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Nota da Autora: Oi! Espero que tenham gostado do capítulo anterior. Aqui está mais um. Espero que gostem desse. Obrigada a ~Luna13Lovegood pelo comentário, e pelos favoritos. Bjs
Estava um triste fim de tarde e Alice saiu de seu emprego, não sabendo o que iria fazer naquela noite. Sentiu que precisava de sair, de ter uma noite só dela. Apanhou o trem de volta a Bristol, onde ficou lendo posts no facebook. Viu uma informação que estavam colocando em um cinema filmes antigos, e um deles lhe agradou, Casablanca”.
“Vou ver esse.” – Pensou, enquanto saia da estação e se dirigia para a oficina, pronta para buscar seu carro. Quando chegou ao local, cumprimentou os funcionários, pagou o que devia e entrou em seu carro. Sorriu, satisfeita, ao conduzir pelas ruas da cidade em direção à sua casa. Não sentia fome. Tinha acabado de lanchar um delicioso croissant e um suco de maracujá em uma pastelaria próxima do trabalho. Estacionou o carro e saiu, passou por algumas crianças que jogavam futebol no passeio de sua casa, enquanto procurava as chaves. Abriu a porta de casa e tirou os sapatos, suspirando aliviada. Seus pés estavam doendo. Pousou sua bolsa e subiu as escadas em direção ao banheiro. Tirou sua roupa e entrou na box, ligando a água fria. Seu corpo quente estremeceu em contato com a água e tomou uma ducha rápida. Se sentindo mais fresca, saiu do banheiro, com uma toalha enrolada em volta do corpo e se limpou. Penteou os cabelos, sentindo seu corpo mais relaxado. Se dirigiu para o armário e escolheu um delicado vestido em tons azul claro, peças íntimas cor de rosa e umas sandálias de salto. Pintou os lábios de um vermelho vivo e colocou um perfume com cheiro a flores. Desceu as escadas e pegou na bolsa, voltando a sair. Passou novamente pelas crianças, que gritavam e corriam à volta da bola e entrou no carro, o ligando. Percorreu a cidade ao som da música africana, Kizomba, sentindo que tudo vibrava e se enchia de vida e de cor à sua passagem. Com uma sensação de felicidade, estacionou o carro à porta do cinema. Entrou no edifício e se juntou à fila de pessoas que compravam bilhete. Observou suas unhas e mexeu no cabelo, enquanto esperava. Finalmente tinha chegado sua vez e pagou o bilhete. Subiu as escadas em direção às salas de cinema, entregou o bilhete ao funcionário e entrou. Se sentou na fila do meio, o sítio onde se via melhor. Para seu alívio, o filme estava prestes a começar. Não tinha perdido nem um minuto. Percebeu um vulto masculino se sentando a seu lado, mas não olhou. Só tinha olhos para o filme, um drama romântico, de 1942, que se centrava sobre o conflito do personagem principal, Rick, no amor e na virtude: Rick deveria escolher entre sua amada Ilsa, fazendo a coisa certa. Seu dilema era ajudar ou não Ilsa a escapar da cidade marroquina de Casablanca com seu marido Victor Lazlo, um dos líderes da resistência Tcheca, de modo que ele pudesse continuar sua luta contra os nazistas.
Alice se emocionou ao longo do filme, e não pode evitar chorar. Era um filme muito comovente. O homem a seu lado olhou para ela compreensivamente. Ela não tirava os olhos do ecrã, sentindo as lágrimas embaciando sua visão. Queria continuar a assistir, mas não podia. Sentiu movimentação a seu lado e o homem lhe estendeu um lenço.
– Obrigada. – Agradeceu, baixinho, enquanto aceitava e se limpava. Aquela tragédia de amor, era tão intensa como se o filme acontecesse em sua própria vida. Quem amava e não era amado era a personagem de todos os filmes, o centro de todas as tragédias.
Quando a maravilhosa cena do final apareceu, quando os amantes se separaram, ela sentiu mais lágrimas escorrendo por seu rosto. Não pode evitar sorrir entre lágrimas ao escutar as palavras de Rick para Louis, que o tinha salvado a vida, caminhando em meio da neblina: "Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade."
Quando as luzes se acenderam, as lágrimas ainda escorriam por seu rosto.
– A senhora está bem? – Perguntou o homem, enquanto os restantes saíam da sala sem olhar para atrás. Alice só conseguiu acenar com a cabeça, dizendo que estava bem, enquanto se limpava.
– Tem certeza? – Insistiu o homem, preocupado. - Não precisa de nada?
Alice voltou a cabeça, para agradecer, mas estacou. Seus olhos se arregalaram de espanto e sua boca se abriu ao perceber quem era: o escritor! O homem que tinha pensado toda a tarde. “Que coincidência espantosa”, pensou.
– Obrigada. – Agradeceu, se levantando – É só comoção.
– E a senhora tem razões para isso. – Comentou ele, e Alice percebeu que sua vez era rouca – É um filme maravilhoso.
– É verdade. – Concordou ela, caminhado para a porta com ele a seguindo. – Já o vi tantas vezes, mas não posso deixar de me comover. É meu filme preferido.
