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A decisão de Jason em tentar trazer seu amigo de volta fez com que não pudesse retornar em sua convicção.
Jason estava mesmo disposto a ir até o fim com seu plano de trazer de volta seu amigo. Ele trouxe Hakiro para até a ala abandonada da escola para enfim por em prática seu objetivo.
Porém antes de tudo isso muita coisa aconteceu para que Jason conseguisse levar seu amigo até aquele lugar. Vamos então contar um pouco no tempo, no exato momento onde Jason fez o pedido a Piece 1.
Anteriormente...
Quarto de Jason, noite.
— Ouça com bastante atenção. Eu quero que traga meu amigo Hakiro de volta.
— O que? Mas Jason... Esse humano...
— Você deve saber de tudo, já que recuperou toda as minhas memórias. Então, agora que quero que faça o mesmo com ele.
— Você ficou louco? Porque eu faria isso?
— Simples: retribuição.
— Ah entendi... Não poderia esperar menos que você. Humanos e suas ambições...
— Você tá entendendo tudo errado, Piece 1. O que eu quero fazer é justiça.
— Explique-se.
— Eu quero livrar o colégio das mãos daquele péla saco do Kuon. Ele não é uma boa influência pra ninguém. Não posso deixar que ele continue dominando as pessoas. Ou seja, eu quero livrar as pessoas do colégio da influência dele.
— Hum... Isso me cheira a vingança...
— Não é vingança. Eu só quero justiça para todos.
— E mesmo assim não poderia fazer nada. Se eu consegui trazê-lo de volta é porque o nosso nível de ressonância é alto. Quanto a seu amigo, eu nunca sequer tive contato com ele.
— E se eu conseguir que você se aproxime dele? Assim poderia...
— Não quer dizer absolutamente nada. Mesmo que eu tivesse contato não há garantias de ressonância.
— Caraca, como é que você fez isso comigo e não conseguiria fazer com ele?
— Entenda: ressonância está ligado ao emocional e DNA do humano e Anis. Não é somente eu ter a vontade. Depende das duas partes.
— Mesmo assim eu quero tentar.
— Não seja teimoso, Jason. Porque você simplesmente não aceita seu rito?
— Acho que você não entendeu minha filosofia: eu odeio perder, mas eu sei perder. O que Kuon está fazendo é cretino. É uma afronta. Ele vive em função do próprio ego. E caso você não tenha entendido bem ainda onde quero chegar, então lá vai: ele é um Anis.
— E o que tem isso?
— O que tem? No momento ele tem mais do que você. Se lembra da conversa que tivemos de você querer “dominar o mundo dos humanos”? Pois bem, seja bem vindo a década de 2010: as pessoas já são dominadas sem que precisem dominar o mundo.
— Como é? Do que você está falando?
— Simples: basta você ter influência que o resto fazem pra você. Essa dominação está em todo o planeta. Se você tem esse poder que você diz ter, você só irá fazer valer seus ideais. Mas os “poderosos” do mundo dominam quem domina pessoas que dominam outras pessoas... E por aí vai.
Piece 1 caiu em um dilema. Jason poderia parecer um desordeiro sem nada a perder, mas era bem articulado em suas ideais e tinha um vasto conhecimento geopolítico. Na sua antiga escola em Tokyo ele era o representante da sua turma e era um dos melhores alunos do colégio. Sua habilidades no basquete contrastava com suas habilidades acadêmicas.
O felino Anis ficou mais pensativo que de costume. Jason havia dito algo que nunca esperaria em ouvir e, depois de pensar, percebeu que tudo que o jovem havia dito fazia sentido. Se lembrou dos momentos que estava no centro de pesquisas do governo japonês, sendo alvo de experimentos terríveis, assim como os outros animais que lá estavam. Tinha até mesmo se lembrado do dia que conversou pela primeira vem com Sr Shidoshi, o homem por trás de todos os acontecimentos naquele centro. E as palavras do idoso que usava um uniforme militar logo vieram a sua mente:
— Pobre animal... Está prestes a ter poderes e habilidades magníficas... Mas mesmo com suas dádivas não poderá combater a maior arma da raça humana...
