Freedom Planet: Faith & Shock

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    Capítulo 43

    Perdido

    Spoiler, Violência

    Então o duelo realmente vai acontecer.

    Momentos tensos e angustiantes são esperados.

    O clima acolhedor da casa da árvore de Lilac havia dado lugar a um tom mais tenso e denso, tendo em vista que sempre tivemos bons momentos no lugar (com exceção das presepadas de uma certa felina verde, entretanto). Se preparando no quarto de hóspedes, Viktor, que já vestia seu kimono, colocava suas luvas sob o olhar das garotas. Lilac, a mais preocupada, diz:

    — Viktor, eu não estou entendendo você...

    — A senhorita Neera precisa entender que eu sou sim habilitado para estar nessa missão! Não posso simplesmente aceitar tudo que ela diz pra que eu faça.

    — Mas Viktor... Ela não é uma qualquer. Digo, a Neera é muito forte.

    — Uma vez você me disse que lutou contra ela e venceu. Então ela não é tão forte assim...

    Lilac não gostou mesmo do que ouviu do humano. Pela primeira vez percebeu um teor mais arrogante nas palavras no até então gentil Viktor. A dragão até ia chamar a atenção do jovem, mas Carol tomou a frente.

    — Piá, olha... Não sou lá a pessoa mais indicada pra te dizer isso, até porque eu adoro treta, mas cara... É a Neera!

    — O que tem, Carol?

    — Piá, tu não conhece a Neera como a gente... Cara, ela não é quem tu pensa. Quando eu tava zuando chamando ela de demônio não foi a toa...

    — Fique tranquila, Carol. Tudo vai terminar bem. Posso não a conhecer bem como você diz, mas ela não me conhece bem também.

    — Tá, cara... Show... Mas a gente te conhece... Por isso mesmo que... – Tentou dizer Carol.

    Lilac interrompeu sua amiga. Ela, mostrando seriedade no olhar, diz baixo a Carol:

    — Não, Carol.

    — Hã? Lilac, não tô entendendo...

    — Não diga o que iria dizer a ele.

    — Mas Lilac, eu tô tentando evitar que a Neera esfole o piá!

    — Eu também tentei, mas se você fizer isso vai causar um dano maior...

    — Que?! Lilac...

    — Não diga nada, Carol. Deixe.

    A felina atendeu o pedido de sua amiga, se calando em seguida. Mas Carol não se sentiu bem em deixar as coisas fluírem. E quando Viktor estava pronto, desta vez foi Milla que o interpelou. Ela, com um olhar demonstrando temeridade, diz:

    — Viktorius, não luta contra a minha mestra.

    — Milla, me desculpe. Mas não há outra coisa a fazer. A senhorita Neera precisa sentir na pele o quão forte eu sou!

    — Mas você lutou contra ela no torneio, viu o que ela pode fazer...

    — Sim, eu sei... Mas ela não sabe o que eu posso fazer também... Eu estou mais forte que antes, eu sinto isso...

    — Mas Viktorius... Você...

    E a exemplo que Lilac fez a Carol, a dragão impediu que Milla continuasse insistindo em convencer Viktor em continuar com essa ideia. Dando licença para que o carateca passasse, elas o seguem até fora da casa.

    O destino? Dragon Valley.

    Minutos depois...

    Ancestral plains field | Dragon Valley

    Situados em um grande campo gramado com uma centenária árvore decorando o lugar, o cenário para o duelo em Dragon Valley era o mais apropriado. Por ser um lugar distante de tudo, não haveria testemunhas a não ser os presentes.

    No outro lado se encontravam Neera e Gong, que estava de pé com seu escudo em suas costas. Ela, de pé e segurando seu cetro, esperava pacientemente Viktor. E falando nele, logo foi avistado caminhando até próximo onde a panda estava. Prontamente atrás estavam Lilac, Carol e Milla, com a dragão as liderando.

    Os dois estavam lá, frente a frente. Desta vez sem uma arena para delinear o espaço... e sem regras de torneio para limitar suas ações. Viktor, confiante, se colocou em base de luta aguardando Neera. A panda, caminhando demonstrando imponência, parou a frente de Viktor, dizendo:

    — Sem regras. Vale tudo. Essa é minha exigência como desafiada. Você aceita?

    Mas Lilac, antes que Viktor tomasse alguma decisão, se colocou entre os dois.

    — Neera, revise suas exigências.

    — Me recuso, dragão. Eu sou a desafiada, portanto tenho direitos de exigir como quero lutar.

    — Mas você não pode... – Tentou dizer Lilac.

    — Chega! A única pessoa que tem direito a palavra aqui é Viktor. Saia e não atrapalhe esse duelo.

    — Mas...

    Viktor, olhando para Lilac, mostrou irritação, dizendo:

    — Lilac, por favor... Não se intrometa. E senhorita Neera... Eu aceito.

    Ele fez sua escolha, com Neera olhando bem dentro de seus olhos. Lilac, sabendo que nada poderia fazer para evitar o embate, mostrando desapontamento em seu rosto, a bela dragão só se limitou a dizer:

    — Boa sorte... e boa luta, Viktor.

    — Obrigado, Lilac.

    Ela então voltou para próximo de suas amigas, cruzando os braços. Carol, percebendo o tom pesado do momento, olhou para a dragão, ficando ainda mais preocupada. E Milla, a mais assustada, colocou as duas mãos unidas em seu peito.

    E ao centro, por ser um oficial do reino, Gong ficou encarregado de dar andamento ao duelo.

    — A oficial sacerdotisa do Reino de Shang Tu Neera Li aceitou o desafio de Viktorius Ashem. Como combinado, é uma luta sem regras. Que o duelo comece!

    Music: "Confrontation of Fate" by Sousei No Onmyouji Ost

    Viktor vs Neera Li 

    Duel Start

    Viktor nem perdeu tempo e partiu com tudo pra cima de Neera, sem lhe dar tempo para conversa. E o jovem logo mostrou seu repertório de golpes, tentando acertar a panda com socos e chutes potentes. Porém estávamos falando de Neera Li e ela, como esperado, evitava a todos os golpes sem sequer sair do seu eixo. Bastava sair da frente de cada golpe desferido. Determinado a acertar Neera, o jovem não interrompia seus golpes, dizendo:

    — O que foi? Está com dificuldades, Neera? Nem está conseguindo ter brechas de atacar, não é?

    Mas a panda ficou em silêncio, o que fez Viktor ficar irritado. Usando de todos os seus meios de ataque, seus golpes realmente estavam mais rápidos que do torneio. E esse foi um comentário que Carol fez:

    — O piá... Ele está mais rápido...

    — Hm... – Exclamou Lilac – Está sim...

    — O Viktorius está melhor mesmo! – Disse Milla, esboçando uma alegria tímida.

    Mas no outro lado a opinião era diferente. Gong logo se colocou em pensamentos:

    — *Hm... Esse garoto... Ele está melhor. Os golpes dele estão mais fortes, mas... Neera ainda não começou a lutar... Cuidado, Viktor. Você está confiante demais. Toda ascensão atinge seu apogeu... e logo vem a queda...*

    Os sucessivos golpes de Viktor logo trazem um efeito colateral: seu fôlego se esgotou. Ainda em base de luta, se colocou na defensiva para poder descansar. Neera não se moveu de seu eixo desde que a luta começou, o que faz o jovem dizer:

    — E ENTÃO? PORQUE ESTÁ AÍ PARADA?! VAMOS, ME ATAQUE! – Gritou Viktor, pensando em seguida – *Ela deve estar tramando alguma estratégia... Não estamos no torneio... e ela até agora só se esquivou...*

    E o surpreendendo, Neera diz:

    — Eu já estou vencendo esse duelo. Não há necessidade de fazer nada além do que faço.

