que levantou suas mãos em direção das duas, infligindo a elas uma pressão intra cranial severa, onde era até possível ouvir o ruído dos vasos sanguíneos do cérebro estourando e, por efeito disso, suas cabeças explodiram como uma bomba de sangue e massa encefálica, que mancharam tudo em volta, até o teto. As duas estavam mortas, fazendo com que Jason praticamente surtasse, gritando de horror.

    E logo a porta do elevador de abriu, mostrando que se tratava de Eva, que caminhou em direção aos três restantes. Em sua forma Anis, com suas asas de morcego e garras afiadas de leão, sua cauda de escorpião protuberante nas costas trouxe um temor imenso por parte de Sr Hansen que, desesperado, disse:

    — MAS QUE DIABOS É ISSO?! PARADA AÍ! NÃO SE MOVA! – Disse, lhe apontando a arma – O QUE ESTÁ ACONTECENDO?!

    Mas era inútil: um simples movimentar de sua mão direita foi o suficiente para que um fio na casa das polegadas atingisse ligeiramente o pescoço de Hansen, o fazendo se separar de seu corpo. Sua cabeça foi ao chão, rolando em seu eixo e deixando um rastro até parar próximo a uma parede, o que representou assim sua morte prematura e sumária. Guardada por uma ira sem igual, Misato desferiu diversos tiros contra Eva, que se moveu com uma velocidade sobrehumana, assim como seus ataques em seguida: ela cravou seu ferrão na cabeça da jovem agente do governo, retalhando todo o corpo dela com suas garras de leão afiadas. 

    Destroçada, seus restos mortais foram ao chão, dando fim a sua vida, com sua cabeça sendo solta pela cauda de Eva após seu ataque. Jason, alimentado por uma temeridade sem tamanho, recuava horrorizado pelo o que acabou de ver: as entranhas de Misato expostas e cobertas de sangue. E antes que pudesse dizer algo, viu Eva decepar com cortes profundos seus braços e pernas, fazendo com que fosse ao chão, gritando de dor e aterrorizado.

    — NÃO! NÃO! AHHHH! MEU DEUS! AHHH! NÃO! SEU MONSTRO! FILHA DA P*TA! AHHHH! NÃO! AHH O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! OLHA O QUE VOCÊ ME FEZ! AHHH! NÃO! NÃO!

    ♪Está aqui uma canção de ninar para fechar seus olhos

    Good bye...

    Foi você que sempre desprezei

    Eu não sinto o bastante por você pra chorar 

    [oh well...]

    Está aqui uma canção para fechar seus olhos

    Good bye...♪

    Eva ignorou os gritos desesperados do jovem, cambaleando pelo chão e sangrando dos ferimentos de seus membros decepados. Era impossível fazer algo. Eva então progrediu até o quarto onde Hakiro estava sendo operado. Jason a viu entrar a sala e, tentando como podia se mover, se esgueirava no chão, onde o sangue de suas feridas abertas esguichava a cada tentativa. Ele estava desesperado:

    — NÃO! HAKIRO! NÃO, POR FAVOR! EU TE PEÇO! DEIXA O HAKIRO! NÃO! AHHHH!

    Em seu interior, com todos os médicos que o operavam mortos e ensanguentados, ela pegou o corpo do jovem, o segurando pelo pescoço. Sem pestanejar, adentrou sua mão para dentro do peito de Hakiro, arrancando seu coração e, com ele em mãos, saiu da sala, sob o olhar desesperado de Jason.

    — O QUE?! O QUE VOCÊ FEZ?! NÃO! AHHHH! PORQUE TUDO ISSO?! AHHHH! NÃO! HAKIRO!

    ♪Está aqui uma canção de ninar para fechar seus olhos

    Good bye...

    Foi você que sempre desprezei

    Eu não sinto o bastante por você pra chorar 

    [oh well...]

    Está aqui uma canção para fechar seus olhos

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye...♪

    Eva seguiu seu caminho, com Kuon aparecendo a frente de Jason, que estava no chão, já sofrendo com a imensa hemorragia de seus ferimentos. E o jovem Anis, emanando seus poderes gélidos, diz:

    — Esse foi o fim que você escolheu, humano. Kazu sabe o que você faz o tempo todo... e o que diz também. Essa é nossa resposta a tudo que você representa a todos nós.

    — Seu arr*mbado! SEU K*SÃO DO C*****HO! VOCÊ NÃO PASSA DE UM MONSTRO, SEU DESGRAÇADO! VAI ARDER NO FOGO DO INFERNO! AHHH!

    — Todos morreram... antes de você. E a mim, sobrou o que sempre desejei...

    Em questão de segundos, Kuon congelou o corpo desmembrado de Jason, pisando em seu dorso e o despedaçando em várias partes.

    Jason escolheu dizer toda a verdade a Sr Hansen.

    E com isso desencadeou a ira de todos os Anis, começando pelo Arauto.

    O fim havia chegado... 

    Todos morreram.

    ♪Está aqui uma canção de ninar para fechar seus olhos

    Good bye...

    Foi você que sempre desprezei

    Eu não sinto o bastante por você pra chorar 

    [oh well...]

    Está aqui uma canção para fechar seus olhos

    Good bye...♪

    ♪Está aqui uma canção de ninar para fechar seus olhos

    Good bye...

    Foi você que sempre desprezei

    Eu não sinto o bastante por você pra chorar 

    [oh well...]

    Está aqui uma canção para fechar seus olhos

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye...

    Good bye...♪

    “Sua mente e seus pensamentos nada mais são que seu futuro que quer se realizar... mas você quer que ele se realize?”

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    ░N░Ã░O░ ░E░R░A░ ░R░E░A░L░

    A mente alterada de Jason o levou a devaneios muito além de sua compreensão. Tanto que sua imaginação o conduziu a uma conclusão com eventos conturbados e aleatórios; uma realidade se deliberadamente ignorasse a vida de todos os envolvidos. Por ter ligações com Piece 1, parte dos poderes psíquicos do felino ainda se encontravam em sua mente, fazendo com que seus neurônios conseguissem processar vários dados acumulados de acordo com suas escolhas; ele viu as consequências de um futuro onde ele tivesse traído seus votos e suas obrigações para com o que tratou com Wing. Sendo assim, ele retornou para sua consciência no exato ponto onde estava pensando, ou seja, nada do que aconteceu anteriormente foi real, embora os efeitos de sua visão estejam assolados em sua mente. E seguindo com o que ocorrera anteriormente ao seu devaneio, ele estava sentado a uma das cadeiras do hospital, com Sr Hansen lhe perguntando:

    — Jason, Se você tem algo para dizer, melhor fazer isso agora.