E Piece 1 diz, olhando para Jason:
— Eu agora sei o que você quer dizer com tudo isso, Jason...
— Que bom que entendeu.
— Ambição... Cobiça... Alienação... Controle... Influência... Tudo isso só leva a uma coisa: domínio ideológico.
— Exatamente. Kuon quer impor o que é certo e o que é errado nessa cidade, começando pelo colégio. Pelo visto você entendeu agora que esse seu conceito de “dominar os humanos” é coisa das antigas agora...
— Pela primeira vez desde que o conheci concordo com você. Esse Anis que se chama Kuon tem poderes que podem mesmo fazê-lo ter domínio sobre os outros. Muito bem, Jason... Tentarei fazer o que está me pedindo.
— Tipo, é sério? Vai mesmo? Sem mais perguntas?
— Sim. Devo admitir que o menosprezei. Mas eu entendo sua causa agora. Kuon também é uma ameaça a meus interesses.
— Como é?
— Jason, eu já o avisei... Eu irei fazer o que disse que faria: dominar os humanos.
— Mas você já não...
— Não... Eu irei aprender muito antes de fazer isso. Hoje eu aprendi com você essa lição. No momento pode me chamar de um aliado. Não quero mais perguntas.
— Tudo bem, gato overpower. Então será assim...
Jason então, naquela noite com gosto amargo, explica detalhadamente o que poderiam fazer para trazer Hakiro de volta.
O tempo passa...
Colégio de Aplicação de Etofuru, 07:00 AM.
Diante da repercussão bem negativa do que foi o desempenho do seu time no jogo amistoso contra o time A do colégio, Jason entrou pelos portões do colégio sendo alvo de todos os olhares. Até mesmo membros do corpo docente da escola o olhava. Um pouco incomodado com tudo que estava acontecendo, o jovem então continuou seu caminho para até às dependentes internas da escola. Aguardando o alarme do início das aulas soar, Jason se sentou sozinho em um dos bancos do pátio, ouvindo música em seu celular. Não demora muito e Kazu se aproximava ao ver seu amigo sentado. Sentando-se ao seu lado, Kazu diz:
— E aí, Jason. Como você está?
— Na mesma, e tu?
— Estou bem... Está melhor depois de ontem? Cara, vou te adiantar logo: a galera toda do colégio...
— ... está sabendo de tudo, é isso que iria dizer? Kazu, o jogo foi ontem. Estou pensando há no próximo jogo.
— Cara, que próximo jogo? Será que você não vê que não tem como vencer? Kuon tem praticamente dois times na mão e...
— ... dois times que dependem dele pra tudo, você quis dizer. Kazu, na boa... na “boíssima” mesmo, tu tá sendo muito mala em tentar me impedir.
— Jason, só estou preocupado com você. Quero seu bem, cara.
— Muito bem, Kazu. Se você quer meu bem mesmo, então me incentive. Eu vou vencer o próximo jogo, que será durante as olimpíadas de Etofuru.
— Eu tentei, Jason... Eu tentei... Bem, vou fazer do seu jeito a partir de agora.
— Muito obrigado. A propósito, preciso de uma informação sua.
— Hã? O que quer?
— Me diga... Como o Hakiro tá levando a vida dele? Eu ainda não fui na casa dele pra falar com os pais dele...
— Bem, Hakiro não faz muito em sala. Fica o tempo todo olhando para o quadro, diz algumas coisas quando a gente pergunta algo... Não quero dar más notícias, Jason...
— Como assim?
— Hakiro não age como as outras pessoas. Ele está preso no mundo que...
— ... que ele criou, é isso?
— Jason...
— Vocês que fizeram isso com ele. Para de falar m*rda.
— Vamos começar com isso outra vez?
— Não, mas eu não quero ver você ficar se esquivando da culpa. Fez besteira, assume.
