Prontas para Amar - Jily.Franlice (completa)

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    Capítulos:

    Capítulo 2

    Capítulo 2

    Heterossexualidade

    Nota da Autora: Oi! Espero que tenham gostado do capítulo anterior. Aqui está mais um. Espero que gostem desse. Bjs emoticon

    Todos os dias, Alice Montgomery-Smith saía do apartamento que tinha comprado no meio da cidade de Brighton, situada mais ou menos a 100 km de Londres, pelas sete horas, e caminhava pelas ruas quase desertas até à estação  London Bridge. Não gostava especialmente de se levantar cedo, mas havia qualquer coisa de diferente nas manhãs de verão, que tornava aquele fato irrelevante. Talvez fosse a luminosidade, que enchia o céu e fazia brilhar as fachadas coloridas das casas, ou o cheiro fresco da noite que ainda se podia sentir. Seu carro, um Fiat 500 vermelho, estava sendo arranjado há uma semana e só poderia ir buscá-lo à noite, para sua felicidade.

    Pelo caminho, olhava as lojas, ainda fechadas, e imaginava o movimento que iriam ter durante o dia. Às vezes, se lembrava até de coisas que lhe faziam falta ao fim do dia. No entanto, o que Alice gostava mesmo era de parar no café Madame Puddiffot, uma cafetaria situada em Springfield Road.

    Desde que se mudara há um ano e meio de Londres para aquela cidade, que elegera aquele café como o lugar certo para o início de suas manhãs, pois tinha a melhor pastelaria fresca e o pão quente e estaladiço, acabado de sair do forno, que era sua perdição. Era um espaço amplo e acolhedor, com quadros coloridos afixados nas paredes brancas. As mesas eram quadradas, de aspeto moderno e cadeiras confortáveis. Logo que se entrava, o cheio delicioso dos pães e bolos acabados de fazer penetrava seu nariz, a fazendo suspirar, com água na boca.

    Ia lá todos os dias, e já tinha até uma mesa habitual: ao pé da janela, onde podia acordar por completo com a agitação das pessoas. Ver o movimento de fora, mesmo ao seu lado, enquanto se sentava calmamente e tomava seu café da manhã, a ajudava a acordar devagarinho, à medida que via a agitação aumentar. Era a única mesa naquele estabelecimento que estava virada para a janela.

    Madame Rosemerta, uma mulher alta, de cabelo curto e loiro, que já a conhecia muito bem e era bom para Alice ser a primeira pessoa que a cumprimentava pela manhã. Já não conseguia pensar em nenhuma outra maneira de começar suas manhãs. Ali, sozinha na mesa, sentindo o calor tocando em sua pele, se preparando para o início de mais um dia.

    Desde algum tempo que ela começara a escutar os ecos de seu coração. Talvez tivesse alguma coisa a ver com o término do casamento de sua amiga, Lily, que a fazia lembrar que o tempo ia passando. De entre suas amigas, era a que mais olhava o amor pelo lado racional. Era mais importante que tudo batesse certo do que ser perfeito. Tinha de gostar de tudo em um homem, logo na primeira vez que se encontrava com um. Suas amigas do emprego, na brincadeira, até a consideravam “ a única mulher que não queria um homem para o mudar”. Com toda essa exigência, Alice tinha sido sempre mais solitária.

    Preferia não ter namorado  e esperar que lhe aparecesse o homem ideal do que, depois, ter de passar por todas aquelas tragédias que ouvia suas amigas contarem aos prantos. Não queria ter de passar pela fase de descobrir as coisas terríveis que os homens eram e faziam quando o primeiro entusiasmo da paixão deixava de existir. Passou por isso uma vez e lhe sergiu de exemplo. Não desejava mudar ninguém. Queria um homem que a entendesse e que ela o entendesse por completo. Gostava de poder se sentir perto de alguém que saberia o que essa pessoa iria fazer.

    Nos ultimos dias,  começara a sentir que faltava alguma coisa em sua vida. Assistia a filmes que passavam na televisão à noite e via as cenas de amor com um sentimento de ternura, saudade, que até ali nunca se permitiria ter e ouvia música romântica na rádio. Quando passava um casal de mãos dadas na rua, sentia um aperto no coração, como se quisesse ser ela a estar ali. Primeiro, pensou que tinha alguma coisa a ver com o verão, aquela época em que toda a gente demostrava seu amor abertamente, mas depois começou a entender que talvez fosse altura de ter alguém mais especial em sua vida.

