Capítulo 7 - O Casamento

01 de agosto de 1841

Harry dormia serenamente em sua cama, quando foi acordado bruscamente por uma criada de aspeto rude, que lhe disse, enquanto abria as cortinas da janela dos aposentos, deixando entrar o sol:

– Meu senhor, o casamento é daqui a uma hora. – O doncel estremeceu com essas palavras e ela continuou, sem se aperceber de seu receio – Em cima da mesa já se encontra seu café da manhã. Bom dia.

E saiu a passos largos. O Gryffindor se ergueu da cama e se espreguiçou como um gato, pensando em seu pretendente. Não admitiu abertamente, mas tinha ficado encantado com ele. O herdeiro Malfoy era forte e belo, de belos olhos prateados e pele pálida. Pensou no que aquela roupa esconderia por baixo e enrubesceu com esses pensamentos. Se repreendeu mentalmente, sabendo que não deveria ter tais reflexões, e se levantou.

Não devia ter esse tipo de pensamentos, iria descobrir em breve como seria estar em seus braços.

Se dirigiu para a mesa, onde se encontrava uma bandeja com um copo de leite e um prato com ovos estrelados, pedaços de bacon e um delicioso pão quentinho. Não devia comer demasiado, pois podia se sentir mal, ou não caber em sua roupa de cerimônia.

Se sentou e comeu, embora por obrigação, já que, tamanho era seu nervosismo, que não tinha fome. Se esforçou por comer, pelo menos, as panquecas e beber o leite. Não queria desmaiar de fraqueza em seu próprio casamento. Quando terminou, limpou a boca ao guardanapo e se dirigiu para o armário, onde sem encontravam suas vestes. Com cuidado, pegou nelas e observou atentamente. Era uma longa túnica branca, de seda, cravejada a diamantes nos quadris e bordada a ouro nas mangas. Tirando os brilhantes diamantes, que resplandeciam à luz do sol, era uma túnica simples.

Bateram à porta e Harry ordenou que entrasse. Três criadas entraram e duas se dirigiram para o doncel e começaram a prepará-lo, enquanto a outra, que tinha um grande jarro com água quente, preparava seu banho. Elas tiraram sua túnica de dormir e colocaram-no em uma grande tina com água morna. Esfregaram-no com repetidamente, mas com delicadeza, e Harry desfrutou das mãos suaves das criadas e de suas massagens.

Depois de devidamente lavado e perfumado, ajudaram-no a se vestir, tentando domar seu cabelo negro, mas sem sucesso. Arrumaram uma tiara de ouro, com pequenos diamantes, em sua cabeça e suspiraram, encantadas. Colocaram-no em frente a um grande espelho oval, para que se observasse. Harry estava, simplesmente, deslumbrante. Seus olhos esmeraldas brilhavam intensamente e um ligeiro rubor percorria suas bochechas. Parecia um verdadeiro anjo, os diamantes não ofuscando sua beleza, mas aumentando.

As criadas se afastaram, satisfeitas com seu trabalho, ao mesmo tempo que os Duques de Gryffindor entravam. Lady Lily, ao ver seu filho, seus olhos se encheram de lágrimas de alegria e ela disse, emocionada:

– Você está tão lindo, meu amor.

– Obrigado, mamãe. – Agradeceu o doncel, polidamente, mas continuando receoso. Olhou para seu pai, que também estava emocionado. Lord James puxou seu filho para seus braços, o abraçando, sem dizer uma palavra. Harry o abraçou de volta e saíram do quarto. Desceram as escadas e os criados que passavam por eles, se inclinavam respeitosamente, murmurando: “Bom Dia”.

A Duquesa ajeitava sua túnica e seus cabelos negros, dizendo repetidamente que estava belo. Chegaram à entrada do castelo e entraram para o jardim. Harry sentiu uma brisa suave acariciando seu rosto. Um suave odor floral atingiu seu nariz e suspirou, se sentindo muito relaxado. O jardim continuava belo como tinha observado no dia anterior mas, no centro do jardim estava montada uma enorme tenda branca. Avançou, querendo dar uma olhada, mas seu pai o impediu, agarrando sua mão e dizendo:

– Depois você vê. Estão esperando sua chegada.