Kazu não aceitou bem as palavras de Jason. O jovem Anis se incomodou mesmo como foi tratado. Ele, um pouco triste, diz:
— Tá, Jason... Pelo visto hoje você está de mal humor...
— Olha... Desculpe. Sério, não estou bem mesmo mas não é justo eu descontar isso em você...
— Vai descontar em quem então? No Kuon? No Hakiro?
— Kazu...
— O que você quer, Jason? Quer que eu conte pra todo mundo sobre o que somos? Isso vai te fazer se sentir melhor?
— Kazu, calma. Eu já pedi desculpas...
— Ah quer saber? Faz o que você quiser...
Kazu então se levantou, indo as pressas para o outro lado do pátio. Parecia mesmo chateado, pois Jason nem ao menos pode acompanhá-lo. O jovem percebeu que havia passado um pouco do limite, pois ele sabia que Kazu era bem sensível no que se referia a sua natureza e pelo que precisou passar até chegar em Etofuru.
— Droga... Como fui babaca agora, putz...
E para surpresa do jovem, eis que sua prima se aproximou e disse:
— Você é sempre babaca.
— Ih lá vem a monstrinho...
— Tá vendo? Só estou aqui a dez segundos e você foi babaca outra vez...
— Ok... E agora você vai dizer que vai me bater como você sempre faz...
— Não. Dessa vez vou deixar passar.
— Sério? E a que devo essa sua benevolência repentina?
— O sacode que você levou ontem no jogo já está bom. Não sou sádica.
— Ah sua desg...
— Dobra a língua, tá? É assim que a gente trata babaca: atinge onde dói mais. Tenha um bom dia, tá? Babaca...
Jason estava agora mais irritado. Além da feira de ontem, agora terá de sofrer com as gozações. Tocado o sinal que indicava o início das aulas, o jovem logo se dirigiu em direção a sua sala. Durante o caminho pôde ver Hakiro entrando em uma das salas em sua cadeira de rodas. Jason só observava de longe seu rito, quem falava com ele e como o professor se comportava. Mas enquanto fazia isso, eis mais uma surpresa: Kuon apareceu a sua frente, fitando-o nos olhos. Depois de uma breve encarada, o jovem Anis diz:
— Tenha um bom dia, Jason – Disse ele, continuando seu caminho, parando por Jason.
— Você também...
E assim que Kuon passou por ele, Jason não conseguiu ficar calado.
— A propósito, Kuon...
— Sim?
— Parabéns pela vitória de ontem. Vocês jogaram muito bem.
— Obrigado... Vejo que tem espírito esportivo ao menos...
— Tenho sim... E espero que isso seja recíproco no futuro.
— O que quer dizer? – Disse Kuon, olhando nos olhos de Jason.
— O que entendeu? Disse Jason, retribuindo o olhar.
Uma tensão dominou o momento, com ambos se encarando. Kuon, mostrando insatisfação em sua face, lhe deu as costas, voltando a caminhar em direção a sua sala, a exemplo de Jason.
Minutos depois...
Já em sua sala de aula Jason tornou a prestar atenção ao que o professor dizia. Mas quebrando sua concentração veio Kazu, que diz:
— Tá de cabeça fria agora?
— Cara, tô de boa...
— Então só pra você ficar “na boa”: Sumo não veio para o colégio hoje.
— Hã? Porque?
— Não sei. Foi o irmão dele que disse. E ele não está muito feliz com você também...
— Caraca... Até o “Pala”?
— Kenta está um pouco chateado também... E Motoi parece até você hoje...
— É, vou ter que conversar com essa gente toda hoje...
— Deveria sim. Depois do jogo ontem você pode até ter tentado motivá-los mas as coisas não parecem boas...
— Depois da aula... Depois da aula muita coisa vai acontecer...
— Do que você está falando?
— Deixa quieto, Kazu. Depois da aula...
A apreensão tomou conta de Kazu, que passou a aula toda só pensando no que Jason estava tramando.
Momentos depois...
