The Last A: O Último Anis

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    Capítulos:

    Capítulo 24

    Kumate: Hakiro vs Eva - Parte 1

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Olá, pessoal. Como estão? Gostando da história?

    Hoje trago a vocês mais um Kumate.

    ?? ATENÇÃO ??

    O capítulo a seguir terá Agsnt extremo. Caso você seja sensível a ver cenas fortes de alucinações, sofrimento mental e moral e violência, fica o aviso.

    Agradeço a compreensão.

    Centro da cidade de Etofuru

    Pavilhão de Eventos | 20:40 PM

    Boutique & Souvenires Three Pinnot

    Logo após a gritaria ouvida da biblioteca, muitos frequentadores do evento ficaram assustados com os gritos. Um deles em especial ficou ainda mais preocupado: Iamiko. Ela ouviu aquela voz feminina estridente ecoando pelo local e, para lhe aguçar ainda mais em sua curiosidade, dizendo o nome de Hakiro. Sabendo disso, a jovem logo foi onde supostamente era a origem do grito e, chegando na ala bibliotecário do estande, avistou o jovem sentado e visivelmente desconfortável e envergonhado, onde Iamiko pôde vê-lo estar suado e tremendo por todo o corpo. A jovem, bastante preocupada, diz:

    — Hakiro, o que aconteceu com você?

    — Ah... Iamiko... Iamiko... Eu... Ah... Está tu-tudo bem... Ai minha nossa... Tá tu-tudo bem, bem, bem...

    — Hã? Que houve? Porque você está assim todo abobado que parece personagem de anime de bullying?

    — Na-nada... Eu tô bem... Ai...

    — Hakiro, eu ouvi uma voz gritar o seu nome... O que significa isso?

    — Ah... Eu... *O que eu vou fazer?! Cara, eu estou muito nervoso pra pensar em algo... O que eu vou fazer?! AH JÁ SEI!* Iamiko... Era uma amiga que não via a muito tempo e ela gritou meu nome... Foi isso.

    — Ok... Primeiro: cadê ela?

    — Ah... Ela já foi embora.

    — Tá. Uma amiga que você não vê a muito tempo, que já foi embora e te deixou aqui sozinho desse jeito... Faz sentido isso?

    — Ora... Ela precisou ir embora. Mais ela não era uma amiga muito próxima... Tá?

    — Ok... Segundo: onde que uma amiga vai gritar seu nome como se estivesse gemendo? Me responde isso!

    — Ah... *O que eu vou fazer?! C****ho! O que eu vou fazer agora?! Já sei! Vai que cola...* Ela estava brincando comigo! Ela gosta de me zuar! Hehe... Hehehe...

    — Tá... Vamos lá: você tem uma amiga não muito próxima, que gritou o seu nome da forma mais indecente possível pra todo mundo ouvir... QUE TIPO DE AMIGA É ESSA, HAKIRO? – Disse Iamiko, num tom bem intimidador.

    A jovem estava quase agredindo Hakiro, que ficou acuado frente a investida. Mas como não era uma noite normal, eis que Eva apareceu no recinto. Com um copo de água em mãos e ainda usando sua máscara, ela diz:

    — Oh... Essa é sua namorada, sugar?

    — Como é?! – Disse Iamiko, olhando para Eva – Sugar? HAKIRO, O QUE SIGNIFICA ISSO?!

    — AHHH! Ia-iamiko... Olha... *P*TA QUE PARIU! ELA VOLTOU! ELA VOLTOU! TÔ MUITO FERRADO!* - Hakiro estava quase correndo dali.

    — Iamiko Hawoen... Não é? – Eva surpreendeu novamente.

    — Hã? Como sabe meu nome?!

    — Eu sei de muita coisa, bebê... E você é uma gracinha, sabia?

    — Quem é você?

    — Eu? Sou uma amiga do Hakiro... Ou melhor: HAKIIIROOO!

    Sim. Ela voltou a gritar o nome do jovem no mesmo tom... e na frente da Iamiko. Hakiro logo gelou, ficando imóvel e sem ação. O jovem sequer encontrava palavras pra expressar o quão desolado e desesperado estava. Eva estava a vontade, encarando Iamiko, que parecia estar possuída por demônios ou coisa do tipo. Entretanto, a jovem começou a rir, dizendo:

    — Hahaha! Então foi você que gritou o nome dele? Hahahaha! Tem que ser muito amiga mesmo dele pra fazer isso na minha frente... Hahahaha!

    — Oh então a gracinha levou na esportiva... Isso é mesmo atitude de alguém madura. Hakiro está em boas mãos, então.

    — Hehe... Obrigada pelo elogio. Eu faço o que posso. Hehehe... Ele me disse que vocês eram amigos distantes...

    — Hm... Não tanto, não tanto... Mas temos um pouco de história, mesmo num curto espaço de tempo.

    — Como assim?

    — Eu sou sua professora de xadrez... E ele é um ótimo aluno.

    — Mesmo? Então por isso que ele sempre joga...

    — Ele sabe mesmo mexer as pecas. Ele sempre “pega” a rainha... Ele adora “encaixar” essa peça pra vencer rápido...

    — Ah mas xadrez é um jogo demorado...

    — Ah... Hakiro é do tipo apressado. Ele não se segura... Não é, Hakiro?

    O jeito atabalhoado e sem graça era o que mais explicava como estava o jovem naquele instante. Ver Iamiko e Eva conversando coisas corriqueiras como se nada tivesse acontecido só trouxe mais indagações a mente de Hakiro. Ele, ainda pasmo e bastante envergonhado, se torturava em seus pensamentos:

    — *MANO! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! A Eva fez a Iamiko acreditar falando a verdade?! Não... Isso é Impossível! Se fosse eu falando, com certeza a essa hora tinha virado paçoca! Então... A Eva me salvou?! O que está acontecendo, cara?!*

    E chamado sua atenção, Iamiko diz:

    — Aí, bobo... Ei!

    — Hã?! O que? – Disse Hakiro, voltando a si.

    — O que houve com você? Está estranho...

    — Não não... Nada nada! O que foi?

    — Essa sua amiga... Ela é muito divertida! Hehe... Gostei dela.

    — O que?!

    E Eva, se aproximando de Hakiro, lhe entregou o copo com água, dizendo:

    — Aqui, Hakiro.

    — Hã?! Mas...

    — Beba. Você está precisando. Por isso eu me levantei. Você estava se sentindo mal e eu fui pegar água pra você.

    — Ah... Eva... Eu... *O que essa mulher quer mais?!*

    — Shih! Beba sua água!

