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Tempo estimado de leitura: 22 minutos
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Wal começou sua leitura. O que vai descobrir?
E pelo visto pessoas importantes irão aparecer.
Prédio da prefeitura de Anima City (Animalia)
22:00
Contemplando a noite pela marquise de seu escritório luxuoso e espaçoso no alto do prédio, lá estava Barbara Rose, prefeita da cidade. Num tom bastante noir, ela relaxava observando a chuva cair enquanto tomava um chá. Em seguida, já em fim de mais um dia de trabalho, se sentiu em sua mesa, recebendo um comunicado em seu interfone:
— Prefeita Rose...
— Sim. Pode dizer.
— Shirou Ogami está aqui.
— Hm... A essa hora? Bem, deixe-o subir.
Minutos depois, já caminhando pelo corredor do andar do escritório da prefeita, o lobo, que estava em sua forma humana trajando calcas e camisa pretas, usando um sapato e um sobretudo bege, o suposto jovem de cabelos brancos e olhos verdes adentrou ao recinto e, colocando-se a frente dela, diz:
— Eu agradeço por ter aceitado me receber a essa hora da noite.
— Hm... Shirou... Você já deveria estar dormindo.
— Você me conhece. Meu trabalho vem antes de meu descanso.
— Mas se você não descansar isso vai atrapalhar seu trabalho.
— Eu não estou cansado, senhora Rose.
— Eu sei que não, mas alguém aqui precisa se preocupar com sua saúde.
— Tudo bem...
— Sua presença a essa hora da noite alimentou minha curiosidade... O que aconteceu?
— Hm... Eu ouvi uma história pelos becos de Anima City...
— Você ouve muitas... Porque essa é diferente?
— Já ouviu falar do pub Be'ast Club?
— Evidente que sim. Eles são nossos colaboradores. Um lugar impregnado no coração de Anima City... onde era subúrbio. E isso ajudou muito para a estabilidade da cidade. Seus criadores contribuíram para o desenvolvimento social daquele distrito. O que tem demais?
Shirou então retirou um documento de dentro de seu sobretudo, dando a prefeita. Ela então diz:
— Hm... Esse papel...
— Isso estava nas mãos de um arruaceiro hoje de tarde.
— São partes de um memorando do pub. Uma cópia, por assim dizer. O curioso que é que eles usam o nome "Animalia". Hehe, gosto como nossos cidadãos escolhem nomes pra nossa cidade...
— E como sabe que é uma cópia?
— Nós recebemos a original. Porém isso não deveria estar nas mãos de qualquer pessoa... Shirou, de curiosidade está evoluindo pra preocupação.
— Eu estava "conversando" com essa pessoa que tinha esse papel em mãos. E desconfio que... – Disse, sendo interrompido.
— Hm... Shirou..
— ... esse memorando é um sinal de que há algo acontecendo naquele lugar. Veja só esses nomes... São de cidadãos de Anima City que estiveram por lá e passaram a serem vigiados por tráfico de influência com o mundo humano. Só que isso foi a muito tempo atrás...
— Já entendi onde quer chegar. Esse memorando é um indício de que o dono do pub está levantando perfis de pessoas fora do nosso alcance. E se for isso mesmo, então...
— ... estão escondendo e omitindo informações a você. Foi o que o miserável disse a mim. Mas sem provas...
— ... não posso fazer nada a respeito. Então por isso que você está aqui, Shirou.
— Sim.
— Investigue. Não levante suspeitas. E por favor não machuque ninguém por lá. Eu sei que você vai...
— E como sabe que eu poderia entrar em combate?
— Um pub é um lugar democrático, mas o pub Be'ast Club é mais que isso.
— Como assim?
— É um lugar filosófico. Lá às pessoas gostam de ouvir e serem ouvidas... Porque acha que o lugar é importante? Porque lá às pessoas se expressam sem terem medo de conflitos... Bem, conflitos violentos. Você sabe.
— Entendi. Bem, estou indo. Prometo me comportar... – Disse, voltando ao corredor.
— Eu sei que sim. E Shirou...
— Sim? - Disse, se virando.
— Boa noite e durma bem.
O lobo então esboçou um sorriso, sinalizando com sua cabeça concordando. Ele logo continua a caminhar, com a prefeita ficando pensativa.
— *Hm... Creio que teremos problemas...*
Shirou Ogami era um lobo integrante da assistência social de Anima City. Ele agia para manter a ordem entre os bestiais para que não houvessem mais problemas de instabilidade na sociedade, tal qual esse era seu principal papel.
Enquanto isso...