Refeitório do colégio de Aplicação de Etofuru, 12:00 pm.
Durante o intervalo, todos os alunos foram diretamente para o refeitório. Como era hora do almoço, era comum os alunos se juntarem nas mesas para, além de se alimentarem, colocarem a conversa em dia. Feito isso, lá estavam Kazu, Hito (mais conhecido como paladino), Kenta, Motoi e Jason, este que já estava falando.
— ...e quero pedir desculpas a você, Kazu. Fui muito babaca hoje cedo.
— Ah relaxa. Tudo bem... – Disse Kazu, um pouco envergonhado.
— Jason, legal você fazer isso. Mas já aviso que se vier com essa conversa de palestra motivacional... – Disse Kenta, desconversando.
— Ken, pega leve. Não é por isso que chamei vocês...
— Então porque? – Perguntou Hito, curioso.
— Hito, antes de mais nada, o que houve com seu irmão?
— Ah cara... Meu mano não gosta de perder e ele é muito explosivo. Não gosta de sair no braço com ninguém, mas ele estava querendo falar algumas coisas não muito legais pra você...
— Bem... Mas ele está bem?
— Bem de saúde, sim. Já de espírito... Ele mora com meu pai, então dele estar no templo treinando Kendo. Ele sempre faz isso quando está nervoso...
— Espere... Ele mora com seu pai? Como assim?
— Jason, não faça esse tipo de pergunta – Disse Kazu, tentando apaziguar.
— Porque diz isso?
— Nossos pais são separados, Jason... – Disse Hito, com um pouco de tristeza na voz.
— Cara, foi mal. Eu não queria... – Disse Jason, tentando desviar seu olhar.
— Não... Tudo bem, você não sabia. Eu vivo com minha mãe, que é uma sacerdotisa do Templo de Etofuru. Praticamos taoísmo. Meu mano vive com meu pai, que é um mestre em Kendo. Ele treinou durante sua infância em um templo Rayka até. Mas hoje em dia ele ensina Kendo clássico.
— Entendi.
— Tá, mas o que iria nos dizer?
— Ah sim. Bem... Acho que deveríamos chamar Hakiro para o time.
Sabem aquela situação desconfortável que uma simples frase pode causar quando usada? Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu. Todos ficaram pasmos com a ideia absurda por parte de Jason, que não esboçou nenhuma reação depois de um silêncio entre seus amigos. Para quebrar o clima, Kazu logo interveio.
— Jason... Isso não teve graça.
— Graça? Mas eu não contei nenhuma piada.
— Existem coisas que nós não mexemos, cara. Não gostei da zuera – Motoi logo deu sua opinião.
— Jason, cara... Para com esse papo... – Disse Kenta, quase se levantando.
— Esperem... Ken, relaxa. Senta aí.
— Jason, eu não curti ouvir isso... – Disse Hito, um pouco irritado.
— Galera, calma! Deixa eu explicar! – Disse Jason, entendendo que todo mundo estava irritado.
— Muito bem. Explica essa ideia – Kazu tratou de colocar ordem na mesa.
— Hakiro é meu chapa desde que éramos crianças. Por muito tempo a gente jogou junto e até nos tornamos rivais...
— E daí?
— Esse colégio viu a gente jogar... Os professores que ficaram aqui conhecem a gente, como nós jogávamos em prol da escola...
— E daí, Jason? Aonde quer chegar? – Disse Motoi, impaciente.
— Quero que ele faça parte do time pra fazer com que a escola torça pela gente nas olimpíadas de Etofuru. Com ele fazendo parte da equipe, na certa as pessoas irão simpatizar com a gente.
— Mas Jason... Hakiro naquele estado... – Disse Kenta, complacente.
— Eu sei, Ken... Ele está paralítico, mas mesmo assim ele é um ser humano. Mesmo com suas limitações, ele continua seguindo em frente. O cara não desiste, galera... Hakiro luta todo dia pra seguir com seus estudos, mesmo diante suas dificuldades. Ele no time vai fazer a gente se motivar mais e vai ajudar ele a sentir outra vez o que é fazer parte de um time de basquete.