    — Então esse é seu nome... – Disse Iamiko – Eva. Bonito nome aliás.

    — Como a primeira do paraíso... Eu gosto do meu nome. Me faz se sentir especial... e única.

    — Verdade. E você é muito bonita. Porque está usando essa máscara?

    — Hihihi... Obrigada. E estou usando porque faz parte do meu personagem.

    — E qual seria?

    — De um mangá que gosto muito. Se chama “Arigato, Mr Sugar”. E o nome de minha personagem é SG, a demônio lasciva.

    — Ah então é isso! Você está na personagem. Por isso gritou o nome do Hakiro... – Disse, olhando para o jovem – Porque não me disse isso antes, abobado?

    — Hã?! Iamiko... Olha, eu... – Tentou dizer, sendo interrompido.

    Eva tomou a frente da situação e, olhando para Iamiko, disse:

    — Hakiro sempre teve essa dificuldade de falar de mim. Sabe, as vezes eu acho que ele tem vergonha de ter uma professora como eu... Eu me preocupo com ele...

    — Hehe... Ter uma professora legal como você deve ser ótimo. E é ainda cosplayer... Um dia quero fazer um...

    — Hm... Uma princesinha! AHHH... E bebê, nunca é tarde para fazer cosplay. Eu teoricamente tenho 23 aninhos...

    — Hã?! Teoricamente?! Mas... tão nova e professora? Legal!

    — Eu fiz faculdade cedo, bebê...

    — Legal! Ano que vem irei começar também com Hakiro. O “mais velho” aqui precisa de alguém pra guiá-lo nesse mundo cheio de perversão, hahaha! – Disse, cutucando Hakiro.

    Eva, com o último comentário de Iamiko, reagiu de forma imediata, ficando com seu rosto corado e com um olhar bastante provocativo... diretamente a Hakiro, que havia percebido a encarada. Ele não perdeu tempo e virou seu tudo, com a Anis parecendo se divertir com sua timidez. Após a conversa, Eva segurou uma das mãos de Iamiko e disse:

    — Princesinha, cuide bem do Hakiro. Eu estou indo nessa...

    — Ah tudo bem. Pode deixar! E obrigado por ter cuidado dele!

    — Encantada, bebê. E sim... eu cuidei muito bem dele... Não é, Hakiro? – Disse, piscando de forma provocativa para o jovem.

    Hakiro ficou ainda mais sem ação, tentando esconder mais e mais a vergonha. Com Eva saindo do lugar, o jovem meio que se sentiu aliviado, com Iamiko se sentando ao seu lado dizendo:

    — Hehe... Essa sua professora... Ela é muito bonita.

    — Ah... Iamiko... Olha...

    — Ei, bobo! Para! Eu sei... Ela te provoca... Você sabe porque ela deve fazer isso?

    — Hã?! O que?! Mas como...

    — Como eu sei? Hahaha! Hakiro, você é tão fofo... Ela tem um carinho por você, eu sei. Você não tem que esconder suas amizades íntimas de mim. Eu não sou tão ciumenta assim.

    — Mas... Mas... Você tava quase me socando!

    — Claro! Você abobado que estava não conseguia me dizer toda a verdade! Aí sua amiga precisou contar tudo... Hehe! Desencana, bobo!

    — Mas Iamiko...

    — Hehehe... Você fica fofo assim, sabia? Bem, vamos... Está na hora. O evento vai terminar...

    Sendo assim, o casal deixou o estande seguindo para a saída do pavilhão de eventos. Como esperado, muitos também já estavam o lugar após se divertirem. E embora Iamiko estivesse sorridente e muito contente com suas compras, a conversa que ela tinha com Hakiro não era ouvida, pois o jovem só tinha pensamentos para aquela Anis atrevida.

    — *Isso tudo que aconteceu foi real, eu não estou surtando nem ficando sem noção das coisas. Eva... Ela conseguiu mesmo me deixar louco, sem chão e a mercê do que queria comigo. Acho que, pela primeira vez, me senti indefeso e... dominado. Cara, essa sensação de orgulho ferido que não passa... E ela quer lutar... do mesmo jeito que Jason lutou contra o Kuon, mas... Porque ela agiu assim comigo? Ela me provocou como quisesse me seduzir... ou simplesmente foi um bullying?! Do mesmo jeito isso tudo é errado! Ela disse que era uma manticore... Eu já ouvi esse nome em algum lugar...*

    Muitas dúvidas vieram a mente do jovem, que só pensava em Eva. Durante o caminho ele se manteve do mesmo jeito, tentando disfarçar para não levantar suspeitas de Iamiko.

    Seria uma longa noite. Era isso que Hakiro tinha certeza.

    Horas depois...

    Casa da família Hansen | 22:30 PM

    Em seu quarto, o jovem jogador de basquete estava sentado a mesa de sua escrivaninha fazendo uma pesquisa em seu computador. O que procurava? Era um pouco óbvio: o que é um manticore? E não demorou muito e encontrou... com um terror imenso em seu olhar ao ler cada palavra do site que encontrou:

    Manticore, também conhecido como Manticora, é uma criatura lendária, monstruosa, conhecida por ter o corpo de um leão, rosto humano com olhos azuis e uma cauda parecida com a do escorpião, tendo também igual capacidade de atirar ferrões envenenados. Por vezes pode também aparecer representado como animal alado, com o seu tamanho a variar entre o de um leão normal ou um pouco mais alto como um tigre branco.

    Originário da Pérsia, tanto a lenda como o “animal”, etimologicamente o seu nome deriva da expressão persa Mantikhoras (o “devorador de homens”). Os primeiros registos das “manifestações” deste ser remontam aos relatos provenientes das cortes dos reis da Pérsia. Há também referências entre os Gregos, como Aristóteles, e Romanos, como Plínio, o Velho, o maior naturalista da Antiguidade. Na Idade Média, Manticore manteve-se no imaginário popular, tendo sido também ilustrado sobretudo nos bestiários.

    No século XVI voltou a ter nova expressão, servindo de motivo em algumas representações pictóricas. Diz a lenda que esta criatura antes de matar pedia sempre à vítima que lhe respondesse a uma charada ou enigma, quase como a esfinge da história de Narciso.

    Atualmente, o mito diluiu-se mas podemos ver esta criatura representada em jogos de computador, filmes, literatura ou outras artes. A mais utilizada e válida na época contemporânea é a japonesa: Manticore sempre é representado por uma figura feminina extremamente bela e voluptuosa, com um poder de sedução quase irresistível. Isso se dá pelo fato de sua inteligência ser muito alta, em um nível bem acima da média. Acredita-se que uma manticore tem poder de lábia tão grande que poderia tomar controle de uma cidade em poucas horas só pelos seus dotes linguísticos. Sua principal fonte de alimento é a energia vital de humanos. Uma manticore (no ponto de vista do folclore japonês) é terrivelmente lasciva e dominante, buscando parceiros para destruir suas mentes enquanto devora sua energia.