    — O que?! Não me subestime!

    — Só digo fatos. Você não é um oponente digno e irei provar isso.

    Após tomar ar, Viktor voltou a tentar atingir Neera, potencializando seus golpes. Ele mesmo sabia que não poderia ficar fazendo as mesmas coisas sempre. Passou então a tentar acertar Neera usando golpes de judô, executando movimentos no solo para desestabilizar a panda. Mas foi uma ideia ruim: quem disse que Neera iria cair em um tipo de truque como esse? Até Gong achou graça, dizendo:

    — Hahaha! Você é muito inocente, Viktor! Eu mesmo não cairia nessa!

    Neera, enquanto se esquivava, não poderia deixar Gong impune:

    — Você é o oficial responsável, Gong! Mostre imparcialidade... embora tudo isso seja inútil.

    — Tudo bem. Você está certa...

    Incessantemente o carateca tentava golpear Neera, aumentando a intensidade de seus ataques. E quando pensou em executar um golpe mais concentrado, Viktor foi acertado com um poderoso soco em sua barriga. O golpe foi tão forte que o fez gritar de dor no mesmo instante, com a inércia do golpe o arrastando pelo chão. O rastro no gramado era grande, em torno de cinco metros a frente. Todos olharam com surpresa, e Milla logo gritou:

    — VIKTORIUS! NÃO!

    E quando a pequena pensou em ir acudí-lo, Lilac a impediu. Milla não entendeu:

    — Lilac, eu preciso ir até lá ajudar o Viktorius!

    — Não, Milla...

    — Porque não?!

    — No momento, não devemos fazer nada. E acredite: será isso que irá ajudá-lo.

    Com o olhar distante de Milla, ela voltou a observar a luta. Viktor, levantando lentamente, olhou para Neera, pensando:

    — *Esse golpe... Foi diferente... Aliás... Eu ainda sinto a dor... E ela não para...*

    E para sua surpresa, Neera Li parecia mesmo o que estava fazendo. E ela deixou isso claro no diálogo a seguir:

    — Acho que isso vai te ajudar...

    — Ah... O que... – Disse, ainda sentindo fortes dores – O que você fez?!

    — Cold palm. Um golpe que executo com a palma de minha mão. O atingi em sua barriga e inibi seus neurotransmissores de dor... que vai aumentar gradativamente.

    — O que?! Mas...

    — O Urro do Dragão... Quero que o use... Pois só assim você terá alguma chance com esse “duelo”...

    — Mas como você... – Tentou dizer, sentindo uma dor absurda em seguida – Ah?! Essa dor... O que... O que está acontecendo?!

    Viktor começou a gritar de dor bem alto, com uma intensidade nunca antes vista. Isso sim causou reações em Lilac, sentindo um certo temor do que estava prestes a acontecer. Ela, irritada, diz:

    — NEERA, O QUE VOCÊ FEZ AO VIKTOR?!

    — Dragão, isso é um... Aff... um duelo. Então não se meta!

    — Mas ele não está em condições de lutar!

    Mas mesmo com o sofrimento estampado em seu rosto, Viktor não recuou. E se virando para Lilac, diz:

    — NÃO! LILAC, EU ESTOU BEM!

    — Viktor...

    — ESSA PANDA VAI SENTIR O MEU PUNHO!

    O semblante de Viktor estava diferente. Trazendo a tona uma irritação fora do comum, o jovem se virou para Neera e logo se expressou:

    — VOCÊ VAI CONHECER O MEU KARATÊ!

    — Karatê? Hm... Deve ser um novo nome para fracasso.

    — MISERÁVEL!

    As orelhas felinas de Carol logo se levantaram. Ela entendeu que o Viktor já estava com o Urro do Dragão ativado.

    — Lilac, o especial do piá... Tá ativado.

    — Hã? Como você sabe?

    — A Neera disse e... eu senti. Ele tá daquele mesmo jeito que lutou contra o Dyona Taz... Só que...

    — O que foi?

    — Tem uma parada diferente... Coisa sinistra...

    A dragão, após as palavras da gata selvagem, tornou a ficar apreensiva. E isso só piorou ao olhar para Milla: a pequena canina estava tremendo. Lilac não perdeu tempo e a abraçou:

    — Milla, o que foi?!

    — Ai, Lilac... Eu tô com medo...

    — Ah... Milla?!

    — O Viktorius está diferente...

    — Hã?! Mas... Você sentiu isso também?

    — Ele não está bem... Tem algo errado...

    — Viktor... – Lilac só observava a luta.

    O carateca, parado olhando para Neera, aguardava um melhor momento para atacar. Entretanto a oficial não estava disposta a esperar mais: com um incrível salto, executou um chute tão poderoso quanto seu soco, fazendo com que Viktor novamente fosse jogado para trás. Mas desta vez ele havia se defendido usando seu braço, mas:

    — Hm... Isso me surpreendeu... – Disse Neera, olhando para Viktor – Conseguiu se defender... Meus parabéns.

    — Ah... Sua... – Disse, sentindo dores em seu braço – *Eu me defendi, mas ela poderia ter quebrado meu braço! O que está acontecendo aqui? A força dela está muito diferente... É como se o peso do golpe não coincidisse com a força que ela usa...*

    E Neera, o olhando de forma séria, diz:

    — Me diga, stranger... Você é um mestre dessa arte marcial patética que chama de karatê, não?

    — Pare de dizer isso! Eu vou te mostrar meu caratê!

    — Hm... Então isso é um sim, “mestre”. Se tem esse título como um status seu, o que entende de Chi?

    — Porque está me perguntado isso?

    — Curiosidade... Talvez você use um termo diferente em seu mundo, mas se você é mesmo um mestre com certeza os conceitos de artes marciais são equivalentes. Os caminhos para se chegar ao equilíbrio não se distinguem... Eu estou errada?

    — Ah... Não... *Ela está me testando?! Que petulância...* Em meu mundo esse equilíbrio a qual se refere é Ki. É onde o praticante atinge o equilíbrio de todo seu universo: seu próprio corpo.

    — Hm... Está indo bem. Continue...

    — Tudo que fazemos é em resposta de estimulos. Porém em artes marciais tudo se conecta, porque você está em sincronia com sua mente...

    — O básico... – Disse Neera, batendo palmas – Ok ok... Você me surpreendeu... Mas a aula ainda não acabou.

    — O que?! ESTÁ DEBOCHANDO DA MINHA CARA?

    — Entenda como quiser, stranger... E então? Que tal usar o Dez Mil Punhos Divinos do Rei Dragão?

    — O que?! – Disse, surpreso.

    E não somente Viktor teve essa reação: Lilac, Carol e Milla o tiveram e a dragão não poderia ficar quieta:

    — A Neera... Como ela... Nossa, ela... Ele deve...

    — É, Lilac. A pandurona aí deve ter visto o vídeo do torneio TORMENTA. Palhaçada... – Disse Carol, irritada.

    — Mas... Minha mestra não usaria isso... Não agora – Disse Milla, preocupada.

    — Milla, o que está dizendo?

    — Minha mestra me ensinou a analisar meu adversário antes de uma luta, mas... Só se ele for uma ameaça.

    — Ameaça?!

    — Como é?! Fala sério... Então a Neera vê o piá como inimigo?!

    — Carol, pare de exagerar! – Disse Lilac, irritada.

    Mas Milla deixou bem claro que a felina estava certa:

    — Se ela está fazendo o que estou pensando, é o que a Carol disse. Minha mestra tem o Viktorius como seu inimigo!