— Jason, você quer... Tipo, você sabe que...
— A gente perdeu, eu sei. O time deles é forte? É, isso eu não posso negar. Mas a gente não pode deixar o Kuon ficar com a escola na mão dele por causa disso. Nós vamos colocá-lo contra a parece com essa notícia.
— Nossa... Cara, isso que você pensou em fazer aí... Cara, é genial! A gente vai tirar parte da influência do Kuon mesmo se a gente perder o jogo! Cara, perfeito! – Disse Motoi, serrando os punhos.
— Então é isso: você vai pôr o Hakiro no time pra chamar atenção. Isso não é muito legal, Jason... – Disse Kazu, pensativo.
— Não é legal? Kazu, olha nos meus olhos... Você acha que Hakiro não iria adorar isso?
Kazu entendeu bem a indireta direta que Jason insinuou. Sabendo que não poderia fazer nada pra inpedí- logo tratou de dizer:
— É, ele iria... Na verdade ele irá!
Todos então se levantam, seguindo para até o pátio.
Minutos depois...
Pátio do colégio de Aplicação de Etofuru, 12:45 pm.
Um burburinho tomou conta de todo o colégio. Por todo o lado haviam estudantes comentando sobre o mesmo assunto. Kuon, ao sair da biblioteca, ajeitou seus óculos e percebeu essa movimentação. Por estar afastado lendo durante o horário de almoço, não ficou sabendo da notícia: Jason havia oficializado Hakiro em seu time frente ao corpo docente responsável pelo grêmio esportivo do colégio.
Com os integrantes do time reunidos na frente da secretaria do colégio, com eles estava Hakiro, que parecia feliz, já que seu semblante estava melhor que de costume. O jovem especial de cabelos louros e longos com olhos castanhos estava mesmo se divertindo com o convite.
— Time? Eu? Faço parte? Eu... Gostei... Gostei... Eu faço parte!
— Sim, camarada! A dupla infernal de Etofuru está de volta! – Disse Jason, se abaixando e abraçando seu amigo.
Essa notícia caiu como uma bomba para Kuon que, com um olhar mostrando irritação, pensou:
— *O que esse desgraçado quer com isso? Chamar atenção? Me provocar? Será que ele não consegue se colocar em seu devido lugar? Miserável... Está querendo mesmo chamar atenção... Mas eu não irei deixar... Vou usar isso a meu favor...*
Kuon então começou a caminhar até próximo da secretaria, com os alunos abrindo caminho para que ele prosseguisse até lá. Já ao lado de Jason, ele diz:
— Que grande ideia vocês tiveram. Esse tipo de atitude que integração é fantástico. Seja bem vindo ao time B do colégio, Hakiro. Tenho certeza que sua presença será de extrema importância.
Jason havia entendido a indireta. Por isso insistiu na repentina mostra de empatia por parte de Kuon.
— Sim. Com ele no time poderemos mostrar todas as injustiças que acontecem todo dia com pessoas como ele, que lutam sem parar para ter uma vida melhor. Sabe como é, né? Lutar contra o sistema, que influencia o modo de vida de todo mundo.
Kuon sentiu as palavras de Jason, de modo que passou a olhá-lo com um intenso desprezo, este que de forma comedida, para não levantar suspeitas. No fim, estendeu sua mão, dizendo:
— Espero que se saiam bem nas olimpíadas. E parabéns pela ideia.
— Muito obrigado. E o mesmo digo eu a você. Sucesso e que demos fim juntos as más influências da nossa sociedade – Disse Jason, apertando a mão de Kuon.
Mais uma vez Jason cutucou o brio de Kuon, que sair do lugar em seguida. Não parecia mesmo satisfeito. Mas a notícia logo se espalhou, já chegando até às outros colégios via as redes sociais. Em horas já era assunto até entre pessoas que moravam em Etofuru, que gostaram do fato. Jason havia unido novamente seus amigos do time, renovando suas confianças. Mesmo se a derrota iminente tivessem, já estariam com algo de muito especial. A volta de Hakiro ao time trouxe alegria a todo o colégio.