    Sua aparência em presença em público geralmente é de uma bela humana jovial. Enquanto agressiva, se apresenta com sua cauda de escorpião, muitas vezes acompanhada por espinhos, traços felinos em seu rosto com orelhas e longos cabelos ruivos e mãos e pés com garras de leão, com asas de morcego em suas costas. De acordo com a mitologia, a vítima de uma manticore pode ter uma morte muito lenta (pode perdurar por semanas), lenta (questões de horas) ou rápida (instantânea). Isso se dá porque manticores podem ter apreço por suas vítimas, geralmente homens, e os manterem em cárcere caso sua afeição seja correspondida (embora sua morte seja iminente e inevitável); ou sua repulsa ao homem a faça drenar sua energia instantaneamente. Resumindo: a vítima não tem chances de escapatória de uma morte horrível e angustiante.

    Solitárias, manticores valorizam essa condição porque se sentem dominantes da pirâmide predatória da mitologia asiática: são as mais poderosas entidades, superando as kitsunes em poder e sabedoria, por exemplo.

    O medo tomou conta de Hakiro após sua leitura. Tremendo, o seu mouse fazia ruídos por seu estado inclusive, passando até mesmo a apresentar defeito que tantos cliques involuntários. Tomado pelo nervosismo, pegou seu celular e ligando Imediatamente para Jason, que diz:

    — Oi, Hakiro... Fala aí – Disse, continuando a falar – Oi? Alô? Hakiro? Cara, tu tá aí?

    O silêncio de Hakiro tinha um fundamento: entre se lembrou do que Eva o havia dito.

    — *Ela disse para que eu não chamasse ninguém... Senão pessoas ligadas a mim poderiam sofrer... Meu pai e minha mãe... Iamiko... Todo mundo pode sofrer! Eu... Eu tenho que resolver tudo isso sozinho! Não posso envolver ninguém... Já chega de sofrimento! Jason lutou contra o Kuon e... DROGA! Porque essas coisas estão acontecendo?!*

    E ele, atendendo a ligação, logo diz:

    — Oi, Jason

    — Cara, o que foi? Tu ficou mudo

    — Desculpe. Estava fazendo um lance aqui

    — Tá. O que houve?

    — Nada. Só queria saber se a Iamiko chegou bem

    — Ueh... Porque tu não ligou pra ela de uma vez?

    — O telefone dela deve estar desligado

    — Ah tah... Você quer falar com ela?

    — Não não. Deixa ela descansar

    — Tá... Que mais?

    — Só isso, mano

    — Ah... Cara, tá tudo bem mesmo?

    — Sim... Porque está dizendo isso?

    — Nada... Só estou preocupado

    — Ah... Amanhã tem treino, hein

    — Sim. Estarei na quadra te esperando

    — Até. Boa noite

    — Até

    Desligando o telefone com pressa, Hakiro se deitou a cama, mas em nenhum momento se sentiu confortável. Em poucas horas teria de se encontrar novamente com Eva e, como citou antes, pensou:

    — *Cara... Essa sensação... Eu não pude fazer nada! Aquela mulher... Ela controlou totalmente a situação o tempo todo... Até com a Iamiko ela conseguiu lidar, mesmo com aquela vergonhosa cena dela gritando o meu nome gemendo... Ah ela... Ela não gritou por gritar... Eu acho que ela... NÃO, MANO! P*RRA! Ela quer lutar! Ela é uma Anis... e ela é maluca!*

    Enquanto isso...

    Casa da Família Hawoen | 23:00 PM

    Logo após terminar a ligação com Hakiro, Jason voltou sua atenções ao seu celular. Durante a conversa que estava tendo com seus amigos, alguem bateu a porta: era Iamiko, que pediu licença para entrar. O jovem, estranhando a atitude de sua prima, não pôde deixar de perguntar:

    — Ok... O que tá pegando?

    — O Hakiro, Jason...

    — O que tem?

    — Ele ficou muito diferente depois que voltou comigo do evento.

    — Relaxa, Iamiko. O carinha pode estar cansado. Você saber muito bem que quando cai o morgado já era. Então desencana.

    — Pode até ser, mas...

    — Ih lá vem... Vocês dois voltaram a pouco tempo. Dá um descanso pro cara!

    — Não é isso, besta! Ele estava agindo estranho no evento depois que a professora de xadrez dele apareceu.

    — Professora de xadrez?! Como assim?

    — Ele tem sim... Ela é muito legal e linda. Com ela não havia nada errado, mas o Hakiro ficou todo sem noção e fora de si... Ele no ônibus estava com um olhar tão distante que eu pensei que ele estava com algum problema... Jason, estou preocupada.

    — Hm... É, tem algo... – Disse, ficando pensativo em seguida – *Hakiro nunca me disse que tinha uma professora particular de xadrez. Mas tipo, entre poderia ter sem que soubéssemos, já que seus pais poderiam tê-la contratado...* Iamiko, relaxa. Amanhã irei até lá e vou conversar com ele.

    Jason ficou pensativo por mais um tempo, imaginando o que poderia estar acontecendo. Entretanto, se colocou deitado em sua cama pois o sono já o chamava. Mas enquanto isso, deitado sobre a janela, Piece 1 diz:

    — O que o incomoda, humano?

    — Está tudo muito quieto essas semanas, Pis...

    — Hm... Preocupado por tudo estar bem... Típico de vocês criarem discussões inúteis só por estarem entediados.

    — Não é isso... Tipo, Wing disse que em breve eu teria de lutar... Isso já faz muito tempo...

    — Humano... – Disse, num tom bem sério – Você já ouviu falar potência físico-química?

    — Hm?! Ah... A é a ciência que nos proporciona instrumentos para interpretar e dominar os fenômenos naturais... O que tem?

    — Na base dessa ciência encontram-se os princípios fundamentais da termodinâmica, classicamente ensinados a partir do comportamento dos sistemas macroscópicos. Pois bem... Anis tem seu potencial medido por Ω (ômega): cara um tem poderes de acordo com sua capacidade de transformação. O meu por exemplo envolve psiquismo, que é uma ciência até então nova.

    — Tá... Mas o que você quer dizer com isso?

    — Eu consigo medir esse potencial.

    — Como é?! Você consegue saber o nível de poder dos Anis, é isso?

