Freedom Planet: Faith & Shock

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    Capítulos:

    Capítulo 45

    Intrigas na cidade de Shang Tu

    Spoiler, Violência

    Olá, pessoal.

    Peço desculpas pela demora em postar. Mas hoje temos um capítulo bastante movimentado, com muitas lutas e intrigas. Ou seja, Preparem-se para muita treta

    E hoje irei começar uma coisa nova: colocarei o link da música do capítulo aqui nas notas caso queiram ouví-la. E também passarei a dar créditos ao autor da arte da capa.

    Sendo assim, divirtam-se.

    Um dia antes...

    Casa da árvore de Lilac | Noite

    Após os acontecimentos em Dragon Valley, onde Viktor fugiu e foi encontrado pela dragão púrpura, tudo já havia sido resolvido, com o jovem entendendo o ponto de vista das garotas. Porém naquela mesma noite, Viktor foi chamado por Lilac para uma conversa nos arredores de sua casa. A dragão, sentada com o jovem em um tronco tombado, logo disse:

    — Você aceitou muito bem a notícia de que não há uma forma de você voltar, Viktor...

    — Somente uma coisa que não tenho controle...

    — Eu sei que não é isso. Melhor dizer logo...

    — Lilac, está tudo bem...

    — Não te chamei pra conversar pra nos divertirmos. Foi pra resolver tudo.

    — Eu sei. Por isso aceitei...

    — Isso! Hora de você saber dos perigos de Avalice, Viktor.

    — Mas isso eu sei. Vocês já me deram uma noção do que eu poderia enfrentar...

    — Não! Hoje no momento você só tem a Neera como... – Tentou concluir Lilac, sendo interrompida.

    — Lilac... – Disse Viktor, num tom sério – Eu não quero que diga mais esse nome.

    — Como é? Viktor, me explica isso.

    — A Neera... Eu não quero mais ouvir esse nome.

    — O que?! Mas... Viktor, porque esse rancor?

    — Isso não é rancor. É um pedido.

    — E porque? Isso eu quero mesmo saber!

    — Ah... Eu... Eu não quero mais contato com ela. E isso inclui tudo, até o nome dela. Aquela panda é o motivo de eu estar irritado comigo mesmo, embora esteja muito feliz em estar com vocês...

    — Viktor, a Nee... Digo, aquela panda é a sacerdotisa do Reino. Não há como você evitar de ouvir seu nome. Todo mundo a respeita por aqui...

    — Melhor mudarmos de assunto, Lilac. Eu realmente me sinto incomodado de pensar...

    — Você está assim só porque perdeu a luta, é isso?

    — Lilac...

    — Você está incomodado porque perdeu?

    — Lilac, chega...

    — Responda, Viktor! Eu estou te pedindo... Seja sincero. Guardar isso só vai te incomodar ainda mais.

    — Vocês me colocaram no eixo novamente após essa minha atitude imatura de tentar fugir... Mas não tem como, Lilac... Eu nunca irei esquecer da humilhação que aquela panda me fez...

    — E onde perder uma luta é humilhante? Você que é um mestre deve saber melhor do que eu...

    — Aquilo não foi uma luta.

    — Não?!

    — A Neera... Ela está pouco ligando para o que eu sou ou represento... e vocês sabem disso.

    — Viktor...

    — Eu vou superar tudo isso... É só um momento ruim. Já passei por coisas tão ruins quanto, mas... Isso me machucou, Lilac. Por isso que eu aceitei conversar com você, pra deixar claro o meu ponto de vista...

    — Ah sim... Por isso você me disse que queria trabalhar na cidade.

    — Correto. Eu quero ouvir sugestões suas.

    — Trabalha no shopping!

    — Shopping?!

    — Tem restaurantes lá... E sempre tem oferta de emprego!

    — Olha, gostei! Eu vou fazer isso mesmo!

    O sorriso de Viktor trouxe animação a Lilac, que havia conseguido trazer o brio do jovem de volta, como ela sempre gostava de ver nele.

    — Você vai conseguir! Eu sei que vai!

    — Hehe... Obrigado! Mas... Você disse sobre os perigos de Avalice...

    — Bem, vou te dizer o que você pode encontrar na cidade... Escute bem: os cidadãos de Shang Tu são pessoas acolhedoras e simpáticas na maioria do tempo, mas não são perfeitas.

    — Como toda cidade...

    — Eu não sei como é no seu mundo, mas aqui as pessoas gostam de honra e palavra. Então trate de agir com convicção porque ninguém quer ver um stranger com atitudes egoístas...

    Lilac cutucou com intenção esse ponto, já que Viktor havia agido errado mais cedo. E ela não terminou:

    — Você agora é um cidadão de Shang Tu. Então você tem os mesmos direitos e deveres de qualquer pessoa, não se esqueça! Se você for alvo de injustiças, chame um policial! Tem vários por toda a cidade...

    — Lilac, você está me assustando...

    — Para sua proteção, Viktor. Você esse período todo que esteve na Agência não teve noção do que estava acontecendo a sua volta... E que bom que a Carol te fez acordar pra vida! Então não dê brechas... Tem muita gente boa na cidade, mas tem também pessoas ruins... Então tenha com senso e evite problemas, porque...

    — Hm? Porque o que?

    — A panda, Viktor... Você vai ouvir o nome dela mais vezes toda vez que entrar em encrencas...

    O olhar distante de Viktor demonstrou a Lilac que era havia entendido o recado. Mas não havia terminado. Faltou um último comentário:

    — E uma última coisa, Viktor: cuidado ao dizer o seu nome completo por aí.

    — Hã? O meu nome?! O que tem isso?

    — A dinastia Omna é muito respeitada em toda Avalice... E até eu devo dizer que é uma honra ter um Daiyamondo entre nós. Você não tem ideia de como estou orgulhosa de você com isso... Mas...

    — O que?

    O dilema que Lilac iria dizer justifica perfeitamente o atual momento de Viktor no Sallo Temple. Por isso seguiremos para o presente, exatamente no ponto onde terminou o último capítulo.

    Sallo Temple | Altar Celestial Sallo

    “Você pode ser desafiado a um duelo por algum mestre a qualquer momento e sob qualquer motivo. E nesse dia, e ele vai chegar, somente diga...”

    — Não! – Disse Viktor, num tom bem direto

    Xiaohuang esboçou um semblante de desagrado assim que ouviu a negativa do jovem. Tanto que ela insistiu, se aproximando dele:

    — Creio que você não tenha entendido, Daiyamondo... Você não tem motivos para evitar esse duelo!

    — Eu não preciso de motivos pra justificar o meu não... a não ser a minha falta de vontade de lutar. E assim manterei minha escolha!

    — Está errado em pensar assim – Disse, levantando sua perna, apontando seu pé em direção a Viktor – Um Daiyamondo nunca foge de uma luta! Coloque-se em combate!

    — Não, senhorita! Eu não irei lutar!

    — Não, é? – Disse, recuando sua perna – Hehe... Então eu terei mesmo que surrar esse fedelho na sua frente pra deixar de ser covarde?

    E ela disse isso apontando para Aak, que logo mostrou irritação:

    — Você falando assim até parece que eu não tenho mão, sua velhota!

    — O QUE?! COMO OUSA ME CHAMAR ASSIM?! – Gritou, serrando os punhos.

    — Velhota! Velhota! (~‾▿‾)~

    — FEDELHO DESGRAÇADO! HUNF!

    E Viktor, mostrando estar ao lado de (SIC) Xiaohuang, repreendeu Aak dizendo:

    — Aak, respeite a idade das pessoas.

    — Hm?! Daiyamondo, o que está falando?! – Disse a monge, irritada.

    — Ele a está ofendendo. Sua idade não deve ser motivo de chacota, embora você não aparente ser mais velha...

    — EU TENHO VINTE ANOS! VINTE! HUNF! – Gritou a felina, quase agredindo Viktor.

    — Vinte?! Mas... Aak, porque a estava chamando de velhota?

