Freedom Planet: Faith & Shock

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    Capítulo 29

    A grã mestra da Agência: Asuka Tenjoin - IGNITION

    Spoiler, Violência

    Depois de uma conturbada exibição, teremos muitas coisas para descobrir acerta de Asuka Tenjoin.

    Uma saga de três episódios vai começar.

    Os eventos da exibição Fighting Challenger foram bem conturbados. Lenzin fez questão de exigir que Viktor ficasse ao seu lado na lateral do octógono até o fim da luta entre Noah e Asuka. Na arquibancada, Lilac, ao contrário de Carol e Milla, se manteve sempre serena e calma, mesmo com seu aliado passando por maus bocados na luta. No outro lado, Sheng se surpreendeu com a presença de Ingris na pequena arena. E as coisas desandaram ao fim da luta, com Ingris se desesperando com a superação de Noah na luta, com Joshy a acudindo. E para ser somar a tudo isso, Liane Saber e Tayce Axel estavam vendo a luta com bastante surpresa, com a dente de sabre não concordando com isso. E o que causou estranheza por parte de Lenzin: Arthemis não interveio em nenhum momento, deixando Asuka seguir em frente. Existem muitas coisas mal explicadas.

    Ao fim da luta, e diante de toda a comoção do término do combate, Lenzin nada pôde fazer pra evitar que Viktor fosse até Noah, assim como as garotas. Ela, observando a comemoração, pensou:

    — *Asuka Tenjoin... Tenho certeza que você pensou em tudo. Você nunca aceitou o imponderável, sempre esteve pelo menos a cinco passos a frente... Hm... Mas pela primeira vez pude ver você se frustrar. Ah você pode tentar esconder, mas algo que você planejou não deu certo... Eu sei disso. Minhas investigações para achar o traidor podem fracassar, mas já está sendo muito lucro ter trazido o Team Avalice a Agência...*

    Os acontecimentos continuam. Vejamos agora as reações após o fim da luta.

    Arredores da arquibancada, minutos depois.

    Era bastante perceptível que a situação de Ingris Genius piorado depois de ver Noah conseguir se recuperar na luta. A tri híbrida chorava e gritava, com Joshy tentando acudi-la.

    — Não... Não, Joshy... Ele... Aquele demônio... Ele não some... ELE NÃO SOME!

    — Acalme-se, Ingris. Não aconteceu nada demais pra você estar assim...

    — COMO NÃO ACONTECEU NADA DEMAIS? ELE GOLPEOU ASUKA! ELA DEVE ESTAR FERIDA E...

    E para quebrar as palavras de Ingris, Sheng, que estava com um semblante mais sério, diz:

    — A única quebrada aqui é você.

    Joshy, no mesmo instante, se virou para o felino alaranjado, dizendo:

    — O que você pensa que está dizendo, novato?

    — Estou dizendo a verdade e você sabe disso. Você fica o tempo todo passando pano, tratando a Ingris como uma coitada e tal... Eu acho isso muito errado. Cara, é escroto essa reação dela.

    — SHENG! – Gritou Joshy, segurando o jovem felino pelo pescoço contra uma parede – TRATE DE CALAR A BOCA!

    — Grr... Me larga, Joshy!

    — Não, eu não vou... NÃO ANTES DE FAZER VOCÊ FICAR DE BOCA FECHADA!

    — Ah então é isso... Grr... Você vai me obrigar a parar de falar verdades? É isso mesmo?

    — Verdades? Você está piorando a situação dela falando isso!

    — Por isso mesmo, “líder”... Ouvir verdades dói. Doeu quando eu perdi para o Viktor, mas veja só como eu estou. Eu hoje estou mais íntimo com o cara... Já a Ingris... Não esconda de mim o que você disse. Ela tinha intenção de destruir o cara lá no torneio T.O.R.M.E.N.T.A... Ela procurou por isso, deveria ser adulta a suficiente pra aceitar...

    — São coisas completamente diferentes! Ele tinha o Kaipasu como doutrina! Nós do Team Omna tínhamos o dever de...

    — Que dever? De vencer o torneio ou encontrar membros da The Red Scarves? Cara, a Ingris transformou aquela luta em algo pessoal...

    — Nunca! Ela simplesmente estava lutando do jeito que ela sempre lutou e...

    — ... e foi destruída.

    — SHENG! GRR... – Joshy estava mesmo irritado – Você disse que o que o Noah fez foi “irado”... Está no lado dele agora?

    — Lado? Fala sério, Joshy... Eu estou usando a razão. Eu não gosto do Noah e eu quero a queda dele, mas não desse jeito doentio de vocês. Eu estou no “lado” certo, o racional.

    — Você quer a queda dele mas agride a Ingris com essas suas palavras sem noção... VOCÊ É MALUCO! Grr... Estou prestes a te expulsar do time...

    — Escuta bem, Joshy... Eu me orgulho em estar no time. E eu te agradeço por ter me trazido para a Agência... Mas se vocês pensam assim, prefiro sair. Prefiro mil vezes ser rebaixado e esquecido pra sempre do que ser lembrado por algo errado. Eu não vou passar pano. A Ingris é uma fraca, aceite isso!

    — SHENG, CALE-SE! Eu estou avisando... – Disse o lupino, levantando seu punho.

    — Então é isso... O líder do Team Omna vai perder a linha pela primeira vez...

    Mas antes que algo de mais grave ocorresse, uma voz é ouvida:

    — Ei, você... Solte-o agora.

    Joshy logo olhou para trás e percebeu que a pessoa dona da voz era ninguém menos que Liane Saber Daiyomondo. Bem, o sobrenome dela já diz por si só.

    — Liane? O que você quer aqui?

    — Solte o Sheng.

    — Volte para sua divisão, Liane.

    — Solte-o – Disse, não desviando o olhar.

    — Você não me ouviu, Liane?

    — Solte-o... E essa é minha última palavra.

    Joshy até iria continuar, mas Sheng deixou seu líder a par da situação.

    — Melhor fazer o que ela está pedindo, Joshy.

    — Hã? E porquê eu deveria lhe dar ouvidos?

    — Somos da família Daiyomondo, Joshy. Quando um de nós está com problemas, o problema se torna de todos da família.

    — E daí?

    — Vocês da família Aoi nunca entenderam porque somos os mais fortes em combate... Pois bem, você está prestes a começar uma guerra entre famílias Omna só por causa dessa sua passagem de pano ridícula. Acredite, Liane Saber não vai sair daqui até que ou você me solte ou que você lute com ela.

    Não entendam mal. Joshy era muito respeitado e um excelente líder. Porém tinha um vínculo de amizade muito grande com Ingris e entre estava sentido por sua amiga. Mas ele era racional, mesmo diante dessa sua crise emocional. Sabendo que Sheng estava certo, logo tratou de soltá-lo. Mas assim o feito, diz:

    — Muito bem, Liane... Já o soltei.

    — Hm... Sábia decisão, líder.

    O lupino então foi até Ingris e, a apoiando em seu ombro, diz:

    — Sheng, fique longe da Ingris. Depois conversamos sobre sua situação.