– O meu também. – Disse o homem e ela sorriu. Saíram da sala e estacaram, se observando. O homem a observou atentamente e, enrugando o rosto, como se esforçasse sua mente, perguntou:
– Me desculpe, mas… – Começou, hesitante – Mas seu rosto me é familiar.
– Sim, a gente se cruzou hoje de manhã no café. – Respondeu Alice, esquecendo que deveria ficar furiosa com ele, mas não conseguindo – O senhor roubou minha mesa.
O rosto de Frank demonstrou admiração por suas palavras e ele se desculpou;
– Como? Não dei conta, me desculpe. Estava distraído. – Alice sorriu, para o acalmar, percebendo que ele tinha ficado atrapalhado, e disse:
– Oh, não se preocupe. Se foi por distração, não há problema…
– Ah, – Interrompeu ele – Mas agora tenho de compensá-la. Espero não estar sendo precipitado mas, que tal um café. Para a animar depois de tantas lágrimas derramadas e, pelo menos, a compensar pela mesa que lhe roubei.
– Pode ser. – Respondeu Alice, sorrindo para ele – Obrigada.
O homem sorriu de volta e ela percebeu que tinha uns dentes lindos. Não acreditava que aquilo lhe estava acontecendo, aquele encontro logo depois de ter visto seu filme preferido. Saíram do cinema e desceram as escadas, enquanto conversavam:
– Eu sou Frank. Frank Longbottom. – Se apresentou ele.
– Eu sou Alice Smith. – Falou ela – Repórter da revista “Mayfair Magazine. E sei que o senhor é escritor.
– Como sabe? – Perguntou ele, curioso.
– Digamos que, quando me tirou a mesa, percebi que estava escrevendo muito. Calculei que fosse escritor.
– É verdade. – Se admirou ele – Normalmente, as pessoas não sabem o que faço.
– E deve ser poeta. – Continuou ela, dando seu palpite – Porque um romancista não é tão distraído, está mais atento às pessoas, seus comportamentos. Um poeta é que está sempre vendo as coisas para dentro, atento às grandes emoções e pensamentos, Acertei?
Frank parou de andar e a observou com ar satisfeito.
– Está tão certa que eu acho que a senhora é que é a romancista. – Ambos riram com as palavras dele, e ela percebeu que os olhos dele eram castanhos e que brilhavam na direção dela.
– Ah, por acaso, gostava muito… – Revelou ela, sonhadoramente, olhando para a rua – Mas nunca tive tempo. Até agora, a vida ainda não me deu nenhuma chance.
– Ainda… – Frisou Frank, a observando.
– Ainda. – Concordou ela, devolvendo o olhar.
– Então, está à espera de um momento para tudo acontecer. – Comentou Frank e ela empalideceu com essa frase. De repente, lhe pareceu que estavam falando de outro assunto, como amor. Se dirigiram para o café ao fundo da rua, um que ela nunca tinha visto. Era um daqueles cafés do tipo americano, muito vintage, com mesas e cadeiras dos anos cinquenta.
Fotografias antigas e grandes de atores e atrizes de cinema, como James Dean e Marilyn Monroe, estavam afixadas na parede. Algumas pessoas estavam sentadas no fundo do estabelecimento e fumavam através de um narguilê, uma espécie de cachimbo de água de origem oriental, utilizado para fumar tabaco aromatizado.
Ela olhou para o local, espantada por sua perfeição. De certeza que voltaria ali novamente. Se sentaram em uma mesa em frente à janela e foram prontamente atendidos por um funcionário, que lhes perguntou:
– Boa noite, o que desejam?
– Dois cafés, por favor. – Pediu Frank e o funcionário se afastou. Continuaram conversando sobre assuntos banais. Alice descobriu que ele escrevia poesia para jornais, sites e revistas. Não conseguia desgrudar seu olhar dos olhos dele. Percebeu que eram cor de chocolate, o que mais adorava na vida. O funcionário lhes trouxe os cafés, dentro de uma xícara de porcelana azul, e Frank pagou. Ela pegou na xícara e bebericou, sentindo o sabor ligeiramente adocicado do café. Frank a imitou e continuaram conversando. Ela se sentia muito bem na presença dele. Ele era o tipo de homem que ela apreciava: bonito, inteligente, culto. Mas ele tinha uma aura de serenidade que a encantava.
Sempre que ela falava, os olhos de Frank se fixavam em cada contorno de seu rosto, como se o quisesse fixar. Alice não conseguiu conter atração e carinho por ele. Aqueles olhos, que pareciam estar sempre em outra dimensão, a fitavam com ternura a atenção. Por ser poeta, era um homem sensível e especial. A conversa se revelava maravilhosa, cheia de interesse e inteligência. Quando terminaram o café, se levantaram e saíram do estabelecimento. Alice percebeu, pelo relógio que estava afixado na parede, que eram onze da noite. Frank a acompanhou até ao carro e lhe pediu o número do celular, entregando o dele. Ela disse, e sorriu quando ele lhe deu um beijo de despedida no rosto. Entrou no carro, enquanto Frank se afastava em direção ao seu, um Nissan March 1.0 S e SV de cor azul. Suspirou e pensou, enquanto ligava o motor e conduzia em direção à sua casa, pronta para se deitar na cama e dormir: “Que homem interessante. Será que ele me irá telefonar amanhã? Será que aguento muito tempo sem lhe ligar?”.
Continua…