    O jovem respirou fundo e guardou para si todas as visões que teve após uma escolha equivocada. Foi uma equação ou uma simples matemática estatística, onde o extremo lhe traria grandes perdas? Talvez o pouco de Piece 1 que sobrou na mente de Jason lhe permitiu se manter na razão para que não dissesse nada que lhe trouxesse malefícios no futuro, que ele presenciou em sua mente alterada. Uma nova habilidade, mas que o fez ver coisas horríveis a pessoas que ele tem muita estima. A probabilidade disso acontecer estava nas mãos de Jason... assim ele pensou.

    — Sr Hansen... Eu só consigo pensar no Hakiro. Quero que ele consiga sair dessa...

    — Jason...

    — O cara já sofreu demais, precisava isso acontecer?! Ele estava feliz e cheio de vida... Nossa, porque as coisas tem que assim injustas com quem é justo? Tá tudo f*dido nessa p*rra de cidade...

    — A vida não é justa, garoto. Você faz escolhas erradas e tudo muda... porém você pode fazer escolhas corretas e mesmo assim tudo desabar... Sabe porque? As pessoas. Eles são imprevisíveis e mesmo um santo pode virar um demônio... e o contrário também. Então julgar a todos antes de conhecer é um erro tão grande quanto confiar em quem acabou de conhecer. No fim, você percebe que a vida é uma m*rda fedida pronta pra ser levada pela descarga... mas ela volta. Seja lá como, mas ela volta.

    — É... O senhor está mais do que certo...

    — O que vocês faziam naquele lugar?

    — Eu senti que algo estava errado... e decidi ir até lá. Assim, do nada. Só com meus instintos de farejar m*rda... E eu estava certo.

    — Você simplesmente foi até onde achava que Hakiro estava e o encontrou daquela forma?!

    — Somos muito ligados, senhor. Íamos lá quando éramos crianças pra ficar longe do barulho da cidade. Era um santuário pra gente... Hehe, o Hakiro adorava ficar paradão, calado e só olhando as estrelas...

    — Algo o atacou, Jason. Quando você chegou lá viu alguém?

    — Ninguém... – Disse, desviando o olhar – Mas pode crer que se tivesse visto o filho da p*ta que fez isso com o Hakiro, a essa hora eu estaria sendo preso pelo senhor... *Eu fiz m*rda...*

    — Jason, não diga essas coisas... Você é um bom rapaz e não deve fazer besteiras...

    — É do Hakiro que estamos falando. Meu mano merece muito mais...

    E para surpresa de todos, eis que um dos médicos cirurgiões apareceram ao salão onde todos estavam. Ele, se dirigindo a Sr Hansen, diz:

    — Sr Hansen Hakiro?

    — Sim... E então, doutor... Como meu filho está?

    — Nós fizemos todo o possível... e a operação foi um sucesso.

    Um alívio coletivo ocorreu, com Natsumi Hakiro abraçando seu esposo e Azika fazendo o mesmo a Iamiko. Mas o médico continuou:

    — Senhor, você tinha ciência da anomalia da caixa torácica de seu filho?

    — Hã? Como assim?

    — Isso responde minha pergunta... Bem, Hakiro tem um caso raro chamado dextrocardia. É uma condição em que a pessoa nasce com o coração do lado direito do corpo.

    — Eu sabia disso... Mas Hakiro nunca precisou fazer nenhum tratamento porque teve seu desenvolvimento normalmente.

    — Exato. Entretanto, indo de acordo com o legista de nossa equipe, esse fator de Hakiro ter dextrocardia salvou sua vida.

    — Como é?

    — Hakiro teve seu tórax perfurado por um artefato pontiagudo e extremamente afiado... de um animal.

    — Animal?! Mas... Como? Um animal descontrolado não poderia ter causado aquele tipo de ferimento...

    — Tivemos a mesma lógica do senhor, mas pelo corte e sua grossura, assim como a sinuosa, só o ferrão de um escorpião poderia ter deixado esses traços. “Não existem escorpiões com mais de trinta centímetros catalogados no mundo” é uma retórica que compartilhamos. Mas o que temos certeza é de que um animal atacou seu filho, sem sobra de dúvidas. E seu ataque foi certeiro para atingir seu coração; não o fez por seu filho ter dextrocardia. Se Hakiro tivesse seu coração no lado tradicional do peito, ele estaria morto.

    — E como ele está, senhor? – Perguntou Jason.

    — Conseguimos rapidamente combater a infecção e a hemorragia foi um problema: nós fizemos uma transfusão sanguínea as pressas para estabilizar a pressão arterial. Hakiro se salvou por um triz. Ele está fora de perigo, mas inspira cuidados.

    A boa notícia foi muito bem recebida e o médico passou as informações adicionais a Sr Hansen e Misato, que olhava a todo instante para Jason. A agente desconfiava de que alguma coisa a mais o jovem sabia, mas não poderia sequer dizer a seu parceiro no momento conturbado que se encontrava.

    Entretanto era uma madrugada cheia de surpresas e eventos inesperados.

    Horas depois...

    Leito de recuperação pós operatório | 05:00 AM

    Com o ruído do monitor de frequência cardíaca dando o tom de sua situação médica, Hakiro estava deitado em uma cama no leito altamente aparelhado. Mas um movimento singelo da porta foi visto pelo jovem, que ainda estava entorpecido pelo efeito da anestesia. E a sua frente, olhando diretamente para seu rosto, lá estava Eva.

    — Darling...

    A Anis, com a mesma vestimenta do Kumate, continuava em o observar enquanto dizia:

    — Um golpe do destino... e uma anomalia inesperada por mim... Não entende, sugar? Nós dois ainda temos uma história para fazermos... Estamos juntos nessa e vamos continuar nosso Kumate, meu Sabaibaru... Você é mesmo único, sugar! E isso me faz desejar ainda mais te ter...

    O monitor até começou a mostrar uma leitura de mais da frequência cardíaca de Hakiro se avançar, mas Eva logo tratou de tranquilizá-lo:

    — Oh sugar... Você está emocionado em me ver... Isso me faz “sentir bem”, mas você precisa se manter vivo pra mim... Ah você precisa, sugar... Fique calmo e só me ouça...