    E Joshy seguiu com Ingris em direção a Ala Go, deixando os dois felinos no lugar reservado. Sheng, se recuperando, diz:

    — Ufa... Obrigado, Liane.

    — Corte essas formalidades esfarrapadas, Sheng.

    — Ah estou vendo que você não mudou nadinha, mana.

    — Grr... Odeio ser sua irmã

    — Assim você me magoa...

    — Joshy estava certo em te mandar calar a boca... Você é muito irritante...

    — Ah chega disso! Olha, agradeço aí pela ajuda... Mas tô indo nessa... – Disse Sheng, caminhando até a saída.

    Mas Liane o impediu, segurando em seu braço. Ela então diz:

    — Fracote, eu ainda não acabei com você...

    — O que que foi dessa vez?

    — Eu ouvi toda a conversa, Sheng Zian Daiyomondo. Que torneio foi esse e quando aconteceu? Você lutou contra o Viktor? E qual sua relação com ele? Vamos... RESPONDA!

    Pelo visto Sheng foi colocado novamente contra a parede.

    Enquanto isso...

    Policlínica – Ala Ni

    Como explicado anteriormente, essa era a ala onde o foco era na saúde e bem estar dos agentes. Temendo que algo poderia ter ocorrido a Noah, Lilac sugeriu para que todos fossem para a policlínica da Agência. E em uma das salas, com o jovem albino sentado em uma cama, estava sendo examinado por ninguém menos que Zoey, que diz:

    — Ótimas notícias, Noah Hibiki.

    — Bom ouvir isso... O que achou?

    — Tirando alguns hematomas, você está bem. Nossa grã mestra pegou bem leve com você.

    — *Aquilo foi pegar leve?* Ah... Obrigado?

    — Hehe... Relaxe. Você vai ficar bem. Só precisa descansar. Recomendo repouso por hoje.

    — Pode deixar.

    Mas Lilac, que estava acompanhando o tratamento, se aproximou dos dois e, quando iria ficar algo, Milla foi mais ligeira, dizendo:

    — Zoey, você é muito inteligente! Cientista e médica... Nossa, isso é muito legal!

    — Ah fofinha... Eu precisei estudar muito. Se você fizer o mesmo vai conseguir o que quiser.

    — Sério? Isso... Olha, me interessei nisso.

    — Se quiser te levo na biblioteca e te recomendo alguns livros.

    — Sim, eu quero! Eu quero ser cientista!

    — Hehe... Sim, você será.

    E agora, tomando a palavra, Lilac diz:

    — Zoey... Esse é seu nome, não?

    — Sim, Lilac. Sou uma grande fã sua, sabe?

    — Ora, obrigada. Mas escute... Teria como você examinar a mim e a Carol também?

    A felina, até então só acompanhando a conversa calada, diz:

    — Opa... Tá locona, Lilac?

    — O que foi, Carol?

    — Que lance é esse de exame? Tu tá sabendo de algo e não me contou?

    — Hã? Mas do que é que você está falando?

    — Diz... Seja minha amiga, Lilac... Eu sou uma moribunda?

    — O QUE? VOCÊ ESTÁ LOUCA?

    — Lilac, pode ser sincera...

    — Carol, sua boba... Você se lembra que a gente se sentiu diferente na nossa luta?

    — Sim. Mas o que tem?

    — Então... Eu quero fazer um exame pra ver se tem algo, só isso. Um exame de rotina só pra saber de nossa saúde.

    — Ah tá... Bem, é só isso mesmo?

    — Sim.

    — Mesmo “mesmado”?

    — Carol, essa palavra nem existe!

    — Você entendeu o que eu quis dizer.

    — Carol, é só um exame de rotina.

    — Mesmo?

    — Sim.

    — Posso acreditar?

    — Pode, Carol...

    — Não é pegadinha do Malandro?

    — Carol...

    — Nem do João Kleber?

    — Carol... Grr...

    — Nem do...

    — AH PARA COM ESSAS MALUQUICES SEM NOÇÃO, CAROL! É SÓ A DROGA DE UM EXAME DE ROTINA, SUA BOLA DE PELO MALUCA!

    Acho que Lilac ficou tão estressada com Carol que esqueceu que estava em um hospital. Logo quase um esquadrão de sentinelas da Agência apareceram no consultório, dizendo:

    — Estamos em uma ala clínica. Pedimos gentilmente que não façam barulho, fomos claros?

    — Ah... Que vergonha... – Disse Lilac, bastante vermelha – Me desculpem. Não vou fazer mais isso. Palavra.

    — Agradecemos...

    Eles então saem pela porta, mas um deles retornou e diz:

    — Ah... Caso aconteça de novo, você já deve saber o que vai acontecer... Não é? Grato mais uma vez.

    O sentinela logo saiu, deixando Lilac e Carol atônitas. A dragão, temerosa com as últimas palavras, diz:

    — O que será que ele quis dizer com “já deve saber o que vai acontecer”?

    Ouvindo a pergunta da bela dragão, na mente criativa de Carol logo podemos ver uma cena: Estavam Gong, Spade, Lenzin e Neera Li vestidos de terno e gravata pretos e óculos escuros, segurando um caixão e dançando ao som de “Astronomia” by Tony Igy. Possivelmente quem estava no caixão seria Lilac. Então Carol, depois desse devaneio, diz:

    — Diva púrpura, deixa “morrer” o assunto. E não grita... Por favor.

    — Você que me fez gritar!

    — Tá, belezin... Deixa quieto *as vezes eu me assusto com o que eu penso...*

    Terminado com o “assunto” (e com os devidos direitos autorais protegidos), Zoey então diz:

    — Então vocês querem fazer um check up? Tudo bem então. Só vou precisar de alguns minutos...

    — Eh... Zoey... Antes de fazermos isso, poderia deixar a mim e minha equipe a sós aqui? Sabe, precisamos mesmo conversar. Prometo não fazer barulho.

    — Ah... Bem... Não é muito usual eu aceitar isso em fazerem uma reunião em um consultório...

    — Por favor, é importante.

    A loba médica e cientista da Agência sentiu um grau de urgência na voz de Lilac. Percebendo isso, Zoey logo diz:

    — Muito bem, mas não demorem. Logo voltarei para o laboratório de pesquisas.

    — Ah eu posso ir com você lá? Eu vou ficar quietinha, tá? – Perguntou Milla, mostrando sua meiguice costumeira.

    — Como você é fofinha, sabia? Tudo bem, Milla... Vamos juntas...

    — Isso! Obrigada, Zoey!

    Logo a loba deixou a sala, ficando ali somente o Team Lilac. A dragão, olhando para todos, diz:

    — Vocês já devem ter percebido que Asuka não é o que parece...

    — Hã? Como assim, Lilac? – Perguntou Viktor, assustado.

    — Viktor, você não estranhou em nenhum momento o comportamento dela?

    — Não. Até onde sei a senhorita Asuka é uma pessoa bastante agradável e amistosa. Ela e Arthemis são agradáveis demais de...

