Todos olharam para ele e se entreolharam.
- Eu acho que chegou a hora. Um novo Rei vai nascer em breve… Os instintos dele estão chamando. - Disse Enma -
- Não temos certeza, pode ser apenas uma lembrança reprimida. - Disse Makio, enquanto passava as mãos no pescoço. -
- De qualquer maneira, vamos informar a Associação. - Disse a mulher, pegando o celular e digitando, logo o guardando – Eu preciso preparar vocês pra se protegerem. A partir de hoje, vão treinar o “Ryu”.
- “Ryu”? - Perguntaram ao mesmo tempo -
- Uma aplicação avançada de “Ko”, “Zetsu” e “Ten”. Basicamente, vocês tem que medir a porcentagem de aura que se deve colocar em cada parte do corpo.
- Enma já sabe isso. - Disse Makio – Ela me ensinou o básico na caverna.
- Na verdade eu só descobri o conceito. Mas usar isso é extremamente exaustivo e complicado…
- Por isso vocês vão treinar luta corpo-a-corpo usando Ryu. Podem usar tudo que tem, eu vou regenerar qualquer ferimento que tiverem.
Neeko deu um bocejo e abriu os olhos, se espreguiçando como um gato.
- Senti cheiro de sopa… - Disse ele ainda sonolento -
- Podem comer, crianças.
Os três começaram a comer, conversando animadamente sobre a aventura da caverna. Eles se levantaram e agradeceram pela comida e ficaram em posição de piramide.
- Cotovelo Direito, 40%, Pé esquerdo 45%!- Disse Enma, indo golpear os dois -
- Punho 50%, Joelho 50%!- Disse Neeko -
- Pés direto e esquerdo, 50 e 50! - Falou Makio, plantando uma bananeira e atacou girando os pés -
Bloquearam os ataques com sucesso. Patrishia foi dormir. Acordou lá pelo meio dia, tinha ficado cansada da luta. Ao olhar os seus pupilos, viu que eles ainda lutavam, mas em vez de ser lento, eles estavam em uma velocidade quase invisível ao olho humano. Conseguiam medir o dano com precisão o suficiente pra parar os ataques dos outros. Notou também que Makio usava as “Asas de Gala”, assim como Enma usava o “Quarto de Bonecas” e o que mais impressionava era que mesmo com partes do corpo feridas pelas penas e transformadas em porcelana, Neeko lutava com tudo que tinha. Ele não estava se detendo por eles serem amigos. “Deve estar tratando eles como iguais”, pensou Patrishia, mas uma coisa era estranha. A aura dele tinha mudado um pouco.
- Será que…? - Ela se aproximou deles e segurou a mão de Neeko com força – Tenho uma pergunta pra você. - Ela parecia sombria - Você já comeu carne humana?
Enma e Makio pararam a luta na mesma hora. Eles sabiam a resposta e sabiam bem o que iria acontecer com essa resposta.
- Sim… Mas isso foi há muito tempo. Eram os restos de um membro morto de uma tal Geney sei-lá-o-que. Além dos vários corpos que eles jogam no lixo da Cidade do Meteoro. Por quê?
- … Faça o teste da água de novo. Mas dessa vez, tente se lembrar do gosto da carne dele.
- Ah… Okay.
Ela trouxe o copo de água com a folha em cima. Fez como ordenado. Ele fechou os olhos e tentou se lembrar o sabor da carne. A sensação que havia sentido quando comeu, não só dele, mas de todas as pessoas que havia comido e então usou seu Ren no copo. Qual foi a surpresa de todos quando deu o resultado. Alguma coisa devia estar errada, pois ele havia apontado para todas as classes de Nen possíveis. A folha girava como louca, enquanto o copo transbordava uma água com cor de refrigerante e cheiro e provavelmente gosto de refrigerante. Até mesmo as bolhas se formaram.
- Simbiosis… - Disse Enma, engolindo a seco -
- O que isso quer dizer?
- Aconteceu uma vez, com um dos Reis Chimera. Seu nome era Meruem e sua habilidade de chamava “Simbiosis”. Era uma habilidade demoniaca. Todas as almas das pessoas que ele devorava se tornavam parte dele, parte de sua força. Sua aura era tão poderosa que colocou no chão Isaac Netero, um dos Caçadores mais poderosos de sua história. Eu acho que é isso o que está acontecendo com você nesse exato momento. A aura das pessoas que você comeu estão lentamente se unindo a sua, mudando sua natureza a todo momento.
- Isso é ruim?
- Muito. Aquelas almas estão vivas, dentro de você. Você pode ser uma pessoa boa, de coração puro. Mas dentro de você existem almas que podem te levar ao caminho errado, e se usadas de maneira errada, podem até tormar conta do seu corpo, do seu poder. Eu creio que o seu “Olho Esquerdo da Fúria” consiga invocar o poder dessas almas pra se unirem ao seu… Por isso você tem uma aura tão impressionante. Mas isso é muito perigoso…
- Quer dizer que se eu não controlar, vou ser controlado, certo?