    — Não... Isso não... – Disse Lilac, ainda mais preocupada.

    Mas o que isso significa na verdade? Milla estava ainda mais assustada, com a dragão púrpura e sua amiga felina apreensivas observando a luta. E com Neera dizendo para que Viktor usasse seu golpe mais poderoso no momento isso soou como uma provocação. E ela, insistindo, foi além:

    — Como é? Olhe... Eu nem irei me mexer. Eu quero que me atinja com o seu golpe mais forte. Se conseguir me mover um centímetro eu desisto desse duelo. O que me diz?

    O olhar aborrecido de Viktor deu uma real noção de seu sentimento ao ouvir as palavras provocadoras de Neera, que o chamava para que fizesse o que propôs. Ela gesticulava enquanto o jovem, irritado, diz:

    — EU VOU FAZER VOCÊ SE ARREPENDER DISSO! – Disse, correndo a toda em direção a panda.

    Carregando toda a força de sua fúria em seu punho, o jovem humano foi para cima de Neera com tudo. Lilac e as outras garotas do observavam, atonitas, pelo ataque de Viktor. Não demorou muito e, com Neera imóvel, sem nem piscar, Viktor executou seu golpe mais poderoso em seu rosto... sem efeito. A panda recebeu o golpe, que causou um ruído seco e alto de como se alguém estivesse socando um cubo de gelo... ou um iceberg. Neera sequer se mexeu, quiçá esboçar alguma reação. E ela, olhando para Viktor, se expressou:

    — É só isso?

    — Mas... Im-impossivel!

    — Sério mesmo que esse é seu golpe mais poderoso, que o fez derrotar um membro da família Daiyamondo? Patético...

    — O que... O que você...

    — Permita-me lhe dar as boas vindas... – Disse Neera, golpeando Viktor com um chute.

    E o movimento da panda foi tão inesperado que atingiu o carateca em sua barriga com uma força absurda, o fazendo ser jogado novamente para longe. Viktor foi arrastando seu corpo no solo, até que uma coluna de gelo o aparou, causando danos. E ele, confuso e desorientado, se levantava, dizendo:

    — O que... O que está acontecendo...

    — Muitas dúvidas, Viktor? – Disse, caminhando em direção a Viktor.

    — Sua... Sua miserável...

    — Mudou de comportamento rápido... Então o polido Viktor sabe ser desbocado as vezes. Me pergunto o quanto eu posso te fazer cair ainda mais... talvez além do chão.

    — O que?

    — Elemental Shield. A primeira habilidade especial que você teve o prazer ou desprazer de sentir no próprio punho... E então, como você está?

    Viktor rapidamente olhou para seu punho, sentindo dores. E Neera continuou:

    — Está doendo, não?

    — NÃO SE META!

    — Ah mas eu vou... Na verdade eu só estou começando. Algum osso se deslocou? Quer que eu o coloque no lugar pra você? Ah sim... Esqueci de explicar: eu tenho a habilidade de evocar todas as Spirits Crystals de uma só vez.

    — O que significa isso?!

    — Perfect Defense. Você precisa ter um nível de Chi comparável ao meu para que consiga ao menos me mover. Só assim você poderia ter uma chance.

    — CALE-SE! – Disse, se colocando em base de luta novamente.

    — Segunda habilidade especial: Spike Trap. Eu posso criar pilares maciços de gelo... e usá-los para infindáveis coisas. Inclusive impedir que fuja de mim.

    Neera não estava brincando. Viktor pôde ver ao entorno da área que a panda havia limitado seu espaço, o encurralando. E ela, esboçando um sorriso e apontando seu cetro para o jovem, diz:

    — Me proporcione pelo menos um duelo digno, stranger. Só exijo isso de você antes de te reduzir a pó! Vamos, não me faça ficar entediada!

    Neera havia desestabilizado emocionalmente Viktor, era fato. Isso foi visto logo após sua provocação, fazendo com que o jovem corresse em sua direção e começasse a atingí-la com vários de seus socos. Em nosso mundo seriam golpes potentes, talvez um pouco acima do normal para um humano, mas contra habitantes de Avalice como Neera ele nem mesmo a arranhava. Tanto que chegou a uma constatação:

    — Porque meus golpes não surgem efeito em você?!

    — Hehe... Isso está me divertindo ao menos. Ver suas descobertas é como ensinar uma criança...

    — ORA... CALE-SE! – Disse, ainda golpeando Neera.

    — Você deve pensar que isso é uma daquelas animações espetaculares onde o herói supera o inimigo só com sua força de vontade... – Disse, executando um simples soco em Viktor, o jogando para trás – Mas não... Isso não acontece na vida real... Não há um roteiro. Tudo é ao vivo... até a morte.

    O jovem, que se equilibrou após ir para trás, diz:

    — Esse golpe... Ele é...

    — Soco de uma polegada. Exatamente... O mesmo que você usou. Sabe, é um movimento útil para afastar vermes... É eficaz, mas previsível e inútil contra oponentes como eu. E um aviso: não funciona em mim. Entendeu ou preciso escrever?

    — Sua... Arrogante... Eu vou...

    — Me atingir? Você tentou várias vezes, sabia? Ainda tem esperança em me vencer? Ótimo, você tem fibra... mas só isso é ineficiente na sua situação patética.

    Mas Viktor ignorou as palavras de Neera, voltando a tentar golpeá-la. Ele, correndo, diz:

    — Sempre há uma esperança... SEMPRE!

    — Hm... Isso! Faça-me estar errada! Me mostre seu karatê!

    O silêncio de Lilac, assim como de Carol e Milla, eram a reação apropriada diante o momento crítico que estavam vendo. Incapazes de fazerem algo para acabar com a agonia de estavam assistindo seu amigo ser subjulgado pela panda... porque elas sabiam que Viktor não tinha a mínima chance.

    O porquê dessa certeza? Neera surpreendeu Viktor e o golpeou com um chute em seu dorso, o jogando contra o chão. Não satisfeita, ela fez com que mais um pilar crescesse e acertasse Viktor em suas costas, o levando para cima. Confuso por estar sendo golpeado de forma não tradicionais, logo procurou por Neera, que havia sumido. Olhando para todos os lados, Lilac precisou gritar para evitar o pior:

    — VIKTOR, NO ALTO!

    Neera estava em queda livre, colocando toda sua força em seu cetro que mais parecia uma lança afiada. E se jogando para um dos lados, o jovem humano caiu do pilar de gelo no último momento antes que a panda o acertasse, com Neera destruindo o pilar após aterrissar com uma força extrema. Com Viktor sentado ao chão, surpreso com a intensidade do golpe, Neera, ainda mantendo seu cetro fincado ao chão se manifestou:

    — Essa dragão deveria ficar de boca fechada... Estragou meu ataque.

    Neera estava mesmo lutando a sério. Mas será que ela iria mesmo acertar Viktor com aquela força descomunal? Lilac precisou tirar satisfações:

    — NEERA, O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!

    — Ainda não percebeu, dragão? Acho que meu último ataque deixou isso bem claro...

    — Não... Você não seria capaz...

    — Estamos em um duelo. Mais uma interferência sua ou de qualquer uma de vocês e podem ter certeza que serão todas presas.

    Milla também estava comovida com a situação, dizendo:

    — Mestra, para! A senhora está machucando o Viktorius!

    — Não se meta, Milla...

    — Mas...

    — SILÊNCIO!

    Mas adivinhem só quem não gostou de ouvir isso? Viktor, irritado como Neera tratou Milla, logo se posicionou:

    — Como se atreve a falar assim com a Milla?!

    — Hm? Chamando minha atenção, Viktor?