Jason conseguiu uma vitória. Mas o dia ainda não acabou.
Colégio de Aplicação de Etofuru, 17:00 pm.
Depois do fim de mais um dia de aula, os membros do time B se reuniram no pátio. Já com Hakiro, que estava até bem enturmado aos novos amigos, era chegado a hora dele partir. Mas Jason tinha planos e logo tratou de perguntar a Kazu.
— Kazu, quem leva o Hakiro pra casa?
— A mãe dele. Ele fica aqui no pátio até ela vir.
— Ah sim. E ela demora muito?
— Bem, uma vez eu conversei com ela. Trabalha aqui perto. Querendo ela sai do trabalho, bem aqui e pega ele.
— Ele fica aqui sozinho?
— Os inspetores ficam olhando. Ele está seguro.
— Que bom.
Como todos devem saber, o plano de Jason era trazer de volta seu amigo. Mas sabendo que todo um ritual para que Hakiro voltasse pra casa, teria de traçar um plano e rápido. Com seus amigos se despedindo, inclusive Kazu, o jovem se viu obrigado a continuar alí ao lado de seu amigo. Já com o pátio com pouco movimento, Jason diz:
— Hakiro... Tipo, tem como você me mostrar onde fica o banheiro?
— Corredor... Direita... Fim dele.
— Mas eu não conheço aqui muito bem. Tem como você me levar lá?
— Si-sim... Eu... Ajudo. Eu ajudo você.
Sob os olhares dos inspetores do colégio, Hakiro foi a frente de Jason, o guiando até o banheiro. Os corredores vazios do colégio em nada lembravam o lugar que borbulhava de gente anteriormente. Ao entrarem no banheiro, lá dentro, para situada de Hakiro, estava Piece 1. O jovem logo se manifestou:
— Gato?! Tem... Gato... Um gato... Aqui...
Logo os olhos de Piece 1 começam a se iluminar, com sua origem emanando uma energia. Em instantes então Hakiro começa a ficar sonolento, desacordando em seguida. Sorte que Jason estava próximo e acudiu seu tronco para que não caísse de sua cadeira. Embora isso fosse errado, o jovem não poderia voltar atrás. Estava decidido e não tinha muito tempo. E seguiram para as redondezas do colégio, como citado no capítulo anterior.
Ala desativada do colégio de Aplicação de Etofuru, 17:20 pm.
Um forte cheiro de mofo era predominante no lugar, principalmente próximo a janela. Tudo estava tomado pela poeira, denunciando o abandono e a falta de zelo pelo lugar onde estavam. Longe da parte onde haviam equipamentos antigos do colégio, numa sala bem mais reservada, estavam Jason e Piece 1, que olhavam para Hakiro. O jovem então diz:
— Muito bem, Piece 1... hora de você trazê-lo de volta.
— Você diz como se fosse algo simples, Jason.
— Mas você me trouxe, então...
— Devo repetir mesmo tudo outra vez? Você é meu ressonante. Com esse humano é algo totalmente diferente...
— Tente! Vai!
— Não me apresse... Já preparativos... Antes preciso entrar em sua mente e saber sobre seu elo.
— Elo?
— O que lhe torna meu ressonante não é somente seu DNA. A empatia e seus desejos contam para que isso funcione. Eu preciso saber se esse humano tem desejos inatos.
— Você diz que precisa saber que algo dele antes de sofrer a lavagem da Shizuka, é isso?
— Precisamente. Agora deixe-me tentar...
E o felino psíquico emana mais uma vez seus poderes. Consegue então entrar na mente no jovem Hakiro. Durante sua procura, consegue ver com muita dificuldade alguns lapsos de memória do rapaz. Resquícios de quando jogava, do seu convívio com seus pais e amigos, o amor que tinha por Iamiko (prima de Jason), a amizade com Jason...