    O felino, mostrando a língua para Viktor, logo sorriu em seguida, dizendo:

    — Porque ela odeia ser chamada assim! Não é, velhota? (~‾▿‾)~

    Xiaohuang logo partiu para cima de Aak, demonstrando uma velocidade de reação e desenvoltura com movimentos plásticos e ofensivos que logo chamou a atenção de Viktor, pois bastou poucos golpes para que ela encurralasse o felino de franjas próximo ao altar:

    — *Três deslocamentos... Três! E ela encurralou Aak sem esboçar dificuldades! Ela... Ela é genial! Com três movimentos eu já sei que ela tem um nível tão alto quanto a Lenzin! E eu tenho certeza que ela luta Wing Chun!*

    O Wing Chun é uma arte marcial surgida no sul da China que se distingue pela economia de movimentos, sendo um sistema de defesa pessoal. Simples e eficiente, descarta todo movimento acrobático. É uma arte marcial singular, desenvolvida para permitir que qualquer tipo de pessoa, independentemente de tamanho, força ou sexo, possa se defender de agressores maiores e mais fortes. O princípio básico do Wing Chun é o de utilizar esta força contra o próprio agressor, sendo que a defesa já funciona como ataque e vice-versa.

    E Xiaohuang, olhando para Aak, diz:

    — Ousa mesmo me desafiar, disdainful? (desdoutrinado, em inglês)

    — O que?! Você... Xiaohuang, não diga isso...

    — Entendi. Você gosta de zombar de mim mas não aguenta que eu faça o mesmo...

    — Isso que você está fazendo... – Disse, com um tom melancólico.

    — Um disdainful como você não tem moral para falar absolutamente nada...

    — Grr... Não me chame disso!

    — Estamos quites... Só que em você isso machuca, não? Seu clã, todo ele, caiu em uma noite...

    — CALE A BOCA! – Gritou, rangendo os dentes.

    — E você foi o único que restou... Disdainful!

    Ao ouvir as palavras da monge, Aak logo abaixou sua cabeça e, com seus cabelos cobrindo seus olhos, ele disse:

    — Não... Não ouse falar isso... Não... Não... – Disse, com lágrimas indo ao chão.

    O felino então se abaixou, ficando de joelhos, com as duas mãos cobrindo seu rosto. Com Xiaohuang olhando, Viktor logo correu para acudí-lo, mostrando estar preocupado com o rapaz. E logo percebe que Aak estava chorando compulsivamente, o que trouxe irritação por parte de Viktor, que diz:

    — Olha o que você fez!

    — Hm? Do que está falando, Daiyamondo?

    — Ele está chorando por sua causa!

    — Típico de um clã extinto. Agora sabe porque definharam...

    — ISSO QUE VOCÊ ACABA DE DIZER É INDIGNO! – Disse, apontando para Xiaohuang.

    — Abaixe sua voz e dedo, stranger...

    — Eu não vou! Você deve desculpas a ele!

    — Desculpas? Pff... Aak é um fedelho que sempre está assim, melancólico e chorão... Você não o conhece, Daiyamondo! Não perca o seu tempo...

    — Você é uma monge! Deveria dar exemplo de modos!

    — Hahahaha! – Gargalhou, com suas mãos dentro das mangas de sua vestimenta – E então... Vai aceitar o duelo? Caso contrário eu irei atacar esse fedelho abusado!

    — Eu não irei lutar e também não irei deixar que você lute contra ele!

    — Valentia. Você é algum tipo de herói destemido que acha que pode tudo... Haha! Estou começando a achar que você é uma fraude...

    — O que?! Sua... – Disse, irritado.

    Viktor estava quase perdendo a razão, mas logo alguém bem determinado apareceu caminhando pelos corredores escuros do templo. E logo uma voz bem conhecida é ouvida:

    — Aí, bunita do rabin de cavalo e da franja de capim... Tu ouviu o piá aí...

    Era Carol que, estalando os dedos de suas mãos, concluiu:

    — O Vitin aí não tá afim de lutar. Então tem euzinha pra te encher de moca!

    — CAROL?! Mas... Você aqui? – Disse Viktor, surpreso.

    — E aí, Vik. Tô vendo que tu tá com mal olhado ferrado, né? Piá, deixa comigo...

    — Mas o que você está fazendo aqui? Como me achou?

    — Só uma obra do acaso, nobre cozinheiro. A propósito, o que vai ter pra bóia hoje?

    Xiaohuang não gostou nada da intromissão de Carol. Tanto que logo tratou de tirar satisfações:

    — Carol Tea... A felina da boca grande...

    — Olha, ela me conhece! A gente se sente importante assim...

    — Trate de sair deste templo Imediatamente.

    — Ah sério? Tipo, eu acabei de entrar e agora tenho que sair só porque a gatinha aí quer? Tá, bunita...

    — Esse lugar, pois mais que esteja entregue ao esquecimento eterno como templo, é sagrado demais para sua presença.

    — Dane-se.

    — O que?! Como ousa!?

    — Filha, tu tá fora de si. E eu tô aqui junto com minha panda puliça tsundere favorita.

    No mesmo instante Viktor se surpreendeu com o que Carol havia dito e, surgindo caminhando do mesmo corredor, Neera apareceu a frente de todos, dizendo:

    — Xiaohuang, o que faz aqui?

    — Sacerdotisa Neera Li? Hm... – Disse, a reverenciando – A saúdo, grande mestra.

    — Hm... – Neera retribuiu a reverência, fazendo o mesmo – O mesmo digo, mestra Xiaohuang.

    — Lisonjeada por sua presença.

    — Hm... O que faz aqui?

    — Somente reivindicando o que é meu por direito.

    — O Sallo Temple ainda tem tempo para reaver sua casa. Eu não quero que aja de forma arbitrária, entendeu?

    — Com total certeza, cara mestra. Porém...

    — O que houve, cara Xiaohuang?

    — Estamos no meio de um duelo. Carol Tea se candidatou para tomar o lugar de Viktorius Daiyamondo Ashem.

    — O que?

    Naquele instante Neera olhou para Viktor com bastante irritação mas, como se estivesse devolvendo a “gentileza”, o jovem a fitou com tanto ódio em seu olhar que até mesmo Xiaohuang percebeu que algo de muito estranho estava acontecendo.

    — *O olhar desses dois... É como se eles fossem matar um ao outro... Essa tensão... Esse silêncio... Eles parecem ser rivais ou... na pior das hipóteses, inimigos. Um deles fará algo, estou certa disso... Parecem que já estão travando uma luta, por estarem assim tão cheios de... fúria!*

    Mas frustrando os pensamentos de Xiaohuang pela metade, Viktor apoiou Aak em seu ombro, caminhando para a direção onde o felino havia apontado mais cedo. O jovem então começou a caminhar, ignorando totalmente Neera, permanecendo calado até que saísse do salão. Carol mesmo estranhou isso:

    — Vik?! Cara, tá indo pra onde? Piá... Oi? Aí... Qual foi?!

    Mas Neera logo jogou a real:

    — Deixe-o, Carol.

    — Hã? Mas Neera...

    — Como você é uma idiota, agora tem mais do que se preocupar.

    — Aí, eu tô mesmo preocupada com o piá!

    — Viemos aqui por outro motivo... Mas agora você tem que cumprir com o que tratou!

    — Ah tá... O duelo, né? Melhor agora, então!

    Xiaohuang, caminhando até Neera, entendeu mesmo que o assunto entre os dois era verdadeiro. Tanto que ela logo disse:

    — Esse stranger... Ele lhe causou algum mal?

    — Cara Xiaohuang, devo mesmo lhe pedir para que não se meta nisso.

    — Vocês dois trocaram olhares...

    — Eu insisto... Esse assunto acabou!

    — Como desejar, mestra Neera.

    — Agradeço a compreensão – Disse, se colocando em pensamentos – *Hm... Então era disso que Carol estava preocupada. Mesmo assim... Mesmo com essa afronta dele... isso não é problema meu*

    Segurando com força seu cetro, sua irritação era visível, pois Carol conseguiu perceber o quanto ela estava inquieta.

    — *Agora tu viu, né pandurona? O Vik tá fulo da vida contigo... Eu mesma pensei que o cara ia pular e te dar um dos socos patenteados dele, mas tô ligada que ele aprendeu a lição. Mas tu fica na atividade, porque tu quase destruiu o cara...*

    O clima estava tenso, com as três deixando as dependências do Sallo Temple e seguindo para um outro lugar.

    Enquanto isso...

    Sallo Temple | Salão principal

    Com os internos do orfanato reunidos no grande salão, enquanto alguns conversavam outros brincavam entre si enquanto Lilac dialogava com Brendan e Bonnie.

    — Então a polícia está investigando na região sobre integrantes da The Red Scarves estarem a espreita... Curioso isso – Disse Brendan.

    — Exato! E devemos fazer essa investigação sem levantar suspeitas. Então, pessoal... Não digam nada a ninguém!