    — Ela é sua discipula! Ela nunca... – Disse, sendo interrompido.

    Só foi o jovem ousar em desafiá-la novamente para que a panda o segurasse em seu rosto, tampando sua boca. E ela, num tom bem intimidador, diz:

    — Cansei de você. Hora de limpar a roupa suja!

    Ainda segurando seu rosto com uma das mãos, com a outra Neera começou a surrar a barriga de Viktor com vários socos sem parar. O jovem estava paralisado tamanho a dor que sentia. Os golpes eram potentes a ponto dos ruídos serem ouvidos ao longe. Lilac, Carol e Milla logo se desesperaram, com a felina dizendo:

    — Lilac, cabou a zuera. A gente não pode deixar essa luta continuar!

    — Eu sei, Carol... Mas se interrompermos... Droga, porque o Viktor foi desafiar a Neera?

    — Lilac, Carol... Eu estou com medo!

    Mas Gong deu um fio de esperança as garotas, dizendo:

    — Viktor pode desistir do duelo quando quiser.

    — É sério?! – Perguntou Carol.

    — Sim. Porém...

    — Ah... Lá vem...

    — A palavra de Neera será soberana a tudo que ele pensar em fazer. Em outras palavras: ele só poderá fazer coisas se Neera autorizar.

    — Tá de saca, né? Até eu não faria isso!

    — CAROL! – Disse Lilac, nervosa.

    — Lilac, na moralzinha... Desistir pra ser capacho da Neera não é digno!

    — Melhor do que vê-lo sofrer!

    — Você conhece o piá... Ele nunca aceitaria isso!

    Mas mesmo com essa discussão paralela, o duelo não parou. Neera soltou Viktor, que mesmo sentindo dores tentou acertá-la com um soco. Ela simplesmente golpeou o soco de Viktor, anulando seu braço direito, como ele mesmo faz a leitura:

    — *Meu braço! Como da última vez, ela deslocou meu braço socando meu soco!*

    Sem ter reflexo em seu braço direito, lhe restou usar o esquerdo: com um movimento rápido, Viktor tentou acertar Neera, o fazendo inclusive. Mas mesmo sendo certeiro ao golpear seu rosto, Neera praticamente ignorou o acerto, dizendo:

    — Você é mesmo um imbecil!

    Neera começou a executar consecutivos golpes contra Viktor, atingindo em seu rosto, dorso, barriga, costas... Enfim, várias combinações que causavam muitos danos ao jovem, que tentava se defender mesmo com somente um braço. Mas a panda estava mesmo disposta a castigar o jovem:

    — Você chama isso de um duelo... – Disse Neera, acertando Viktor com um chute destruidor – E muitos chamariam isso de um treino... – Disse, socando Viktor em sua barriga – E talvez seja um aquecimento... – O arremessando para longe, caminhando em seguida – Mas pra mim você não passa de uma pedra de tropeço, para não falar o mínimo!

    Desgastado por tantos golpes, Viktor até esboçou um contra ataque, mas Neera, levando uma de suas mãos a frente, arremessou contra ele dois pequenos dardos de gelo, que entraram em suas pernas, com Neera invocando:

    — FREEZE! – Disse, com uma voz autoritária – De joelhos!

    Os movimentos de Viktor cessaram, com o humano caindo de joelhos frente a Neera. Ela, disposta a humilhá-lo, diz:

    — Patético... Vou dizer só uma vez: eu não vou parar de te castigar após sua resposta negativa a minha ordem. Desista desse duelo. Você só tem uma chance.

    Mas Viktor foi emblemático. Mesmo com um braço paralisado e com suas pernas sem movimentos, ele não recuou:

    — Nunca!

    Neera então golpeou seu rosto com seu cetro, o ferindo. E ela, irritada, lançou uma ameaça:

    — Você não desiste... então você não tem porquê viver...

    E no outro lado do campo, as garotas ouviram perfeitamente as palavras de Neera. Lilac logo surtou:

    — NEERA, O QUE PENSA EM FAZER?! ACABOU!

    — Hm... Dragão... – Disse, começando a evocar seus poderes gélidos – Eu disse que iria lavar a roupa suja... E IREI!

    E no momento que Neera iria conjurar mais de suas habilidades especiais para golpear Viktor, segundos após essa intenção a oficial foi cercada pelas três garotas: Lilac segurou seu braço, Carol estava com suas garras no pescoço da panda e Milla estava a frente dela usando seu escudo de feixes verdes. E a dragão, mostrando uma seriedade nunca vista, diz:

    — Faça só mais um movimento e pode ter certeza que farei de tudo pra te impedir!

    — Dragão... O que está fazendo? – Disse Neera, num tom intimidador.

    — Tu não ouviu, duas cores? Tamo salvando o piá. Cabou!

    — Mestra, por favor... Pare! – Disse Milla, com lágrimas nos olhos – Não faz mais nada! Tá bom! Você venceu!

    E a panda, olhando nos olhos de Viktor, que estava ajoelhado, diz:

    — Olhe bem pra tudo isso, Viktor. Veja até onde você caiu... Essa é a sua situação em Avalice. Você não passa de um cidadão normal que não tem o mínimo valor pela própria vida. Mas você parece não aceitar... que é um estranho entre nós, que não se enquadra em nossa realidade! Olhe pra você... você é diferente de nós! E o pior: você deixou sua arrogância te consumir... Foi surrado sem misericórdia, esteve prestes a morrer e no fim foi novamente humilhado.

    Ela então recolheu seus poderes, se aproximando de Viktor. E lhe disse considerações finais:

    — Tudo isso foi uma grande perda de tempo... Você é um stranger sem valor! Eu esperei um pingo de coerência de sua parte, mas estava errada. Você mesmo se desgraça em pensar que pode tudo. Não, você é um inútil. Eu não me importo com a opinião dos demais guardiões. Meu julgamento é final: você não passa de um sem valor inútil que não tem amor a própria vida... e pelo visto nem a quem se importa com você! Eu não vou deixar você levar pessoas ligadas a mim nesse seu caminho de perdição!

    Lilac olhou para Neera, não acreditando no que estava ouvindo. A dragão, irritada, quis mais satisfações:

    — Você... Você estava... Não... Isso é pior do que...

    — Dragão, podem me odiar pelo que eu fiz... Mas você sabe da natureza dos fatos. Eu nunca mataria Viktor, pois tenho o dever de proteger a todos... e vocês sabem muito bem disso! Porém meus métodos envolvem muitas coisas... até mesmo incapacitar valentões que pensam que podem lutar comigo. Viktor tentou passar sobre minhas ordens diretas... e pagou por isso.

    — Caraca, Neera... Tu precisava mesmo chegar a isso?! – Disse Carol, também irritada.

    — Minhas ações estão muito a frente do entendimento de vocês. Uma lição foi dada aqui... Viktor, você é um irresponsável. Eu não o considero um mestre... e sequer um lutador digno.

    Fraco e incapaz de se levantar, Viktor levantou seu rosto, olhando nos olhos de Neera. Nesse mesmo instante, um fio de sangue escorreu do supercílio direito do jovem, com a panda percebendo. Ela, estendendo sua mão, criou uma crosta de gelo, estancando o sangramento. Após a boa ação, ela lhe deu as costas e caminhou em direção a Gong, mas tornou a dizer:

    — Você não é alguém que protege e sim aquele que é protegido. Não há nada humilhante nisso, mas você procurou seu fim. Estou no dever de proteger meu povo... e hoje você foi protegido. Carregue consigo o peso dessa derrota e passe a seguir as regras. Lhe proíbo de sair de Shang Tu. É uma ordem... e espero que também lhe seja um aprendizado valioso para se manter seguro e vivo em Avalice...