    — Sim... E devo lhe dizer mais: lutamos contra Kuon. No início de sua luta ele possuía 45Ω. Esse é um poder que até mesmo humanos altamente treinados e adaptados conseguem chegar... Porém ao aparecer para lhe salvar, esse poder pulou para 85Ω.

    — Tá falando sério?!

    — Muito... E durante nossa ressonância, ele lutou contra nós já com 120Ω.

    — O que quer dizer com isso, Pis? Então nós o superamos em poder, é isso?

    — Não é esse caminho que tomei, mas é uma verdade. Superamos seu poder ômega, mas não é o ponto que quero chegar.

    — E então?

    — Por muito tempo eu consegui desenvolver esse dom de medição. Nem mesmo os humanos daquele centro de pesquisas tinham ideia que eu poderia chegar a isso... Então você é o único que sabe além de mim. Até então eu conseguia medir com precisão o potencial de todos os Anis. Porém...

    — Cara, você poderia parar de ficar fazendo suspense? Diz logo tudo!

    — Os Anis daqui são diferentes. Eles conseguem suprimir suas potencialidades dentro de sua forma Humis. Em outras palavras, eles agem mesmo como humanos, seja com suas potencialidades ou até mesmo sua biologia. Lutar contra Kuon me trouxe esse conhecimento, Jason... Humis daqui não são somente Anis com aparência humana.

    — Você quer dizer que eles são mesmo humanos quando querem?

    — Exato. Porém lhe direi o ponto que mais é preocupante... para você e eu.

    — O que seria?

    Piece 1, que estava mesmo mostrando preocupação em seu olhar, fitou Jason ao dizer:

    — Kuon terminou com 120Ω... Wing Eleven fazia um esforço para se manter abaixo dessa potência...

    — Isso quer dizer que...

    — Sim... Wing com total certeza ultrapassa os 120Ω. Ele não é um Anis comum... e isso é muito preocupante. No momento meus poderes estão limitados a patéticos 20Ω... Não tenho força para lutar no nível do Kuon... e sequer poderíamos fazer valer nossos poderes como ressonante, humano. Se formos atacados... não iremos vencer.

    A sinceridade do felino psíquico mostrou a Jason um lado ainda nunca visto de Piece 1. Mostrando fragilidade e noção do quanto estavam a mercê da sorte, ele pôde perceber que ambos corriam riscos em caso de um novo ataque. Piece 1 usou tudo o que tinha para lutar contra Kuon e a ressonância esgotou seus poderes. E o felino, voltando para a janela, diz:

    — Esteja certo disso, Jason: não temos como nos defender. Esse Anis chamado Kuon não é alguém confiável. Você lutou, o venceu... mas agora temos um desafio a lutar por consequência das artimanhas deste Anis traiçoeiro. E dessa vez, sem sombra de dúvidas, teremos baixas se algum Anis nos desafiar... Então torça para que esse período de calmaria perdure por um longo tempo... até que eu recupere pelo menos parte de meu poder.

    Aflição era o que imperava no momento. Jason sentiu o momento delicado que estavam e lamentou consigo mesmo o porquê de reclamar que estava tudo muito calmo. Mas verdade a calmaria momentânea era a solução para a dupla... mas não para Hakiro.

    A noite transcorreu tranquila, por enquanto.

    Horas depois...

    Floresta de Etofuru | 02:00 AM

    Como de praxe, um vento frio trazia consigo um sopro contendo desespero e temor. Com passos firmes e respiração ofegante, Hakiro, que estava vestindo tênis azuis, calça marrom e uma jaqueta preta, carregava ata mochila nas costas enquanto se aproximava do lugar combinado. Visivelmente amedrontado, o jovem mostrava esse sentimento em seu olhar, principalmente quando avistou Kazu no interior daquela floresta densa e fria. E ao se aproximar do Anis, Hakiro diz:

    — Kazu?! Mas... O que você faz aqui?

    — Eu sou o arauto desse Kumate.

    — Arauto?! Mas que...

    — Imaginei que Jason não iria lhe dizer tudo... E falando nele, onde está?

    — Kazu... Eu fui obrigado a vir sozinho.

    — COMO É?! Hakiro, exijo uma explicação a isso agora! O Sabaibaru deve ser realizado por ele!

    — Do que está falando? Eu sou o Sabaibaru!

    — IMPOSSÍVEL! Onde está Jason?

    — Ora, na casa dele! Kazu, o que está acontecendo?

    E logo uma voz feminina bem conhecida é ouvida. Vocês já devem quem é.

    — Arauto, tranquilize-se.

    — Evanescency? – Disse Kazu, se virando.

    A Anis dessa vez estava trajando uma roupa diferente. Embora ainda de máscara, usava uma botas pretas, calça de cintura baixa de couro preto, um espartilho bem justo ao corpo que lhe cobria o busco, mantendo suas asas de morcego as costas e suas pontudas orelhas. Sua aparência conseguiu impressionar Hakiro novamente.

    — *MINHA NOSSA! Ela... Ela está ainda mais... O QUE EU ESTOU PENSANDO?! Eu estou aqui para lutar contra ela! Mas... Porque Kazu me disse tudo isso?!*

    E ela, para ainda causar mais reações ao pobre Hakiro, sem cerimônias retirou sua máscara, mostrando seu belo rosto pálido, com traços femininos suaves como a de uma felina. O batom preto em seus lábios combinavam perfeitamente com seu estilo gótico, trazendo imponência e dominância da situação. E ela, esboçando um sorriso, diz:

    — O Conseil instruiu a Wing que “todo e qualquer aliado a ideologia de Jason Hawoen poderia ser desafiado sob as mesmas regras do Sabaibaru, independente que deseje ou não”... Ou você não sabia disso, Arauto?

    — Evanescency, você tem certeza do que está fazendo? O Conseil pode ter suas regras, mas sou eu quem decido sobre o desenrolar desse Kumate.

    — Lisonjeada por sua causa, Arauto. E tenho certeza que irá arbitrar mais esse Kumate...

    — Evanescency...

    — ... você quer que eu reconsidere. Já sabe da minha resposta. Quero definir o meu Duel Butin agora.

    — Eu ainda não anunciei esse Kumate! Você não tem...

    Ela praticamente ignorou as palavras de Kazu, caminhando elegantemente em direção a Hakiro, que a via se aproximar. A luta nem havia começado e ele já estava suando... percebido por Eva que, levando sua mão até uma das gotas de suor que escorriam do rosto do jovem, diz:

    — Hm... Acalme-se...

    — Eva...