    — Não seja inocente o tempo todo, Viktor.

    — Lilac?! Mas do que você está falando?

    E Noah, olhando para Viktor, diz:

    — Foi o que eu te falei antes. Sua inocência te cega.

    — Vocês dois falando assim parecem até que são meus pais. O que está acontecendo?

    E Lilac, tomando a palavra dessa vez, diz:

    — Nós fomos enclausurados aqui para investigarem quem é o traidor, isso na visão deles. Nós nos conhecemos e sabemos que nenhum de nós faria isso. Porém Lenzin me disse que estávamos sendo investigados. Viktor, isso também se diz respeito a Asuka e Arthemis. Elas estiveram nos investigando.

    — Isso o Noah também disse. Mas eu não vi absolutamente nada disso.

    — Natural... Asuka e Arthemis sempre te trataram bem e a nós também. Porém eu descobri muitas coisas...

    Isso causou até estranheza por parte de Carol, que diz:

    — Como assim, diva?

    — Eu ouvi a Asuka dizer.

    — Hã? Mas como?

    E logo Noah interrompeu Lilac, dizendo:

    — Ela me repreendeu assim que troquei de roupa pela da Agência. Ela sequer permitiu que eu me manifestasse. Parecia uma outra pessoa.

    — A Asuka te fez isso? Porque? – Perguntou Viktor, surpreso.

    — É, você realmente não tem noção alguma... Viktor, acho que você é tão inocente que Asuka nem se deu o trabalho de te investigar. Não entenda isso como algo ruim. Você só estava agindo como sempre agiu.

    — Tudo bem... Mas isso de me chamarem de inocente já está ficando chato...

    — Desculpe a franqueza, cara. Mas é para o seu bem...

    — Tudo bem. Eu entendi. Continue, Lilac.

    A dragão púrpura continuou:

    — Por isso... E unindo ao que Noah disse, desde o início eu consegui ouvir as conversas dela.

    — Mas Lilac, isso é meio que invasão de privacidade, não?

    — Viktor, Arthemis nos observa e nos ouve o tempo todo. Não temos privacidade aqui. Por favor, pense bem: estamos sendo investigados.

    — É que isso é muito absurdo de acreditar...

    — No dia que todos vocês estavam envolvidos em confusões, Asuka e Lenzin conversaram. Foi antes da festa no apartamento dela. Pois bem, as duas não se gostam. Elas não são amigas. E pior: Asuka vive a provocando. Porém Lenzin não se entrega e luta contra Asuka no seu próprio jogo. E não acaba por aí...

    — Tem mais coisas? Nossa...

    — Ela examinou todos nós logo após a festa. Ela planejou destruir Noah inclusive. E na luta contra o Noah eu esperei até o último minuto para intervir. Pessoal, ela está fazendo isso por vingança. Uma justiça que ela criou...

    — Não posso acreditar... Mas como você pode saber de tanta coisa, Lilac?

    Lilac então, com casa uma de suas mãos sobre suas tiaras laterais, diz:

    — Viktor, eu nunca te disse mas eu tenho deficiência auditiva.

    — Sério? Nossa, Lilac... Desculpe.

    — Não, tudo bem... Estou dizendo isso porque não uso essa tiaras só por me deixarem mais estilosa...

    — Mas tu fica linda demais com eles, diva púrpura! Nyah! – Disse Carol, abraçando Lilac.

    — Carol!

    — Tá, momento errado. Ok.

    — Eu usei toda a potência para ouvir as conversas de Asuka. Não importa que esteja atrás de portas fechadas com metais isolantes de ruído. Eu consegui ouvir como se ela estivesse a meu lado. Então eu tenho certeza absoluta do que eu ouvi.

    Noah, surpreso com isso, diz:

    — Então você sabia tudo que estava acontecendo desde o início?

    — Sim. Eu tinha noção que não poderia confrontar Asuka sem antes ter essa certeza. Ela veio no momento que ela iria te golpear. Explicado isso, vejam só... – Disse Lilac, retirando a atadura do braço que serviu para defender o ataque de Asuka.

    No lugar havia a marca do punho de Asuka. Por Lilac ser resistente em suas escamas (sua pele), ela conseguiu neutralizar maiores danos. Mas com certeza a marca impressionou tudo mundo, com Noah sendo o mais surpreso. Ele então diz:

    — Lilac, se ela me atingisse...

    — Ela golpeou pra valer. Iria te atingir pra quebrar.

    — Minha nossa...

    — Mas porque ela está fazendo isso? E você disse isso aí de justiça... Como assim? – Perguntou Viktor.

    — Noah. Ele é o alvo.

    — Porque o Noah?

    — Ela quer vingar a Ingris. Eu ouvi ela dizer que faria Noah sofrer o mesmo que Ingris na luta do torneio... e ela quase conseguiu.

    — Desgraçada... – Exclamou Noah, fechando seus olhos.

    Lilac, ao olhar para Noah, diz a todos:

    — O que eu quero de vocês hoje: conversem com seus amigos daqui da Agência sobre a Asuka.

    — Como é? – Perguntou Carol.

    — Tayce, Zoey, Sheng... Não importa. Consigam com seus amigos daqui informações sobre Asuka.

    — Mas porque isso? – Perguntou Viktor.

    — Tem mais coisas, Viktor... Há informações que precisamos pra montar esse quebra cabeças.

    — Mas pra quê?

    — Nossa segurança e a missão de recuperar o resquício da jóia depende disso. Não poderemos sair daqui até que provemos que não somos os traidores. Só que vamos sair daqui todos juntos... e inteiros.

    Lilac então, voltando a cobrir seu braço com atadura, diz:

    — Pessoal, preciso conversar agora em particular com Noah. Peço por favor que nos deixem sozinhos.

    Dessa vez Lilac falou com um tom de voz muito mais sério de que costume. Todos entenderam a mensagem. Logo se retiraram, com Viktor sendo o último. Mas antes do jovem fechar a porta, Lilac disse:

    — Viktor...

    — Hã? O que, Lilac?

    — Te adoro do jeito que você é, tudo bem?

    Viktor saiu, esboçando um sorriso, assim como Lilac. A dragão, indo até Noah, diz:

    — O que aconteceu com você?

    — Como assim?

    — Você tem capacidade de fazer mais do que eu vi na luta contra a Asuka.

    — Lilac, eu estava lutando com tudo o que eu tinha.

    — Mentira! Você estava irreconhecível. Parecia outra pessoa. Aí do nada você lutou a sério...

    — Olhe, eu estava desde o início levando a sério. Porém Asuka mudou... Ela ficou mais focada, mais forte... Tudo o que eu fazia ou pensava ela estava sempre a frente. Parecia que lia minha mente...

    — Não justifica. Eu fiquei preocupada com você, sabia?

    — De-desculpe, Lilac... Mas Íris e Ingrid me acordaram a tempo.

    — Hm... Esteve com elas?