    E ela continuou a caminhar, com Gong dizendo:

    — Esse duelo está impugnado. Ajudem o Viktor, meninas. O garoto precisa... Talvez como nunca precisou. Nossa, por favor... Ajudem-lo!

    Porque Gong falou nesse tom? Simples: ele olhou para Viktor e percebeu que não foi só uma derrota. A surra que Viktor tomou foi além de danos físicos. Ela acertou em cheio seu orgulho como mestre e destroçou sua alma. O olhar distante e frustrado de Viktor demonstrou isso até às garotas, que se mantiveram caladas, mas acudindo o jovem. E ele, ainda muito fraco, perguntou:

    — Lilac...

    — Vi-viktor, o que foi?

    — Você lutou contra Neera uma vez e venceu...

    — Sim. Mas o que tem?

    — Me diga... Por favor... O nível dela era igual ao de hoje?

    — Ah... Viktor... Acho que não é um bom momento de conversar sobre isso...

    — Me diga, Lilac... Por favor...

    — Viktor... Olhe, eram momentos distintos... Eu era mais nova e tinha uma motivação muito boa e...

    — Responda... Por favor! Eu preciso saber!

    — Estava em um nível maior... Ela queria me congelar...

    — O quão forte... Por favor, me diga...

    — Comparado a hoje?

    — Sim... Por favor, me diga...

    — Viktor... Ela tinha cinco vezes mais poder...

    A dor que Viktor sentia deixou de ser físico. Sem poder se levantar sozinho, ele se deixou cair em sofrimento. Sua honra foi destruída e aquilo que o colocava como mestre foi consumido pela derrota acachapante. As coisas só pioraram, com o humano passando a chorar compulsivamente naquele campo gramado, enquanto a tarde perdia a força, com nuvens pretas escondendo o lindo céu azul e fazendo o sol se esconder aos poucos.

    Era um cenário desolador.

    Minutos depois...

    Casa da árvore de Lilac | Início da noite

    Após os eventos traumáticos do duelo entre Viktor e Neera Li, o clima na casa era de total apreensão. O jovem foi confortado pernas garotas e estava deitado em sua cama, se recuperando dos ferimentos. Por sorte, um dos médicos do reino, o doutor Frazey Molov, um urso pardo que residia no Royal Palace, se ofereceu gentilmente a Gong depois que o panda lhe disse o que houve. E logo após consultar Viktor, o médico diz:

    — Ficarr tranquilas. Ela está bem. Até me surrpreenda porr ela não terr nenhuma fraturra.

    — Fratura?! Porque? – Disse Lilac, assustada.

    — Hum... Jovem, Gong me disse como foi a luta. A nossa oficiali não pegar leve em combate e... Bem, de acorda com Gong, a própria oficiali disse que bateu parra causarr issa. Mas porr alguma razão issa não aconteceu, ela disse.

    — Hm... – Exclamou Carol, se lembrando de algo – Tipo, tô ligada nessa informação aí...

    — Hã? O que foi, Carol? – Disse Lilac.

    — Lilac, a Tats... Tu lembra o que ela disse do piá? Ele tem resistência “ infinito”. Deve ser por isso que ele suportou os golpes do Sheng, do Dyona, da badass dentuça da Liane Saber... e até do maldito do Spade.

    — Curiosa... Um orrganisma que recebe danos mas não desenvolve danos? Muita interressante... Issa poderia serr uma objeta de estuda bastante profunda e especificada.

    Mas Lilac não parecia gostar do que ouviu:

    — Doutor, não.

    — Como?

    — Agradeço por sua ajuda mas Viktor só precisa de descanso agora. Ele não vai passar por mais nada disso.

    — Não... Tudo bem. É só uma ideia. Ninguém é obrigada a fazerr issa. Desculpe meu jeita...

    — Não... Eu que lhe peço desculpas.

    Depois da breve conversa, Frazey Molov deixou a casa da árvore de Lilac, com as garotas no quarto de hóspedes. Sentando ao lado da cama, viram Viktor acordar. E Milla não perdeu tempo:

    — Viktorius, você acordou!

    — Ah... Oi, Milla...

    — Tu é zirimba mesmo, piá! Aguentou outra vez a demônio! – Disse Carol, tentando ser espirituosa.

    Mas esse último comentário logo trouxe os pensamentos de Viktor sobre o resultado da luta. E Lilac não estava disposta a passar pano:

    — Espero que você pare de fazer dessas loucuras, Viktor. Você não deveria ter desafiado a Neera...

    — Lilac, eu não acredito que você está no lado dela...

    — No lado de quem está falando? Da Neera?

    — Sim! Que lição... Que aprendizado você quer que eu tire com isso?!

    — Viktor... Pare.

    — Hã?

    — Só pare. Deixe. Não argumente. Você não precisa lutar... Você sequer precisa provar algo pra gente. Só permaneça deitado e tudo vai se resolver...

    — Se resolver?! Você está falando sério?

    — Viktor... Entenda: a Neera te derrotou porque você insistiu em lutar. Só pare de agir assim... Por favor!

    — Eu quero lutar novamente! – Disse, tentando se levantar – Hã? Porque minha pernas estão fracas?!

    — Neera usou sua técnica Freeze em você. O médico disse que essa tensão vai diminuir conforme o tempo. Nada grave. Ela te congelou de dentro pra fora.

    — Piá, papo reto... – Disse Carol, num tom sério – Sussega. Segura tua onda e pega leve. A gente só tá tentando te ajudar. Eu não sou a melhor mina pra te dar conselho, mas tu tá fora do tom um tiquinho...

    — Porque estão me tratando como um doente?! Eu estava tentando mostrar que eu sou um lutador!

    Até mesmo Milla tomou a palavra:

    — Você luta pelo o que?

    — Hã? O que quer dizer? Eu sempre luto pra proteger a todos!

    — Proteger quem, Viktorius?

    — Ora, todas vocês!

    Lilac não gostou de ouvir isso, mas não teve uma atitude ofensiva para não gerar mais conflitos. E segurando uma das mãos de Viktor, ela diz:

    — Viktor, estamos com você. Não se preocupe com nada.

    — Mas Lilac...

    — Acabou, Viktor. Chega. Não lute mais... Não faça mais nada disso!

    — Minha honra, Lilac... A minha honra...

    — Ela está do mesmo jeito que a gente te conhece. Não tem que provar nada a nenhuma de nós. O que a Neera fez foi uma brutalidade sem tamanho... Você não tem que fazer absolutamente nada a não ser o que você sempre faz. Então eu te peço: só pare e descanse.

    O jovem até iria continuar com a discussão, mas entendeu a preocupação de Lilac. Mas isso em nada apagava de sua mente os pensamentos da sua humilhante derrota. A cada segundo se lembrava dos momentos de dor e incapacidade de fazer algo frente as habilidades de Neera.

    E para quebrar o clima ruim, Milla teve uma ideia:

    — Olha... Tá pra chover. Porque então a gente não vai até a cidade pra comprar pizza, hambúrguer e pipoca e vermos um filme na TV?

    — Aí sim! Aí sim, Milla! Ótima ideia! – Disse Carol, sorrindo.

    — Isso! Vamos fazer! Viktor, a gente vai lá comprar antes dessa chuva cair. Fica aqui, tá? – Disse Lilac, saindo da sala com suas amigas.

    Com Viktor ali sozinho, ele decidiu tentar se levantar. Já se sentindo um pouco melhor, o jovem conseguiu ficar de pé, mesmo que com um pouco de dificuldade. E caminhando lentamente, adentrou ao corredor que dava acesso a sala, mas antes que se encontrasse com as garotas, as ouviu conversando:

    — Lilac, o piá tá mal... Eu não tô gostando de ver o cara assim.