Distrito Norte
Casa de Wal | 22:20
Wal estava assustado. Somente essas duas linhas já bastaram pra acordá-lo de vez. Ele então começa a juntar as outras folhas soltas e percebe que estava lendo a penultima.
— Cara, que coisa de louco. Que droga é essa? Peraí... vou ver a primeira...
E logo consegue colocar na ordem que as mensagens foram escritas todas as folhas. Já mais calmo, porém muito mais curioso, ele começa a ler da primeira folha solta.
• Dia 18 de agosto de 2012
"Hoje consegui finalmente discutir sobre como se passava o mundo dos humanos, que havia tido um crescimento que colocou todas as nações deles sob alerta. Isso foi o tema do dia. Mas assim que coloquei isso em pauta, logo me preocupei. Não sei porque mas muitos dos membros do Be'ast Club não tinham noção do restante dessas nações humanas. O crescimento só era notado nos centros urbanos, e mais precisamente perto das grandes metrópoles. Já quem mora no interior desses países do lado oriental do mundo humano vivia como se estivessem no século XVII. Foi só eu dizer isso que o assunto morreu, inexplicavelmente.
Hoje também aconteceu um marco na história do pub. Houve uma crescente demanda de livros, os quais ajudei a arrumar e catalogar. Leitores de várias regiões de Animalia vieram nos visitar... Eu gosto desse nome. Animalia. Entretanto tudo estava... Bem...
Sei lá...
Não era como antes. Estava diferente. Muitos estavam mais interessados em assuntos que não se adequavam ao estilo do pub. E tinham um monte de gente que não sabia nada da proposta do lugar, usando do espaço pra sacanear com os noobs do pub. Resumindo: a galera mais nova era perseguida e mal conseguia se expressar naturalmente.
Tem um mala sem alça chamado Keaton, um leopardo cheio de marra, que é o "hacker nerd dono da verdade" que vive causando discussões fúteis e sem fundamento só pra se mostrar. E o pior é que ele tem membros da equipe que passam a mão na cabeça dele quase todo dia. Só quando ele vacila muito (como se ele não vacilasse muito... whatever...) aí que tomam alguma providência. Mas no fim ele volta a aprontar no clube, sacaneando o "grupo de otários que vem cantar de galo com ele".
Eu vivo longe dele. Apesar do cara ter elogiado às escondidas a minha contribuição ao pub, não tenho interesse em ser amigo da peça. Tipo de pessoa de dupla personalidade. Uma hora é teu amigo, no outro tá te apunhalando pelas costas.
Hoje também conversei com Caetano. Disse a ele que se pudesse ajudar no clube ele podia contar comigo, mesmo eu ganhando pouco. Pelo menos comprar uma cafeteira nova eu conseguia, até ri disso!
Mas Caetano estava numa bad enorme. O pub não dá retorno financeiro algum e ele vive de doações além do que ele paga pelo local. E ele vive resolvendo brigas internas, inclusive as do Keaton. O cara junta toda galera do pub pra ver o que farão pra segurar as contas, porque havia interesse de comprarem o lugar e a grana era alta. Um que diziam que estava afim de tomar posse das dívidas do lugar era um tal de Esteves, que sabia pouco. Dizem que ele é um designer de sucesso que nada em dinheiro. E também me disseram que o cara era gay.
Tipo, não tenho preconceito algum, inclusive tenho amigos com essas preferências, mas vendo como estavam pensando do pub, ainda mais depois de hoje, veio gente que não tinha lá um comportamento dos mais agradáveis (fui cantado umas três vezes por todos, machos e fêmeas!), a coisa podia desandar e o clube virar um anime de harém inter sexualizado. Raios, as pessoas tem que ter noção do senso do ridículo também, seja lá o gosto delas. Quer ficar no clube, tá beleza. Mas não pode querer ficar atirando pra todos os lados esperando que todos aceitem aquilo que fora condicionado. Democracia sim, escrotice não, oras! Há gosto pra tudo, mas não adianta querer forçar desgosto. Eu cuido da minha vida e eles da deles. Cada um na sua e viva a diversidade, mas com os pés no chão.
Outra coisa que aconteceu e que me deixou muito nervoso foi a do Caetano querer eleger alguns usuários do pub pra fazer parte da equipe. Até então era uma ótima idéia, porém tinha um lance que não conseguia digerir: tinha "coxavo" na parada. Tinha gente já garantida na corte e isso era muita, mas muita sacanagem. Logo comecei a conversar pelos corredores do clube e logo Perx, um lobo que manjava pacas de arquitetura, comentou comigo que Keaton tinha garantido a ele que iria fazer parte. Pra quê...
