Capítulo Único

Hermione sentia uma grande dor em seu peito, como se seu coração estivesse despedaçando aos poucos. Ela andava sempre triste, preocupada e pensativa, sem vontade de fazer o que mais gostava. Tinha descoberto que amava seu melhor amigo, Harry, mas não sabia se era correspondida.

Ele a tratava como uma irmã, com carinho e admiração, mas ela desejava ser vista de outra maneira, e não tinha coragem para se declarar. Tinha receio que, se revelasse seus sentimentos, Harry não correspondesse. E se xingava mentalmente por sua coragem Gryffindor não se manifestar em certos momentos, quando se encontrava a sós com o garoto de seus sonhos.

Sonhava que se declarava, que ele dizia que a amava e se beijava, com paixão. Mas, em vez disso, ficava ruborizada e tremia, enquanto gaguejava, e se sentia ridícula, mas não conseguia evitar.

Desejava abraçá-lo, sentir os braços dele em redor de seu corpo, seus lábios contra os dele.

Uma noite, estava especialmente triste porque tinha visto, naquela tarde, Harry conversando com uma garota Ravenclaw. A garota sorria animadamente para ele, e Harry correspondia. Ela pensava que ele nunca iria ter nenhum tipo nenhum relacionamento com ela, uma garota de cabelos rebeldes e pele negra. Embora não parecesse, os bruxos eram tão preconceituosos quanto os Muggles. Eles não gostavam de pessoas com cor de pele diferentes se relacionassem. Tinha voltado para o dormitório, com lágrimas nos olhos, e pegado em um livro de Encantamentos. Caminhou, sem rumo, pelos corredores do castelo. Não encontrou ninguém pelo caminho.

Quando deu por si, reparou que se encontrava na Torre de Astronomia. Destroçada, se aproximou de uma janela e olhou para o céu. A lua brilhava timidamente, acompanhada por suas fieis amigas, as estrelas. Ela adorava o sossego da noite, o brilho da lua e das estrelas, tal como o piar das corujas e o cantar das cigarras.

Seus pensamentos voltaram para Harry e a garota Ravenclaw e, sem que pudesse controlar, lágrimas escorriam por seu rosto. Sentia que seu coração estava quebrado em mil pedaços.

Doía. Doía amar e não ser correspondida.

Doía olhar para o garoto que amava na companhia de outra garota.

Doía o fato de ele a olhar somente como amiga.

Doía.

Era uma das piores dores que ela tinha alguma vez sentido em toda sua vida. Se pudesse, se afastaria de Harry, para o esquecer, mas não conseguia estar longe dele. Ele era seu melhor amigo, o garoto que amava.

Suspirou e limpou as lágrimas que estavam em seu rosto. Se pudesse, arrancaria a dor que estava sentindo em seu peito. Era um fardo que tinha de suportar.

Se sentou no chão gelado da Torre e pousou a cabeça em seus joelhos, pensando nele. Ficou nessa posição durante muito tempo. Um vento fresco entrava pela Torre, a fazendo tremer de frio. Abraçou com força o livro, chorando copiosamente. Pela primeira vez em sua vida, não havia resposta em nenhum livro para o que estava sentindo. E era assustador. Um barulho repentino a fez erguer seu rosto. Ficou assustada, pesando ter sido flagrada, quando viu Harry à sua frente, a observando. O rosto dele estava sério e seus olhos esmeraldas brilhavam.

Se levantou de rompante, o livro caindo com um baque no chão da Torre. Limpou as lágrimas e fitou o amigo com uma expressão de dor. Ficaram se observando por uns momentos, sem dizerem uma palavra. O coração de Hermione batia tão rapidamente, que dava a sensação de que iria sair de seu peito. O tempo passava e aquela quietude estava começando a incomodar. Não aguentando mais, quebrou o silêncio, perguntando:  

— Harry, o que está fazendo aqui?

— Estava saindo da cozinha quando vi você caminhando e decidi seguir você. – Respondeu ele, e Hermione o fitou, desconfiada, uma parte de si temendo que ele se tivesse reencontrado com a garota, e fez outra pergunta:

— E o que estava fazendo na cozinha?

— Fui falar com Dobby, há algum tempo que a gente não se falava. – Disse ele, acalmando seu coração atormentado. Mas ela queria saber porque ele estava ali na Torre de Astronomia:

– E o que você está fazendo aqui? – Harry estava pronto para responder, quando observou com atenção o rosto molhado e os olhos vermelhos da amiga, e perguntou, preocupado:

— Você estava chorando?

— Não, Harry. – Mentiu ela, não querendo que Harry ficasse preocupado. Ele a fitou, desconfiado. Se aproximou dela e a puxou contra si, rodeando seus braços em redor do corpo dela, a abraçando fortemente. Hermione ficou surpresa com o gesto dele, não sabendo como reagir. Seu corpo ficou tenso com o toque repentino, o perfume masculino entrou por suas narinas. Sentindo o calor dos braços dele, se acalmou aos poucos e, mais relaxada, o abraçou de volta.