    — Claro que não, Lilac! – Disse Bonnie – Não queremos atrapalhar o que estão fazendo pra proteger nossa cidade.

    Porém a conversa é interrompida pois Viktor entrou ao salão carregando Aak, o que logo chamou a atenção de todos, inclusive Lilac:

    — Viktor?! Mas o que...

    — Rápido, me ajudem com ele!

    — Aak... Mas o que houve com ele?! – Disse Brendan, o ajudando a se sentar.

    — Uma monge maluca sem noção falou coisas pra ele... – Disse Viktor, irritado.

    A dragão logo percebeu o semblante nada amigável do seu amigo. E isso fez com que ela se manifestasse:

    — Viktor, o que houve?

    — Eu acabei de dizer!

    — Não! Porque está assim, com esse rosto...

    — Lilac, desculpa... Eu não quero falar sobre isso...

    — O que? Viktor... Mas espere! O que você está fazendo aqui?!

    E antes que o jovem dissesse algo, Taotao logo tomou a palavra:

    — Ele está aqui por minha causa.

    — Como assim?

    — Viktor é meu funcionário. Eu o contratei pra ser meu cozinheiro!

    — Nossa, isso é ótimo! Viktor, você conseguiu! Conseguiu mesmo! – Disse Lilac, sorrindo.

    Mas mesmo a animação da dragão não foi o suficiente para levantar o astral de Viktor. E não só isso, os internos do orfanato estavam tensos pois verem seu amigo daquela forma. E Bonnie, por ouvir o que Viktor disse, falou:

    — Xiaohuang! Ela outra vez entrou aqui!

    — Hã? Quem é ela? – Perguntou Lilac.

    — A monge recém promovida do Xiaomi Temple. Ela em si é uma boa pessoa, mas...

    — Mas? Como alguém sendo uma boa pessoa pode ter “mas”?

    E Bonnie, servindo chá a Aak, diz:

    — Ela é temperamental, explosiva, provocadora, possessiva e, o pior, competitiva até dizer chega!

    — Nossa! E como é que vocês deixam ela entrar no templo a hora que quer?!

    E Brendan, categórico em suas palavras, diz:

    — Ela nos protege.

    — Hã? Protege vocês?!

    — Não a julgue mal, Lilac. Xiaohuang tem nos defendido desde que começamos a curar esse orfanato. É ela quem nos ajudou com donativos e parcerias com outros templos do reino.

    — Mas como é que uma pessoa assim vai causar isso a alguém? Olha ele... Está assustado!

    Lilac pareceu ter tocado num ponto que gerou um certo desconforto a Bonnie e Brendan. Por esse motivo, para quebrar o clima pesado que se tornou o momento, Taotao logo diz:

    — Eh... Viktor e Mu, a-acho que está na hora de vocês pegarem o resto das coisas no meio armazém... Pode ser?

    — Hã? Armazém? – Disse Viktor, surpreso.

    — Tudo bem, senhor Taotao – Disse Mu, caminhando para fora.

    Logo Viktor se apressou, seguindo em direção onde Mu caminhava, mas não sem antes Lilac dizer:

    — Viktor...

    — Hm? O que foi, Lilac? – Disse, virando para trás.

    — Eu só prevejo coisas muito boas pra você daqui pra frente. Você viu? Conseguiu um emprego! Parabéns! – Disse, esboçando seu sorriso cativante.

    Viktor até iria continuar seu caminho, como se só ouvisse as palavras e guardasse para si, mas ao ver a dragão mostrar aquele sorriso que ele adorava ver, o jovem se motivou a voltar até próximo de Lilac, a abraçando carinhosamente por um breve tempo. E ele, olhando pra seu rosto diz:

    — Obrigado, Lilac. Vindo de você significa muito...

    — Hahaha! Tudo bem, Viktor. Eu acredito no seu crescimento, tá? Então vai lá... Seu novo chefe te deu uma ordem.

    Ele então, antes de sair, apertou a mão de Lilac, sorrindo de volta. Após isso se retirou do tempo, indo se encontrar com Mu e Taotao no lado de fora. Entretanto as ações de Viktor causaram uma reação um pouco inesperada, com Bonnie dizendo:

    — Vocês são namorados?

    A dragão púrpura mudou de cor para vermelho naquele instante, com as crianças rindo em seguida de sua reação. Brendan, entendendo o “mal momento” da dragão, diz:

    — Hahaha! Lilac, fique tranquila. Minha irmã adora formar casais improváveis!

    — Ah... Que vergonha... – Disse, escondendo o rosto.

    — Esse stranger... Ele parece ser bem íntimo seu, ademais.

    — O Viktor mora com a gente faz alguns meses.

    — Como é?! – Perguntou a coelha – Mas eu imaginava que ele estivesse aqui de passagem!

    — Não... Viktor veio de um outro planeta e... Bem, os cientistas do reino não descobriram uma forma dele voltar. Aliás, não há como fazerem isso, já foi dito.

    — Então ele simplesmente está vivendo em Avalice?

    — Sim, ele está. E vamos ajudá-lo a se estabelecer aqui.

    — Lilac... – Disse Bonnie, apertando a mão da dragão – Isso que está fazendo por ele é admirável. E o que estiver a nosso alcance iremos ajudar.

    — Eu agradeço muito por isso... Todos vocês!

    Passado alguns minutos, era possível ver a melhora de Aak, estando mais calmo e tranquilo. O felino logo voltou para o interior sombrio e escuro do Sallo Temple, ficando por lá até então.

    No lado de fora do templo, Taotao dava as últimas instruções a Viktor e Mu, sobre em tem de ir até seu armazém que ficava a três quarteirões do Sallo Temple. Após a breve explicação, os dois entraram na caminhonete, conduzida por Mu, com Viktor como passageiro.

    Como vocês já devem ter percebido, o raposa feneco não tinha lá muita empatia pelo jovem humano (pra não dizer nenhuma). E isso ficou mais evidente assim que os dois partiram para o destino indicado por Taotao. O semblante nada amigável de Mu dentro do automóvel deixou isso bem claro para Viktor...

    Mas teremos que dar um tempo para essa história, pois alguém precisa (mesmo!) fazer um duelo.

    E em um outro templo no Bairro Milenar de Shang Tu...

    Xiaomi Temple | Noite

    Enraizado no ponto mais distante do Bairro Milenar, podíamos ver as construções antigas mas conservadas e sólidas do Xiaomi Temple. Com arquitetura próxima ao que conhecemos em nosso mundo como a chinesa, suas instalações eram com o predomínio da cor vermelha, com detalhes em cinza, principalmente em seu brasão, onde havia um dragão como símbolo. Logo adentro, um pátio enorme, onde servia como local de treinamento. Porém, nessa noite, havia um ringue sem cordas, onde sobre sua plataforma estava Carol (ela mesma) e, no outro lado, Xiaohuang, que era assistida por alguns de seus discípulos. No centro, e com um semblante bem insatisfeito, Neera Li parecia não estar gostando com nada daquilo, mas:

    — Eu não sei o que deu na minha cabeça... Porque eu estou fazendo isso?

    — Aí, Neera... – Disse Carol, alongando seus braços – Tô dando essa moral pro piá, então para de ficar nessa aí de “oh vida! oh azar!”...

    — Carol, eu devo mesmo ser imparcial nessa luta... Então não me faça querer o contrário!

    — Beleza, Creuza! Começa esse bagúi! Eu esperei muito tempo pra isso!

    — Gata irritante...

    No outro lado, Xiaohuang se aquecia fazendo um kati. Carol, a observando, diz:

    — Caraca... Que coisa zuada é essa que tu tá fazendo, gata? – Disse Carol.

    — Hunf! – Disse, terminando os movimentos – Uma maltrapilha indisciplinada como você nunca entendia a filosofia das artes marciais. Então é perda de tempo eu tentar te explicar!

    — Tá... Beleza. Não sei desses lances aí de “coloca casaco, tira casaco”, mas... – Disse, serrando seus punhos – Eu sei usar meus punhos tanto quanto você!

    — Sem classe, sem forma... e sem disciplina. Uma completa ignorante onde o que mais valoriza é a própria boca grande.

    — Vou te falar... Tu curte mesmo dar opinião de graça assim? Quem pediu?

    — Idiota...