    — Carol, eu sei... Eu sei... Só que... O Viktor não é como a gente... Mas parece que ele não entendeu sua situação aqui em Avalice.

    — Pode crer... Mas tu já tá ligada que as coisas não vão ser como antes, né?

    — Porque está dizendo isso?

    — Lilac, a Neera surrou o Vik de uma forma muito sinistra. Ela passou do ponto...

    — Não, Carol... Ela estava pegando leve com ele o tempo todo. Porém o “leve” dela tem um abismo muito grande... A verdade é que o Viktor... tem limitações. Ele precisa aprender sobre nosso planeta... mas tudo no seu tempo.

    — Ele suportou a pandurona... Isso é ser limitado?

    — limitado no ponto de vista do que ele pode fazer em combate. E isso é um fato que eu não quero que ele saiba diretamente assim... porque eu tenho certeza que se ele souber vai se sentir mal... Porque se a Neera continuasse com a luta, ela na certa...

    — Tá, eu entendi... O piá taria numa encrenca...

    — Sim... Neera ia deixá-lo incapacitado de verdade.

    — Pior que é. Bem, vamo nessa. Tá quase caindo o céu de tanta água que tá vindo aí. A Milla já tá lá embaixo!

    — Tudo bem, vamos!

    Com as garotas saindo, podíamos ver Viktor destroçado internamente. Ele ouviu toda a conversa e ali ficou parado e calado, recebendo um duro golpe que jamais esperaria. E Carol estava certa em dizer que “nada será como antes”. Mudo e cabisbaixo, Viktor voltou para o quarto de hóspedes, desolado e depressivo. Clichê ou não, ele ouviu a tudo... e desceu ainda mais em seu sofrimento interno. Viktor acabou de sofrer sua segunda derrota do dia.

    Uma hora depois...

    Retornando para a casa da árvore, o trio realmente estava animado. Trazendo todas as guloseimas que disseram trazer, Lilac e Carol arrumaram a mesa, com a felina dizendo:

    — Ah muleque... É hoje que a gente vai se divertir! E vamo levantar a moral do Vitin! YAY!

    — Sim, vamos! Está quase tudo pronto... – Disse Lilac, abrindo a embalagem da pizza – Milla, vai lá chamar o Viktor. Não vamos deixar a comida esfriar.

    — Tá bom! Eu vou! – Disse Milla, correndo até o quarto.

    Mas creio que vocês já devem saber o que vai acontecer, não?

    — LILAC! CAROL!

    Só foi ouvirem os gritos da pequena que as garotas logo correram para o quarto. Lá, Milla, bastante nervosa, diz:

    — O Viktorius... ele sumiu!

    — Gah?! Mas cadê ele?! – Disse Carol.

    — O QUE? ONDE ELE ESTÁ?! – Gritou Lilac.

    — Sei lá! Caraca... VIKTOR! CADÊ TU, PIÁ?!

    Mas Milla logo encontrou uma folha que estava embaixo do cobertor, onde estava escrito:

    “Eu não irei mais ser um fardo para vocês. Se eu não posso protegê-las, então eu não sirvo para ficar aqui. Eu peço desculpas por toda essa situação. Eu estou indo embora tentar voltar pra casa... ou deixar que as coisas aconteçam e me levem até onde eu deva ir, seja onde for... Esse é meu jeito. Por favor não se preocupem comigo. E não precisam dizer a ninguém que eu fui embora. Sejam felizes e... eu entendi o que é ser limitado.

    Adeus.

    Ass: Viktorius Ashem

    A dragão logo olhou para Carol, que faz o mesmo. Elas duas perceberam que o Viktor:

    — Ele... Ele ouviu o que eu disse... – Disse Lilac, irritada – O QUE ELE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! CAROL, MILLA... VAMOS PROCURÁ-LO!

    A ação de Lilac foi completamente esperada e sua amigas não perderam tempo em tentar achar Viktor. Com as três já fora da casa, Milla diz:

    — Eu estou sentindo o cheiro dele! Vem do interior de Dragon Valley!

    — Carol, leva a Milla na sua moto e segue o faro dela! Eu vou logo atrás! Milla, se você tiver a certeza de onde ele está, me avise!

    — Tá bom! – Disse a canina.

    — Cara, que situação... O que esse cara tá pensando? Vamo, gente! Vamo achar o piá!

    Com o céu tomado por nuvens carregadas de chuva, as três partiram em direção a Dragon Valley, mas Lilac só tinha um pensamento:

    — *Viktor... Quanto te acharmos eu vou te pedir perdão... Mas por favor, até lá não faça nenhuma besteira...*

    Elas saíram as pressas, desesperadas para achar seu amigo. A iminência de uma grande tempestade só deixava tudo mais caótico. A saída de Viktor foi mesmo sentida pelas garotas, que mostravam muita tensão em seus olhares.

    Logo os primeiros pingos grossos de chuva começaram a cair em Dragon Valley, com as folhas das árvores sentindo o seu peso e ditando o tom tenso do momento. O solo encharcando aos poucos exalava o cheiro de terra molhada, tornando questão de tempo até que a lama abundante atrapalhasse a locomoção das garotas na moto de Carol... mas não a correria de Lilac.

    Uma hora de vantagem...

    Uma caminhada longa...

    Caminhando por uma terra desconhecida...

    E sem destino certo...

    Longe de casa, num mundo desconexo...

    Sob uma cultura diferente e peculiar...

    Nirvana e Chi, dois vieses distintos...

    Porém que se completam...

    E ele não os tinha. Viktor...

    Que vagava sob o planalto acidentado de Dragon Valley, desconhecendo totalmente dos perigos da região inóspita e cheia de sutilezas. Porém essa realmente não era uma preocupação. Com sua mochila nas costas e encharcado por causa da chuva torrencial que caía no vale, Viktor disse a si mesmo naquele momento:

    — Eu não pertenço aqui... Não há porque ficar... Eu... Eu não estou sozinho... Nunca estive... Eu estou...

    Dramatic Stage: 

    The worst moment of my life

    Music: “Stray” by Steve Conte

    “... sozinho.”

    “Stray... Stray...”

    Cada gota que atingia o corpo de Viktor trazia consigo um peso. Não era somente um fenômeno da natureza e sim uma angústia. O jovem humano estava inerte a Avalice e trilhava sua existência no planeta como vivia em seu mundo. Mas pela primeira vez desde que chegou em Avalice, definitivamente ele entendeu o diferencial.

    — Todos me olham diferente... porque eu sou assim. Diferente... e desconexo com o que é esse mundo...

    “Na brisa gélida que me envolvem e pairam o ar

    As memórias de gerações me queimam por dentro

    É assim desde que eu chorei pela dor e a tristeza

    Vou viver e esconder o orgulho que meu povo me deu

    Estou parado, no limite

    E olhando para onde a lua deveria estar”

    Os passos cadenciados de Viktor tocavam o solo, com trovejos ecoando pelas vielas da região. Logo o céu com nuvens pesadas que traziam a tempestade começaram se iluminar, pois raios e trovões rasgavam o ar, facção do momento ainda mais soturno. A desilusão e a apatia de Viktor se tornou sua única companhia, com o jovem conversando consigo mesmo:

    — Tudo isso em breve vai terminar... Eu irei voltar... do mesmo jeito que eu vim parar aqui... ou haverá um outro caminho...

    “STRAY!

    Sem arrependimentos, porque não tenho nada a perder

    EVER STRAY!

    Então, eu vou viver a minha vida do jeito que eu escolhi

    Até eu cair!”