— *Sua mente em nada se assemelha a de Jason. Há muito vazio... Ele sofreu muita dor durante o processo, pois vejo vermelhidão em seus flashes... Ele sofreu uma crueldade... Um Anis foi capaz de fazer isso a um humano e... isso é pior que a morte. Jason havia me dito sobre esse Anis chamado Kuon... Se ele ordenou tal coisa então esse ser é deveras despresível...*
Mas seu rastreamento logo é interrompido por um vulto. Na mente de Hakiro, Piece 1 sofre com um bloqueio. Um grande feixe negro então começa a envolver sua energia.
— *O que é isso? Essa imagem... Esse tudo é... DE KUON?! Esse humano... Ele tem ódio... Ele tem desejos bem específicos... Esse humano se manteve enclausurado todo esse tempo com esse desejo... Pior: é a única coisa que que mantém suas lembranças em sua mente, mesmo que de forma aleatória... Ele deseja... Vingança. Pela primeira vez pude ver algo dessa natureza em um humano.*
E era exatamente isso. O ódio por Kuon por parte de Hakiro era tão grande que esse sentimento tratou de embaralhar todas as lembranças do jovem, quase como uma criptografia. Piece 1 agora teria que montar um quebra-cabeça como única realizou na vida.
Jason só observava, percebendo que o felino estava se comportando de forma estranha.
— Piece 1, o que está acontecendo?
— Jason, mantenha silêncio. Eu não sei o que vai acontecer nos próximos minutos.
— Mas você está...
— Não fale comigo.
Todas as lembranças de Hakiro estavam sendo novamente montadas por piece 1, uma a uma. Sua vida sempre foi de vitórias, seja na escola ou em quadra. Hakiro até mesmo jogava outros esportes como futebol e até mesmo xadrez, onde se destacou durante a infância. Seu pai, Sr Hansen Hakiro (detetive da polícia de Etofuru), sua mãe, seria amigos, Iamiko, Jason... e Kuon.
Assim que a imagem do rosto de Kuon é vista, Piece 1 a destrói, fazendo com que uma reação em cadeia se realizasse em sua mente, inundando seus neurotransmissores com impulsos que percorrem em seguida. E para terminar, uma forte explosão iônica ocorre em seus neurônios, trazendo eletricidade suficiente para alimentar seu cérebro.
Após esse acontecimento, Jason percebeu que algo estava de fato ocorrendo: todo o corpo de Hakiro então começa a sofrer espasmos, onde Jason não perdeu tempo para tentar acudí-lo. Piece 1 volta ao normal, dizendo a Jason de forma desesperada:
— NÃO TOQUE NELE!
— Mas o que t...
Ao encostar em Hakiro, uma forte descarga elétrica ocorre, jogando todos para longe. Depois da queda, Jason se levantava lentamente, dizendo:
— O que foi... isso?
— Seu idiota! Você não sabe que impulsos cerebrais é basicamente impulsos elétricos? Você poderia ter morrido pois esse humano tinha o... JASON, OLHE PRA TRÁS!
A mudança adrupta de comportamento de Piece 1 foi justificada pois Hakiro estava de pé por trás do jovem. Embora estivesse escuro, era possível ver que era de fato o jovem.
— Hakiro?! HAKIRO! Você vol...
Entretanto Hakiro já estava partindo para cima de Jason para lhe aplicar um violento soco. Ele trouxe, dizendo:
— EU VOU TE MATAR, KUON! SEU FILHO DA P*TA!
— Kuon?! Não, você não entende...
Logo uma luta generalizada acontece, com Jason tentando se esquivar dos ataques de seu amigo ensandecido. Piece 1 logo diz:
— Eu sei porque ele está assim. Ele está seguindo com o que estava acontecendo naquela noite na floresta. Pra ele aquele momento está continuando agora!
— Hã? Mas...