    — Elas sempre estão comigo. Me ajudaram outra vez... Só que dessa vez foi diferente. Eu não aflorei de meu Feng Shui nessa minha nova técnica, Lilac. Então... Bem... Eu não tinha ideia do que havia acontecido... Porém depois de pensar bem, acho que sei o porquê de eu ter acordado por elas, desde o torneio T.O.R.M.E.N.T.A inclusive... E isso me trouxe agora muito mais preocupações...

    —Hã? O que seria?

    — Você já ouviu falar do Faith & Shock?

    — Isso... Nossa, Royal Magister me disse isso uma vez. Foi quando eu estava treinando...

    — “Se apoiar na fé...”

    — “... e fortificar o choque”.

    — Isso mesmo, Lilac. Inconscientemente eu consegui aflorar meu Feng Shui num momento oportuno. Isso me fez instintivamente criar um golpe novo. Esse golpe, usando o Faith & Shock, atinge o alvo num estado crítico. O imponderável permite proezas inimagináveis. Não há defesa contra aquilo que você não aguarda. Asuka recebeu meu golpe em cheio porque os efeitos do Faith & Shock são incalculáveis.

    — Sim, exato. Nossa, seu Feng Shui é mesmo incrível.

    — Obrigado. Mas tem algo que eu preciso te dizer.

    — O que?

    — Viktor, por algum motivo, chegou ao Faith & Shock.

    — Impossível! – Exclamou Lilac, incrédula – Ele não tem treinamento nem entendimento do que seria Feng Shui e Chi...

    — Não... Eu pensava assim. Ele não tem Feng Shui e muito menos Chi. Mas ele, na luta contra o Sheng, potencializou seu golpe o usando.

    — Mas o que isso significa? Ele não poderia simplesmente usar o Faith & Shock sem ter Feng Shui. E mesmo assim teria de manifestar Chi para isso, mesmo que pouco.

    — Eu li muitos livros, tenho todo o conhecimento do meu querido pai, disciplinei meu corpo com Feng Chuí e manifestei meu Chi... mas nem tudo isso me dá respostas pra compreender o que aconteceu. Pelo visto não sabemos tudo sobre o Faith & Shock. E Viktor não tem ideia do que significa ter Feng Shui e Chi... Ele corre perigo, Lilac. Ele não tem noção de como nós vivemos em Avalice. Ele não é daqui. Com certeza sua fisiologia não se adequa a esse planeta. O Faith & Shock que ele ativou não é como o nosso. Ele fez isso só usando seu físico. Nós sabemos dos efeitos do Faith & Shock sobre o Chi. Viktor não. E talvez você saiba o que isso significa...

    Lilac havia entendido cada palavra do raciocínio de Noah. Por ter lido vários livros acerca do assunto, o híbrido albino sabia mesmo do que estava falando e a dragão púrpura tinha total ciência da gravidade da situação. Ela, com um olhar distante, diz:

    — *Ele está em um mundo desconhecido e... que não se encaixa. Ele lutou no torneio se sacrificando pelos meus ideais sem temer o que não compreende... Viktor, ainda mais me coloco responsável por sua segurança... Eu quero que você esteja bem o tempo todo... Faço isso porque eu te acho o máximo... Você não pode mais se colocar em perigo por nossa causa...*

    Mas depois de ficar um tempo calada refletindo a situação de Viktor, Lilac tornou a voltar a conversa com Noah, dizendo:

    — Asuka Tenjoin.

    — Hã? O que tem?

    — Asuka-chan... Asuka Tenjoin... Arthemis a chama de formas diferentes... Noah, não é somente uma forma carinhosa de chama-la...

    — O que quer dizer?

    — Eu notei que quando Arthemis a chama de Asuka-chan ela está mais alegre, agradável e carinhosa. A perfeita “melhor amiga”, se assim dizer.

    — E Asuka Tenjoin... ela...

    — Sempre que Arthemis a chama assim, Asuka se torna fria, calculista e odiosa. Eu odeio gente prepotente, Noah... Isso estava no Brevon... E isso é algo ruim.

    — Dupla personalidade...

    — Hã?

    — Eu li muito sobre isso... Asuka pode sofrer disso...

    Interrompendo Noah, as luzes do consultório piscaram por alguns instantes, causando estranheza por parte dos dois. Foi breve, levando alguns segundos. Porém isso foi o suficiente para Lilac e Noah trocarem olhares.

    Enquanto isso...

    Arena da Agência – Ala San

    Dependências do octógono – Vestiário reservado

    Num vestiário reservado a membros de alta patente da Agência, Asuka estava havia tomado banho e se arrumado para seguir com suas obrigações. Ela, já devidamente uniformizada com sua bodysuit e sua jaqueta, verificava anotações em seu tablet. Mas pelo visto uma imensa conversa estava prestes a ocorrer: Lenzin entrou na sala sem bater e não parecia estar de bom humor. Ela, ao entrar, diz:

    — Asuka Tenjoin...

    — Guardiã... A que devo a visita?

    — Nada demais. Somente uma guardiã curiosa pra ver uma grã mestra frustrada.

    — Que consideração a sua. Está preocupada comigo... Que amor.

    — Você não consegue esconder... Você tentou fazer algo detestável naquela luta, mas Noah Hibiki a colocou no chão.

    — Lenzin, você já percebeu que sua opinião não me incomoda? Sabe, queria ouvir mais de você, com essa sua arrogância patética que só você consegue fazer...

    — SUA INSOLENTE!

    — Hm? Lenzin Tzu Chiang... Uma boa tarde para você também...

    — NÃO OUSE PROFERIR O MEU NOME COMPLETO! Isso... ISSO É UM INSULTO VINDO DE VOCÊ!

    — Pelo visto não preciso fazer muito pra te ofender. O que quer na verdade, guardiã? Você me ofende ao pensar que eu não entendi o porquê de estar aqui...

    — Explicações... E espero que sejam bem...

    — ... Convincentes? É isso, não? Guardiã, não há nada do que se deva preocupar. Tudo está bem.

    — Não... Não está... Nunca está.

    — Porque está tão irritada? Isso não combina com seu lindo rosto.

    — Estou irritada porque uma grã mestra tentou aniquilar um civil.

    — Aniquilar? Hm... Isso é uma palavra um pouco pesada demais, não acha?

    — É leve, porque eu iria dizer matar.

    — Como disse? – Se levantou Asuka, mostrando-se incomodada – Está me acusando de tentativa de...

    — ESTOU! Exatamente isso, mente brilhante!

    Asuka, ao ouvir as palavras da guardiã, ameaçou pular contra ela. Mas Lenzin, mostrando uma velocidade muito acima do que vimos antes, já estava com sua espada no pescoço da grã mestra, emanando pelo seu corpo uma aura verde. Imediatamente, Arthemis apareceu, com praticamente um arsenal de armas pelos seus braços. A IA felina logo diz:

    — Protocolo de segurança ativado. Prioridade: proteger grã mestra Asuka Tenjoin a qualquer ameaça. Alvo: Guardiã do Reino de Shang Mu Lenzin Tzu Chiang. Diretriz 4 parágrafo 1: nunca atacar membros do conselho de proteção do Reino. Ordem: aguardar instruções de Asuka Tenjoin.