Não soube quanto tempo ficaram abraçados. Para Hermione, pareceram horas. Harry acariciava seus cabelos rebeldes, a deixando cada vez mais relaxada. Era tão bom sentir o corpo dele contra o seu, sentir seus toques. Passado um longo tempo, se afastaram lentamente. Hermione queria senti-lo um pouco mais. Se olharam nos olhos e Hermione observou os olhos esmeralda de seu amigo, por detrás dos óculos redondos e percebeu que continham um brilho especial.

Baixou o olhar e reparou que ele tinha as mãos pousadas em seus quadris. Sentiu seu rosto esquentar e temeu se descontrolar e o beijar apaixonadamente, como sempre sonhara fazer. Colocou suas mãos nos ombros dele, tentando se afastar, mas ele a agarrou fortemente, sem a machucar, mas não permitindo que se movesse. 

— Harry… – Falou ela, fracamente, enquanto olhava para o rosto ruborizado do amigo. Tinha de se afastar rapidamente dele, antes que perdesse a razão e o beijasse, mas Harry, com uma mão, tocou delicadamente em sua bochecha, a fazendo estremecer de desejo. Sentiu que estava perdendo suas forças, que estava fracassando em sua luta. Abriu a boca, tentando afastar o amigo, mas Harry aproximou seu rosto do dela e pressionou seus lábios contra os dela com delicadeza, com uma gentileza que ela nunca tinha sentido com Viktor.

Uma sensação esfuziante de alegria se apoderou dela, que colocou inconscientemente seus braços em redor do pescoço de Harry

Nenhum deles soube quanto tempo ficaram se beijando. Parecia uma eternidade. Sentindo o ar escasseando, lentamente, se separaram. Ela sentiu que seu coração batia descompassadamente e respirou fundo, para se acalmar. Olhou nos olhos de Harry e reparou que brilhavam intensamente. Não pode deixar de sorrir. Ele pegou em suas mãos e ela sentiu que estavam quentes em contraste com as suas, que estavam frias. Apertou delicadamente enquanto gaguejava:

— Mione, eu…eu te amo. – Declarou, envergonhado e seu coração falhou uma batida – Você quer namorar comigo?

Hermione mordeu seu lábio, sentindo uma enorme vontade de chorar. Há muito tempo que desejava escutar essas palavras vindas do garoto que amava. Percebeu que, embora ele estivesse calmo, suas mãos tremiam levemente contra as suas. Sorriu timidamente e respondeu, com suavidade:

– Sim. – Ele sorriu, aliviado, e ela continuou, declarando – Eu também te amo.

Harry colocou suas mãos no rosto dela e a olhou carinhosamente, a fazendo se sentir amada. Mas a garota Ravenclaw surgiu em seus pensamentos, e ela se afastou de rompante. Ele a olhou, intrigado e perguntou:

— Que aconteceu, Mione? – Hermione perguntou, não contendo o ciúme em sua voz:

— Quem era a garota Ravenclaw com quem você estava conversando hoje de tarde? – Harry a 0fitou, por uns momentos, confuso, mas seu rosto relaxou e se começou a rir. Hermione ficou furiosa e bateu no ombro dele, que parou de rir, percebendo que ela estava chateada. E Hermione chateada era perigosa. Se acalmou e respondeu:

— Serena estava conversando comigo sobre a AD. Ela queria saber se iríamos voltar ao ativo. – Hermione sentiu um alívio repentino e suspirou, mais calma. Era bom saber que Harry não tinha uma namorada e que a amava. Mas estava curiosa para saber sua resposta:

— E o que você respondeu?

— Disse que, por agora, não estamos pensando voltar. Mas, talvez um dia…

Ela sorriu e Harry a abraçou, sentindo os braços dela rodeando seu corpo. Finalmente se tinha declarado à garota que amava e estava aliviado por tê-lo feito. Era confortante senti-la junto a si.

— Você quer namorar comigo? – Perguntou, de repente. Hermione se afastou, chocada com sua pergunta, mas também feliz. Não acreditava no que tinha escutado, seus sonhos estavam se tornado realidade. Ela sorriu, emocionada, e respondeu:

— Sim, aceito. – Harry deu uma risadinha baixa e suave, antes de comentar:

— Ciumenta. – Ela arregalou os olhos, admirada, e tentou responder à acusação, mas ele a agarrou pelos quadris e a beijou de rompante. Hermione gemeu ao sentir os lábios suaves de seu namorado, uma palavra que não pensaria sobre Harry. Um namorado, Harry era seu namorado. Ela se esqueceu do que ia dizer, fechou os olhos e aproveitou o beijo.

Se, sempre que discutissem, ele a calasse desse jeito, ela não se importava. Suspirou e se agarrou fortemente a Harry, que a abraçou de volta.

Hermione estava feliz. Harry a amava e era tudo o que ela sempre tinha desejado. Estava tudo bem.

FIM