O Silêncio de Dois Corpos

  • Kidu
  • Capitulos 2
  • Gêneros Drama

Tempo estimado de leitura: 30 minutos

    18
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Capítulo 2: O Fim da Carapaça

    Hentai, Heterossexualidade, Nudez, Sexo, Violência

    Capítulo Dois: O fim da carapaça

    O Uchiha deu-lhe as costas e foi embora, após um comentário de apoio que nunca foi característico do garoto frio e individualista que sempre foi. Ela ficou ali, observando enquanto andava até o fim da rua e virava a esquina, para somente então entrar em casa. Ao fim do pequeno passeio que tivera em companhia de Sasuke, seus olhos já não estavam mais tão inchados, e suas feições definitivamente não estavam mais tristes como no momento em que fora encontrada chorando, em cima de uma árvore, pelo garoto que tão gentilmente a acompanhou até em casa, fazendo-a se acalmar.

    Vagarosamente foi andando pelos jardins de sua casa, e soltou um suspiro tristonho ao parar bem em frente à porta de seu lar, ?Por algum motivo, preferia estar agora com Sasuke-san?. Vendo que não tinha outra saída que não fosse abrir a porta e encarar sua família, Hinata resolveu adiantar tudo para que pudesse ir logo para seu quarto e pensar sobre tudo o que acontecera naquele dia.

    Enquanto isso, Naruto continuava sentado no beco escuro, olhando para o espaço que a um segundo atrás era ocupado por um Sasuke enfurecido e muitíssimo diferente. ?Difícil de engolir que nada aconteceu com o Sasuke. Ele sempre foi frio, nunca se importou com mais do que uma ou duas pessoas, e agora veio tirar satisfações comigo porque acabei magoando sem querer a Hinata. Esquisito?. Sasuke tinha saído do beco, caminhando ainda cheio de raiva, quando passou por Sakura, que o acompanhou com seus olhos verdes tão expressivos quanto uma esmeralda.

    - Sasuke! ? chamou-o a garota de cabelos rosados ? O que houve?

    Parando, Sasuke deu meia volta e procurando se acalmar voltou pensando na forma menos ofensiva de perguntar algo a sua ex-parceira.

    - Sakura, preciso que você me responda algo, e que seja sincera ? seus olhos negros pareciam prontos para engoli-la caso mentisse, e estavam tão intimidadores do que quando ativados em seu estado mortífero ? Esse seu namoro com o Naruto, é pra valer?

    - O que? Algo muito ruim deve ter acontecido, pra Uchiha Sasuke estar se incomodando em perder uma garota pra outro cara ? brincou Sakura ? Olha, eu juro que tentei te conquistar. Esforcei-me desde o dia em que te conheci, dei meu suor, sangue e lágrimas por você, e nada. Até que um dia, eu descobri que não estava mais apaixonada pela mesma pessoa. Desde aquele dia, até anteontem, eu fiquei refletindo até que decidi me declarar pro Naruto. E vi que ele era a pessoa certa que eu estava esperando há tanto tempo. Você não ficou magoado com isso, ficou?

    O Uchiha fitou-a de cima a baixo, procurando algum traço de mentira nas palavras daquela que sempre fora doentiamente louca por ele. E, para sua surpresa, ela estava mesmo sendo sincera. Isso causou uma sensação de alivio no jovem que murmurou algo do tipo: ?Ah ta, sejam felizes?, e partiu, indo em direção a sua casa, pensando piedosamente em Hinata.

    Foi para casa, precisava pensar. Essa confusão toda em sua cabeça o estava matando. ?Não sei exatamente o porquê de eu trata-la de forma diferente. Talvez por se tratar de uma pobre coitada que foi rejeitada pelo Naruto. Deve ser doloroso?. Nunca antes ele tinha sido rejeitado, apenas rejeitara automaticamente toda e qualquer garota que se declarou para ele até o momento, mas por alguma razão, Hinata não despertava o repúdio do Uchiha. Decidiu-se por manter o argumento de que ela nunca quis nada com ele, por isso não tinha razão deixá-la ali. Mas, tudo o que aconteceu, de alguma forma mudou sua forma de pensar.

    Assim que chegou em casa, bateu a porta da sala, trancando-a em seguida. Despiu-se no meio do caminho até o banheiro, e tomou uma ducha gelada para refrescar. O calor em sua casa realmente estava infernal, principalmente naquela época do ano. Após a ducha, abriu a água da banheira, e assim que encheu, mergulhou, para mais uma sessão de reflexão. Tinha adquirido esse hábito assim que se restabeleceu em Konoha novamente, após sua viagem de dois longos e sofridos anos, em busca da vingança de seu clã, agora já concretizada.