E Hakiro conseguiu acertar Jason, que vai ao chão. O jovem então monta sobre o seu amigo continuando com seus socos. Jason estava com problemas, pois Hakiro estava dominado pelo ódio o quão Piece 1 havia citado anteriormente. E enquanto Hakiro estava para acertar um violento soco, o felino se viu obrigado a usar seu poder psíquico: paralisou os braços do jovem, que ajudou a Jason para contra atacar. Ele então jogou Hakiro para trás, segurando em sua cabeça em seguida. E sem perder tempo, gritou:
— ACORDA, HAKIRO! SOU EU, JASON! SOMOS A DUPLA INFERNAL DO COLÉGIO DE ETOFURU! VAI... ACORDA!
O jovem, depois de tentar lutar, mesmo sob o domínio dos poderes de Piece 1, para de se movimentar. Aos poucos foi recobrando a consciência, até que finalmente veio a resposta.
— Ja-jason?! Você... Você voltou?! Mas...
— Hakiro! Você voltou! VOCÊ VOLTOU! HAHAHA! – Disse Jason, abraçando seu amigo.
— Jason, precisamos sair daqui. O Kuon...
— Calma... Eu sei de tudo. Acho que é você que não sabe de muita coisa...
Jason então, pelo pouco tempo que tinham, explica rapidamente a situação. Sob o olhar incrédulo de Hakiro, ele termina.
— ... e Kuon tentou fazer isso em mim também. Por isso, são Anis que fizeram isso tudo.
— Cara... Então Kuon não é humano... Jason, precisamos chamar a polícia. Meu pai pode ajudar e...
— Suas forças não podem com Anis, humano – Disse Piece 1, fim o olhar desconfortável de Hakiro o olhando.
— Cara, esse gato aí... Ele fala... e foi ele que trouxe de volta... Cara, a gente tem que entregar isso pra quem pode nos ajudar!
— Não, Piece 1 está certo. Embora Kuon tenha feito isso com você e comigo, são somente frutos do governo. Se eles ficarem sabendo, eu não tenho ideia no que pode acontecer...
— O que pretende fazer então, Jason? Ele não pode ficar impune.
— Cara, no momento isso só está sendo uma guerra de ego entre o Kuon e eu. Não vai passar disso.
— Mas ele é um monstro!
— Sim. Tenho a mesma opinião que a sua. Mas ele tem mais a perder que a gente agora.
— Como assim?
— Vamos tirar tudo que ele conquistou. E você sabe muito bem do que eu estou dizendo.
— Do colégio, é isso?
— Sim. Sabe, eu montei um time pra jogar contra o dele...
— Jason, não é possível que você quer resolver isso num jogo de basquete... E como foi o jogo?
— Bem... perdemos feio. O cara não se cansa. Isso é uma vantagem sobre humana que ninguém desconfia. Por isso eu tive um plano.
— E qual seria?
— Te trazer de volta.
— Hã? Você só me trouxe de volta por causa disso?
— Não... Na verdade me ocorreu de te trazer de volta pra você fazer parte disso tudo. Com minha ajuda, eu vou te dar a revanche que você sempre quis.
— Jason... Cara, eu nem vou pensar nisso agora... Eu quero ver meus pais, falar com a Iamiko... Eu quero minha vida de volta!
— Humano, você não me engana... Você pode estar debilitado emocionalmente, mas eu sei o que você quer de verdade... – Disse Piece 1, caminhando em direção a Hakiro
— Do que você está falando?
— Vingança. Você odeia Kuon. Você pode estar com desejos de ver seus genitores e tudo o mais, mas seu verdadeiro desejo está evidente desde que voltou, pois estava confrontando com Kuon assim que lhe trouxe a sã consciência. Não negue isso! Você quer se vingar!
Embora as palavras duras de Piece 1 parecesse absurdas, era de fato o sentimento que Hakiro tinha. Se aproximando de um boneco de exercícios de respiração, aqueles que em todo curso de enfermagem tinha, Hakiro executou um forte soco no rosto dele. Com um olhar frio e raivoso, o jovem diz:
— Quero acabar com ele!
Continua.