Imediatamente fui tirar satisfações com Caetano na sala dele, pedindo explicações sobre esse problema. Ele desconversou e disse na minha cara que não tem isso nas escolhas. Ele inclusive perguntou que havia dito isso, o que eu, por ter ética, não disse. Ele então pediu para que me retirasse, que ficasse despreocupado que tudo iria acabar bem...
Era o que esperava, no fundo do coração..."
Terminado a leitura, Wal respirou fundo e tentava entender um pouco o que havia lido. Ele, com uma das mãos na cabeça, refletia.
— Cara... mas que droga é essa aqui? Fofoca das quentes. Vai dar muita conversa hoje por causa disso...
Mas assim que iria guardar a folha, Wal novamente pensou alto.
— Peraí... esse mané que escreveu falou do Esteves. Numa coisa ele tá certo, que é do pub estar bem estranho... Tem coisa nessa história que tenho que saber. Nem curto essa de livro, mas tenho que ler mais...
Ele até iria começar a ler mais uma das folhas, percebe que já estava tarde, exclamando:
— Ih! O LOCO! Tenho que ir pra cama! melhor deixar pra ler isso amanhã, sei lá...
Reunindo a folha ao restante do fichário onde estavam dispostas, o canino se preparou para ir dormir.
A noite seguiu tranquila.
No dia seguinte...
Centro da cidade | 08:00
O rito de cada dia.
E mais uma vez Wal chegou atrasado ao trabalho, só que dessa vez com todas aquelas pastas. E na porta do andar onde ficava seu escritório, dá de caras com Royallia, que não parecia estar de bom humor.
— Wal, isso são horas?
— Desculpa, Roll. A marginal tava uma droga hoje de manhã...
— Já falei pra você sair mais cedo de casa.
— Mas eu saí, caramba! A droga do trânsito que não deixa!
— WAL, QUE LINGUAJAR É ESSE COMIGO!?
— Desculpa!
— Tudo bem... Olha, entra logo que não estou legal hoje...
— Que houve?
— Sumiu uns arquivos aí e Esteves não está nada legal hoje...
E Wal, ao cruzar a porta do pub, quando estava adentrando-o, Esteves surge a sua frente e diz:
— Wal, você levou pra casa trabalho extra, não foi?
— Fo-foi sim. Porque?
— Ok... estou procurando um fichário que talvez estivesse dentro dele. Está com você?
Wal, só ouvir a pergunta de Esteves, ficou imóvel sem saber o que dizer. O felino, irritado com o rapaz, novamente repete a pergunta.
— Está com você, Wal? Diga!
— Nã-não esta não, chefe.
— No meio de toda essa papelada que você levou não tinha nenhum fichário?
— Isso. Não vi nada, só arquivos mortos e tal.
— Muito bem...
— Mas o que tinha esse fichário?
— Porque quer saber? – Perguntou Esteves, desconfiado.
— Ueh... se acontecer de eu encontrar não vou saber se é o fichário que o senhor quer.
— Se encontrar qualquer tipo de fichário o dê a mim, entendeu?
— Mas eu não posso abrir pra ver o que é?
— Hunf... Porque esse interesse de saber o que tem no fichário? – Resmungou, ainda mais desconfiado.
— Só tô fazendo isso pra ajudar. Imagina eu ter que toda hora entrar na sua sala com um fichário diferente... *Esse cara já está me enchendo a paciência*
— Eu disse e vou repetir pra você: se achar qualquer fichário, leve a minha sala, entendeu? Não quero você e nem ninguém futucando em arquivos sigi... digo, em arquivos que não lhes pertencem.
— Tudo bem então.
— E tenho dito – Disse, saindo da sala em seguida.
Wal chegou a sentir a força da batida da porta do escritório de Esteves assim que ele entrou na mesma. Royalia ia passando pelo corredor e o canino fez questão de saber o que houve.
— Roll, qual é a do Esteves hoje?
— Ele deve estar com problemas "na escola". Melhor ficar na sua.
— Mas tudo isso por causa de um fichário?
— É... vai lá entender... – Disse, olhando em volta.
— Isso tudo por causa de papéis... Já percebeu que tem muita gente nesse andar hoje? Estranho...
E de fato isso estava acontecendo. Pessoas desconhecidas aos olhos de Wal estavam pelos corredores da área burocrática do pub. Royalla, desconversando e olhando para os lados, puxa Wal para um canto e, falando baixo, diz:
— Não explana, Wal...
— O que foi? Porque está cochichando?!
— Sumiram vestígios de um arquivo que seria triturado hoje de manhã.
— Hã?! é sério?
— Sim. Por isso Esteves está uma fera.
— Tá mas o que tinha nesses arquivos?