    — Meu Sabaibaru... Que satisfação tê-lo aqui, como eu exigi... Sozinho... Você é muito valente, sugar!

    Mas Kazu não precisa satisfeito com o comportamento da Anis. Tanto que ele logo mostrou uma atitude bem diferente da habitual:

    — EVANESCENCY, ESTÁ DESRESPEITANDO ESSE KUMATE!

    Mas foi somente ao gritar que o Arauto viu Eva aparecer a sua frente em questões de segundos. E ela, o olhando nos olhos, diz:

    — Tenho total ciência de sua posição de Arauto... então mostre compostura. Não irei permitir que volte a gritar comigo, entendeu?

    — Ah... – Tentou dizer Kuon, pressionado – Cumpra com seu objetivo então!

    — Hm... Isso! Melhorou... Faça mesmo dessa forma, como tem que ser... Um Kumate pelo Sabaibaru como eu estava esperando...

    Havia algo mesmo diferente. Até mesmo Kazu estava suando e visivelmente alterado. Teria mesmo Eva subjulgado até mesmo o Arauto? De qualquer forma, Kazu mostrou reações a presença de Eva e guardou para si tudo isso.

    Entretanto alguém mais sensível sentiu...

    Enquanto isso..

    Casa da família Hawoen | 02:00

    Foi descrito anteriormente que a noite transcorria tranquilamente na residência, não? Pois bem, isso havia mudado. Jason logo acordou molhado de suor, se levantando as pressas. Ofegante, logo olhou para Piece 1, que estava com sua pelugem ouriçada. O jovem, estranhando tudo aquilo, diz:

    — Piece 1, o que está acontecendo?!

    — Jason... Essa potencialidade...

    — Hã?! Mas... está sentindo algo? Você disse que não tinha poderes para...

    — É muito forte... Eu consigo sentir perfeitamente... Eu sinto também que Kazu está próximo a esse Anis...

    — Kazu?! Onde?

    — No mesmo lugar que lutamos...

    — No mesmo lugar?! Mas...

    Naquele instante, Jason pensou bem em tudo que ouviu durante o desafio lançado por Wing veio sua mente como um flashback, onde uma frase se repetiu a sua mente a todo o instante.

    “... a todos vocês...”

    “... Toda a sua raça...”

    “... Vocês deverão defender sua ideologia...”

    “... a todos vocês!”

    Os olhos arregalados de Jason mostraram que o jovem havia entendido essa mensagem subliminar, fazendo com que o rapaz rapidamente trocasse de roupas, com Piece 1 dizendo:

    — Jason, o que está fazendo?

    — Piece 1, ca***ho... P*rra, estava o tempo todo na minha cara... – Disse, pegando sua mochila.

    — O que está dizendo?

    — Essa m*rda toda... TEM ALGUÉM NO KUMATE!

    — O que?! Mas... Quem?

    — EU NÃO SEI!

    — Jason, você está indo lá?

    — É obvio! Tem alguém lutando... eu sei! – Disse, pulando a janela.

    Mas assim que colocou seus pés no jardim, Jason percebeu que Spark estava o olhando. O canino logo disse:

    — Me admira você ter percebido também...

    — Spark? Eu no momento estou mesmo ocupado...

    — Hakiro... Aquele humano aliado a você...

    — Hã?! Do que está falando?

    — É ele quem está lutando.

    Por mais uma música como essa, Jason entrou em completo desespero, saindo correndo pelas ruas escuras e frias de Etofuru. Acompanhado por Piece 1 e Spark, o jovem disse:

    — PORQUE VOCÊ NÃO NOS AVISOU, SPARK?!

    — Grr... Eu não lhe devo absolutamente suporte algum, humano... Entretanto eu iria contatar meu senhor para dar-lhe essa notícia naquele mesmo instante...

    — P*ta que pariu... AGUENTA AI, HAKIRO!

    A urgência da situação era ainda mais grave que imaginavam. Mas o que Jason podia fazer?

    E voltando a floresta...

    Já com Eva posicionada no centro da área de combate, Hakiro estava no outro lado, confuso e sem entender ao certo o que fazer. E Kazu, mesmo contrariado pela Anis com relação a sua não aceitação de revisar seu adversário, fez seu papel de Arauto.

    — As regras do Kumate são:

    O Anis desafiado só poderá usar força equivalente ao humano;

    Caso o humano tenha algum tipo de vantagem durante o duelo e isso seja um fator determinante para que esteja vencendo, o Anis tem total direito de nivelar a essa vantagem, inclusive usar de seus dons superiores;

    A forma de obter vitória contra um Anis é:

    1- Tocar a sineta três vezes antes que o Anis o impeça;

    2- O Anis desistir do Kumate;

    3- O humano o nocautear.

    Hakiro, ainda mais assustado com tudo aquilo, logo deixou claro que estava mesmo nesse estado.

    — VOCÊS ESTÃO MESMO FALANDO SÉRIO?! EVA, PARA COM ESSA PALHACADA TODA!

    — Ah... Darling... Ver você assim com medo me faz “sentir bem”... Mas você precisa lutar, com bastante força, vigor e muita brutalidade! AHHH... Não seja gentil... Não seja!

    Até mesmo Kazu estava desconfortável com o que Eva dizia. Suas ações realmente faziam com que o Arauto quase mostrasse parcialidade, mas seu dever precisava seguir.

    — Hakiro Hansen, o Sabaibaru... Qual seu Duel Butin?

    — O que?! Que parada é essa?!

    — Todo desafiante ideológico tem direito a um pedido... É um prêmio a sua vitória.

    — CARA, EU SÓ QUERO MINHA VIDA DE VOLTA, PODE SER?

    — Não é válido, já que sua vida é somente sua. Escolha sabiamente.

    — O que?!

    — Hakiro Hansen, escolha seu Duel Butin.

    — ENFIA ESSA P*RRA NO **! Eu quero o fim dessa palhaçada toda agora!

    E Eva, vendo o desespero do jovem, se manifestou.

    — Hum... Ahh... Deixe-o, Arauto.

    — Evanescency... – Disse Kazu, irritado – São as regras Conseil!

    — Você tem muito comprometimento no que faz, eu entendo... Mas você não pode obrigá-lo a exigir um Duel Butin... Não vê que ele está desesperado, preso nessa sua condição de presa e entregue ao próprio destino? Hum... O seu desejo de viver já deve valer como isso, mesmo que não o diga... Então não o pressione. Duel Butin pode ser exigido posteriori.

    A calma e tranquilidade que a Anis passava era impressionante. Eva dominava a situação totalmente, com Kazu se calando em seguida. Ele, bastante chateado, seguiu com o Kumate.