    E Neera, chamando as duas para o início da luta, diz:

    — Esse duelo seguirá as regras do Exame Chiang Tao Tournament, para a demostração aos membros do Xiaomi Temple souberem o que encontrarão na competição. Então ele terá seu fim quando Xiaohuang fazer Carol desistir, nocauteá-la *o que eu gostaria muito de ver* ou jogá-la para fora da arena!

    — Opa! Pera... Peraí! Tempo! – Disse Carol, irritada.

    — O que foi, bola de pelo? – Disse Neera.

    — Que parada é essa de “quando Xiaohuang”? E se for eu que fizer isso nela?

    — Carol... Estamos falando sério, tudo bem?

    — Ei! E a sua conversa de ser imparcial?!

    — Muito bem, Carol... Me portei mal. Desculpe... Se uma de vocês desistir, ser nocauteada ou sair da arena a luta acaba. Melhorou ou quer que te coloque no lugar da Xiaohuang?

    — Não... Tá bom assim! Fechou! Começa essa bodega logo pra eu encher a cara dessa bunita aí de soco!

    — MUITO BEM! COMECEM!

    Carol já partiu com tudo, executando vários de seus chutes contra Xiaohuang, que se esquivava facilmente. Isso era visível porque a lince manteve suas mãos para trás de seu dorso o tempo inteiro enquanto dizia:

    — Chutes rápidos e poderosos... Porém nada precisos, Carol Tea.

    — Posso aumentar o nível, se quiser!

    — Faça isso... e eu tenho certeza que você vai cair!

    — É mesmo?

    Após o início com vários golpes consecutivos, Carol recuou, mudando de postura, coisa que até Neera percebeu:

    — *Hm? Ela mudou... Carol nunca foi de pensar enquanto luta... O que está acontecendo?*

    E a felina verde, saltitante frente a lince, logo diz:

    — Eu tô aqui pra dar uma moral pro Vik, então porque não usar um pouco do karatê dele?

    Isso sim foi algo que surpreendeu até Neera. E diante o olhar pasmo da panda, Xiaohuang diz:

    — Hm? Karatê... O que é isso?

    — Vitin trouxe do seu mundo. Eficaz e bem badass... O cara poderia te vencer com os dentes! E eu vou usar um pouco disso em você!

    — Interessante... Finalmente algo me animou nessa luta... VENHA!

    — LET’S GO! – Disse, correndo em direção a Xiaohuang.

    Embora a investida de Carol fosse um movimento esperado pela lince, a felina surpreendeu, parando a sua frente, com umas base de luta parecida com a de Viktor: imitando sua estratégia do torneio TORMENTA, Carol levou uma de suas mãos a frente e a outra a manteve um pouco sobre sua barriga, dizendo:

    — Deai!

    — Deai?! Mas... – Disse a lince, confusa – Mas o que é isso?

    — Vai... Dá um passo pra frente que tu vai saber!

    Neera estava mesmo pasma, olhando Carol imitar quase com exatidão uma das técnicas de Viktor:

    — *Eu vi a luta de Viktor contra Sheng Daiyamondo... Ele a usou e obteve uma virada na luta... E Carol agora a está usando? Mas... Porque? Carol luta bem, embora sua falta de disciplina coloque tudo a perder... Mas imitar os movimentos dele... Ela está me provocando?!*

    E a felina, estando a frente de Xiaohuang, somente a aguardava. Os mínimos movimentos que a monge executava não tiravam a concentração de Carol, que pensou:

    — *Cara, como eu queria ter visto a luta do piá contra o fofin do Sheng no TORMENTA... Eu ia ficar mó animada, incentivando o Vik sem parar! E tipo, essa base dele é muito badass, fala sério! Pena que eu só pude ver os vídeos. Que bom que a Arthemis me mostrou tudo em realidade virtual. Pude ver todos os detalhes!*

    E até a lince se colocou em pensamentos, já que Carol estava mesmo a incomodando com sua mudança de atitude:

    — *Que base de luta é essa?! Sei de todos os katis, mas nunca vi uma união de ataque e defesa assim. Geralmente um lutador fica nesse estado em uma distância maior, mas ela está a menos de um metro de mim. Eu poderia facilmente atingí-la, mas... PORQUE ESTOU ME SENTINDO PRESSIONADA?!*

    Os demais alunos de Xiaohuang assistiam apreensivos sua mestra lutar. A lince tentava investir contra Carol, mas no meio de seu movimento o anulava, prevendo uma recepção nada agradável por parte da gata selvagem, que se mantinha como Viktor, parada e calma. Isso estava incomodando Xiaohuang, que diz:

    — PORQUE NÃO ME ATACA?

    — Tá nervosa? Toma xazin de camomila, boba! E então... Vai ficar aí acuada? Vamo! Mostra essa sua valentia aí... Mostra a mamona! E então... Vamo, feiosa!

    — O QUE?! COMO VOCÊ OUSA EM ME PROVOCAR NA FRENTE DE MEUS ALUNOS?

    Irritada pela audácia de Carol em a desafiar, Xiaohuang partiu para cima da felina, executando um soco certeiro pra frente, tentando acertar Carol em seu rosto. Porém, como já sabemos por Viktor, sua técnica Deai consiste em acertar seu adversário antes de ser atingido... Pois bem: Carol acertou um poderoso soco na barriga de Xiaohuang em cheio, a suspendendo ao ar e a arremessando para longe no ringue, a fazendo rolar por sobre o tatame e quase a fazendo cair da plataforma. E Carol, com seu punho ainda a frente de seu rosto, diz:

    — Taí, Vik... Essa foi por você, cara!

    A lince, sentindo dores no local atingido, se levantava com dificuldades, dizendo:

    — Essa técnica... Ela é magnífica... *Um golpe destruidor a curta distância que usa a própria inércia do adversário para aumentar o dano se antecipando ao golpe do oponente? Isso é genial demais! Isso é quase como minha arte marcial! Eu... Eu estou curiosa! Eu preciso saber mais!*

    — Gostou, né? Haha! Vai... Levanta! Tem muito mais de onde veio!

    Neera estava incrédula, perante o sucesso do golpe de Carol. Tanto que o olhar dela, contrastando entre surpresa e vislumbre, se colocou em pensamentos:

    — *Ela... Ela a atingiu... com a técnica do Viktor?! Não... Isso é impossível... Não pode ser... Carol Tea se disciplinando? Xiaohuang... Você nunca viu uma técnica assim e não acreditou na esperteza da gata desordeira... E se Carol acertou esse golpe, é porque...*

    Se restabelecendo e limpando sua vestimenta, Xiaohuang olhou para seus alunos, que estavam mostrando um pouco de preocupação. Ela, se colocando em base de luta, diz:

    — Eu a subestimei.

    — Como?

    — Devo mostrar a meus alunos humildade em reconhecer que a subestimei. E quanto a isso, lhe devo desculpas.

    — Olha... Calma lá, fera. Só tamo lutando!

    — Não... É um duelo. Eu agora entendi o que significa pra você.

    — É mermo? Poxa, valeu aí! O Vitin vai gostar de saber...

    — Só que agora eu vou te mostrar o que significa pra mim!

    Xiaohuang se concentrou em seguida, com pequenas brisas movimentando sua vestimenta. Nesse instante Carol percebeu que:

    — Carai... Lá vem o especial da bunita... Ou ela vai fazer propaganda de celular.

    — Liberação dos seis caminhos do Xiaomi Kung Fu: Six Harmonies.

    Xiaohuang foi em direção a Carol... mas caminhando, o que surpreendeu a gata selvagem. Ela, aguardando uma ação por parte da lince, voltou a sua base tradicional, com suas garras a frente. Mas ao último piscar de olhos da gata, Xiaohuang apareceu a sua frente, dizendo:

    — Banji! (Gatilho, em chinês)

    — O que...

    Um forte soco atingiu Carol em seu rosto, tirando um pouco de sua atenção. O golpe não foi forte, mas trouxe tontura a Carol. Mas a lince não terminou:

    — Xuanzhuan yu shijue! (Giro e visão)

    Executando um salto, a lince começou a rodopiar em torno de si mesma, formando um turbilhão. A ventania começou a levantar uma grande quantidade de poeira que atrapalhou ainda mais Carol em enxergar.