    Ela então fechou um movimento com uma de suas mãos, fazendo com que os batimentos de estabilizassem e trazendo alívio a Hakiro. Eva, caminhando até a lateral da cama, logo tratou de conversar com o jovem.

    — Sabe, eu tenho que reconhecer que você é fraco... e eu não vou poder tirar vantagem de você, sugar... Você ser assim, indefeso e incapaz... Ah darling, isso me excita... Me faz “sentir bem”... Eu ter autoridade sobre seu ser, te dominar por completo e te ter pra mim... Ah sugar, como isso é bom... Mas eu tenho que te dar uma chance pra você conseguir manter essa sua patética vida para si... Então, sugar... Quero lhe propor um Kumate especial, dentro das suas capacidades intelectuais, mesmo que sejam limitadas. Um debate entre eu e você, sobre a humanidade. Já sabe, não é? Terá de me vencer em argumentos, onde você terá de me fazer entender seu ponto de vista ordinário de humano...

    E aproximando seu rosto ao de Hakiro e quebrando com isso vários protocolos, ela disse:

    — Você acha que é capaz de contra argumentar contra mim, darling? Ah sugar... Tenho que te avisar: ninguém poderá saber desse nosso trato. Se você contar, e eu vou saber, pode ter certeza que coisas muito desagradáveis irão acontecer... Isso iria me fazer “sentir bem”, mas você seria prejudicado. Ah darling... Tudo isso vai ser realizado na minha humilde casa no meio da floresta de Etofuru. Nós dois, sozinhos no meio do nada e totalmente envolvidos... Vai, diz... Diz que isso não é excitante? Ah sugar... Quando você estiver melhor, eu vou te mandar um recado e nesse dia iremos fazer o Sabaibaru valer... e será excitante!

    Um novo Kumate. Eva não desistiu... e o embate não acabou. Mas um novo rumo trará mais problemas? Hakiro não tinha escolha e, mesmo não podendo se comunicar, suas lágrimas que brotaram de seus olhos naquele instante demonstraram exatamente seu sentimento.

    Ele estava com medo? Ou era nervoso? Tristeza? Ele guardou isso para si.

    O tempo passou, aos poucos...

    Hakiro, conforme se recuperava, mantinha para si o Kumate. Sua melhora foi breve, surpreendendo os médicos que o avaliavam diariamente. O ferimento em seu peito ainda lhe causava dor, mas a cicatrização alígera realmente foi uma ótima notícia, onde seus amigos comemoraram de forma inflada via vídeo conferência.

    As semanas seguiam em frente, com muitos cuidados... e apoio de Jason e, principalmente, de Iamiko, que todos os dias visitou seu namorado, cuidando dele. O vínculo entre os dois só se fortificava, com Iamiko dedicando parte de seu dia em prol de Hakiro. A exemplo de Iamiko, sua mãe, a senhora Tatsumi Hakiro passou a morar no hospital, sendo ajudada por seu esposo, se Hansen, todos os dias. Jason motivava seu amigo, assim como os demais. Até mesmo Paladino levou sua mãe para abençoar ao rapaz e lhe fez preces de melhoras, pondo em prática sua fé. Seu irmão, Sumo, também estava lá, assim como Kenta e Nomura. Todo o time B de Etofuru estava unido a causa, dando total suporte a Hakiro, que se manteve no hospital se recuperando por várias semanas...

    Mas coisas aconteceram no lado de fora do hospital, mais precisamente no colégio de Etofuru.

    E durante esses dias de superação e recuperação de Hakiro, o rito colegial se manteve. O reduto de Kuon, ainda que limitado pelo pedido de Jason após o Kumate continuar sendo respeitado pelo Anis, se manteve, com seu poder de influencia ainda como antes, mas não imposto por ele. E justamente quanto a isso, o jovem Anis foi fitado por Kazu, que o chamou para conversar.

    Colégio de Etofuru | Ala abandonada

    Durante o intervalo, os dois Anis se reuniram no interior da ala abandonada e degradada do colégio. E sentados em assentos antigos, a conversa rendeu:

    — Então Hakiro está vivo... – Disse Kuon, olhando para Kazu – Desde sempre esse humano é mesmo um desafio...

    — Não diga essas coisas, Kuon. A situação deste Kumate perdeu o controle.

    — Um arauto que não se impõe não poderia estar exercendo essa função...

    — O que quer dizer com isso?

    — Ora, Kazu... Evanescency, a brilhante manticore, tem maior influência que você. Ela sozinha pode levar o Kumate. Onde você não percebeu que sua presença foi inútil?

    — Kuon, não irei admitir que diga isso de mim!

    — Pense o que quiser, mas eu não sou o culpado por você ter sido ridicularizado pela manticore, que só estava seguindo com sua execução dentro das regras impostas pelo Conseil. Aceite esse fato, Kazu: seus serviços como Arauto nesse Kumate não eram necessários.

    Kazu não gostou nada do que ouviu e sua reação ao se levantar deixou claro quem era o influenciador de seu comportamento.

    — Vai se f*der, Kuon! – Disse, apontando o dedo para o jovem Anis – Agora eu sei o que o Jason sente ao conversar com você!

    — Porque será que isso não me surpreende?

    — Idiota... Boçal!

    — O Conseil saberá de tudo isso, Kazu. Você está mesmo sendo influenciado por aquele humano... O que é engraçado, já que Jason o esmurrou sem pensar duas vezes.

    — F*da-se! Isso não é problema seu!

    — Hm... É verdade... – Disse, se levantando.

    Kuon então passou a caminhar a fim de voltar para o colégio, ao contrário de Kazu, que por alí ficou, furioso. Mas o Anis de poderes gélidos ficou com a última palavra:

    — Você não quer aceitar o fato de que haverá mortes, Kazu. Hakiro teve muita sorte em escapar da morte contra Evanescency. Mas o imponderável nem sempre ocorre mais de uma vez, então pode ter certeza que em breve ele estará morto. Não há como humanos vencerem Anis...

    Ele teve a oportunidade da última palavra, mas Kazu cutucou sem pena:

    — Jason f*deu você, não se esqueça disso jamais!

    — Um Arauto sendo parcial? Está torcendo para os humanos e ignorando sua raça, Kazu?

    — Não os subestime, era o que eu queria dizer. Você foi derrotado por um humano, não faça de conta que isso não aconteceu. Hakiro escapou da morte, reconheço. Mas ele está vivo... duas vezes assim! Não estou sendo parcial e sim justo. E tudo isso foi reportado ao Conseil, que está acompanhando a todos os passos quase em simultâneo.