    — Evanescency... Qual seu Duel Butin?

    E ela, ficando com seu rosto levemente corado e olhando para Hakiro, diz:

    — Hummm... Ahh... Eu quero... o seu coração, Hakiro!

    O rapaz ficou completamente surpreso com o que ela disse. Sem entender, começou a dizer:

    — Mas o que é isso? QUE NEGÓCIO É ESSE?! TÁ PENSANDO QUE EU VOU FICAR COM VOCÊ, É ISSO?!

    E Kazu deu início ao Kumate.

    — Hakiro contra Evanescency... Lutem!

    Resumindo bem o início: Hakiro estava imóvel. Eva, a exemplo do jovem, também vez o mesmo. Com os braços cruzados abaixo de seu busto, ela diz:

    — Hakiro, você vai ter que deixar de ser tímido e me agredir... Como acha que vai vencer assim parado? Vamos, darling... Me mostre seu dote!

    — Como poderia lutar contra você? Está louca?

    — Cavaleirismo... ou sexismo? Não quer lutar contra mim por eu ser uma mulher? Hahaha... Não, darling... Não funciona assim...

    — Eu não tenho motivos pra te agredir! Nossa, eu me sentiria horrível em bater em alguém...

    — Hum... Então acho que lhe devo dar motivos...

    — Do que está fal...

    E antes que completasse sua fala, Eva apareceu por trás de Hakiro, o abraçando. Imediatamente todo o corpo do jovem ficou paralisado, lhe trazendo um terror nunca sentido. Ele não ao mesmo pôde pensar em algo, já que a Anis disse a seu ouvido:

    — Seus amigos... Eu... vou... matá-los...

    — Eva?! Não... Eu estou aqui...

    — Você precisa lutar, sugar... Me mostre que você é potente e viril... Vamos... Lute contra mim... e me subjulgue...

    — Eva... Só pare com tudo isso... Deixe meus amigos fora disso e desista dessa ideia idiota...

    Ela, com um semblante mais sério, jogou Hakiro para longe que como se o jovem fosse uma folha, se chocando contra uma pedra e indo ao chão. E com Eva caminhando em sua direção, ela diz:

    — Patético...

    — Ah... O que... – Hakiro se levantava com dificuldades – Eva, mas o que...

    — Você viu uma demonstração de minha força...

    — Eva, não... Por favor... Pare!

    — Você não se preocupa com sua dignidade...

    — Pare... Estou mesmo te pedindo!

    — Já imaginou o que poderia fazer com sua família?

    — O que? Eva, do que está falando?

    — Eu poderia sair agora daqui e matá-los... E traria seus corpos aqui para que os visse... E você seria o culpado.

    — O QUE?! EVA, QUE TIPO DE MONSTRO É VOCÊ EM DIZER ISSO?!

    — Lute contra mim, Hakiro... – Disse, num tom bem sério.

    — PARE, EVA! – Disse, rangendo os dentes – DEIXA MEUS PAIS FORA DISSO!

    — Quebrarei membro por membro, os arrancando em seguida... Gostaria que eles tivessem esse fim?

    — Pare, pare... – Disse, tentando se segurar – PARE DE DIZER ISSO!

    — Eles iriam gritar de dor... Eu faria questão que você os ouvisse implorar que eu parasse...

    E correndo ensandecido pela raiva que sentiu por Eva, Hakiro executou um forte soco em seu rosto, a jogando para trás. O jovem, respirando fundo, diz:

    — NUNCA, JAMAIS ENCOSTE NOS MEUS PAIS!

    O jovem estava raivoso, com seus deveres trincados trabalha sua raiva. Mas só foi avistar Eva sangrando e com seu nariz quebrado para que percebesse o que havia feito. Ele, arregalando seus olhos, diz:

    — Eva?! Não... não... O que eu fiz?!

    E ela, se levantando, logo disse:

    — Ah... Darling... Você é bem bruto... E isso me faz sentir “tão bem”...

    — Eva... Não... NÃO! – Disse, demonstrando arrependimento.

    — Sugar, você tem que continuar... Porque se você não fizer nada... – Dizia, com um olhar sádico em seguida – EU VOU MATAR TODOS QUE VOCÊ AMA!

    — O que?!

    — EU ARRANCAREI A CABEÇA DE IAMIKO ANTES!

    Voltando a ter raiva, Hakiro novamente golpeou o rosto de Eva, a desfigurando ainda mais. Com seu maxilar quebrado e com sangramento, ela continuou:

    — Ah... Darling... Você está quase... me matando.. ahhh... Olha pra mim... Você está me dominando... AHHH...

    — EVA?! PARA, POR FAVOR! – Disse, horrorizado pelo o que havia causado a Anis.

    — Eu vou matar todo mundo, darling... Você precisa acabar com isso...

    — EVA, PARE DE DIZER ESSAS COISAS! PARE, PARE!

    — Ahh... – Tentava dizer, cambaleando – Você está indo bem, darling... Tão forte e bruto... É assim que você tem que agir contra mim... Ahh darling...

    Hakiro logo começou a surtar, gritando de desespero e evitando olhar para Eva. Seu rosto ferido pelos seus golpes estavam destruindo sua moralidade. Mas Eva não recuava, dizendo:

    — Darling Darling... Eu vou arrancar a cabeça de Iamiko... Darling Darling! AHHH...

    Hakiro estava em frangalhos, voltando a golpear Eva sem pensar nas consequências. Tudo que vinha a sua mente era a imagem de seus entes queridos, num sentimentos de protegê-los de qualquer mal. Nutrido por uma vontade ininterrupta de defesa, lentamente ele se sentia culpado por cada golpe que desferia contra Eva. Suas lágrimas saíam de seus olhos com todo o peso de sua culpa. Seu cavaleirismo havia sido destroçado e sua moral caindo no mesmo buraco. E a todo o tempo, a cada soco executado, o jovem aos prantos dizia:

    — ME PERDOE, EVA... AHHHH! ME PERDOE! POR FAVOR, PARE! NÃO VENHA MAIS... NÃO FALE MAIS NADA! AHHH! CALE A BOCA! AHHH!

    Para piorar sua situação mental, ele conseguiu avistar Jason se aproximar do lugar correndo junto a Piece 1 e Spark, o que trouxe ainda mais desolação a sua mente.

    — Não... Eles... Eles estão vendo o que eu fiz... ELES ESTÃO VENDO O QUE EU TE FIZ, EVA! NÃO! NÃO! AHHH!

    Com Jason correndo até Kuon, ele estava mesmo irritado com tudo o que estava acontecendo:

    — QUE CA****HOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI, KAZU?