    A situação estava quase no limite. Lenzin não parecia recuar e seu rosto mostrava indiferença com o que Arthemis estava fazendo. Suas atenções eram só para Asuka, que diz:

    — Você disse que nunca levantaria sua espada para mim novamente, guardiã. Não sabe cumprir promessas?

    — Você é uma ameaça. Por isso seu pescoço está prestes a sentir minha lâmina.

    — E sua palavra?

    — Sou uma guardiã. Eu protejo as pessoas contra qualquer ameaça. Inclusive contra membros do conselho.

    — E como acha que iremos resolver isso? Eu sou uma ameaça... Deveria ir em frente.

    — Você primeiro, grã mestra. Diferente de mim, você que está na ofensiva. As câmeras de Arthemis filmaram tudo. Você tem duas escolhas: ordenar que Arthemis atire e terminar com tudo ou simplesmente podemos conversar sem trocas de farpas, como duas pessoas inteligentes e centradas. A escolha é sua.

    Não precisou muito tempo. Asuka logo diz:

    — Arthemis, cessar protocolo.

    — Asuka Tenjoin... Afirmativo – Disse, retraindo suas armas.

    Lenzin, ao mesmo tempo, com um movimento somente, voltou sua espada para a bainha presa em seu cinto. Logo olhou para Asuka e disse:

    — Porque fez isso a Noah Hibiki? Ele não tem absolutamente culpa alguma do que aconteceu naquele torneio.

    — Ele existe... Só isso já justifica minha atitude.

    — A existência dele não é motivo para que você fizesse aquilo.

    — Lhe pergunto, Lenzin... Você sabe porque pessoas como Marduk existem?

    — Asuka Tenjoin...

    — Porque nós sempre damos uma segunda chance a pessoas ruins. Acredite, eu tenho inteligência para prever tragédias... e uma delas é acabar com qualquer vestígio daquela seita.

    — Ingris pelo visto te passou muitas informações...

    — Muitas. E elas unem-se as que eu já tinha... A muito tempo...

    — E onde você quer chegar com esse raciocínio?

    — Você selou seu Kaipasu pra sempre, eu sei...

    — Exato. Noah está livre dessa doutrina demoníaca.

    — Muito bem... Você me assegura isso, mas...

    — Mas o que?

    — E onde está a justiça nisso?

    — Justiça? Acha mesmo que espancá-lo em público vai trazer justiça?

    — Lenzin, Ingris estava em missão. Noah era até então um detentor da doutrina do Kaipasu. Ele destroçou seu corpo, sua mente... Você acha mesmo que eu irei deixar que fique impune?

    — Asuka Tenjoin... Isso que você está dizendo... 

    — Sem segunda chance. Ele deve pagar por sua ações. Uma agente altamente capacitada está catatônica por causa desse anônimo.

    — NÃO CAIA NESSA ARMADILHA!

    — Está gritando outra vez comigo, guardiã...

    — Você... Você está usando uma justificativa pra fazer isso! Noah não é o foco! O que estava nele foi eliminado para sempre!

    Asuka então se levantou e foi até uma escrivaninha alí próximo. Ela então pegou um porta retrato e diz:

    — Não esperava que fosse compreender. Passou-se muito tempo desde que...

    — Asuka Tenjoin... PARE! Sua história... ela passou... Você é a mente mais brilhante desse reino, então... não caia nessa armadilha.

    — Não existem armadilhas. A única coisa que existe é sua insistência em me confrontar e ignorar uma iminente ameaça. Sua abordagem a Noah foi insatisfatória. Deixe comigo, pois irei terminar o que você começou. Mas não se preocupe, você teve méritos.

    — Teorias infundadas! Você está transformando isso num assunto pessoal! Coloque-se em seu papel de membra do conselho e esqueça esse assunto, que já está consumado.

    — Palavras vagas de quem não tem a quem defender...

    — Eu tenho todo meu reino a defender!

    — Você entendeu o que eu quis dizer. E sabe que sempre tive essa preocupação, de querer o bem de todos... Eu sempre, SEMPRE DEFENDI ESSE REINO! Até me sacrifiquei...

    — Aja como uma defensora e não queira nada em troca! É assim que devemos trabalhar! Aceite suas escolhas.

    — Você sempre pensa no racional, o que é louvável. Você livra sua mente puritana e raciocina melhor... mas ignora totalmente o convívio social, mesmo com o tempo passando... As vezes me pergunto se você tem sentimentos...

    — Cuide da sua vida, Asuka! O que eu faço ou deixo de fazer é um assunto meu e de mais ninguém! 

    A grã mestra voltou a se sentar e, olhando para Lenzin, diz:

    — Tola... e solitária.

    — O que?

    — Você sempre quis esconder esse seu lado... Lenzin, você é tão fácil de ler...

    — Asuka Tenjoin... não se atreva.

    — Não gosta de contato... Nunca entenderia o que é ter perdas... Você não se importa verdadeiramente com as pessoas porque não tem empatia.

    — TOLICE! Minha vida nada tem a ver com meu trabalho! Eu me importo com as pessoas do meu reino e de toda Avalice! Você é uma dissimulada que se apóia em ideologias que você mesma criou! Todos os agentes tem total ciência de como você é... Uns menos e outros mais. Mas eu... Eu sei tudo sobre você, Asuka Tenjoin...

    — Tenho orgulho de ter uma rival como você, guardiã. Essa dicotomia “devoção versus inteligência” me motiva ainda mais em seguir com o que eu planejo. E alguém que “me conhece” deve ser respeitada.

    — Sua falsidade me motiva a sempre manter-me livre de suas interpretações incovenientes. Mas eu não a culpo. Sua vida até hoje te ensinou do jeito errado as coisas... Faça o que quer, grã mestra. Diante minhas intuições como guardiã eu estou certa que você terá suas respostas do jeito mais doloroso possível. E nesse dia eu ficarei feliz em saber que você descobriu toda a verdade... e você estará salva.

    Lenzin então, virando seu rosto, caminhou até a saída, com Asuka dizendo:

    — A verdade... Você não a suporta.

    — Eu aceito bem a verdade. A minha dúvida é: você a aceita? Eu duvido. Com sua licença...

    A guardiã saiu do vestiário, tentando a muito custo manter a calma. Asuka, olhando para Arthemis, diz:

    — Arthemis, e o vídeo?

    — Está rendenizando, Asuka Tenjoin.

    — Ótimo. Deixemos os agentes ter seu próprio julgamento.

    — Asuka Tenjoin, sobre a luta...

    — O que quer perguntar?

    — Meus sensores detectaram um aumento de temperatura em Noah Hibiki no momento do golpe que ele a atingiu.

    — E qual foi a força de impacto?

    — Poder de força: 175.

    — Não é possível isso... Você está certa?

    — Totalmente.

    — Então suportei bem. Hehe... Isso foi mesmo interessante de saber. Arthemis, hora de voltar para casa. Iria até o centro de comando, mas não estou com vontade.

    — Tudo bem, Asuka-chan.

