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Tempo estimado de leitura: 2 horas
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Nota da Autora: Oi! Mais um projeto em mãos. Espero que gostem da história. Bjs
Uma Boa Leitura a Todos ^^
Sentada à janela no início daquela límpida manhã de junho, Lily Evans parecia uma antiga princesa de um conto de fadas russo, ou uma deusa grega de repente transportada para o mundo dos mortais, com seu delicado vestido vermelho, justo ao corpo, revelando suas formas esguias. Seus longos cabelos ruivos e brilhantes lhe caíam delicadamente sobre os ombros nus, fazendo seu rosto claro e luminoso, pontilhado de pequenas sardas, parecer mais fino e decidido. Seus olhos verdes como esmeraldas, brilhavam ao observar a rua movimentada de carros, as pessoas caminhando apressadas pelas ruas, em direção aos seus empregos. Tinha nas mãos uma xícara de chá de camomila e bebia, enquanto esperava a chegada de seu novo modelo, enviado pela agência de modelos, a BMA Models, que usava também modelos femininos e modelos infantis para anúncios de televisão, entre outros serviços, para iniciarem o trabalho.
Aos trinta anos, Lily estava mais bela que nunca. Era uma mulher com a vida decidida e traçada, com uma carreira de pintora de renome e as melhores expectativas à sua frente.
Deveria começar a pintar um outro quadro mas, naquele dia, se sentia especial, diferente. Um pouco sozinha, também. Há dois anos que Severus, seu marido, e ela se tinham divorciado. Casados durante seis anos, cedo perceberam que o temperamento artístico de Lily, habituada a ficar sozinha com seus quadros e seus pensamentos, não se podia conjugar com uma relação amorosa a tempo inteiro. Um homem gosta da atenção do sexo feminino, aprecia suas amabilidades, sua dedicação e carinho, de sair e jantar com uma mulher bonita que o espera e deseja. E Lily, centrada em seus quadros, parecia estar sempre olhando para o infinito, com um ponto onde era difícil de tocar ou chegar.
Severus a amava, muito, mas sentia que ela parecia estar sempre em outro lugar, em um ponto onde era difícil chegar e, muito menos, tocar. E ele era um homem prático, daqueles que se dedicavam mais eficazmente aos negócios e às aplicações financeiras do que à procura do sentido de vida de sua mulher.
Ela amava seus quadros, mas apenas na medida em que podia ler se sua felicidade estava, ou não, em jogo. Lily pensava em tudo isso, enquanto olhava para fora, para aquela manhã profunda e dava uma vista de olhos às telas a seu lado encostadas à parede de sua sala, um cômodo espaçoso com dezenas de quadros pintados das mais variadas formas e cores, tal como telas vazias. No centro, estava um cavalete e um banco de madeira, com uma pequena mesa ao lado, com frascos de tinta e pincéis. Ao fundo da sala estava uma lareira, com algumas toras de madeira guardadas dentro de uma caixa de ferro.
Tapando todo o chão de madeira estava um tapete, manchado de tinta, impedindo que se sujasse. Se perguntava: Quando encontraria alguém para partilhar seus dias, tudo o que poderia dar? Quem seria esse desconhecido que ela procurava? Que desejaria que ele lhe desse? O amor? A partilha de sentimentos, de vivências, de emoções? Mas ela era a personagem que andava sempre à procura do que não encontrava, do que não conseguia enxergar. Era a razão pelo qual pintava: para tentar alcançar o mistério, o que estava afastado de si. Pensava no amor, no homem misterioso que um dia se cruzaria com ela e com seu destino. E, até o encontrar, pintava. Era uma forma de o encontrar entre o segredo das cores, das formas das coisas. Pintava.
OoOoO
Até aí, não tinha sido uma pessoa muito feliz. Seu temperamento a levava a se afastar das pessoas e dos lugares, apesar de ser uma mulher sociável. Gostava dos jogos de sedução do público, como se representasse. Mas não gostava das pessoas, intrusas e sempre demasiado atentas a seus próprios pensamentos e comportamentos, demasiado fúteis para falarem o que realmente importava.
Não gostava dos olhares das pessoas, que transmitiam o que realmente pensavam sobre ela. Que, mesmo sendo famosa, não servia para aquele círculo social. Preferia ficar em casa, pintando, colocando todos seus sonhos, seus desejos e realidades em uma tela. Era feliz assim. Amigas, tinha poucas. Mas Alice era uma delas. Desde os tempos de faculdade, onde tirava Artes Plásticas, e Alice o curso de Jornalismo, na Universidade de Cambridge, que ambas tinham uma amizade estruturada, antiga, mas estranha. Se apoiavam, partilhavam pensamentos, a diversão, os segredos, mas havia uma competição feroz – como aquilo que separava duas aias de uma rainha.
Ambas solteiras, de uma beleza imensa e delicada, ainda não tinham encontrado o amor. Faltava saber se era possível, se duas mulheres sem amor, sem amigas, deixariam que uma delas encontrasse a paixão, ou acabariam por se impedir mutuamente de alcançar o grande prêmio da existência, da aposta que tinham realizado muitos anos antes.
Pensava em tudo aquilo. E como todas as suas qualidades se manifestavam naquele jogo claro-escuro de traços, de rabiscos, ela pintava. Pintava, sem fim. Pois esperava que, por detrás da realidade iria aparecer, algum dia, a figura que lhe seria dada para amar.
Continua...