    — Jason Hawoen... Afaste-se de mim!

    — NEM F*DENDO! PARA COM ESSA P*RRA AGORA!

    — Jason, há um Kumate ocorrendo. Exijo que interrompa sua ofensiva!

    — ENFIA O KUMATE NO **!

    — Jason, pare!

    Jason, ainda bastante irritado, não pôde evitar de perceber que seu amigo estava estranho. E justamente nessa reação que ele disse:

    — Kazu, porque o Hakiro está chorando de frente para uma árvore? E porque os punhos dele estão todos machucados?

    Jason reparou bem. Para vocês que não entenderam: o jovem estava se referindo ao fato de Eva estar distante de Hakiro sem dano algum, o observando frente a uma árvore danificada e ensanguentada, possivelmente por causa dos socos de Hakiro. E Eva, olhando Hakiro desabar em choro por remorso pelo que supostamente fez, diz:

    — O ser humano... Um ser tão vil e frágil que é  refém da própria natureza... Por muito tempo essa raça busca mais e mais conhecimento de si mesmo, mas na verdade eles só encontram a própria destruição...

    ♪Banda: Evanescence

    ♪Música: Surrender

    Ela então caminhou até Hakiro, que chorava compulsivamente. Seus punhos tinham ferimentos profundos em consequência dos fortes socos que na verdade estavam aceitando a uma árvore ali próximo desde o início. E ela, alisavdo o alto de sua cabeça, disse:

    — Psicoticomiméticas... Hakiro, você sabe o que isso significa...

    ♪Isso é real o bastante para você?

    Você estava tão confuso

    Agora que você decidiu ficar

    Nós permaneceremos juntos♪

    O jovem, ainda transtornado com sua mente mastigada pelo remorso por ter ferido Eva daquela forma brutal, aos poucos voltava a si, principalmente por olhar para a Anis em perfeitas condições.

    — Isso... O que...

    — Hakiro, você precisa voltar a si... Vou lhe ajudar...

    — Eva então assoprou seu rosto levemente, o fazendo recobrar a consciência das coisas no mesmo instante. Reabilitado, ele tentou dizer:

    — Eva?! Mas...

    — Cafeína. Essa substância tão apreciada por vocês, humanos... Ela dá prazer e traz euforia e lhes mantém acordados por mais tempo... Mas tudo tem seu preço. Vê?

    — Eva, o que aconteceu?

    — Eu presumo que pesquisou sobre mim... Eu sou uma manticore, Hakiro.

    ♪Você não pode me abandonar

    Você me pertence♪

    E ele, após sua mente começar a clarear, aos poucos conseguia raciocinar:

    — Uma... Manticore...? *UMA MANTICORE?! PELOS DEUSES... ELA... ELA USOU... *

    — Se pensou em meus espinhos, acertou... Parcialmente.

    — Como assim?

    — Todo o ar... Tudo em volta... São meus espinhos.

    — O que?!

    — O atrito com o ar... A pele humana nada mais é que o maior órgão de seu corpo... Conseguiu ligar os pontos?

    — Eva... – Disse, sentindo seu corpo ficar fraco – O que... O meu corpo... Eu não consigo ficar em pé!

    — Você perdeu, Hakiro... E eu planejei tudo isso desde o início. Kazu sabia que você não teria chances... Mas eu não me importo com isso. Você é minha presa...

    ♪Suspire e incorpore a minha vida à você

    Não mais restando eu, apenas você

    Não há como escapar de mim, meu amor♪

    Quase como se tivesse o corpo entorpecido, Hakiro tentava lutar, mas a frente era um adversário muito forte e, de joelhos, se colocou a frente de Eva, que disse:

    — Você é meu...

    ♪Renda-se♪

    Jason, que estava transtornado ainda mais com a situação, logo disse:

    — EU NÃO VOU DEIXAR QUE FAÇAM MAL AO HAKIRO! – Disse, começando a correr em direção a arena.

    Mas Jason logo é impedido por Kazu, que o segurou. Paralisado, o jovem diz:

    — KAZU, ME LARGA! P*RRA, QUAL É A SUA?!

    — Não posso permitir que prossiga.

    — O QUE?! ME SOLTE, CA****HO!

    — Você não entende mesmo...

    ♪Querido, não há sentido em fugir

    Você sabe que eu o acharei

    Tudo está perfeito agora

    Nós podemos viver para sempre♪

    E ignorando tudo o que estava acontecendo, Piece 1, como estava sem poderes, logo ordenou:

    — Spark, a ataque com tudo que tem!

    — Sim, meu senhor!

    Mas assim que o canino elétrico correu em direção ao campo, atingiu uma parede, que o infligiu danos por todo o corpo do em encostar. Spark foi ao chão imóvel e desacordado e, com esse cenário, Kazu concluiu.

    — Todo o campo da arena do Kumate é envolto por uma barreira. Ninguém entra ou sai sem que haja um vencedor. Isso serve de aviso, Jason... Não há escapatória do Sabaibaru se não lutar.

    ♪Você não pode me abandonar

    Você me pertence♪

    Eva estava imponente frente a um Hakiro impossibilitado de se defender. Não conseguia nem ao menos ficar de joelhos, já que perdeu toda a força de seu corpo. Já deitado ao chão, ouviu a Anis dizer:

    — Derrotá-lo usando a própria força seria fácil demais...

    — Eva, pare...

    — Eu queria mais... Tirar de você o que mais tem de valor...

    — Eva, não machuque ninguém...

    — Nunca pensei em fazer mal a inocentes... Seus genitores e sua pretendente estão livres... O que você tem mais de valor é sua moral, sua decência e sua palavra... E as degustei deliciosamente... como um afrodisíaco. Sim, Hakiro... Eu senti muito prazer com isso... e ainda sinto.

    ♪Suspire e incorpore a minha vida à você

    Não mais restando eu, apenas você

    Não há como escapar de mim, meu amor♪

    E ela não parou. Eva o tempo todo só tinha o interesse de destruir o que Hakiro era, etapa por etapa. A Anis estava fazendo valer sua posição de predadora de forma implacável.

    — Eu te seduzi... e o manipulei para estar aqui... Sabe porque foi tão fácil? Seu ser... Você se fez como um salvador, um modelo a ser seguido... E você agora não é nada disso... Patético.

    — Eva, não diga isso...

    — Temos testemunhas agora do que você se tornou... Você se entregou a ira e ao ódio por um engodo... O ser humano é uma criatura que causa fraude a si mesmo... e você sucumbiu a essa alucinação... porque você a idealizou em sua mente!