    E a lince investiu contra a felina, dizendo:

    — Cong zhongjian kaishi daojieshu! (Começo, meio e fim)

    Xiaohuang aterrissou, atingindo Carol com uma forte ventania, que a envolveu e a levantou do solo, mantendo-a suspensa. A gata não conseguia se mover e nem em se defender enquanto a lince, com seus olhos iluminados com uma luz branca reluzente executou um golpe poderosíssimo com a palma de uma de suas mãos, atingindo Carol em sua barriga e a jogando para longe. A gata selvagem, que até então estava com vantagens, foi jogada para fora da arena, o que fez Neera Li dizer:

    — Carol foi jogada para fora da arena. Xiaohuang é a vencedora do duelo!

    Salvas de palmas coroaram a vitória esperada por Xiaohuang, trazendo conforto e satisfação a seus alunos. A monge, ainda com seu olhar sério, caminhou então em direção a Carol. E falando na gata verde, ela estava caída de braços abertos, se lamentando por ter perdido:

    — Ah... Fala sério, narrador! Não seria mais fácil tu dizer que “por causa do script a Carol perdeu a luta”? Eu tava indo bem... Mó injustiça! Quero eleição! Por isso que eu não jogo Uncharted!

    Mas Xiaohuang, que já estava a frente de Carol, ainda caída, teve uma atitude inesperada pela gata selvagem: ela estendeu sua mão, onde a felina aceitou a ajuda. E já de pé, ela diz:

    — Caraca... Porque tu me ajudou?

    — Você lutou de forma honrada. Eu não poderia ter outra postura que não essa.

    — Hã? Mas porque? Tipo, eu até te zuei, mina!

    — Provocações fazem parte da luta. E além disso, teve consideração por seu amigo.

    — Hã? Amigo?

    — Viktorius Daiyamondo Ashem, vulgo Viktor.

    — Ah o Vik? Mas pera... Ele é meu n... *CARACA! PARA COM ISSO, ESCRITOR!*... meu nobre cozinheiro! E amigo! AMIGO!

    Ao fim, Xiaohuang reverebciou Carol, que curiosamente fez o mesmo. Diante a consideração da monge, a felina disse:

    — Até que tu é gente fina... Taí, gostei.

    — Hm... É o minino depois do belo golpe que me atingiu.

    — Ah... Verdade. Tipo, era o Vik que tinha que fazer isso pra você sentir na pele o que é o karatê dele.

    — Karatê... Hm... Eu nunca havia visto nada parecido em Avalice.

    E Neera, com seu cetro em mãos, logo disse:

    — Satisfeita, Carol? Mais uma derrota para seu currículo... Como sempre.

    — Então é isso... Cabou o duelo então cabou a imparcialidade. Legal! Show! Só que não!

    — Você perdeu! Então agora voltemos a programação normal. Vá ajudar Lilac!

    — Ih qual foi?! Porque?

    — Porque é uma ordem! Ou você não quer mais ganhar as gemas?

    — Ah... Golpe baixo, Neera!

    — Carol... Não teste minha paciência! Vá logo! Lilac ainda deve estar no Sallo Temple.

    — Tá, valeu... Mas vai ter volta...

    — Como é?! Você disse alguma coisa? – Disse, fazendo manifestar seus poderes de gelo.

    — Nada não... Só pensando alto... Bye, pandinha puliça!

    — VÁ LOGO!

    Prontamente após Carol sair correndo pelo pátio com destino ao Sallo Temple, Neera Li se virou para Xiaohuang, dizendo:

    — Antes que conversemos, tenho uma pergunta...

    — O que, cara mestra Neera Li?

    — O que significava para você esse duelo?

    — Hm... No início foi para lutar contra um mestre...

    — Um mestre? *Você deve estar de brincadeira, Xiaohuang...*

    — Porém eu mudei meu foco no momento que Carol me acertou aquele golpe.

    — Como assim, poderia me dizer?

    — A soberania do Xiaomi Temple estava em jogo naquele instante. Minha doutrina sempre busca a vitória. Não poderia perder esse duelo na frente de meus alunos e tampouco em meu próprio templo. No fim, o significado foi... agradecimento.

    — Agradecimento?

    — Valorizamos outras virtudes, como o companheirismo... e Carol mostrou isso. Minha filosofia envolve acontecimentos fora desse templo também... porque não estamos sozinhos. Minha doutrina é plena, mas não a única válida.

    — Cara Xiaohuang... Eu a saúdo por sua humildade – Disse Neera, a saudando.

    — Lisonjeada, cara mestra Neera – Disse, reverenciando a panda.

    — Bem, vamos conversar...

    E logo as duas começaram a caminhar em direção as dependências do Xiaomi Temple, mas Xiaohuang ficou com algo perdurando em sua cabeça:

    — *Karatê... Carol Tea disse que essa é a arte marcial do Daiyamondo stranger... Esse caminho, eu quero conhecer mais...*

    Pelo visto a lince ficou curiosa pela demostração de poder do karatê de Carol... Ou seria do Viktor?

    Enquanto isso...

    Shenlin Park’s Street | Noite adentro

    Trafegando dentro do limite da velocidade, a caminhonete que levava Viktor e Mu era praticamente algo próximo de uma biblioteca. O porquê disso? Noah diria que o clima seria esse, já que os dois não conversavam, principalmente por parte do raposa feneco. Mas o humano, cansado do silêncio, logo disse:

    — Mu...

    — Hm?

    — Posso lhe fazer uma pergunta?

    — Não!

    — Ah... Cara, qual é o seu problema?

    — Era essa a pergunta?

    — Não!

    — Vou deixar bem claro, stranger: eu não quero papo com você!

    — Porque? O que eu te fiz?

    — Você existe! E por onde você anda pelo visto só traz problema!

    — Porque está dizendo isso?

    — Você foi surrado pela Neera no torneio de artes marciais, foi surrado e venceu na sorte no torneio TORMENTA, envolveu o Aak em uma confusão... O que mais virá?

    — Você é a primeira pessoa que me diz isso, sabia?

    — Claro. Lilac deve passar pano pra todas as besteiras que você fez até hoje!

    — Para com isso, hein! Chega!

    — Ah como quiser... Só fica de boca fechada!

    — Ok, mas posso pelo menos fazer minha pergunta?

    — Promete ficar quieto depois?

    — Sim. Eu prometo.

    — Muito bem. Faça.

    — Porque o Aak estava daquela forma?

    — Porque você fez isso!

    — Eu?! Está louco? Eu o ajudei! Aquela monge maluca que veio do nada e começou a falar coisas horríveis pra ele!

    — Fica longe dela! E foi por sua causa que isso aconteceu! Está vendo, hã? Você é um pé no saco!

    — Ei, calma aí! Não tenho que te ouvir dizendo isso!

    — É, pelo visto ninguém te diz verdades! Caia na real... Você deve sua vida a Lilac e está pagando por isso! Assuma!

    — Mu, não se meta na minha vida!

    — Então não se meta na minha!

    — Ótimo!

    — Grazzie!

    Bem, podemos ver que a interação entre os dois está sendo a pior possível. Por sorte, a caminhonete se aproximava do armazém. E logo depois Mu estacionou o veículo, o manobrando em uma das vielas onde estava o lugar marcado...

    Enquanto isso...

    Xiaomi Temple | Noite (mais) adentro

    Sentadas em uma sala aconchegante e bem iluminada do famosíssimo e milenar templo, Neera e Xiaohuang eram servidas por uma das curadoras do templo. Regadas a uma rodada de chá, as duas conversavam, com Neera dizendo:

    — Estamos investigando pela redondeza intrusões de membros da The Red Scarves. Sash Lilac e Carol Tea estão auxiliando a polícia...

    — Hm... E creio que quer minha ajuda.

    — Sim. Sua cooperação seria muito bem vinda.

    — E a terá.

    — Agradeço imensamente.

    — Ora, é uma honra servir ao reino. Minha família sempre o fez r não seria agora que faria diferente.

    — É de muito bom agrado, cara Xiaohuang.

    Um intervalo entre a conversa ocorreu, com Neera saboreando o chá servido. Mas a lince logo abriu um assunto que talvez vocês já estejam esperando:

    — Viktorius Daiyamondo Ashem.

    — Hm? O que foi, cara Xiaohuang?

    — A quanto tempo ele está em Shang Tu?

    — Se me permite fazer uma pergunta sobre sua pergunta, porque quer saber sobre ele?

    — Esse stranger atiçou minha curiosidade...

    — De que forma?

    — Karatê... Foi isso que Carol Tea disse sobre sua arte marcial.

    — Ah... Compreendendo – Disse, tomando um gole do chá e dizendo em seguida – Não vale a pena.

    — E porque essa certeza?