– Sim, papai. – Disse Harry e respirou fundo, para se acalmar. A Duquesa falou suavemente que tudo iria correr bem, bastava se lembrar das aulas de etiqueta. E ele fez o que sua mãe disse. Pararam ao lado da tenda e Lord James falou:

– Vou informar que você já chegou, filho. – E se afastou, caminhando elegantemente. Harry espreitou, vendo dezenas de cadeiras adornadas com flores. Nobres dos quatro Ducados estavam sentados, conversando entre eles. Estavam bem vestidos, cheios de jóias de valor inestimável.

As mulheres usavam longos vestidos finos e transparentes em musselina, cambraia e usavam malhas brancas ou rosa pálido por baixo. Tinham penteados simples e, muitos deles, adornados com flores. Em suas mãos traziam leques coloridos, que usavam para se refrescarem. As roupas masculinas eram práticas e de cor escura. Muitos homens, principalmente os mais velhos, usavam perucas. Viu Draco no altar, trajava umas calças negras e um longo casaco verde. Tinha o brasão de Slytherin bordado em cima do coração.

Seu rosto pálido era de uma frieza inabalável. Os Duques de Slytherin estavam a seu lado, conversando com o filho. Sem aviso, a marcha nupcial começou tocando, ao mesmo tempo que seu pai se colocava a seu lado. Respirou fundo e avançou, os nobres se levantaram e comentaram entre eles sua beleza andrôgena, fazendo com que Harry ruborizasse. Olhou para sua mãe e ela lhe sorriu, o acalmando. Olhou para seu futuro marido e viu seus olhos o avaliando, e deu um sorrisinho.

As criadas da Casa de Gryffindor estavam no fundo, chorando, agarradas a lenços. Estavam emocionadas por seu menino se estar casando. Parou ao lado do Slytherin e seus pais se afastaram. Draco pegou em sua mão e o ajudou a se ajoelhar em uma belo travesseiro negro. À sua frente surgiu o Rei Dumbledore, vestindo uma bela túnica púrpura, com o brasão do Reino de Hogwarts. Trazia um cálice de ouro na mão, cravejado com pedras preciosas e falou:

– Caros habitantes de Hogwarts. – O local ficou silencioso e ele continuou – Hoje realizaremos a união entre Lord Draco Lucius Malfoy, herdeiro do Ducado de Slytherin e Lord Harry James Potter, herdeiro do Ducado de Gryffindor. Essa união terá os senhores como testemunhas e a aprovação do Deus Merlin.

Entregou o cálice a Draco e abriu um livro, dizendo:

– Leia essas palavras, e depois beba. – O herdeiro de Slytherin leu o texto em surdina, o decorando e, se virando para Harry, falou suavemente:

– Eu, Draco Lucius Malfoy, herdeiro da Casa de Slytherin, prometo honrar, cuidar e ser fiel em todos os momentos de nossas vidas e respeitá-lo até que a morte nos separe. – Harry estremeceu ao escutar essas palavras, eram muito poderosas. Draco bebeu do cálice e entregou ao doncel, que viu que era água. A água simboliza a origem da vida, a fecundidade, a fertilidade, a transformação, a purificação, a força, e limpeza. O começo de uma etapa nova em sua vida.

O herdeiro de Gryffindor observou o texto que o Rei lhe disponibilizava e falou, olhando nos olhos do Slytherin:

– Eu, Harry James Potter, herdeiro da Casa de Gryffindor, prometo honrar, cuidar e ser fiel em todos os momentos de nossas vidas e respeitá-lo até que a morte nos separe. – E bebeu da água, sentindo sua frescura. Entregou o cálice a Dumbledore, que entregou tudo a um criado, e falou:

– Estão oficialmente unidos. – Draco pegou em sua mão e a beijou suavemente. Harry se arrepiou com o toque e enrubesceu. Uma criança, de belos olhos castanhos e cabelo cor de fogo se aproximou com uma almofadinha na mão e o doncel percebeu que era as alianças de casamento. O garoto parou à frente deles e Draco retirou uma aliança de ouro, colocando em seu dedo, enquanto o olhava nos olhos. Harry sentiu novamente arrepios e suspirou. Pegou na outra aliança e, ao pegar na mão de seu marido, percebeu que ela estava fria. Com cuidado, a colocou nos dedos finos e se afastaram.

Seus pais e os nobres se dirigiram para o casal e os felicitaram. Caminharam em direção à tenda e entraram. Harry reparou nas enormes mesas retangulares, juntas umas às outras. Havia só um pequeno espaço a separar, para se conseguir entrar para o centro da tenda. As mesas já estavam prontas, com belas toalhas de linho branco, com comida e bebida, e soube que seria uma grande festa.