    Sim, Asuka automaticamente trocou suas roupas, voltando a vestir seu uniforme casual da Agência. Logo deixou as dependências da pequena arena e seguiu para sua residência na Ala Go.

    As coisas estão mesmo tensas entre a grã mestra e a guardiã.

    Enquanto isso...

    Ala Ni

    Policlínica da Agência

    Já em uma outra sala, lá estavam Lilac e Carol, que haviam fazer coleta de sangue com Tats. Passado alguns minutos, a esquilo especialista em medicina da família Zaphira Omna logo trouxe o resultado.

    — Lilac e Carol... Já estou com seus dados aqui.

    — Caraca... Mas já? Só passou dez minutos... – Comentou Carol.

    — Sim. Asuka desenvolveu todo nosso sistema de análise. Tudo é computadorizado e com o melhor de tecnologia de toda Avalice. Isso facilita muito meu trabalho aqui.

    — Nossa, isso é muito legal!

    — E os nossos exames? – Perguntou Lilac.

    — Bem, vejamos... Eu li a pouco brevemente e... Bem, vocês estão na melhor forma física que eu poderia ver de alguém super saudável.

    — Como é?

    — Isso mesmo. Tudo em vocês está com resultados no máximo. Eu nunca havia visto isso em um exame. O que vocês fizeram pra chegarem a esse condicionamento físico espetacular?

    — Caraca... Tamo toda turbinada e não sabíamos, Lilac! Hahaha! Por isso que tô me sentindo tão bem... – Disse Carol, fazendo flexões utilizando um braço e plantando bananeira.

    — Vai com calma, Carol... E Tats, isso está mesmo certo?

    — Precisamente. Mas vocês ainda não responderam minha pergunta. Como conseguiram ficar assim tão saudáveis? – Perguntou Tats, mostrando curiosidade.

    — Bem, nós treinamos todos os dias como sempre fizemos. Nada fora do normal.

    — Bem... Comigo foi diferente: fiz cem flexões, cem abdominais, cem agachamentos e corri dez quilômetros – Disse Carol, sorrindo.

    — Carol, o que você está dizendo?! Você não fez nada disso, sua boba! Você vive deitada pelo menos seis horas por dia sem fazer nada!

    — Shh! Ela não sabe!

    — CAROL!

    — Tá... Relaxa... Nyah! :3

    Enquanto Lilac e Carol conversavam, Tats voltou a ler o prontuário e, ao ver algo que lhe chamou atenção, diz:

    — Lilac e Carol, a alimentação de vocês...

    — Hã? O que tem? – Disse Lilac.

    — A quantidade de nutrientes e vitaminas de vocês são absurdamente altas. Isso é incrível! O que vocês comem influenciou esse resultado magnífico.

    — Bem, nós nos alimentamos bem e... MINHA NOSSA! É CLARO!

    — O que que é claro, Lilac? – Perguntou Carol.

    — Carol, a comida... A gente está se alimentando melhor...

    — Ih pode crer... Então é isso...

    — O Viktor!

    Tats, sem entender, perguntou:

    — Viktor, o stranger?

    — Sim. Ele que prepara nossa comida. E isso bate com o período que ele começou a fazer nossa comida... Nossa, eu não imaginaria que alimentação faria tão bem pra gente.

    — Hm... Isso é muito interessante... *Esses números são muito acima da média de qualquer habitante de Shang Mu. Nenhum agente tem uma saúde tão perfeita quanto a dessas duas. Esse stranger chamado Viktor... Eu preciso levá-lo até a cozinha da ala Yon...*

    — Espere... Onde está o Viktor falando nisso?

    — Ah Lilac... O piá foi dar uma volta pra achar o Sheng. A Milla foi com a Zoey... Acho que eu vou partir também pra achar a deusa nórdica...

    — Mas como é que você vai entrar na Ala Restrita?

    — Fica sussa, divalinda. O escritor e eu somos fechamento. Chego lá... se preocupa não.

    — Sua maluca. Eu vou voltar para o alojamento com o Noah. Hora de descansar um pouco e bolar uma estratégia...

    — Beleza, tamo junto!

    Como a dragão disse, ela seguiu novamente para a sala onde Noah estava, com Carol seguindo para encontrar Tayce.

    E falando no Viktor...

    Corredores da Ala San, minutos depois.

    Caminhando pensativo pelos corredores movimentados da Agência, o jovem humano se colocava em dilemas:

    — *Tem tanta coisa acontecendo assim a minha volta e eu não tinha noção alguma? Seria a senhorita Asuka tudo isso que Lilac disse? Se sim, então eu sou o que aqui? Noah comentou que por eu não demonstrar ameaça ela nem se deu o trabalho de me investigar... Isso não é bom. Eu me sinto mal com isso, como se eu não tivesse importância...*

    E o surpreendendo, uma voz é ouvida bem alto:

    — NEKO BITE! – Disse Sheng, pulando nas costas de Viktor, o abraçando com força e mordendo sua orelha.

    — AHHH! – Se assustou o jovem – Ah... SHENG!? Para com isso... PARA!

    — Hahahaha! Te peguei no pulo, haha! Deveria ser mais cuidadoso, Vik! Um lutador como você precisa estar sempre alerta para “ameaças fofas”, hehe.

    — Você veio do nada! Como eu poderia prever isso?

    — Hahaha! Te adoro, cara! Haha!

    — Hunf...

    Enquanto Sheng se divertia com sua brincadeira, o felino percebeu que Viktor estava com um semblante mais tenso. Mesmo ele ter levado na esportiva a brincadeira, era visível que havia algo.

    — Tá... O que foi, Vik? Desculpa, tá ok?

    — Não... Tudo bem, Sheng. Só que...

    — Que foi?

    — Eu... Eu queria mesmo conversar com você.

    — Olha, que coincidência. Eu também queria conversar com você.

    — Sério? E o que queria falar?

    Sheng estava mostrando muita empolgação em seu rosto, mas colocou-se em pensamentos:

    — *Eu... Eu ia falar sobre nós dois, mas... Tem coisa mais séria a resolver. Eu prometi a Liane Saber...* Viktor, eu estive a poucos com Liane Saber e...

    — O que aconteceu? Não me diga que ela também brigou com você?

    — Hã?! Não... Que isso. Nós da família Daiyomondo não podemos fazer isso.

    — Ah sim, entendi... Espere, deixa eu ver se entendi bem: família Daiyomondo... VOCÊS SÃO DA MESMA FAMÍLIA?!

    — Sim. Liane é minha irmã.

    — É sério?! Nossa... Isso sim foi algo inesperado.

    — *Preciso confirmar uma coisa antes...* Vik, você e Liane lutaram?

    — Ah... Bem... Ela que começou. Eu só me defendi.

    — Você suportou o soco dela?

    — Sim... E preciso te dizer que foi tão forte quanto o seu.

    — *Eles realmente lutaram... Você se tornou ainda mais importante pra mim, Viktor... Só que Liane está no jogo agora...*

    Por alguns segundos Sheng ficou pensativo na frente de Viktor que, estranhando, diz:

    — Sheng, você está bem?