    Seu tipo de romance preferido, e aquele que mais momentos felizes lhe tinha proporcionado, era o namoro à distância, pois lhe permitia ter o melhor dos dois mundos: se sentir amada e querida a toda a hora e, ao mesmo tempo, ter seu espaço. Seu problema era mesmo esse e ela própria o sabia. Nunca queria abdicar de si, de suas vontades, de seus momentos, de seus costumes. Estar com alguém significaria não só mostrar seus hábitos como ter de ceder também, conhecer e até adquirir alguns hábitos do parceiro.

    Naquela manhã, chegou ao café, como de costume, e encontrou sua mesa ocupada, o que não era normal. Ao princípio tentou minimizar o contratempo e esperou que o ocupante indesejado se levantasse. Se encostou à parede e tocou em seus cabelos curtos, de um tom loiro escuro. Seu rosto redondo demonstrava seu aborrecimento e bateu com o pé no chão, o som do salto ecoando pelo estabelecimento, sentindo que sua rotina tinha sido quebrada por aquele homem. Cruzou os braços, sentindo sua pele suave e, depois de algum tempo, a impaciência se apoderou dela e não conseguiu evitar um olhar fulminante em direção dele.

    Madame Rosemerta nunca a tinha visto assim. Preocupada, considerou a hipótese de pedir ao cliente para que trocasse de mesa mas, antes que pudesse exprimir sua preocupação, viu Alice se dirigir para outra mesa. A dona do café se aproximou e se desculpou, em tom suave:

    – Peço desculpa, menina Alice. Quer que eu vá dizer ao cliente que se levante e arranje outra mesa? Eu não vi ele se sentar ali, senão lhe tinha dito para escolher outro sítio.

    ­ – Deixe estar, Madame Rosemerta. - Respondeu Alice, olhando para o homem – Não tem importância.

    Ela dizia essas palavras, mas não deixava de estar irritada com o homem no outro ponto da sala, que recebia aquele maravilhoso calor dos raios de sol pela manhã. Ele tinha, provavelmente, escutado a conversa, mas não tinha feito nada para remediar a situação.

    ­ – O costume, menina? - Perguntou Madame Rosemerta, a afastando de seus pensamentos.

    ­ – Sim, por favor. - Respondeu ela. A mulher se afastou e Alice olhou para a janela à sua frente, mas sentia que não era a mesma coisa. Sem o sol a aquecendo, não era igual. Olhou para suas unhas pequenas e bem feitas, pintadas de um cor de rosa pálida mas, involuntariamente, atenta ao que se passava na mesa à frente. Começou a perceber que o homem estava muito concentrado, agitadíssimo mesmo, escrevendo rapidamente em um caderno. Sem querer, a curiosidade começou a dominá-la. Tentava perceber o que ele escrevia mas, daquela distância, era impossível.

    Reparou nos ombros largos, na pele morena e na pouca barba sobre o queixo, que revelava que ele seria um homem novo. “Deve ter uns trinta anos.” - Pensou para si mesma. Madame Rosemerta interrompeu sua observação, pousando à sua frente um copo de suco de laranja fresco e um prato com panquecas recheadas com chocolate, juntamente com os talheres. Alice pegou no garfo e agradeceu:

    – Obrigada, Madame Rosermerta.

    – De nada, querida. - Respondeu a mulher e se afastou. Sem deixar de observar o homem, pegou no copo e deu um gole, sentindo o suco descendo por sua garganta. Cortou pedaços de panqueca e comeu. Percebeu que ele tinha um ar seguro de si, tão ausente do mundo em seu redor. Parecia estar vendo alguma coisa fora de si próprio, algo muito belo e cheio de luz. Se lembrou dos olhares de sua amiga Lily, quando estava pensando em como pintar novas telas e soube logo que era um artista. Isso desculpava logo, para ela, todo o mal que ele já tivesse feito. Não estava concentrado. De repente, o homem se levantou e se dirigiu para o balcão. Ela viu que ele usava umas calças azuis e uma camiseta cinzenta. Ele retirou a carteira do bolso das calças e colocou umas notas sobre o balcão, saindo apressado. Ao passar por Alice, ela teve tempo de ver que a cor de seus olhos eram de uma cor estranha, escura. Talvez castanho, ou negro, não saberia dizer. Suas mãos eram grandes, os dedos finos como os de um pianista, e como ele saiu correndo pela porta.

    Continua...


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