    — Hm... Então eu devo mesmo ficar ligado e me divertir as custas desses “humanos diferenciados”. Kazu, me avise sobre o próximo Kumate. Tenho certeza que teremos um belo espetáculo de sangue... Até a próxima.

    O que Kuon quis dizer com isso?

    Mas não havia terminado: para extrema surpresa de Kazu, Jason entrou no recinto, olhando para o Anis que se manteve imóvel e boquiaberto. E sem perder tempo, Jason diz:

    — E aí, Kazu.

    — Ja-jason?!

    — Cara, fazia um tempo que eu estava criando coragem pra conversar com você...

    — Jason, olhe... Há muitas coisas acontecendo na minha vida...

    — Eu sei disso. Na de todos nós... Eu percebi que durante essas semanas você me evitou aqui no colégio... Isso tornou as coisas bem difíceis pra mim, mas eu tinha noção de que você tem seus motivos pra sequer me chamar de amigo.

    — Jason, porque está me dizendo isso?

    — Porque eu fui um imenso babaca com você desde o Kumate do Hakiro.

    Kazu, mostrando um pouco de constrangimento no olhar, se levantou e foi até Jason. O olhando nos olhos, diz:

    — Jason... Eu que te devo desculpas.

    — Como assim, cara? Eu falei muita m*rda pra você e até te agredi...

    — E eu mereci cada ofensa e aquele soco.

    — Hã?! Porque você está dizendo isso? Eu estava muito p*to, desesperado por causa do Hakiro e descontei tudo em você! Como pode dizer que mereceu isso tudo? Não, cara...

    E o Anis, o abraçando, mostrou seu ponto de vista ao dizer:

    — Jason, de todos você é o único que realmente mostra honestidade em tudo que faz e fala. Eu falhei como Arauto e como amigo seu...

    — Kazu...

    — Eva passou sobre mim e tudo que deveria ter feito. Ela não tem absolutamente apreço algum por ninguém e gosta de ser manipuladora. Eu não pude evitar seu poder de influência a minha posição como Arauto: ela controlou a situação desde o início. Eu nem sabia que Hakiro que iria lutar!

    — Como é?! Você não sabia?

    — Porque ela armou tudo! E quando fui defrontar ao Conseil, eles simplesmente disseram que tudo estava dentro das regras. Por isso, meu amigo... Me desculpe. Você estava certo desde o início e eu me acovardei na frente de todos vocês.

    Só que Jason afastou Kazu, percebendo que havia algo que não fazia sentido.

    — Kazu, para com isso! Você agindo assim está estranho... Porque?

    — Jason, desde o início eu tentei livrar todos vocês de problemas. Porque eu sou o Arauto? Simples: para servir de árbitro e filtrar más condutas tanto dos humanos para com Anis e vice versa. Só que tudo mudou quando eu te conheci...

    — Como assim?

    — Você veio com um ponto de vista neutro. Isso foi um motivo de reflexão, já que pela primeira vez vi um humano que só estava querendo viver a vida sem influência de ninguém e nem querer influenciar aos outros. Kuon pensa diferente e eu sempre tinha problemas, mas você não... Você é diferenciado e é mesmo uma pessoa que pensa no coletivo. Kuon quer controlar a todos, influenciando a forma de todo mundo em viver... e o Conseil permitiu isso por concordar com a ideologia de Kuon de “sermos seres superiores aos humanos”.

    — E onde você quer chegar com isso?

    — Esse Kumate, junto com o Sabaibaru que escolhem... Eu mesmo não concordo. Kuon fez uma manobra articulada e ideológica que pegou a nós dois de surpresa: eu não tinha noção da consequência do aperto de mão e você também. Tudo isso que acontece está fora do meu controle e eu só posso obedecer ao Conseil.

    E enfim tudo é explicado: Kazu não concorda com o Kumate e não deseja que o mesmo continue, porém ele é um Arauto e que deve seguir com o trâmite. Desde então ele sempre agiu como um Anis obediente e que está mesmo mediando a situação. Eva foi o estopim de sua falta de controle: ela o influenciou e o induziu ao erro, assim como Kuon fez para colocar em prática seu aperto de mão emissário. No fim, Kazu nada mais é que uma vítima no meio dos humanos, mas um Anis necessário aos outros Anis para o continuar do Kumate.

    Na conversa, Jason foi além, perguntando a Kazu:

    — Kazu, na madrugada quando eu fui até o hospital com o Hakiro... eu imaginei coisas. Eu vi um futuro alternativo onde tudo acabava de uma forma grotesca e pavorosa... Eu te pergunto agora: quais são as chances de Anis realmente matarem humanos por aqui durante o Kumate?

    E ele, tomando ar, respondeu:

    — Jason, Hakiro deveria estar morto. Então creio que com isso você já deva saber da verdade.

    — Kazu, então o...

    — Você não teve um pensamento... Foi uma premonição.

    — Uma premonição?! Isso quer dizer que...

    — O Kumate é o que impede de termos um genocídio nesta cidade, Jason. Ele foi criado pelo Conseil para que não houvesse um banho de sangue humano pelas ruas da cidade. Essa manipulação toda que Kuon fez forçou você a aceitar os termos de Wing Eleven. Se você trair com o juramento do Kumate e envolver as forças humanas de supressão... todos irão morrer. O Conseil tem um plano de contingente Anis para eliminar ameaças a nossa existência. Nenhum de vocês podem voltar atrás.

    — Kuon, quer dizer que ou somos nós ou... são os Anis?

    — Sim, Jason... E é por isso que eu me mantenho longe de todos vocês desde então. Só decidi me abrir finalmente por não estar concordando com o Conseil e eu não posso ser punido por expôr minha opinião. Mas tenho obrigações e direitos a cumprir... então entenda minha posição.

    — Eu entendo sim, Kazu... Eu entendo mesmo. E é uma m*rda, como o Sr Hansen disse...

    — Mas porque você veio aqui?

    — Ora, vim te ver. Você desde a luta que eu tive com o Kuon já não ficava próximo da gente, teve esse Kumate aí, o Hakiro quase foi morto... e eu te esmurrei no meio da cara! Estava muito p*to... Só que o sangue esfriou, tive esse devaneio de que todo mundo se f*deu e decidi te procurar pra me desculpar... Eu sou o responsável por tudo isso e estou mesmo bolado com essa situação toda. No fim, eu ferrei com tudo... essa que é a verdade.