- Sim.
- Então eu tenho que ser mais forte que eles. É fácil, não é?
- Pode não ser tão simples. Mas por precaução, eu vou chamar um especialista no assunto pra ver isso.
Ela deu um telefonema, enquanto os garotos voltaram a treinar. A noite caía quando se cansaram e foram dormir.
O dirigível da Associação Hunter chegou ao amanhecer e dele desceu o rapaz de cabelo loiro, o Rato do Zodíaco Hunter. Ele foi até eles que o esperavam na base do Canyon.
- Já que me chamou, eu espero que tenha noticias pra mim, Patrishia. - Disse ele, voltando o olhar para o garoto – Eu te conheço.
Patrishia tomou a frente. “Ele é um dos escolhidos na Tricentésima Primeira turma, Neeko”, falou ela sem usar palavras, escrevendo com “Nen”,
- Você… - A aura do garoto começou a agir como instinto. Sentia um ódio forte pelo rapaz, que tinha negado a chance da sua amiga. Mas não era só isso, tinha um ódio extra, vindo do fundo. “Mate ele” era o que a sua aura dizia com todas as forças – Desgraçado das Correntes…!
Ouvindo aquilo, todos se afastaram e Kurapika sacou as correntes. Já fazia uns anos desde que a aranha tinha “morrido” em uma batalha final, mas aquelas palavras fizeram o Nen do garoto reviver.
- Você foi injusto! Ela não merecia… Eu não merecia… NÓS NÃO MERECIAMOS! - Gritou o garoto, enquanto sua aura se intensificava mais e mais. As veias e artérias dele se tornaram visíveis, vermelhas como o fogo, como um sangue pulsante. Sua pele começou a se rasgar aos poucos, revelando o que havia por trás da forma humana: Uma Chimera perfeita. O Hibrido que nasceu pra reinar nesse mundo. Asas sairam de suas costas e uma cauda cheia de escamas afiadas, como se fosse um dragão – Eu vou te matar… Desgraçado das Correntes… Eu vou te matar!
Um rugido estrondoso de seus pulmões ecoou por todo o local, tão poderoso quanto o grito intensificado de Patrishia. Kurapika atacou com a corrente, tentando prende-lo, mas ele era muito mais rápido que a corrente. Em questão de segundos já havia acertado o homem várias vezes, lhe causando ferimentos que deveriam ser mortais. Suas garras rasgavam o “Ryu” dele com facilidade. Mas ele aproveitou essa chance para prender a Chain Jail no pescoço do garoto, e por ela começou a enforca-lo. A força da corrente era forte demais e quanto mais ele tentava se soltar, mais ela se enroscava em seu corpo, até que ficou totalmente preso.
- Como eu pensei. Esse garoto comeu os restos da Geney Ryodan, por isso suas almas estão agregadas a alma dele. Isso explica por que ele liberou tanto ódio na prova Hunter… A Chain Jail funcionou nele. - Disse apertando as correntes. Chain Jail tem o poder de forçar o oponente a um estado de Zetsu, e assim foi. Aos poucos Neeko foi voltando a forma humana, a pele se reconstruiu e ele desmaiou. - Temos que acabar com ele agora, antes que se torne um problema maior.
- Espera! - Gritou Patrishia – Eu tenho uma ideia que pode funcionar.
Ela contou sua ideia, Enma e Makio ouviram tudo e olhavam assustados. Eles esperaram o garoto acordar, não levou muito tempo. Ele ainda estava preso pela Chain Jail, então o Nen maligno não podia atuar. Estava calmo como a noite.
- Eu quase te matei. - Disse o garoto, olhando os ferimentos de Kurapika. - Me mate. Patrishia, cure ele, rápido!
- Não posso. - Disse ela – Eu o odeio. Graças ao meu pacto de Condição e Condição, só posso curar pessoas que eu goste.
- Não precisa. Usando o Emperor Time agora… Meu pouco tempo de vida se esvaiu. Eu ia morrer aqui, de um jeito ou de outro. - Ele suspirou – Garoto…
- Anda logo e me mate! - Gritou Neeko – Eu não quero matar ninguém! Todas as vidas são preciosas!
- Você está convicto disso? - O homem o encarava – O quão longe você iria pra manter essa promessa.
- Eu prefiro morrer do que matar alguém. - Ele disse em tom sério -
- Oh… Está certo disso? Então eu tenho um acordo a propor. Eu vou fazer um Pacto de Condição e Condição com você. Vou colocar uma corrente no seu coração, ela vai fortalecer sua aura natural e te ajudar a combater as almas dentro de você. Mas o controle dela vai depender de você. Eu vou colocar em você a maior das restrições. A corrente vai deter as almas, mas se você quebrar sua promessa… Você morre.
- Se isso me ajudar a controlar meu poder e usar pro bem dos humanos, eu aceito. Coloca logo essa corrente! - Gritou o garoto. Sua voz exalava uma certeza inquestionável -