    — Hã?! Ah... Olha... Tipo... Eu vim aqui pra te dar um recado.

    — Recado? De quem?

    — Liane Saber.

    — Ah já entendi... Avisa a ela que eu não quero contato com ela. Eu não vou lutar!

    — Ei, calma... Minha mana pode ser um pouco durona, mas...

    — Um pouco? Você está de brincadeira, né?

    — Tá... Ela é muito durona. Mas ela pediu pra convidar você a ir até o apartamento dela.

    — Hã? Mas porque?

    — Ela quer conversar com você.

    — Conversar? E porque ela não veio até mim pessoalmente?

    — Porque ela me disse que você a está evitando. Então me pediu pra falar com você.

    — Está estranho isso... Ela não tinha nada que te envolver nessas ideias dela.

    — Tá, cara... *Poderia encerrar aqui e tirar minha mana do caminho, mas eu preciso cumprir minha promessa* Dá uma chance pra ela, Vik. A Liane é muito competitiva mas é uma pessoa bem intencionada.

    — Nossa última conversa trouxe quase uma guerra... *Sheng conhece ela melhor do que eu. Lógico, é a irmã dele...* Tudo bem, Sheng. Eu farei isso.

    — Ah legal, Vik. Que bom que aceitou... *Pronto. Promessa cumprida*

    — E que dia ela quer que eu a visite?

    — Eh... Hoje.

    — Hoje?! Que horas?

    — Pode ser... agora?

    — Agora? Mas... Hm... Ela deve estar muito querendo conversar comigo.

    — Está sim... Eu vou lhe dar o endereço dela. É fácil chegar...

    — Valeu, obrigado! *E pensando bem, posso conversar com ela sobre a Asuka. Melhor nem envolver o Sheng nisso...*

    Liane Saber convidando o Viktor pra conversar? Isso sim é algo que ninguém esperava.

    Enquanto isso...

    Ala Restrita

    Angar 3 – Setor de manutenção de armas.

    Jáa com Carol caminhando sob os olhares dos demais agentes que a repreenderam num passado bem recente, a felina chegou até o lugar. Era um grande galpão cheio de aparatos tecnológicos para manutenção e calibração de armas. Ao fundo e sozinha estava Tayce Axel que, ajeitando uma arma, percebe a aproximação de Carol, dizendo:

    — Olha a pequena aí... Verde e fofa como sempre.

    — Minha deusa nórdica favorita muitão! Como você tá, monstrona?

    — Eu estou bem. E você, happy green?

    — Tô legalzona. Grazzie!

    — Hm... A que devo a visita.

    — Tipo, Tayce... Tava querendo trocar um lero contigo bem sério.

    — Hm? E o que quer conversar?

    — Sobre a otomezinha Asuka.

    Quase que instantaneamente o semblante de Tayce mudou, tornando-se mais sério. Ela, olhando pra Carol, diz:

    — Acho melhor você não se meter com ela.

    — Ih qual foi? Acha que eu tô de bob, Tayce?

    — Não é uma terra a qual você pertence, Carol. Não deveria se preocupar com ela.

    — Ah tá... Entendi. Já peguei a mensagem. Mas tipo, vô ter que insistir... Tamo com umas broncas aí e...

    — Você e seu time, é isso?

    — É. Isso isso isso!

    — Falar de Asuka é esperar uma retaliação depois pra qualquer agente daqui, sabia?

    — Hã? Como assim?

    — Asuka ouve a todos. Arthemis está em todos os lugares desse complexo.

    — E daí? Pô, quem não deve não teme. Tu tá fazendo seu trampo numa boa e tem opinião própria. Qual crime nisso?

    — Hm... Mesmo pra uma pequena você tem personalidade. Você me surpreendeu, Carol. Está certa em pensar assim, entretanto...

    — Nani?

    — Vou querer algo em troca. Sabe, segredos pagam segredos. Ficará só entre nós. Aceita ou não? 

    — Ah... Belezin. Aceito... Tu sabe negociar, deusa nórdica.

    — Hehe... Bem, qual sua pergunta sobre Asuka? 

    — Cara, essa parada dela ser gerente daqui... Ela põe moral em geral e isso é massa demais. Só que tô achando que tem muita gente que tem medo dela.

    — Asuka Tenjoin fez esse lugar. Tudo aqui foi construído por ela. E quando digo tudo é tudo mesmo.

    — Como assim?

    — Não só a parte tecnológica ou a estrutura desse lugar... mas as leis e diretrizes também.

    — Tipo um poder paralelo?

    — Exatamente.

    — *Ferrou... A otomezinha é miliça...* Mas e os agentes? Os cara aceitam numa boa? Vocês não tem poder de resposta?

    — Hm... Você quer saber demais... Meu preço é proporcional a sua curiosidade, Carol. Melhor pegar leve...

    — Tá de boa... Mas e minha resposta?

    — Carol, Asuka Tenjoin sempre per... – Tentou dizer Tayce, sendo interrompida por Carol.

    — Tu fica chamando ela de Tenjoin... Esse é o sobrenome dela?

    — Sim... *Essa pequena está mais curiosa que de costume. Muito bem, eu não vou pegar leve com minhas perguntas...*

    — Tá, beleza. Continua.

    — Ela permite que tenhamos voz ativa. Porém a decisão final é sempre dela.

    — Tu concorda com isso? Pô, tu é mó fortona cheia de autoridade aqui... Tu facilmente colocava a otomezinha no bolso!

    — Não, Carol... Asuka não é só um gênio...

    — Hã? O Noah sapecou ela na porrada! Tu na certa ia pegar essa armona tua aí e fazer a Asuka de palitinho.

    — Estou dizendo isso porque... Hm... eu quase lutei contra ela.

    — Tá de saca, né? Tu ia moer ela mais fácil que o Zangado jogando Uncharted 4...

    — Ela pode parecer indefesa e fraca, mas por trás daquele cérebro existe uma lutadora feroz e imponente. Muitos fracassados até falaram que eu perdi uma oportunidade única, pois ela me desafiou, mas não... Minha luta é por outra coisa. Eu não tenho que provar nada a ninguém. Onde eu, Tayce Axel, tenho que provar o meu valor? Ela não gostou, mas não me senti mal por isso, pelo contrário.

    — Tayce...

    — Asuka Tenjoin... Uma oponente formidável. Todos os melhores lutadores querem uma batalha com ela. Foi um bom aprendizado. Sabe, ajuda a filtrar quem está com você. E tenho orgulho de estar aqui fazendo parte disso tudo. Ela pode ser a grã mestra, deve ter feito por merecer até, mas de mim quem cuida sou eu. Sou autônoma pra fazer o que eu quiser de minha vida. Faça o mesmo, Carol.

    — Caraca, tô mais que certa agora que tu é uma deusa nórdica!

    — Hehehe... É meu jeito de viver.