    Kazu, olhando novamente para Jason, mostrou dessa vez seu ponto de vista:

    — Você não errou. Na verdade você é o mais correto.

    — Porque diz isso?

    — Você defende sua ideologia. Até o Conseil respeita isso. Jason, você só age de acordo com o que você acredita ser o certo. Não existe justiça perfeita: numa discussão os pontos de vista nunca são tratados como uma verdade inquestionável pelas partes envolvidas e sim um conjunto de ideologias onde trazem discussões. Ser o dono da verdade é impossível porque sempre haverá lugar para debates. Sua raça é a que mais faz isso... e os Anis do Conseil respeitam sua existência. Entretanto...

    — O que foi?

    — O Conseil rebaixa esse comportamento. “Humanos e sua patética ambição de buscarem explicação a sua insignificância” é o que pensam.

    — Babaquice... Bando de k*são...

    — E Jason... Como está Hakiro?

    Essa pergunta foi respondida por Jason de forma bem detalhada, o que trouxe alegria ao Anis Arauto. Essa conversa até parecia uma tipo de preparativo ao próximo Kumate. O porquê disso? O conteúdo tratado entre os dois: ideologia.

    — Meu mano não desiste nunca e... P*rra, o cara é um gênio.

    — Você sempre me disse que ele era o mais inteligente jogador que você teve o prazer de jogar no mesmo time.

    — Não só isso. Hakiro é do tipo calado quando está muito p*to com algo e que vai se manter assim até resolver a parada do jeito dele.

    — Ah... Mas porque você está falando assim?

    — Kazu, faz alguns dias que ele está quieto na dele. Eu tenho a impressão de que ele planeja algo. 

    — O Kumate com Evanescency não terminou... ainda. Não foi notificado ao Conseil a resolução.

    — Então isso mata a charada. Vai por mim, Kazu: o Hakiro quer ir a forra com essa Anis filho da p*ta. 

    — Jason, isso que você está dizendo... 

    — Tô pouco me f*dendo pra essa desgraçada. Só que não é comigo o papo, mas com o Hakiro. Se ele não me disse nada sobre o assunto, é porque algo vai fazer e eu tenho plena confiança nele.

    Durante todo o seu período de recuperação, Hakiro pensava e refletia sobre tudo o que ocorreu no último Kumate: Eva era seu alvo. Ele passou todos os dias que estava em consciência perfeita pensando na Anis; todas envolviam dar o troco. Não existiu momento sequer onde o jovem humano parou de pensar em o que dizer no suposto debate que Evanescency combinou com o rapaz. Ele tinha total noção do que ela representava e que era estupidamente inteligente.

    Mas Hakiro não estava preocupado com isso.

    Mesmo em seus momentos mais íntimos...

    Mesmo diante seus zelosos pais... ou entre seus amigos...

    Ele sempre mostrava em seu olhar uma responsabilidade para si, daquelas que eram vistas em combatentes ou empreendedores...

    Era o brio da justiça, uma força que só pessoas com o compromisso de fazer o certo tinham em seus corações. Não confundam justiça com “fazer o certo”: Hakiro estava cansado de ser feito de idiota e ter sua vida manipulada por Anis. Era o momento de mostrar quem ele era a Eva.

    Era hora da virada.

    Um mês e meio depois...

    Completamente recuperado e bem disposto, Hakiro comia um sanduíche na praça da cidade junto a Jason. Com os dois conversando, o assunto logo rendeu:

    — Cara, eu percebi coisas em você... – Disse Jason, tirando um pedaço do sanduíche.

    — O que?

    — Você está com um olhar de quem quer ferrar com uma pessoa.

    — Você me conhece bem...

    — E você não me disse mais nada de uma certa pessoa... Tem algo a dizer agora?

    — Quando você faz uma promessa a alguém, você a cumpre. Eu prometi... e tem um conjunto de coisas que vem junto. Então essa sua resposta não vai ser entregue.

    — Ah entendi... Hehe...

    — Que bom... – Disse, mordendo seu sanduíche – Hum... Esse sanduba é mesmo bom. Adoro podrão, pqp...

    — Pode ser seu último, não?

    — Pode sim... Mas cara, isso me serve como motivação.

    — Porque?

    — Porque eu quero voltar a comer esse podrão outra vez.

    — Hahaha! Tu é f*da... Haha!

    Com os dois terminando de comer, Jason não perdeu tempo e, se despedindo, diz:

    — A Iamiko logo estará aqui, vou meter o pé.

    — De boa... Valeu pela companhia.

    — Tamo junto... E cara...

    — O que?

    — Esfola. Sem pena. Com tudo que você tem... Não economize.

    — Pode deixar...

    A despedida de Jason e o aparecimento de Iamiko fizeram do início da noite de Hakiro especial. Se divertindo e celebrando sua recuperação, o jovem simplesmente seguiu com sua vida como se nada tivesse acontecido... mas que ele tinha ciência do que houve. Ele passou bons momentos com Iamiko no parque, conversando e namorando sob a luz da lua.

    Mas era uma noite quase infinita... e era o dia do Kumate especial.

    Horas depois...

    Floresta de Etofuru | 02:00 PM

    Hakiro, devidamente trajado, usando uma calça jeans azul com uma jaqueta com gorro da cor preta, caminhava entre as vielas da floresta até chegar a mata densa. Como Eva detalhou no bilhete deixado em sua casa a uma semana atrás, ele seguiu pela trilha deixada pela Anis para que encontrasse em segurança sua casa no interior da floresta.

    Após quase duas horas de caminhada floresta adentro, eis que Hakiro chegou a até um lindo jardim florido e, ao fundo, uma mansão cuja arquitetura arremetia a gótica, com altos picos no telhado e janelas largas. Calmamente o jovem se aproximou do grande portão da residência luxuosa, onde de seu interior saiu Eva. Ela usava uma calça de couro preto, com um espartilho cobrindo seus busto. Ela havia prendido seu cabelo e desta fez estava sem batom, mas com sombras mais acentuadas envolta de seus olhos cor escarlate. Ela, esboçando um sorriso, diz:

    — Seja bem vindo a mansão Heitzawer, sugar... E fico feliz por você ter mesmo vindo.