    Por mais que se esforçasse para achar uma razão aparente para demonstrar algum tipo de afeto por uma garota praticamente desconhecida, tudo o que conseguia visualizar em sua mente eram cenas dos momentos breves em que estiveram juntos. O toque de sua mão ao descerem da árvore, a respiração dela em seu peito quando se aproximou para tentar animá-la, o que por sinal nunca fez sentido na mente do jovem. Tanto pensou, refletiu e reviu as cenas em sua mente, que adormeceu ali, metade do seu corpo imerso na água quente relaxante da banheira de sua suíte.

    Nesse mesmo momento, só que a alguns quilômetros de distância, não muitos, dali, Hinata jazia deitada em sua cama, as pequenas e delicadas mãos repousando sobre o peito, o rosto levemente corado, e em seus olhos perolados, uma expressão completamente perdida. ?Não é que eu sinta algo por ele, mas nunca fui tratada assim por ninguém. E também, ele nunca tratou ninguém assim, e isso é esquisito. Mas aqueles olhos dele pareciam querer me engolir, eu me senti perdida encarando aqueles globos negros?, remexeu-se em sua cama, quando ouviu batidas em sua porta.

    - Hinata-sama, posso entrar? ? era Neji, seu primo. Na realidade ele agia mais como um irmão superprotetor do que realmente um primo.

    Levantando-se de seu leito, a garota foi até a porta e abriu uma fenda. Não pretendia ser perturbada enquanto não chegasse a alguma conclusão sobre Sasuke e Naruto. Tudo o que podia ver do corpo de seu primo era uma pequena faixa de seu rosto, que revelava um de seus olhos também perolados, herança de família. Pelo que pôde constatar pelo tom indignado em sua voz, e seu olhar agressivo, Neji descobrira que ela tinha sido acompanhada pelo garoto Uchiha até em casa.

    - Desculpe, nii-san, mas preferia ficar sozinha agora... ? disse num tom tão baixo que se não estivessem numa casa muito quieta, provavelmente o garoto não seria capaz de ouvir ? Por favor, me deixe por enquanto.

    - Entendo. Ta pensando naquele emuxinho do Uchiha, não é? ? o tom de ironia não foi muito bem aceito pelos ouvidos da primogênita da família, que apenas fechou a porta na cara de Neji, que rindo-se, foi embora, determinado em acertar isso numa próxima oportunidade. Desde que se conheceram, na fase inicial do exame Chuunin, que Neji e Sasuke se tratavam como rivais. E Sasuke sempre teve a personalidade perfeita para arranjar inimigos e rivais.

    Sasuke acordou repentinamente, dentro de sua banheira. Acabara pegando no sono, ao se forçar a pensar alguma razão para o seu estranho comportamento. O mais esquisito não era isso, e sim o sonho que teve. Sonhou com Hinata, os dois voltando algumas horas no tempo, ainda em cima daquele galho. Mas ele nunca dizia nada, apenas olhava naqueles olhos penetrantes e perolados da garota a sua frente, seus lábios doces e gentis lhe pareciam muito convidativos, seu cheiro apenas o deixava mais entorpecido. Num impulso, o garoto ia se aproximando, e cada vez mais a distância ente os dois era menor, visto que ele não parava de chegar mais perto. Passou uma de suas mãos no rosto da menina de tez pálida, e sentiu o toque de sua pele em sua mão novamente. Já estava insuportável tudo aquilo, aquele jogo de sedução, onde nenhum dos dois sabia se era o sedutor ou o seduzido, por mais que Sasuke achasse que ele era superior. Afinal, ele tinha sempre que ser superior. Seus rostos estavam colados, suas respirações se misturavam na pouca distância de suas bocas. Quando seus lábios iam enfim, se tocar, exatamente no momento em que a espera terminaria e com ela a sua tortura mental e moral, o Uchiha se encontra assustado e imerso até a cintura na água quente de sua banheira.

    - O que, em nome da minha sanidade mental, foi isso? ? exclamou o rapaz, pondo as duas mãos em forma de concha sob a água, e jogando-a em seu rosto ? Eu não era assim. Nunca fui, nem quando meus pais eram vivos.

    Esvaziou o conteúdo da banheira, e vestiu-se. Saía do banheiro com uma camisa branca, larga, e uma bermuda preta, que ia até seus joelhos. Sempre se vestiu assim, roupas largas e cores neutras. O máximo que fazia era por o emblema de seu clã, por mais que ele seja o único sobrevivente, nas mangas de suas camisas de trabalho. Ainda com a sensação de que precisava espairecer, Sasuke foi se exercitar, fazendo séries e mais séries de flexões, abdominais, enfim, exercícios para manter seu condicionamento físico perfeito, algo que era tido como o maior orgulho próprio, além do fato, é claro, de ter vingado sua família, matando seu irmão.