OoOoO

Como ele tinha previsto, tinha sido uma grandiosa festa, que durou todo o dia. Os nobres fizeram questão de lhe oferecer presentes e ele abriu-os à frente de todo o mundo, escutando suas expressões de espanto.

Cada presente que recebeu era mais deslumbrante que o outro. Recebeu tecido para suas roupas, joias, livros, entre outros belas peças. Agradeceu, no final, a cada pessoa e distribuiu o bolo de casamento, um enorme doce de três andares, branco por fora, mas com cobertura de chocolate por dentro. No topo tinha duas pequenas estátuas com os símbolos das casas de Slytherin e Gryffindor.

Escutou histórias do Duque Lovegood, que lhe contou como era a vida antes de seu nascimento. Sua filha, Lady Luna, estava ao lado dele e ambos usavam vestes coloridas. Percebeu que eram pessoas generosas, mas excêntricas, não gostavam de seguir as regras de etiqueta. Harry conversou com seus pais, passeou com seu marido no jardim sob os olhares curiosos das pessoas e se deliciou com a comida.

A noite chegou rapidamente e todos estavam sentados à mesa. Alguns ainda saboreando o jantar, e os restantes, a sobremesa.

Quando terminaram, um grupo de criados levantaram a mesa o Rei Dumbledore, que estava sentado entre seu consorte e o Duque Malfoy, no fundo da mesa, se levantou e discursou:

– Meus caros, depois desse maravilhoso dia, cheio de alegria e paz, é hora de terminar. – Escutou sons de desapontamento, todos estavam apreciando a festa. Esperou que se acalmassem e continuou:

– Nosso casal precisa de descansar e cumprir seus deveres matrimoniais. – Harry enrubesceu ao escutar essas palavras. – Para terminar em grande, é hora da dança.

O doncel gemeu internamente, odiava dançar. Viu seu marido se levantando a seu lado e o imitou. Suas mãos se entrelaçaram e ele estremeceu ao sentir a mão fria, contra a sua, que estava quente. Se dirigiram para o centro da tenda e Draco colocou uma mão em seu quadril e outra em seu ombro e ele o imitou. Os músicos começaram tocando uma melodia e eles começaram dançando. Harry prendeu seus olhos esmeraldas nos de seu marido, se sentindo, aos poucos, mais calmo. Dançou com elegância, sentindo os toques de Draco contra sua pele:

– Você dança muito bem. – Elogiou o Slytherin e ele respondeu, satisfeito:

– Obrigado. – Viram os nobres se levantando e imitando seus passos. Dançaram durante muito tempo, sentindo os olhares de todos sobre eles. A delicadeza nos passos de ambos enquanto dançavam era apreciada por todos. Os nobres comentavam entre eles que eram perfeitos um para o outro.

Na quarta dança, se separaram, cansados. Draco, querendo se deitar em uma cama, e ficar sozinho com seu companheiro, falou em voz alta para todos ouvirem:

– Espero que tenham apreciado o casamento e a festa. Eu e meu consorte estamos cansados e desejamos nos retirar.

Escutaram aplausos enquanto se aproximava de seu companheiro e pegava delicadamente em sua mão. Saíram da tenda, Harry sentia seu coração batendo descompassadamente contra seu peito. Escutou passos atrás de si e olhou pelo ombro, vendo seus pais e os Malfoys os seguindo. Criados se aproximaram com lamparinas, iluminando o caminho até ao castelo. Subiram as escadas em silêncio. Um criado já esperava por eles junto à porta. O Duque Malfoy falou friamente para ambos:

– Cumpram vosso dever e nos deem herdeiros. – Harry empalideceu com essas palavras e Lady Lily o empurrou delicadamente para dentro dos aposentos, sendo seguida pelo marido.

As damas de companhia da família Potter entraram também e fecharam a porta. No fundo do quarto havia uma tina. Tiraram sua roupa e o ajudaram a se banhar. Precisava de estar perfumado para sua noite de núpcias. A Duquesa lhe dava alguns conselhos, para que não sentisse tanto receio de estar com seu marido. Ela e James estavam ansiosos para terem um neto, seria mais uma bênção em suas vidas e traria a paz definitiva para seu reino.

Quando terminaram seu trabalho, vestiram-lhe uma camisa de noite rendada e o ajudaram a se deitar na cama. Harry tinha o rosto pálido e tremia ligeiramente. Seus pais o beijaram no rosto e se despediram com palavras carinhosas, saindo dos aposentos.

Continua…