    Mas Hakiro estava com um semblante diferente, o que foi percebido no mesmo instante por Eva:

    — *Esse seu olhar... Ele está exalando um cheiro pitoresco, que eu não consigo processar... Dopamina? Não, nada assim... É testosterona.*

    Ele então entrou a casa, onde pode ver mobília cara e sofisticada no interior. Tapetes aveludados adornavam o chão, assim como quadros finos da renascença maravilhavam com sua importância e charme. Quase como uma forma rústica de iluminação, candelabros eram usados como fonte de luz, com velas aromáticas adocicado com seu aroma abismal, que deixou Hakiro a vontade. Mas esse não era o interesse de Eva, pois não era o que ela mostrava em seu rosto. Mesmo com o jovem compenetrado em seguir caminhando, Eva logo tratou de dizer:

    — Sugar, você não precisa se preocupar com nada... Estamos a sós aqui... Isso não é excitante?

    Hakiro ignorou totalmente a Anis, passando a olha-la com desprezo. Mas isso não foi bem recebido por Eva.

    — Porque está quieto? Responda...

    — Estou aqui como você tratou comigo... Mesmo que isso tenha sido feito da forma mais covarde possível!

    — Ah sugar... Não leve para o lado pessoal...

    — Você tentou me matar...

    — Darling, não guarde rancor... Você está vivo e é isso que importa pra você.

    — Eva, vamos logo com isso!

    — Ah sugar... AHHH... Eu não aguento mais... – Disse, se aproximando de Hakiro.

    Ele deu passos para trás, mas era inútil, já que Eva o abraçou com força e o colocou contra a parede. Ela, com seu busto pressionando o peitoral de Hakiro, estava com seu rosto a poucos centímetros do de Hakiro. E ela, novamente o dominando, diz:

    — Darling.... AHHH... Só estamos nós dois nessa mansão... Isso é excitante demais... e nunca me ocorreu antes... Porque não aproveitar? Porque não nos conhecemos melhor? AHHH sugar...

    — Eva, estou aqui para o Kumate.

    — Ah sugar... Eu sei. Só que quero me aproveitar de você...

    — Você não vai fazer absolutamente nada além do Kumate.

    — Darling, você está mesmo levando a sério...

    E ele, irritado, gritou:

    — ESTOU! VOCÊ É UM MONSTRO QUE TENTOU EMPALAR MEU CORAÇÃO! ENTÃO PARA COM ESSE ASSÉDIO E COMEÇA A AGIR CIVILIZADAMENTE, SUA DESGRAÇADA!

    A mensagem foi mesmo dada e Eva sentiu as palavras de Hakiro. Isso foi tão efetivo que ela até o soltou, ficando um pouco incomodada com o jeito sério como o rapaz a tratou. E ela, evitando o olhar, se limitou a dizer:

    — Siga-me...

    Dito e feito, Eva conduziu Hakiro para até o interior da mansão, passando por corredores luxuosos até uma imensa porta. Ela então a abriu, mostrando para Hakiro um salão totalmente diferente do restante da mansão: era um tipo de laboratório, onde câmaras eram vistas e... haviam corpos humanos. Isso assustou Hakiro de verdade, que disse:

    — Mas que p*rra é essa?!

    — Cadáveres humanos... para estudo.

    — Você os matou só para isso?!

    Desta vez Eva se calou, continuando a levá-lo pelo salão. O nervosismo começou a tomar Hakiro, já que estava em um território desconhecido e ver cadáveres o deixou impactado. Eva percebeu isso e, sem que o jovem tivesse ideia, a Anis novamente se encheu de satisfação lasciva. E após a caminhada, enfim chegaram até um tipo de biblioteca, com uma estante repleta de livros e anotações. Logo Eva levou Hakiro para até uma confortável poltrona, que estava a frente a uma mesa, com outra poltrona a frente. Este era o cenário o qual Eva havia planejado o Kumate especial: uma mesa, para que enfim começassem o debate. Depois que o viu se sentar, ela fez o mesmo e, olhando para Hakiro, Eva logo tratou de dizer as regras:

    — Escute bem, humano: iremos debater sobre sua humanidade. Sobre essa mesa você já pode perceber que há um marcador de tempo. Toda vez que um de nós terminarmos nossos argumentos, o outro terá dez segundos para apertar o botão e dar início a contra argumentação. Para evitar tramóias, só será permitido argumentos novos, então nada de repetir uma ideia já usada. A derrota virá caso um de nós não consiga validar sua ideologia, ou seja, o argumento precisa gerar produto. Você está de acordo com isso?

    E Hakiro, entendendo bem o que ela quis dizer, falou:

    — Sim... Acho razoável.

    — Muito bem... Defina seu Duel Butin.

    — Eu não quero nada disso.

    — Darling... Ahh... Você precisa definir um.

    — Eu não quero... e eu não preciso. Me lembro que você disse isso para o Kazu.

    — Ahh... Eu queria saber agora, mas tudo bem... Meu Duel Butin então será... você.

    — Hm? Como assim?

    — Sugar, eu não tive o que eu queria no primeiro Kumate e isso me fez “sentir muito mal”. Mas tudo tem um motivo, darling... Não era para ter terminado rápido com você, então eu decidi que quero você inteirinho pra mim para sempre, vivo e com essa sua saúde e vigor... Faremos todas as minhas vontades, sejam quais elas forem... Tudo, sugar... Vou fazer de tudo com você... e isso me excita de uma forma que você não tem noção! – Disse, alisando uma das mãos de Hakiro.

    — Pare com isso!

    — AHHHH darling... Você me tratando assim, me desafiando e não tendo noção alguma do perigo me deixa “tão bem”...

    Hakiro vs Eva

    Kumate especial

    E o desafio enfim havia começado. Logo Hakiro começou sua primeira argumentação.

    — Você disse que eu deveria falar de minha humanidade... Eu tenho orgulho do que sou porque sempre almejo fazer o meu melhor! Seja em casa ou no colégio, eu tento ser o melhor humano que posso ser. Não sou perfeito, tenho defeitos como qualquer pessoa normal e não devo satisfações da minha vida para quem não a merece! Vocês Anis que deveriam se colocar no nosso lugar pra entender melhor o que é ser humano: é sempre ter de lidar com uma porrada de filho da p*ta que pouco se importa com você e quer mais é f*der com sua vida, exatamente o que vocês querem fazer com todos nós!