    O desespero por respostas imediatas logo atingiu Viktor em cheio. Se lembrando de cada golpe que receber de Neera, o frio que sentia só o fazia enxergar a panda o sufocando com seu poder e o reduzindo a nada. As imagens eram nítidas e a cara passo seu os momentos ruins que passou no duelo o torturavam sem misericórdia. Sua aflição o tornou indefeso e, temendo todas aquelas lembranças que estavam a sua frente, passou a correr naquela tempestade ininterrupta, com trovões sendo a única fonte de iluminação.

    “Stray, stray...

    Stray, Stray...”

    Parecendo fugir de tudo, o jovem desandou a manter seus passos acelerados, correndo sem rumo... como assim o preferiu. Estava a beira do abismo, caindo cada vez mais em tristeza. Ignorava qualquer dificuldade durante seu caminho em Dragon Valley, pois observava coisas além do lugar. Viktor fugia de Neera, onde ele imaginava estar sendo seguido por sua fúria e imponência. O medo aos poucos ia entranhando em sua mente.

    “Sob a névoa branca, eu nunca falei de lágrimas a você

    Ou disse a alguém como estou, assim como eu

    Eu gostaria de encontrar um jeito de me expressar com você

    Foi há algum tempo, não sei se lembro ou se devo...

    Eu estou aqui esperando, no limite...

    Ficarei bem me expondo para todos?

    É sempre muito difícil fazer”

    — NÃO! EU NÃO VOU TE DEIXAR ME DESTRUIR! ESSA ANGÚSTIA NÃO É POR MEDO! EU NÃO SOU FRACO, VOCÊ OUVIU? EU NÃO SOU UM PERDEDOR! – Gritava Viktor, correndo enquanto chorava.

    “STRAY!

    Sem arrependimentos, porque não tenho nada a perder

    EVER STRAY!

    Então, eu vou viver a minha vida do jeito que eu escolhi

    Até eu cair!

    Stray, stray...

    Stray, Stray...

    Stray, Stray...”

    Viktor aumentou a velocidade de seus passos, chegando até um vale descampado e tomado por água no solo. Árvores ao longo do caminho se contorciam e se envergavam a ventania que dominava o ar no momento. A chuva torrencial era implacável... e as descargas elétricas se tornavam mais frequentes. Mas mesmo naquela situação deplorável, Viktor não recuou... e tomou coragem para se expressar.

    — NÃO IMPORTA! EU NÃO TENHO MEDO! E EU NÃO VOU ME ABAIXAR... EU NÃO VOU PERDER, NEERA! EU NÃO VOU! EU NÃO VOU!

    “Sobrou um lugar pra mim

    Um lugar a qual eu pertenca

    Ou viverei sempre assim?”

    Trovões eram sentidos em todo seu som em Dragon Valley, com raios caindo em volta por onde Viktor corria. Faíscas eram vistas a cada atingir dos raios em árvores e rochas ali próximas. Mas Viktor ignorava tudo isso... se mantendo a correr sem parar.

    — EU ESTOU SOZINHO! AQUI... E EU VOU LUTAR! SE TEM DEUSES NESSE MUNDO CAÓTICO, ENTÃO VENHAM! LUTEM CONTRA MIM! EU DESAFIO A TODOS VOCÊS! EU SEI QUE VOCÊS GOSTAM DE FAZER ISSO COM MORTAIS! SÓ QUE EU NÃO TENHO MEDO! VENHAM... EU OS DESAFIO!

    “ALWAYS STRAY!

    Sem arrependimentos, porque não tenho nada a perder

    EVER STRAY!

    Então, eu vou viver a minha vida do jeito que eu escolhi

    Porque todas as coisas caem

    Stray! Stray!

    Stray! Stray!

    Stray! Stray!”

    Mas um raio púrpuro foi visto cortando o solo do vale. Com raios circundando seu corpo, a dragão heroína de Avalice avistou Viktor, gritando por seu nome:

    — VIKTOR!

    O tempo só lhe foi permitido a isso.

    Viktor olhou para trás e viu o lindo rosto de Lilac.

    Ela estava distante e muito rápida...

    Mas não o suficiente para salvá-lo...

    Antes que um raio caísse exatamente sobre o jovem.

    Uma forte explosão ocorreu, com o estrondo fazendo com que Lilac fosse jogada para longe. Mas mesmo com essa dificuldade, ela efetuou uma manobra ainda no ar, caindo de pé e, a tia velocidade, foi em direção a Viktor. Ele estava lá, caído... e imóvel.

    — VIKTOR?! Não... VIKTOR? NÃO!

    Porém Lilac sentiu seu coração bater, trazendo com isso a esperança perdida... o pegando em seus braços. A chuva era incessante. Logo Carol chegou com sua moto, levando Viktor com mais conforto. Lilac carregou Milla de volta, seguindo sua amiga ao lado de sua moto.

    O olhar das jovens era de preocupação.

    Casa da árvore de Lilac | Noite turbulenta

    Com a chuva torrencial no lado de fora caindo sem parar, o jovem foi acudido novamente pelas garotas. Sentado em uma poltrona na sala e agasalhado com um edredom, Viktor estava com um olhar melancólico e distante, evitando levantar sua cabeça. Carol, olhando para Lilac, logo diz:

    — Tu disse que o raio caiu nele, é isso?

    — Sim...

    — E ele tá bem... Sinistro isso, hein.

    — Carol, ele não está bem... Não diz nada desde que trouxemos ele de volta. Se a Milla não estivesse com a gente nunca teríamos o achado.

    — Lilac, Carol... O que nós vamos fazer? – Disse Milla, temerosa.

    — Milla... Eu... Eu nunca vi o Viktor assim...

    E a dragão, se vendo na obrigação de fazer algo, se aproximou de Viktor dizendo:

    — O que está acontecendo, Viktor? Porque não diz nada?

    E ele, surpreendendo as garotas, falou:

    — Eu sou um inútil...

    — Não, você não é. Porque está com essa ideia?

    — Porque eu sou incapaz de proteger vocês.

    — O que?

    Até mesmo Carol se surpreendeu com isso, dizendo:

    — Pera lá... Tu tá na fossa porque não consegue proteger a gente?!

    — Viktor... O que quer dizer com isso? – Disse Lilac, em um tom mais tenso.

    — Eu não tenho moral de continuar aqui. Se eu não posso protegê-las, não tenho utilidade alguma...

    — Viktor... – Disse Lilac, se aproximando mais.

    — Fui incapaz de vencer Neera... Então eu não devo servir pra nada mesmo... No que adiantou eu lutar contra tudo isso pra no fim eu ser humilhado e ter que viver com essa vergonha? Eu sou mesmo um inútil.

    A dragão foi direta: não suportando ouvir o que Viktor disse, ela deu um forte tapa no rosto do jovem. E ela, mostrando irritação, gritou:

    — SEU IDIOTA EGOÍSTA!

    Carol e Milla correram para próximo de sua amiga dragão, com a felina dizendo:

    — Lilac... Você... Você bateu nele...

    — E VOU BATER MAIS SE ELE NÃO PARAR DE PENSAR ASSIM!

    — Lilac, não faz isso... – Disse Milla.

    — NÃO! EU CANSEI! ELE PRECISA OUVIR VERDADES! – Disse a dragão, se virando para o humano – Você esse tempo todo esteve com a gente... Você cozinhou pra nós, cuidou da gente esse longo período... VOCÊ VIU ALGUMA DE NÓS TE COBRAR ALGO? NÓS TE AMAMOS, VIKTOR! O QUE VOCÊ QUER MAIS?

    — Lilac... – Disse Viktor – Eu me preocupo com a segurança de vocês...