    — Eu já o testei... da forma mais dolorida possível... e que irá guardar para o resto de sua vida... seja aqui em Avalice ou de onde ele não deveria ter saído.

    — Hunf... – Disse, fechando os olhos – Então foi isso...

    — O que? Hm?

    — O olhar que ele fez contra você lá no Sallo Temple...

    — O que tem?

    — Aquilo não era um olhar de rancor, tampouco de medo ou coisa do tipo.

    — Não sabia que você tinha essa habilidade de analisar olhares.

    — Nós do Xiaomi Temple temos muitas habilidades... E a propósito, quer saber o que eu achei daquele olhar do stranger?

    — Vá em frente...

    Xiaohuang olhou fixamente para Neera quando resolveu dizer sua análise. E diante o agradabilíssimo momento onde as duas conversavam, a lince lhe disse o que estava curiosa em saber, ela disse:

    — Te derrotar.

    — O que? Hahaha! Cara Xiaohuang, eu gosto de sua presença por você ter senso de humor.

    — Agradeço pelo elogio. Entretanto é a minha análise.

    — Viktor não tem habilidades especiais.

    — O que? Ele? Impossível!

    — Qual ser sem nirvana pode manifestar Chi, cara Xiaohuang?

    — Nenhum.

    — Viktor faz parte dessa turma do “nenhum”. No máximo ele tem um Feng Shui... *O imbecil ao menos tem resistência...* Mas o resto é desprezível.

    — Hm... Ele tem fibra.

    — Isso sim ele tem...

    — Me diga: você citou que o derrotou em combate...

    — No torneio de artes marciais de Shang Tu... *Nem eu irei dizer sobre o duelo que tivemos... É o máximo que irei fazer por você, Viktor...*

    — Eu não fiquei sabendo isso. Soube que você lutou, mas não contra ele!

    — O idiota usou um apelido. Triste...

    — Porque?

    — Eu acabei com seu espírito de lutador. Então melhor nem pensar em querer desafiá-lo... *E eu ainda tenho que protegê-lo disso, para você ver o quão patético você é, Viktor...*

    Embora Neera tivesse feito todo um esforço para “proteger” Viktor, Xiaohuang não parecia concordar e não aceitou os argumentos da panda. E ela mesma pensou:

    — *Não acredito nisso. Carol Tea aplicou aquele golpe... e não parecia uma técnica medíocre como mestra Neera disse do stranger. Eu estou curiosa... Viktorius Daiyamondo Ashem... Eu preciso lutar contra você e descobrir mais de sua técnica. Karatê... Essa arte marcial... Eu preciso mesmo conhecê-la!*

    E voltando a Shenlin Park’s Street...

    Já com a caminhonete abastecida com os pedidos de Taotao pra Mu e Viktor levarem mantimentos para o restaurante, a conversa entre os dois seguia do mesmo jeito:

    — ... e eu estou aqui em Avalice depois disso que eu te disse.

    — Onde você não entendeu que eu não quero conversa? Cara, você contou o porquê de você está aqui sem eu me importar...

    — Porque talvez você mostrasse um pouco de respeito por eu ser um estranho!

    — Não precisa dizer duas vezes, stranger! É por isso que nós damos esse nome a pessoas como você!

    — Então é uma ofensa?!

    — Oh nossa! Olha a descoberta impressionante do stranger! Xexéu!

    — Porque você é tão chato? Para com isso!

    — Eu chato? Foi você que continuou falando! Uma simples promessa de ficar de boca fechada e você não conseguiu cumprir!

    — Então você quer que eu fique calado? Vou te dar um recado: impossível! Taotao é nosso chefe!

    — Não! O senhor Taotao é SEU CHEFE! Eu sou livre pra fazer o que quiser, entendeu?

    — Hã? Mas... Como assim, cara? Você faz as coisas de graça?

    — Nada é de graça! Olha... Eu não quero contar pra você nada da minha vida! Cuide da sua!

    — Mu, eu não sou assim... Eu não dou as costas pra ninguém.

    — Ah legal... Agora o stranger tá com pena de mim. “Oh! O que vou fazer da minha vida? Sou um pobre coitado que não sabe viver sozinho...” APRENDE A VIVER, STRANGER FRACASSADO!

    — NÃO GRITE COMIGO!

    — GRITO SIM! TROUXA!

    — MU, VOCÊ ESTÁ ME TIRANDO A PACIÊNCIA!

    — BELEZA! ERA O QUE EU QUERIA!

    Viktor estava muito mais irritado que de costume. Ele até mesmo serrou os punhos, mas após isso talvez um pouco de razão tomou sua mente, recuando numa possível agressão ao raposa feneco. Respirando fundo, ele então diz:

    — Quer saber... Você está certo.

    — Claro que estou... Você é um idiota fracassado convicto ao menos.

    — Sou sim... Obrigado, Mu.

    — De nada! Agora fica de boca fechada e vamos embora!

    Mas porque Viktor recuou? Porque aceitou a afronta de Mu? Seja o que for, isso encerrou a discussão, o que trouxe uma calmaria ao lugar, com o raposa feneco ficando mais tranquilo.

    E então depois de encherem a caçamba da caminhonete com os produtos, seguiram então para dentro do veículo. Entretanto, ao olhar para uma viela ao fundo de onde estavam, Viktor notou algo familiar: um vulto, uma silhueta de...

    — ... ninjas da The Red Scarves?!

    — Hm?! O que foi, idiota?

    — Eu vi ninjas da The Red Scarves, Mu!

    — Tá legal... Mais um motivo pra irmos embora!

    — Não... Temos que ter certeza que eram mesmo!

    — O que? Cara, você tá maluco!

    — Posso até estar, mas... Mu, se forem mesmo... Temos que investigar!

    — Ei, peraí... Porque temos? Cara, se você tá nessa neura ridícula aí, então porque não chama a polícia?

    — Se forem membros da The Red Scarves, então não podemos perder tempo pra saber o que estão planejando! – Disse, saindo do veículo.

    — Ei! Volta cá pra dentro, cara! Tu perdeu o juízo?!

    Viktor ignorou o pedido do raposa, indo até o beco onde supostamente avistou os ninjas. Sozinho, caminhou com cuidado pelas sombras, tentando achar o rastro dos membros da The Red Scarves que chamou sua atenção... Mas eram mesmo? Bem, era isso que o jovem humano decidiu para si a responsabilidade de tirar a prova.

    Logo Viktor chegou até um galpão abandonado, onde haviam alguns indivíduos encapuzados com roupas pretas e... vermelhas! Viktor estava certo em sua suspeita! E ele, mantendo o silêncio e mostrando surpresa em seu olhar, pensou:

    — *Nossa! Eles são... SÃO NINJAS DA THE RED SCARVES!*

    Mas, para mais sua surpresa, eis que Mu apareceu e, falando alto e estando um pouco ofegante, diz:

    — Ah... CARA, QUAL É A SUA?!

    — Mu?! Cara, fala baixo!

    — BAIXO! TÁ SATISFEITO! Eu não sei o que você tá querendo arrumar, mas...

    Não houve muito o que ser feito após isso. Viktor voltou a olhar para onde estavam os ninjas e perceber que lá não estavam mais, para sua irritação ser imediata:

    — Mu, olha o que você fez!

    — Eu não fiz nada! Você quem está agindo feito um lunático!

    — Os ninjas estavam lá!

    — Não tem ninja nenhum aí! Cara, vamos voltar... – Disse, puxando Viktor pelo braço – E pode ter certeza que eu vou falar isso para o senhor Taotao!

    — Ei, me solta!

    Entretanto...

    — AÍ, VOCÊS!

    Os dois olharam para trás, avistando três felinos com pelugem preta se aproximando da dupla... E Mu sabia mesmo de quem eram:

    — Ah meleca...

    — Hã? Quem são eles?

    — Conseguiu de novo, Viktor!

    — O que?!

    — Problemas novamente! Esses caras são da Shu Gang!

    E os capangas da gangue ao qual Mu disse não ficou calado:

    — Olha só... Se não é o Mu... O que facilita as coisas.

    — Hã? Eles te conhecem? – Disse Viktor, surpreso.

    — Fica calado, stranger! – Disse o feneco.

    — Já sabe as regras, Mu... – Disse o capanga – É só pagar o pedágio e pode meter o pé inteiro!

    — Pedágio? Mu, esses caras cobram pra andar por aqui?

    — Fica quieto, Viktor! – Disse Mu, colocando uma das mãos no bolso – Tome aq... Ah não!