    Hakiro terminou suas palavras, com Eva apertando Imediatamente o timer. E ela então contra argumentou:

    — Ledo engano em tentar ligar nossa existência a sua. Humanos são demasiadamente desiguais entre si, o que gera conflitos por qualquer motivo. Você disse que “não é perfeito e tem defeitos”; o ser humano por si só é desnecessário em existir por não ser perfeito! A própria evolução dos seres já contradiz suas palavras vagas: vocês galgaram degraus dentro de sua recorrente insignificância, onde conseguiram conhecimento para no fim cometerem crimes contra vocês mesmos desde os confins de sua criação! Faz me rir com tal ideia, Hakiro.

    Hakiro logo apertou seu timer, dizendo:

    — A evolução humana foi responsável por tudo que temos até hoje. Essa sala onde estamos... foi de acordo com todas as conquistas através dos séculos que se foi possível todos os livros escritos por humanos revolucionários, que tinham ideias para mudar o mundo! E mesmo eles eram incapazes de conseguir a plenitude do pensamento: foi em muitos erros que chegaram a um denominador comum, que foi que levou a todos a compreensão! Como acha que chegamos onde chegamos?

    Eva não perdeu tempo:

    — Você está usando uma justificativa preguiçosa, daquelas que tentam dizer algo mas não passa de sofismo descarado. Vou explicar melhor: a evolução humana nunca ocorreu. Vocês evoluíram suas ideias e pensamentos, mas vocês mesmos fraudaram seu crescimento com ideologias egoístas. Vocês modificaram o ambiente onde vivem, trouxeram malefícios e desenvolveram ódio e desequilíbrio entre suas raça... e continuam com isso até hoje! Guerras infundadas prejudicam sua “Evolução” a milênios, atitude essa que influencia todos os outros seres que habitam essa terra. Sua humanidade não se justifica... Hakiro, não há como sustentar essa sua ideia.

    — Você se engana em pensar assim! A humanidade se modifica a partir do momento que assume seus erros e segue em frente para corrigir o que deu errado. Essa é a evolução natural, coisa de até mesmo dos demais seres!

    — Evolução essa negligenciada por seres humanos todos os dias. Cometer erros humanos trouxe a extinção outros seres, onde sua busca predatória de sempre querem "fazer o melhor" só alimenta o pior lado de vocês. Egoísmo, egocentrismo, cobiça pelo poder, obtenção de conhecimento a custa de sacrifício animal... Você quer mesmo seguir por este caminho, Darling? Patético...

    — Ninguém disse que há uma regra perfeita a evolução da humanidade, Eva. É um movimento constante, involuntário e imponderável!

    — Então devemos entregar o mundo a uma raça que sequer tem ordem em seu desenvolvimento? Sensatez, Darling... Você está perdendo. E seus argumentos estão se esgotando...

    A conversa em si estava muito mais favorável ao que Eva estava argumentando... mas Hakiro tinha noção disso. Embora pareça que ele esteja despreparado para o suposto Kumate, era essa a retórica que ele estava planejando desde o início. Somente uma pessoa poderia explicar a forma como o jovem adulto pensava: Jason. 

    Para sabermos mais, fomos levados até seu quarto, onde podíamos ver o jovem conversando com Piece 1.

    — Pis, você me perguntou sobre o Hakiro...

    — Sim... Quando eu estava tentando fazer com que sua mente fosse restabelecida, eu encontrei coisas na mente daquele humano que não compreendi.

    — Acho que eu sei o que é... Cara, meu mano é sinistro. Quando a gente era moleque ele vivia conversando sobre filosofia enquanto eu queria jogar basquete. Mas aí que está: Hakiro sempre foi melhor do que eu até a gente se separar no basquete.

    — E o que tem isso a ver?

    — Hakiro é esperto... Muito. Essa coisa que você viu na mente dele: se chama A Zona.

    — Hm? O que isso significa?

    — Quando você tem um foco bem específico, uma coisa que você quer muito resolver ou achar, você sempre vai conseguir. Sabe porque? Seu foco fica em pleno zero, ou seja, você está muito além, se desprende das ideias primárias e vai a um patamar de gênio.

    — Espere. Você está me dizendo que aquele humano que tem laços com você tem o Elo Exponencial?

    — Hã?! Que p*rra de nome é esse?

    — Elo Exponencial é uma linha de pensamento humano onde o ser adquire o poder de estar sobre vários pontos de vista. Somente humanos com quociente de inteligência acima de duzentos são capazes. Se seu amigo está nesse patamar, então...

    E voltando ao Kumate especial entre Hakiro e Eva...

    “... ele tem capacidades intelectuais e cognitivas onde seus argumentos surgem exponencialmente a medida que raciocina com antecedência. Em outras palavras, ele conseguiria levar três linhas de raciocínio em paralelo! Se esse humano é mesmo capaz disso, é um espécime formidável.”

    ♪Música: Theme of D4♪

    Compositor: DavidYoungDisc

     

    Hakiro tomou ar e, olhando para Eva, diz:

    — A raça humana deveria ser exterminada – Disse, terminando seu argumento.

    Isso foi uma surpresa a Eva, que diz:

    — Reconhecimento da própria mediocridade. Era exatamente isso o que eu queria ouvir... de um humano.

    — Não conseguiu esconder de mim que você se surpreendeu com o que eu disse.

    — Hm... Darling, eu aceito sua desistência. E fico feliz que fez do jeito mais fácil... Isso, se entregue a mim!

    Mas essa não era a ideia de Hakiro. Ele logo tratou de continuar a discussão:

    — Anis também deveriam ser exterminados da face da terra.

    — O que? Ah... Hakiro, o que quer dizer com isso?

    — Eu mandei minha argumentação. Onde está a sua? Está quebrando as regras.

    — Não me diga o que fazer! – Disse, irritada – Seu argumento rude e vingativo só expõe perfeitamente sua antipatia a causa Anis. Nós existimos para levar a essa terra a um equilíbrio perfeito onde todos os seres serão preservados e seguirão com sua evolução normativa. O extermínio de Anis é uma desonra... e uma forma sua de tentar me provocar.

    Hakiro começou então a dizer sua frente de raciocínio:

    — Anis existem porque humanos existem.

    — Sua argumentação infundada não tem cabimento! Você está divagando para adquirir influência.

    — Essa é sua argumentação?

    — Sim! Não há como argumentar contra sua própria essência, pois o que está em jogo aqui é sua humanidade. O produto de sua ambição foi a única saída para que de fato houvesse o nascimento dos Anis. Hakiro, desista. Não há como você me vencer em argumentos.

    E o ataque certeiro: Hakiro estava sorridente, quase como um deboche ao que Eva havia dito. E ela, irritada, disse:

    — Porque está rindo?

    — Isso a irrita?