— Não sei dizer mas é algo bem sigiloso... Até mesmo os veteranos do clube estão preocupados.
— É mesmo? E você também?
— Que tem eu?
— Você é uma das veteranas aqui.
— Sou mas quanto a isso não sei de nada. Porque?
— Nada não. Só acho estranho que essa parada tenha acontecido.
— Verdade.
E da sala de Esteves, este bastante irritado, saiu aos berros conversando ao seu celular:
— NÃO ME INTERESSA! VEM PRA CÁ AGORA, KEATON! ISSO TAMBÉM TEM A VER COM VOCÊ!
E passa perto dos dois, quase nem os notando. Royalla, pasma, falou:
— Keaton?!?! Ele só deve estar brincando...
— Quem é esse cara, Royalla? *Esse nome... Estava escrito naquela folha...*
— Um antigo colaborador. Foi mandado embora quando o contrato dele terminou.
— *Era ele mesmo! Carai...* E o que esse cara fazia aqui?
— Ele entendia de organização e mantinha todo o maquinário aqui. Também era responsável pela tesouraria do pub.
— O cara ela eletricista e contador?
— Quase isso, mas ele era mais eletricista mesmo. Odiava ele, aquele idiota...
— Porque?
— Hm... Ele vivia arrumando briga e discussão por aqui e ficava na maior parte do tempo se promovendo entre os usuários. Ainda bem que mandaram ele embora dias depois e chamaram o Hidori, que é muito melhor que ele como profissional e pessoa.
Com a conversa se estendendo, o canino descobriu muitas coisas acerca das pessoas citadas nas folhas soltas. Além dele ter interesses em se relacionar com Royalla, o que já lhe prendia atenção, ouviu cada palavra que ela disse. Depois da longa conversa, Wal enfim voltou a trabalhar em seu escritório. E enquanto escrevia um relatório, ele pensava:
— *Essa parada aí... tem coisa... Nunca vi o Esteves agir assim. Aquele fichário deve ser uma coisa bem louca por sinal... E esse tal de Keaton... no "diário" tava falando que esse cara era um mala... e até a Royalla falou que odiava ele... Cara, o que faço? Entrego logo a droga do fichário pra esse mané do Esteves ou... opa, peraí! Esteves quer porque quer esse fichário. É, tem coisa aí sim e eu vou descobrir. Pelo menos zoar dele por aqui eu vou. Vou a forra depois daquela vez que ele me sacaneou naquela reunião no Distrito Sul. Aliás nem sei porque eu fui naquela droga de lugar. Só tinha gente chata...*
O dia de trabalho exaustivo de Wal transcorreu sem problemss. Mesmo com a movimentação de pessoas estranhas no lugar não tiraram sua calma.
A noite chega...
Dentro de seu escritório, Wal se preparava pra partir quando Roberta vai até sua sala, dizendo:
— Wal?
— Oi... Que foi?
— Está indo embora?
— Sim, porque?
— Nada. É que por causa da perda do maldito fichário. O Esteves pediu pra fazer averiguação de material na sala dos funcionários. Posso olhar a sua?
— Pode sim. Mas eu tenho que ficar?
— Não, você pode ir.
— Tudo bem então. Até amanhã.
— Até.
Com a sua supervisora arrumando sua sala e examinando todas as gavetas, o rapaz sai do prédio e se dirige a uma parada de ônibus. Wal estava com sorte naquela noite, pois o trânsito estava tranquilo, diferente do dia anterior.
Horas depois...
Casa de Wal | 18:50
Um dia de descanso merecido.
Em casa, Wal logo foi tomar um banho e depois de se aprontar se sentou a mesa para jantar. Ao fim, foi até seu quarto e, sobre a cama, estava lá o fichário. Pegando uma das folhas, ele novamente pensou alto:
— Cara, não sei... não sei mesmo... Uma parte de mim está dizendo pra eu entregar isso pra não me ferrar. Mas uma outra tá me dizendo pra ler e saber que segredo essas folhas estão guardando... Nunca vi o Esteves tão nervoso...
Mesmo com o dilema, Wal voltou a ler, desta fez a segunda folha. Porém...
Enquanto isso...
Be'ast Club | 20:45
Ao apagar das luzes
Saindo pela porta da frente do prédio do pub, que estava cheio de pessoas sendo servidas e conversando com os barmens e atendentes, Royalla caminhava pela calçada. Mas antes que deixasse a frente da fachada do lugar, eis que entre as luzes baixas daquela noite confortável surge Shirou. Ele, olhando para a bela loira com a duas mãos nos bolsos de seu sobretudo, diz:
— Senhorita, podemos conversar?
Continua.