    — O que foi? – Disse Viktor.

    — Eu não peguei o meu pagamento com o senhor Taotao! Viktor, paga pra ele!

    — Pagar? Está louco? Eu não tenho dinheiro algum comigo!

    — O que?! Como é que você anda pela cidade sem gemas?!

    — E porque você acha que eu arrumei um emprego?

    — Ah não... Não!

    E com os três mostrando insatisfação, o líder do trio continuou:

    — Mu, você sabe das regras... Se não tem money, então tem duas alternativas: ou faz um favorzinho pra gente ou...

    — Ou o que? – Disse Viktor, tomando a frente.

    — ... terá de lutar por sua vi... – Disse, se intrometendo – Espera... Eu já te vi antes... VOCÊ É O STRANGER QUE DEITOU A GENTE DE PORRADA A UM TEMPO ATRÁS! (No capítulo “Conhecendo a cidade de Shang Tu”)

    E Mu novamente deu o seu cartão de visitas:

    — Ah sim... Como se já não tivéssemos problemas o suficiente, não é Viktor? Antes era melhor lutar pela vida... Agora é revanche deles!

    — Porque você sempre fica pensando só o pior?

    — Porque você é o pior Idiota!

    Cansados e impacientes, os arruaceiros já ficaram em base de luta, com o líder dizendo:

    — Então vai ser isso mesmo. A gente vai surrar vocês e ir a forra com você, stranger!

    Mu logo ficou temeroso com o que era impossível evitar. Mas mostrando confiança, Viktor tomou a frente da situação, estalando seu pescoço e serrando seus punhos em seguida, dizendo:

    — Vocês deveriam ter evitado isso... Hoje eu estou de muito mal humor e... Meu estilo Kyokushin... ESTÁ EXPLODINDO! – Disse, se colocando em base de luta.

    Music: “Tusk” by Yakuza Zero OST

    Shenlin Park’s Street – Like Yakuza 0

    Mission START

    Com a investida de um deles, Viktor logo lhe dá as boas vindas: um incrível soco acerta a barriga do felino agressor, com o jovem completando com um chute. A força era muito maior que de costume, o que mostra que o jovem estava mesmo irritado. Vendo seu companheiro no chão, os outros dois atacaram com socos e chutes, sendo aparados pelo carateca com seus próprios braços e mãos... com brutalidade inclusive! A própria defesa de Viktor já os havia causado danos. Mas o humano estava cheio de irá, chutando o rosto de um deles, pegando impulso e executando um chute giratório no terceiro. Os dois foram ao chão, quase desacordados, para espanto de Mu:

    — *Ele... Ele detonou com eles! Esse stranger... Ele é forte! Ele deitou três deles sozinho?!*

    Mas não era temos para comemorações: logo mais três capangas apareceram correndo em direção aos dois, com Viktor os aguardando. Mas não terminou por aí: vinham então mais três, totalizando seis capangas raivosos seguindo em direção aos dois. Viktor, sabendo da iminente luta, diz ao raposa feneco:

    — Vem, Mu!

    — Hã? O que?!

    — Nós dois conseguimos derrotá-los se unirmos nossas forças!

    — Nossas forças?!

    — Sim! No calor da batalha, mesmo com nossas diferenças, podemos encontrar forças na... Hã?!

    Mas porque Viktor parou de falar? Simples: o feneco adruptamente correu para se salvar, deixando o humano a sua própria sorte, com ele dizendo:

    — Cara, pra onde você vai?!

    — Meter o pé daqui! Você é maluco em pensar que eu vou lutar! Boa sorte!

    — Mas... Espera!

    Encarar seis ao mesmo tempo pelo visto era um desafio a Viktor. Pelo menos ele tem noção do ridículo.

    Os dois então passaram a correr juntos pelas vielas escuras do quarteirão cheio de armazéns fechados e abandonados, com corredores formado por grades de ferro e correntes de aço. Uma apreensão tomou o momento, com Viktor dizendo:

    — Mu, você conhece esse lugar?

    — Um pouco... Caraca, Viktor... O que você for arrumar!

    — Eu?! Os caras queriam extorquir a gente e você ia aceitar!

    — É, mas veja agora! Se essa gente pegar a gente vamos virar notícia de jornal... no obituário!

    — Sério que eles fariam isso?!

    — Sério que você é tão inocente?

    E surpreendendo a todos, uma das grades se arrebentou, aparecendo mais quatro felinos membros da Shu Gang, já investindo contra Mu e Viktor. O raposa feneco, sendo perseguido por um dos felinos, foi salvo por Viktor, que novamente chutou com bastante força o capanga, o que fez com que fosse arremessado contra um outro, com os dois indo ao chão.

    — Mu, qual é a sua?!

    — Qual é a minha? EU NÃO SEI LUTAR!

    — COMO É? – Disse, tomando um soco no rosto.

    A desatenção acabou levando o humano ao chão, onde todos os quatro começaram a pisotear Viktor que, ainda mais furioso, executou um golpe inédito:

    — SCREW UPPERCUT!

    Executando um rodopio ainda no chão em torno de seu próprio corpo, o jovem desestabilizou o equilíbrio de casa um dos quatro, executando um destruidor gancho em um dos seus agressores, que foi arremessado pra cima. Viktor então o pegou no alto e o jogou contra um segundo, evitando seu ataque contra o jovem. Com dois ainda de pé, Viktor executou uma combinação de socos e chutes, com os golpes sendo coordenados de tal forma que os atingiu em sequência, os derrubando. Mu ficou bastante impressionado com as habilidades do jovem.

    — Cara, onde você aprendeu a lutar assim?!

    — Pra onde, Mu? Pra onde devemos ir?

    — Ah... Por aqui! Rápido!

    Voltandoa correrem, o feneco guiou o jovem pelas vielas que parecia conhecer. Após um tempo correndo por suas vidas, logo chegaram a uma grade que estava trancada. Logo o raposa disse:

    — Cara, isso não tava aqui ontem!

    — O que? Abre isso! Vai logo!

    — Como você quer que eu abra isso?

    Pra quê Mu foi dizer isso? Após suas palavras, mais quatro capangas apareceram do nada, no pequeno espaço que havia no lugar. Porém esses já estavam armados com pedaços de pau... e um deles segurava um pé de cabra!

    Sem perder tempo, Viktor se viu obrigado a ir em direção aos arruaceiros, partindo novamente para a luta. Evitando dos golpes violentos com maestria (e muita sorte!), o intuito do jovem era chegar até o pé de cabra, golpeando seus inimigos com o que tinha no momento: socos combinados, com esquivas coordenadas com cara ataque que recebia, chutes para desequilibrar e fintas de corpo para efetuar manobras... Parecia que o jovem humano sabia mesmo o que estava fazendo. E enfim ele conseguiu desmarcar e pegar o pé de cabras, jogando para Mu.

    — VAI, MU! ABRE LOGO ISSO!

    — TÁ! *A gente vai morrer... Esse cara é maluco, mas é a única coisa que temos!*

    O combate de Viktor seguia feroz e com muitas dificuldades, com o cansaço sendo o principal obstáculo, enquanto o raposa forçava o cadeado para abrir a grade. E para piorar, os demais capangas da gangue estavam se aproximando: eram mais dez sedentos por sangue de um raposa feneco e de um humano!

    Logo finalmente, depois de tanto insistir, Mu conseguiu destravar o cadeado, mas:

    — DROGA!

    — O QUE FOI, MU?

    — A DROGA DA PORTA EMPERROU! EU NÃO CONSIGO EMPURRAR!

    — AH DROGA... SAI DA FRENTE!

    Viktor precisou pensar rápido e, quase esgotado de tanto lutar, executou um chute circular, que atingiu ao rosto de três ao mesmo tempo e, aplicando uma chave de braço no quarto, o levou correndo em direção a grade, com Mu somente observando com um olhar bastante assustado, vendo Viktor arremessar o capanga contra a estrutura metálica, a abrindo em seguida.

    — Caraca, Viktor...

    — PRA ONDE, MU?!

    — EM FRENTE! VAMOS!

    Antes de saírem correndo, Viktor pegou o pé de cabra, travando a grade em seguida. Isso faz com que seus perseguidores ficarem presos no outro lado, facilitando sua fuga. Os dois então conseguem escapar, chegando em um pátio deteriorado, com muita poeira e terra tomando conta do lugar. Mas assim que esbocaram alívio, eis que duas correntes foram arremessadas para cada um dos braços de Mu, o puxando para trás. Eram membros da Shu Gang, que prenderam o raposa feneco. Visando ajudar o jovem raposa, Viktor iria correr em seu auxílio, mas uma voz grossa é ouvida no ambiente.