    Horas depois de fechar a porta na cara de Neji, Hinata finalmente saía de seu quarto, ainda incerta sobre a natureza dos atos de Sasuke. Precisava descobrir o que se passava pela mente do jovem de cabelos negros e olhos igualmente escuros como a noite. Esse desejo lhe corroia a alma, e ocupava sua mente, fazendo-a cair em devaneios loucos com o garoto frio que se compadeceu por ela. Envergonhava-se de sonhar acordada, principalmente sobre alguém que mal conhecia ou falava. Só que era um desejo tão profundo dentro de si, que criava uma certa angustia, no caso de ele a encontrar novamente e tratá-la com desprezo como as outras. Mal sabia ela que o Uchiha estava se comendo por dentro a procura da mesma razão.

    Nisso, dois dias se passaram, sem que nada de novo acontecesse. Ao contrário do dia em que Sasuke e Hinata se conheceram, o céu estava nublado, repleto de nuvens carregadas. Muitos resolveram ir para suas casas mais cedo, em decorrência da chuva catastrófica que estava para cair. A única parte não tão ruim desse temporal, é que não havia previsão de ventos fortes, o que acabou por se tornar o fator determinante para uma pessoa permanecer onde estava: Uchiha Sasuke.

    Permaneceu no grande edifício da Hokage, onde a maioria dos profissionais de sua área trabalhavam, com exceção apenas daqueles em missão. Analisava alguns criptogramas de mensagens secretas interceptadas por alguns de seus companheiros de trabalho. Sim, era um trabalho que definitivamente não era seu favorito, mas alguém tinha de faze-lo, e Uchiha Sasuke jamais se rende a um desafio. Só que algo o estava perturbando: a cena de seu sonho em que ele e Hinata quase se beijam ficara estampada em sua mente, fazendo com que volta e meia ele se pegasse no meio de algum devaneio alucinado.

    - Droga! Já é a quarta vez, só nos últimos 20 minutos! ? reclamava o garoto em voz alta, já que estava ali sozinho ? Eu tenho que dar um jeito nessa minha porcaria de cabeça, e tirar esses pensamentos de mim.

    Estava farto daquilo. Não era de seu agrado que tenha deixado de ser frio e apático com alguém, principalmente com uma garota, o que criava idéias sujas nas mentes mais poluídas ainda de todas as jovens que faziam parte do fan clube Uchiha. Podia mexer com sua mente, com suas fãs, mas que não interrompesse seu trabalho! Vivia para isso, e fazia isso para viver. Era uma relação de interdependência, muito triste para alguém nas condições dele, mas era a pura e crua realidade.

    Jogou tudo para o alto, ?Que se dane, vou pra casa!?. Ela havia vencido mais essa. Pouco a pouco, o garoto ia se desfazendo de suas antigas características, em nome da incompreensão de seus próprios sentimentos. Era humilhante demais para expor para alguém, era forte demais para ficar sem fazer nada. Fechou a porta de seu escritório, e desceu as escadas. Nunca pegava o elevador, dizia que era ?coisa de gente preguiçosa e sedentária?. Entretanto, ao chegar no imenso térreo do prédio, eis que ele encontra com a única pessoa que não tinha intenção de ver naquele momento: Hinata.

    Ao ver a Hyuuga ali, parada, a olhar para porta transparente, por onde via a chuva cair violentamente, não pôde evitar em reparar no quanto a garota era atraente. Estava vestida com uma camisa de botões, branca, de mangas curtas, e uma calça de brim, azul marinha, que realçava bem suas curvas, além dos sapatos, pretos. Tinha quadris não muito grandes, e também não eram pequenos demais, ?Na medida?, segundo Sasuke. Suas coxas eram muito próximas a perfeição, mas o que realmente prendeu a atenção de Sasuke foi o fato de ela estar de costas (Não preciso nem dizer o que ele olhava), o que prendeu toda a atenção do jovem por alguns segundos, antes de se dar conta de que estava agindo como um pervertido, feito Kakashi ou Jiraya. Sacudindo bruscamente sua cabeça, o Uchiha foi andando, com a intenção de passar batido por Hinata e seguir seu caminho sem ligar para a garota que observava a chuva cair com um semblante preocupado.

    Foi andando, pondo a mão nos bolsos de seu casaco, um casaco preto, feito de um material especial que mantinha a temperatura amena em qualquer estação. Era a peça de roupa que Sasuke mais dava valor, na verdade era a única que ele dava valor. Estava também usando calças escuras, que apenas não chegavam ao chão, pois seus tênis não deixavam que a barra da peça arrastasse no piso. Tirou um guarda-chuva de um dos bolsos do casaco, e ia passando, mas seus olhos não resistiram em olhar o rosto que o castigava constantemente em seus sonhos. Notou que ela não possuía nada que pudesse protegê-la do temporal que desabava lá fora. ?Não Sasuke, não!?, tarde demais. Parou bem ao lado de Hinata.

