Capítulo 2 - Tudo Vai Ficar Bem

A Duquesa de Gryffindor estava sentada em uma cadeira de baloiço e observava, da janela de seus aposentos, a interação entre os Duques. Seu filho, Harry, que vestia uma delicada peça branca, semelhante a um vestido, longo e com babados, e um gorro da mesma cor na cabeça, dormia no berço a seu lado. Sua dama de companhia, Alice, tentava manter uma conversa com sua senhora, mas seu sucesso.

Os aposentos eram espaçosos, com um enorme armário no fundo, junto à parede. A cama de dossel era grande, podendo caber quatro pessoas. Seus lençóis eram de seda, suaves ao toque, com fofos travesseiros. Dois criados mudos, peças de enorme valor, se encontravam em cada lado, onde tinha um grosso livro de romances e lamparinas. O chão estava forrado com um tapete negro e as paredes brancas continham afixados retratos e o brasão de Gryffindor.

Nervosa, ajeitava constantemente seu longo cabelo cor de sangue, onde se encontrava uma pequena tiara de diamantes, presente de seu marido quando se casaram, e seu longo vestido de seda cor de musgo, com um decote redondo. Em sai delicada mão brilhava seu anel de casamento.

Foi com alívio que viu o Duque de Slytherin assinando o contrato redigido pelo Marquês. Sirius, mesmo sendo um nobre rebelde, sempre tivera boas ideias. E essa salvaria a vida deles. Embora não desejasse que seu filho se casasse sem amor, também queria seu Ducado em segurança.

Pensou que, talvez, com o tempo, seu filho e o primogênito da Casa de Slytherin se amassem da mesma maneira que ela e James. Movimentos entre os Slytherins a tiraram de seus devaneios. Respirou fundo, aliviado, ao ver eles se afastando. Percebendo que já não estavam em perigo, agradeceu fervorosamente a Merlin, ao mesmo tempo que escutavam gritos de júbilo. Escutaram batendo à porta e uma voz masculina falou, abafada:

– Estamos a salvo. – Alice soltou um grito de contentamento e abriu a porta, vendo seu marido. Sorriram, cúmplices, e Lady Lily disse:

– Vá com seu marido, Alice. Está dispensada do serviço de hoje.

– Obrigada, senhora. – Agradeceu ela, sorrindo, e fechando a porta atrás dela. A Duquesa sentiu seu filho se mexendo no berço e, quando ele abriu seus olhinhos, ela pegou nele. Os olhos esmeraldas de Harry encontraram os dela e soltou um gritinho. Deitou-o em seus braços e acariciou suas bochechas, sentindo a maciez de sua pele.

Ficaram em silêncio por algum tempo, escutando as comemorações, até a porta se abrir novamente, e seu marido entrou. Percebeu o rosto pálido e cansado de James e se condescendeu por seus esforços, embora ainda não tivesse aprovado o contrato de casamento. O Duque se aproximou da família e flexionou suas pernas para ficar à altura de sua mulher. Lady Lily estava pálida, mas seus olhos verdes brilhavam em sua direção. Acariciou seus cabelos ruivos, sentindo que ela relaxava aos poucos com seus toques, e murmurou:

– Me perdoe, Lily. – Ela o olhou nos olhos e ele continuou, falando normalmente – Eu não queria falar daquele jeito com você. Mas eu estava desesperado. Estávamos por um fio de sermos atacados e, se eles o fizessem, seriamos dizimados. Tive de pensar em toda a gente.

A Duquesa fechou seus olhos, sabendo que ele tinha razão.

– Você poderia ter conversado comigo, querido. – Falou ela, machucada com a falta de tato de seu marido. James sempre considerara suas palavras, suas opiniões mas, daquela vez, a tinha ignorado. Ele admitiu, sua voz tremendo:

– Entrei em desespero ao pensar em vocês estando em perigo. – A Duquesa viu os olhos marejados de seu marido, e abraçou-o, comovida. Ele continuou, com a voz embargada – A guerra é muito difícil, tudo o que vemos… – Abanou a cabeça – Não conseguia imaginar vocês…

Foi interrompido por sua mulher, que lhe deu um beijo suave nos lábios, emocionada com suas palavras. Ela não conhecia, felizmente, a guerra. Mas via a dor contida nos olhos de seu marido, a rigidez de seu corpo, sempre que ele regressava de uma batalha. Eram longos meses longe da família, recebendo escassas notícias, lutando pela sobrevivência e vendo pessoas, principalmente seus amigos, morrendo à sua frente sem poder fazer nada para impedir. Se olharam nos olhos e a Duquesa sussurrou:

– Eu te amo, James. – Ele sorriu em resposta, seu peito se aquecendo com suas palavras. Acariciou o rosto de sua mulher e falou:

– Eu também te amo, Lily. – Não sabiam como o futuro iria ser, mas esperavam que fosse melhor que o presente.

Continua…