    — Verme...

    — Hã? – Disse, se virando.

    — Pensei que nunca mais iria te encontrar, stranger desgraçado... Aliás, me agradaria mais encontrar Sash Lilac pela humilhação que tive, mas...

    Logo uma figura conhecida reaparece para Viktor. Tratava-se de Yan Shu, o líder da gangue. Ele, trajado com uma vestimenta oriental, vestindo uma calça vermelha e uma blusa preta, logo completou:

    — ... você já me é satisfatório! Hahaha!

    — Eu... Eu lembro de você! Roubou um dos resquícios da Jóia do Reino!

    — Que perspicaz. Notei que você ficou mais forte, stranger... O que é uma sorte sua.

    — Porque está fazendo isso? Não queremos problemas! Só estávamos...

    — Cale-se! Não vê que tenho seu amigo como refém?

    — O que quer dizer com isso?

    — Vou dizer perfeitamente o que vai acontecer aqui: eu irei te surrar até eu me sentir bem... E você vai se deixar ser surrado, sem fugir, sem tentar salvar seu amigo... Vai ficar parado pra que eu te use como um... – Disse, correndo em direção a Viktor em seguida.

    E com isso, Yan Shu golpeou Viktor em seu rosto com muita força, o fazendo ir para trás, com o grande felino dizendo:

    — ... SACO DE PANCADAS! YAHH!

    Levantando com dificuldades, o jovem já estava com um sangramento em seu rosto, mas Yan Shu não estava para brincadeiras: ele fez exatamente o que disse, esmurrando o jovem com socos e chutes em seu rosto, dorso e barriga, infligindo vários danos ao corpo de Viktor, que os recebia de pé, gritando de dor. Mu via tudo aquilo aterrorizado, gritando:

    — PARA, YAN SHU! VOCÊ VAI MATÁ-LO ASSIM!

    — Uh... Mu Matsu Zawa... Haha! Esse nome é patético, perfeito pra você!

    — Para, Yan Shu! Eu te pago outro dia o que você quiser!

    — Pagar? Caro feneco, isso que estou fazendo não tem preço...

    — Ele não tem como se defender!

    — Ah não? Os meus capangas não tem essa mesma opinião... E eu tenho assuntos pendentes com esse justiceiro da Lilac!

    — Viktor não tem nirvana! Ele não... – Disse, sabendo que falou demais – Essa não...

    — Essa sim! Então nosso amigo stranger aqui não tem nirvana? Hahaha! Isso é ótimo! Sabem porque? Observe, Viktotário!

    Yan Shu começou então a manifestar seu poder, com uma aura escura circundando seu corpo. Logo ele diz:

    — Estamos diante uma experiência. O que aconteceria se eu usasse todo meu poder contra um ser sem nirvana?

    — O que? Não, você não está pensando em fazer isso... – Disse Mu, tendo sua cabeça tampada por uma máscara – Ei, tirem isso de mim!

    Viktor estava em maus lençóis. Muito ferido e sentindo muitas dores, estava enfrentando um inimigo forte e, para piorar, com habilidades especiais. E o que o deixou mais temeroso: tudo aquilo era real, sem regras, o que fatalmente lhe traria grandes danos.

    — Então, stranger... HORA DA EXPERIÊNCIA! YAHH!

    Yan Shu começou a correr em direção a um jovem ferido, prestes a ser acertado sem pena. Sentindo fortes dores, ele só se colocou em pensamentos:

    — *Mu estava certo. Eu sou um idiota fracassado. E Lilac também. Avalice é um lugar perigoso. E ela... Aquela panda... Ela me trouxe essa sensação... Essa sensação de ser incapaz de me defender... O que fazer? MESTRE! O que... O QUE DEVO FAZER?!*

    E com o felino se aproximando com seu soco concentrado, o desespero voltou a mente de Viktor. O mesmo sentimento estava de volta, mas dessa vez lhe trouxe um efeito diferente: um flash de luz veio a sua mente, como uma reação de seu subconsciente lhe dizendo:

    Fighting Strong...

    Fighting Harder...

    Fighting Stronger...

    — MESTRE?!

    O grito de Viktor o fez despertar e, num ato impressionante aos demais que assistiam a luta e a Yan Shu, Viktor se colocou em base de luta, com uma mão a frente de seu corpo e outro um pouco acima de sua barriga. Sim, era isso mesmo! Era o:

    — DEAI!

    — O que? *Esse cara... Ele vai tentar me atacar?!*

    E no pensamento de Viktor, uma noção de sua real força:

    — *Eu sou assim... Essa é minha filosofia. Eu não sou um lutador nem um cozinheiro... Todas as lutas da minha vida me fizeram perceber que se eu não lutar sempre contra as dificuldades, eu nunca irei conseguir o que eu almejo. Eu caí várias vezes, pisaram em mim, me humilharam, acabaram com meu espírito... Eu vou lutar... EU VOU LUTAR FORTE! EU VOU LUTAR MAIS FIRME! E EU VOU LUTAR AINDA MAIS FORTE! ESSA É MINHA FILOSOFIA! FIGHTING STRONG... FIGHTING HARDER... FIGHTING STRONGER!*

    A poucos metros do seu último golpe...

    Yan Shu vs Viktor...

    Um duelo inesperado...

    ... com um desfecho bom ou ruim?

    Entretanto, não foi bem isso que aconteceu. Logo um estrondo é ouvido, com vários dos capangas de Yan Shu sendo derrotados em sequência, o que teria suas atenções para atingir Viktor. E entre os dois, como num passe de mágica, apareceu uma jovem raposa, que vestia uma calça jeans com uma camisa regata de cor branca. Tinha cabelos castanhos e sua pelugem era um pouco alaranjada. Tinha livros olhos verdes e uma pinta abaixo de sua boca. E ela, olhando para Yan Shu de forma bem intimidadora, diz:

    — Pare.

    — Como disse?

    — Disse para parar, Yan Shu.

    — Quem é você, sua intrometida?

    — Sou a Flor de Lótus do Xiaomi Temple...

    Só isso já foi o suficiente para que alguns dos arruaceiros debandassem lentamente, para espanto de Yan Shu, que diz:

    — Ueh... Onde vocês estão indo, covardes?!

    — Deixe-os, Yan Shu... Você não tem noção de seus atos aqui.

    — E quem é você para me dizer isso?

    — Hm... Permita-me lhe fazer uma demonstração... – Disse, começando a emanar uma aura alaranjada em sua volta.

    Quase que de forma instantânea, toda a área foi iluminada por chamas que circundavam a jovem raposa, formando em sua volta uma flor de lótus com chamas incandescentes. E sob esse efeito, ela diz:

    — Sou Rin Aoki... E caso continue irá conhecer minha técnica Blazing Lotus.

    — Sua...

    Mas antes que mais ações inconsequentes de Yan Shu acontecessem novamente, sirenes da polícia eram ouvidos, fazendo o restante dos capangas saírem, soltando até mesmo Mu, que foi ao chão ainda com o capuz. E Yan Shu fez o mesmo, mas sem antes dizer:

    — Isso ainda não acabou...

    E correu para as sombras, fugindo da iminência de ser preso. Dissipando seus poderes de chamas, a raposa imediatamente foi até Viktor, o acudindo:

    — Você está bem?

    — Ah... Eu estou... e muito obrigado pela ajuda.

    — Você foi imprudente em vir aqui a essa hora. Se eu não estivesse passando pelas redondezas...

    — Sim... Eu errei... Mas por favor... Ajude o Mu!

    — Mu?

    Logo ela avistou o jovem caído e rapidamente foi ao seu encontro. E lá, o apoiando em seu braço, retirou o capuz.

    Rin ficou muda por um bom tempo ao ver o rosto de Mu. Ela não conseguia mesmo pensar em algo para dizer, mas pensou:

    — *Ele... Eu... Ah... Eu não sei o que está acontecendo... Eu devo ajudá-lo, mas... Eu não consigo parar de olhar seu rosto... Ah porque esse sentimento assim do nada?!*

    Enquanto o barulho das sirenes ficavam mais próximos, os jovens tentavam se restabelecer, com Rin encantada com o que havia visto...

    Continua.


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