    ♪Renda-se♪

    Jason se desesperava a lateral da arena. Ele ouvia tudo e, sem sucesso, tentava ajudar seu amigo:

    — CARA, NÃO CAIA NA CONVERSA DESSA MONSTRO! VOCÊ NÃO É NADA DISSO! CARA, REAJA!

    ♪Mãos devagar para o alto

    Entregue-se♪

    Eva então se colocou de joelhos por sobre o peitoral de Hakiro, se sentando em seguida. Sua dominância ao destino do jovem era inquestionável, onde o desespero o assolou naquele momento. E ela, o olhando nos olhos, começou a emanar uma aura rubra, fazendo aparecer atrás de seu quadril uma longa cauda de escorpião com pelos e espinhos e orelhas felinas. Embora seu cabelo se mantivesse pretos, orelhas felinas da cor ruiva adornaram sob o alto de sua cabeça. Eva mostrou a todos sua forma Anis, causando um terror inimaginável e aterrorizante a Hakiro. E mostrando um tom de voz mais intimidador, ela diz:

    — Ahh... Darling... Você tem uma chance pra se salvar...

    — Socorro... SOCORRO! AHHH! – Hakiro estava perdendo o controle.

    — Ahh... Darling... Sugar, isso que você está fazendo me faz “sentir bem” demais... Mas temos um combate a terminar... e você tem uma chance pra salvar sua vida patética...

    — Eva... Não... NÃO! POR FAVOR...

    — Hummm... Isso... ISSO! IMPLORE! AHHH HAKIRO! Te ver assim entregue ao desespero... Todos os hormônios e substâncias do seu corpo estão exalando uma fragrância agridoce tão deliciosa... AHHH... Estou sentindo vir, darling... 

    ♪Suspire e incorpore a minha vida à você

    Não mais restando eu, apenas você

    Não há como escapar de mim, meu amor♪

    O fim do Kumate era conduzido por Eva do jeito que ela queria. Mas ainda mantendo-se no mesmo lugar, ela insistiu:

    — Um enigma, darling... Você tem essa chance...

    — Eva... – Disse, chorando.

    — “Demonstre que não vive numa simulação virtual. Agora demonstre a si mesmo que o mundo exterior e outras pessoas existem.” Responda-me ou devoro-te, darling...

    ♪Renda-se, renda-se

    Renda-se, renda-se♪

    A batida de seu coração se intensificava...

    Trazendo para si mesmo a derrota...

    Hakiro nada conseguia pensar...

    A não ser o pior...

    O que estava fazer? Responder...

    Acertar e viver...

    ... ou errar e...

    Morrer?

    Hakiro estava com lágrimas nos olhos, entregue ao mais profundo abismo. Eva havia obliterado sua moral e honra, destruindo totalmente sua dignidade. E ele, como um último suspiro e lapso de razão, disse:

    — Eu... Só queria... viver...

    ♪Você se renderá a mim

    Não há como escapar de mim

    Eu sei que você quer que isso aconteça

    Você deve se render a mim♪

    Ele não respondeu ao enigma...?

    Eva esboçou um sorriso de satisfação, aproximando seu rosto ao de Hakiro. Tomando para si o compromisso de terminar com tudo, ela disse:

    — Eu não estou decepcionada com você, darling... Você só agiu como qualquer ser humano... e isso era esperado. Mas vou te dizer uma coisa: você já reparou que as pessoas comem de forma diferente? Tem quem coma Yakisoba primeiro pelo caldo, outras preferem comer o macarrão antes... E tem muita gente que come tudo ao mesmo tempo, pra aproveitar mais o sabor... Mas eu sou uma minoria... daquelas que consome o melhor por último...

    E ela, posicionando sua causa de escorpião ao lado de seu ombro, fez aparecer um ferrão tão afiado quanto um punhal. Eva, fechando seus olhos, diz:

    — ... Eu gosto de comer a carne por último... Ahh... O prazer carnal é ótimo, mas... Eu me satisfaço com algo mais íntimo... e que irá nos conectar brevemente...

    — Eva... – Hakiro não tinha mais a razão.

    — Seu coração, darling... EU QUERO! E EU VOU OUVIR A MELODIA... O SOM DELE ESTOURANDO!

    E com um movimento fortíssimo, Eva fez adentrar todo o ferrão no lado esquerdo do peito de Hakiro. O grito de dor angustiante e alimentada de terror ecoava por todo o ambiente. Eva tinha mesmo o interesse em matar Hakiro. Jason não aceitava o que acontecia, tentando se soltar de Kazu, com Piece 1 incapaz de fazer algo para ajudar...

    Mas algo inesperado ocorreu.

    Eva, olhando para Hakiro eb com seu ferrão ainda preso a seu peito, havia surtado:

    — COMO?! O SOM... A MELODIA... PORQUE... PORQUE NÃO OUVI?! NÃO... ESTAVA TUDO PERFEITO... NÃO! NÃO! EU QUERO MINHA MELODIA! IDIOTA! IDIOTA! EU QUERO O QUE É MEU! AHHH!

    Até mesmo Kazu se surpreendeu, soltando Jason. O jovem, desesperado mais do que o normal, diz:

    — KAZU, TIRA ERA P*RRA DE BARREIRA!

    — Mas o que...

    — TU NÃO ESTÁ VENDO QUE TEM ALGO ERRADO?! ACABA COM ISSO! TIRA A M*RDA DESSA BARREIRA, CA****HO!

    Dito e feito, Kazu removeu a barreira, com Jason correndo em direção a Eva e Hakiro. Ela, mostrando frustração, retirou seu ferrão e, com um salto, pulou para dentro da densa mata da região. Jason não perdeu tempo e acudiu seu amigo, mas o ferimento era muito grave: Hakiro sangrava muito, com Jason retirando seu casaco e o pressionando. Mas o desespero impedia de fazer o movimento correto.

    — HAKIRO! CALMA, CARA...

    — Jason... Não me deixa morrer...

    — NÃO! HAKIRO!

    Kazu se aproximou, dizendo:

    — Jason, saia... Você não pode fazer nada...

    As palavras do Anis tiveram uma reação: Jason o socou no rosto com toda a força, voltando a tentar salvar seu amigo.

    — Hakiro... Meu amigo... Aguenta... AGUENTA!

    — Jason... Me ajuda... Eu não quero morrer...

    — NÃO... NÃO, HAKIRO! VOCÊ NÃO VAI MORRER!

    — Está doendo... Jason, não me deixa morrer... – Disse, fechando os olhos lentamente.

    — NÃO... HAKIRO!

    Uma noite macabra. A pior possível.

    Continua.


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