    - Olá, Hinata-san ? disse Sasuke, mais uma vez contrariando a si mesmo ? to vendo que ta sem guarda-chuva.

    - Ah... ? após uma exclamação de susto, continuou a falar num tom muito baixo ? é, esqueci o meu.

    - Bem ? ?Sasuke, faça o que fizer, não se ofereça para levá-la em casa? ? já que eu tenho um e devo ser a última alma viva dentro desse prédio, que tal se eu te desse uma mão? ? ?Argh, eu fiz de novo!?

    Hinata corava, a cada palavra dita pela voz grave e séria do rapaz ao seu lado. Novamente ele. Novamente, tendo milhares de pessoas em toda Konoha, tinha que ser ele a ajudá-la. Por um momento esqueceu-se de todo o resto, e olhou novamente no interior daqueles olhos negros que tanto a faziam se perder em sua imensidão misteriosa. Mas dessa vez, algo novo aconteceu. Sasuke sentiu que ela o admirava, e corou. Uchiha Sasuke corava por causa de uma mulher!

    - Eu... ? não tendo outra opção e para horror do Sasuke interior, que ainda pensava como o Sasuke normal ? eu... Aceito sua ajuda, novamente, Sasuke-san.

    Os dois saíram do prédio, parando na debaixo da marquise para poder abrir o guarda-chuva. Assim que o instrumento estava aberto, os dois se posicionaram de forma a ficar cobertos por ele, mas Sasuke sabia que não ia ser possível para os dois se cobrirem por completo. Saíram na chuva, e o garoto, disfarçadamente, segurava o guarda-chuva de modo a cobrir Hinata por completo, deixando metade de seus ombros se molhando naquela chuva, que além de forte, estava cruel de tão gélida.

    Caminhavam tranqüilos, até o Uchiha notar que sua acompanhante estava de braços cruzados. Ainda com o olhar fixo em Hinata, várias hipóteses se formavam em sua cabeça, desde algo ruim que tivesse acontecido a ela no trabalho, até mesmo... Não estar aproveitando sua companhia. A garota notou que Sasuke a olhava com um rosto indagador, por isso decidiu fazer um comentário, para ver se conseguia quebrar a frieza de Uchiha Sasuke.

    - Estava frio, né, Sasuke-san? ? comentou, ainda que com muito esforço, a jovem de cabelos negro-azulados. Então era isso que ela tinha! Frio! Um alívio muito grande tomou conta de Sasuke, que parou na hora em que ela abriu a boca.

    - Segure aqui, por um minuto, por favor ? disse, entregando a ela seu guarda-chuva. Tirou seu casaco, e que não era um casaco qualquer, era "O casaco", e deu a ela, pra que ela vestisse ? Vista isso, senão irá pegar um resfriado.

    Tanto o rapaz, como a garota coravam intensamente. Trêmula, de nervoso, Hinata pegou o casaco e o vestiu, mesmo ele ficando muito largo. Sentiu-se bem, de repente. Sentiu-se aquecida, mas não por fora, seu bem-estar era no coração. Continuaram andando em silêncio, até chegarem numa bifurcação.

    - Bem, aqui a gente se separa ? disse Sasuke ? Mas você pode ficar com o casaco e o guarda-chuva, nenhuma chuvinha é capaz de derrubar Uchiha Sasuke ? finalizou com um tom arrogante.

    - T-tem certeza, Sasuke-san? ? perguntou a jovem, seus olhos focados no rosto do rapaz.

    - Tenho sim.

    Despediram-se ali mesmo, na verdade não foi uma despedida. Ele apenas passou o guarda-chuva para Hinata, e fez menção de ir andando, quando ela o chamou novamente.

    - Sasuke-san?

    - Sim?

    Hinata corava muito, mas foi até ele, e lhe deu um pequeno, porém significativo, beijo na bochecha. Os dois coraram muito, e a garota finalmente não agüentou e correu para casa, deixando o Uchiha estupefato debaixo da chuva que caía. Momentos mais tarde, acordou daquele sonho que se tornava realidade, mesmo que inconscientemente, e passou a correr para a proteção de seu lar, que alcançou alguns minutos mais tarde.

    Entrou em casa, ensopado, e com raiva de si mesmo. Idiotice ter se desfeito de suas coisas para ajudar uma outra pessoa. Por outro lado, algo dentro dele o fazia se sentir em paz e relaxado. O beijo que ela o deu, queimara sua pele, não no corpo, mas em sua alma atormentada, que sempre sofreu com a solidão, até que se acostumou. Acordar do pesadelo solitário estava se tornando difícil de se acreditar. Ele começou a considerar possibilidades.


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