    — ENTÃO PARE DE QUERER NOS PROTEGER! CAIA MA REAL! A Neera é arrogante e prepotente, mas nunca injusta! Ela te fez sofrer, mas não tinha intenções de te causar esse mal que você sente! NÓS ESTAMOS AQUI CHEIAS DE PREOCUPAÇÃO COM VOCÊ E A ÚNICA COISA QUE VOCÊ QUER É MOSTRAR VALENTIA?! NÃO! NÓS NÃO PRECISAMOS SER PROTEGIDAS!

    Carol entendeu bem o que Lilac queria dizer. E ela se viu na obrigação de dizer também:

    — Viktor, essa tua neura aí de querer nos proteger... Cara, a gente sabe se cuidar. Tu não tem ideia do que a gente precisou passar pra chegar até aqui... Tipo, do mesmo jeito que a gente não sabe o que você precisou passar pra tá aqui também... Mano, tu cozinha, cuida da gente, é gentil pacas... Não tem gente igual a você em Avalice. E é isso que te faz ser diferente.

    Milla também se expressou:

    — Você conversa comigo todo dia, me dá conselhos igual a minha mestra... Eu te considero meu mestre, sabia?

    — Milla... – Disse Viktor, surpreso.

    — Derrotamos inimigos poderosos no passado... – Tomou a palavra Lilac – Estive próximo de perder aliados, o nosso planeta... Porém saímos de tudo isso mais fortes. O tempo passou e a gente ganhou mais experiência... Mas aí você apareceu, Viktor... e tudo mudou. Você nos deu uma noção do que a gentileza pode fazer... e com você mostrando respeito por todo mundo. Você mudou pessoas só com esse seu poder único... Então o que você quer mostrar mais?

    — Lilac... Eu... *Elas não estão chateadas comigo. Elas estão mesmo no meu lado esse tempo todo... Independente de eu ter perdido! Mas porque?!*

    — Eu não consigo te entender... Como você pode agir que nem um pouco depois de tudo que passamos? Nossa, a Neera poderia ter te ferido gravemente! Ela tinha essa intenção... PRA TE PROTEGER! Eu não queria nada disso... Nada disso... – Disse Lilac, com lágrimas nos olhos – Mas Neera foi até o fim e poderia ter ido mais além... E você sabe porque ela não insistiu? Porque ela acredita no nosso potencial... Ela sabe até onde podemos ir e o que faremos pra proteger quem amamos! Então Viktor, entenda... Nós podemos nos cuidar... e você deve cuidar da gente como você sempre fez... Do seu jeito todo especial... e gentil!

    A consideração que as garotas estavam mostrando a Viktor reacendeu uma chama até então fraca em seu coração. Logo lembranças boas situaram sua mente, lhe levando a memórias esquecidas de quando estava em seu dojoh. Mais jovem, com seus 12 anos de idade, e sentado frente a seu sensei, com os dois de kimono, ele diz:

    — Mestre, ontem você me disse sobre o Ki...

    — Sim... O que foi?

    — Porque lutadores precisam mesmo recorrer a isso? Eu treino todo dia, fortaleço meu corpo... Mas eu não entendo o porquê de ter de estudar filosofia milenar. Nós seguimos pra frente, indo para o futuro.

    — Hm... O que você diz tem suas verdades, porém...

    — O que?

    — O que você fez ontem?

    — Hã? Como assim?

    — O que você fez ontem? Treinou? Estudou?

    — Sim... Fiz isso. Mas o que tem?

    — E hoje, o que fará?

    — Bem, o mesmo. Daqui a pouco terei de ir pra escola até.

    — E amanhã?

    — Ueh... Também. Mas o que você quer dizer com isso? Que eu sou previsível?

    — Não, Viktor... Na verdade você já tem a resposta para sua pergunta.

    — Hã?

    — O que você fez ontem serve para hoje e servirá para o amanhã. Fazemos isso todos os dias, porém há um momento que você precisa respeitar.

    — O que?

    — O seu próprio momento. É aquele instante que você pensa sobre a vida e escolhe seu caminho. Porém você vai cair nesse trajeto... Mas vai se levantar e seguir em frente. Tia vez que você cair serve como um aprendizado. Por isso o ontem, o agora e o amanhã estão interligados. Você precisa de todos esses momentos para viver... e é por isso que você precisa desenvolver seu Ki. Não é para ficar mais forte e sim mais sábio. Força física é importante, mas você é o mais importante. O seu ser nesse mundo, o motivo pelo qual você existe.

    — Então esse é o porque do Ki...

    — Sim! Através desses ensinamentos, seu caráter se molda, sua vida muda e seu existir toma um significado que abraça o mundo. No fim, tudo o que você faz é o que você vive. Você vive para ser você... melhorar a cada dia... e continuar sendo você mesmo. E então você percebe que está vivendo... porque você encontrou a felicidade. Ela não te premia e sim aos outros a sua volta. Não é um reconhecimento; é um estado compartilhado. Então, no dia que você cair... se levante. Você não é perfeito... nem ninguém. Então não cobre de si o que os outros não cobram de você. O seu momento é só seu!

    E retornando a sua consciência, Viktor ouviu Lilac dizer:

    — Você é importante para todas nós. Veja o que você conquistou sendo você mesmo! Nossa, você é um Daiyamondo! Conseguiu isso sendo você! Você conseguiu várias amizades, SENDO VOCÊ! Então... Eu fiquei furiosa com você porque... Porque você tem muitas qualidades que eu nunca poderei ter! E eu não conseguiria suportar a sensação de... PERDER VOCÊ!

    Ele havia se reencontrado.

    O motivo porque existe...

    Ele o reencontrou...

    Viktor caiu, mas levantou...

    Mais sábio e...

    Mais forte.

    — *Lilac, Carol e Milla são mais importantes pra mim mais que eu imaginava... E isso tudo é... porque sou importante... pra elas!* - Pensou Viktor, se levantando em seguida.

    As três garotas o olharam surpresas e, com ele chorando e sorrindo, diz:

    — Garotas... Eu peço desculpas se as deixei preocupadas. Eu estava sozinho porque quis o meu momento... mas eu busquei um caminho escuro e angustiante. Porém eu na verdade deveria continuar pelo mesmo caminho que eu tomei desde que apareci aqui: ao lado de vocês.

    — É isso! Era o que eu queria ouvir... Eu queria mesmo ouvir isso... Esse é o nosso Viktor! – Disse Lilac, sorrindo.

    — Piá, tamo junto nessa! Tu vai tem que ser sentir sozinho e nem ir pela sombra... Porque tu é o cara. Me amarro na sua! – Disse Carol, sinalizando positivamente com seu polegar.

    — Por isso que eu gosto muito de você, Viktor. Você sempre sabe ouvir e dar bons conselhos. Você é um garoto muito legal! – Disse Milla, sorrindo.

    Logo as garotas correram em sua direção, o abraçando forte. E diante aquele momento emocionante, o jovem humano concluiu:

    — Nunca mais... em hipótese alguma... irei me afastar de vocês e nem de mudar meu caminho. E eu sei como devo viver aqui: do mesmo jeito que eu vivi até hoje.

    O que Viktor queria dizer com isso? Talvez os eventos a seguir digam um pouco melhor.

    No dia seguinte...

    Cidade de Shang Tu | Manhã

    Shang Tu Shopping Center

    Com vários transeuntes andando pelos corredores do lugar, fomos levados até a praça de alimentação, onde se encontravam os restaurantes do shopping. E em frente a um deles estava Viktor, olhando para a fachada onde havia uma placa escrita:

    “Precisa-se cozinheiro”

    Continua.


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