    — Você insinuou que estava levando a sério... Tenho limites de paciência, humano.

    — Hm... Então acho que já é hora de te destruir com só um pouco de sua própria hipocrisia e desmerecimento da própria palavra.

    — Do que está falando? Desista e se entregue a mim já! Essa será a forma mais digna de se livrar de uma humilhação maior.

    — Não... Eu estou com tudo sobre controle... e eu vou te ferrar agora...

    E ele, tomando ar, começou:

    — Eu era um simples humano, entorpecido por minha ignorância e fraqueza. Eu não tinha condições físicas de vencer um Anis na porrada. Mas mesmo assim um Anis continuou a me atiçar e me diminuir a nada, destruindo minha moral e honra. Esse Anis foi você. Eu estava aniquilado e dominado a seus caprichos... e havia me deixado ser subjulgado como forma de reconhecer minha “insignificância”... Eu tinha palavra, que você destruiu. Eu também tinha decência, que você limou de mim. Entretanto houve uma condição: você me desafiou momentos antes de quase me matar... e eu havia respondido.

    — Respondido? Está se referindo ao enigma... Falhou. Sua atitude não lhe trouxe resposta alguma, o que te fez cair. Está argumento não... – Hakiro não lhe deu a chance de terminar o que iria dizer:

    — “DEMONSTRE QUE NÃO VIVE EM UMA SIMULAÇÃO VIRTUAL! AGORA DEMOSTRE A SI MESMO QUE O MUNDO EXTERIOR E AS OUTRAS PESSOAS EXISTEM!” Foi isso que você me perguntou e eu respondi corretamente!

    — Você definitivamente está perdendo suas capacidades intelectuais! Essa ideia de pensar ter respondido só poderia vir de um ser vil que não sabe perder.

    — VOCÊ PERDEU! Ou melhor: você sequer tinha noção da minha resposta. Mas você pode ter certeza que irei te explicar, esfregar na sua cara que você não tem autoridade de suas próprias convicções!

    Hakiro então começou seu longo relato:

    — Minha resposta: eu só queria viver. Esse é o desejo de qualquer pessoa real, que sabe que a vida é uma só e que todo o seu existir está em sua noção de existência! “Penso, logo existo!”, pá! Entretanto todo o contexto desse enigma está entregue a existência humana: você não pode definir ou delimitar até onde podemos ir ou sermos sem conhecer a pessoa em sua plenitude! Seu potencial não se resume só a existir: nós humanos vivemos para aprender e aprendemos para viver! Toda nossa história é de acordo com o meio em que vivemos, então a humanidade não pode, NUNCA PODERIA INCLUSIVE, ser um movimento único. Existem mais de 8 bilhões da gente no mundo e cada um de nós é uma particularidade. “Defenda suas humanidade” você propôs como tema desse debate: eu costumo ler deitado no meu quarto toda noite de sexta tomando chocolate quente e comendo bolacha de côco. Todas as manhãs eu costumo correr para exercitar meu corpo. Gosto de ver o por do sol no colégio. Sempre converso com meu amado pai todas as noites a mesa durante o jantar... Você vê? Este sou eu todos os dias, minhas vontades e afazeres me definem como um ser no mundo e para o mundo! Agora multiplique por oito bilhões... Você seria capaz de medir a humanidade de cada humano no mundo? Ninguém, Eva... Ninguém...

    O argumento mestre. Com uma só artimanha, Hakiro entregou a Eva uma resposta que ela mesma não podia perceber. Caso não tenham entendido: Hakiro mostrou a Eva que ele havia respondido o enigma durante o primeiro Kumate, bem na cara dela. Porém a Anis estava tão satisfeita e segura de si que demonstrou injustiça a uma ideia que ela mesma colocou como regra: ela havia dado uma chance... e não a cumpriu. Hakiro acabou com sua honra e moral, devolvendo a Eva a mesma sensação que sentiu ao ter sua honra e moral destruídos durante o primeiro Kumate. E para completar, a humilhou demonstrando o que é a existência humana: viver para aprender e aprender para viver. Todos os livros na estande de Eva são a maior prova que ela mesma recorreu ao meio humano para conseguir conhecimento. Ele mostrou a ela sua hipocrisia atestada, onde não havia o porquê desafiá-lo, já que o que tem é por causa da humanidade.

    O silêncio de Eva externou toda sua vergonha. Estava estampada em seu rosto a hipocrisia e falta de decoro, coisas essas que sempre teve orgulho. Sua alto imagem foi reduzida a pó e seu constrangimento a deixou muda frente a Hakiro, que se levantou. Sabendo que havia vencido a manticore, já que contra argumentos não foram ouvidos, ele foi até a porta, mas não sem antes Eva perguntar:

    — Eu não permito que saia desse lugar... Sua vitória não foi reconhecida... Porque acha que eu aceitaria essa derrota?

    E ele, mostrando imponência, disse:

    — F*da-se... – Disse, abrindo a porta – Você perdeu, manticora... No Kumate e no argumento. Você se preocupou em ser preconceituosa contra humanos, como você sempre adora fazer! Se sente melhor que a gente e está pouco se f*dendo em mostrar empatia. Você é um ser que não sabe o que é. O que você quer fazer da sua vida? Ficar nessa de ser a “assediadora lasciva que pode tudo”? Na boa, você seguiu uma linha de ideologia que eu consegui desenvolver e destruir... usando suas próprias ideias. C****HO, EVA... VOCÊ TENTOU ME MATAR, AMEAÇOU AS PESSOAS QUE EU AMO E ME HUMILHOU NA FRENTE DE MEU AMIGO! Eu deveria ser muito mais duro com você e te esquecer, te xingar de vários nomes... Mas eu não sou assim. Você só é uma pessoa que não tem nada a oferecer e acredita que com atitudes intimidadoras e "lascivas" pode conseguir tudo que quer... mas te mostrei o contrário essa noite. Você perdeu, Eva. Aceite... e tenha sua dignidade de volta. Eu não sou misericordioso... Só estou devolvendo sua "gentileza".

    Ele saiu, com Eva se mantendo ali sozinha... e calada. Hakiro havia mesmo vencido... Um humano comum e inteligente venceu a besta mitológica em seu próprio jogo. E Hakiro foi tão astuto que lhe deu uma lição: cada humano tem seu rito, então a humanidade é sócio histórica. E estando ela calada, lhe restou um último pensamento:

    — *Seu Duel Butin... eu não o sei.*

    Continua.


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