    Por alguns instantes Carol ficou calada, pensando em muitas coisas:

    — *Cara, a Tayce é o tipo de pessoa que mói gente como a Asuka no café da manhã. Como a otomezinha mexe tanto assim com o emocional dessa gente? Tem algo aí... Não pode ser...*

    Mas Tayce logo lembrou Carol de um detalhe:

    — Creio que é minha vez de perguntar, não?

    — Hã?! Ah sim sim... O que quer saber de euzinha, minha deusa nórdica?

    — Porque vocês estão aqui?

    — Hã? Tu quer saber porque eu e meus amigos estamos na Agência, é isso?

    — Sim.

    — Ah não vou esconder nada de você... Tamo enclausurados porque um banditinho mixuruca deu leak numas informações marotas e aí surrupiaram o “gigante-enorme-grandioso-pomposão” resquício da jóia do reino. Aí tão investigando geral do grupo porque pensam que um de nós é o X9.

    — Então é isso... E descobriram?

    — Não, né? A gente é tudo amigo. Nenhum de nós fez nada. A guardiã lá... aquela chamada Lenzin... Ela que deu essa ideia. Aí tamo aqui de vip. É isso.

    — Hm... Curioso... Então vamos começar a cavar um pouco mais...

    — Manda!

    — E sua família?

    — Hã?

    — Uma felina selvagem como você... Eu conheço a origem de vocês.

    — Como é?

    — Hehe... Carol, eu sou uma Arsenal. Vago o mundo adquirindo conhecimento bélico... E eu sei que existe um mercado negro com coisas que não vemos nas esquinas iluminadas de Shang Mu...

    Dessa vez quem mudou de semblante foi Carol, pois o levantamento que Tayce fez mexeu mesmo com seus brios. Engolindo seco sua saliva, a felina diz:

    — Onde quer chegar, Tayce?

    — Faz um tempo... Enquanto estava numa expedição de reconhecimento em Great Desert... Naquelas dunas de areia havia um acampamento rústico, tipo nômades... Foi lá que eu vi uma felina da sua raça, mais velha e bem auto de si...

    — Ah... Tayce...

    — O que foi? Nós havíamos combinado de pagarmos segredos com segredos, não?

    — Ah... Si-sim... Ah... *Que droga de boca grande eu tenho! Caraca... Eu odeio lembrar disso, mas eu não posso fazer isso com a Tayce...*

    — Carol, minha resposta...

    — Cory... – Disse Carol, desviando o olhar.

    — Hm?

    — Corazon Tea... Era ela.

    — E então? Quem é ela?

    — Ela... Ela é minha... irmã.

    Carol tem uma irmã? E a conversa continuou:

    — E porque não estão juntas?

    — Tayce, olha... Isso é...

    — Carol...

    — Ah tá... A gente combinou... Tá... Ok... Digamos que minha família e eu discordamos em algumas coisas e que essas discordâncias levaram a uma treta e... Bem, cada um foi pro seu lado.

    — E qual lado vocês seguiram?

    — Ah... Tss... Eu escolhi um ruim e... e ela um pior. Porém o “ruim” me deu chances de transformar em algo muito bom... Já a Cory...

    Carol estava mesmo diferente de tudo que vimos dela até agora. Era um comportamento que até mesmo Tayce se comoveu:

    — *Esse assunto mexeu mesmo com ela. Eu peguei pesado demais... Não queria isso, não tinha intenção alguma... Mas mesmo assim ela respondeu. Eu toquei em um ponto dela que não deveria ter tocado... e isso não é justo*

    Tayce então, gentilmente, se aproximou e abraçou Carol, dizendo:

    — Tá a fim de dar um tiros?

    — Hã? Tipo... Detonar mesmo?

    — Exato. Eu ajeitei algumas armas lasers e preciso testá-las... Vamos nessa?

    — MAS É CLARO QUE SIM! PODE CRER! FIRMOU, HAHA!

    E Tayce havia conseguido trazer um lindo sorriso ao rosto da felina verde, mesmo com os pesares. O passado de Carol esconde segredos que ela não se sente confortável em lembrar.

    Enquanto isso...

    Ala Norte – Ichi

    Centro de pesquisa da Agência

    Como havia combinado com Milla, Zoey a trouxe para que observasse mais de ciência. A loba estava fazendo seus experimentos de química enquanto a pequena canina estava lendo um livro. Ela, curiosa, diz:

    — Zoey, então é mesmo possível fazer essas coisas em laboratório?

    — O que?

    — Reações químicas.

    — Sim, claro. Mas porque você pergunta isso?

    — Os meus poderes... Eu consigo formar coisas e... Bem, durante meu treinamento com minha mestra eu a vi lutar, usar seus poderes... Eu... Eu tentei imitar.

    — Espere... Você tentou fazer o que?

    — Ah... Acho que melhor eu te mostrar.

    Milla, concentrando seus poderes de feixes verdes em uma de suas mãos, formou um cubo. Mas o transformou em vários pedaços. Porém havia algo diferente: um tipo de fumaça saía das pequenas pedras que estavam em sua mão. Logo Zoey diz:

    — Você os diminuiu. Mas o que tem de diferente?

    — Coloca a mão neles.

    E ao trocá-los, a loba logo percebeu que:

    — Milla... Eles... Eles estão gelados... Muito gelados! Como você conseguiu fazer isso?!

    — Eu não sei. Só me concentrei e olhei minha mestra treinando...

    — *Essa garota só me surpreende. Os poderes de uma alchemist vai além do imponderável... Ela solidificou feixes e os transformou em algo quase tão gelado quando gelo real... É impressionante!*

    Mas Milla se lembrou do principal objetivo, o que Lilac pediu:

    — Zoey... E a Asuka-chan?

    — Que tem?

    — Ela é bem forte, não? Lutou contra o Noah... Eu vi.

    — A nossa grã mestra é mais do que uma ótima lutadora. Ela é incrivelmente inteligente.

    — É mesmo?

    — Sim. Muitas de suas criações já fazem parte do dia a dia dos habitantes de Shang Mu. E ela tem um papel importantíssimo aqui no centro de pesquisas.

    — Legal! Mas... Eu posso fazer uma pergunta um pouco pessoal?

    — Hã? Claro, Milla.

    — Você gosta da Asuka?

    Acreditem: Zoey não se sentiu nem um pouco confortável em ter ouvido essa pergunta. A loba, se sentando ao lado de Milla, diz:

    — Milla, porque está me perguntando isso?

    — É que a Asuka parece ser uma pessoa boa e legal... Mas meus amigos estão com dúvidas. Ela tratou a gente bem, mas a Lilac... Bem, ela entrou no meio da luta e eu... Eu senti um cheiro ruim e tive uma sensação de que a Asuka que estava lutando não era a mesma pessoa que me chama de kawaii.

    — Milla... *Ela pode ser bem jovem, mas tem sentidos bem apurados. E ela tem mesmo sentimentos fortes com seus amigos...* Bem, Milla... Eu não poderei responder essa pergunta. Mas posso te dizer que minha relação com a grã mestra é somente em caráter profissional. Ela me deu toda a estrutura e todo o suporte possível pra eu manter minhas pesquisas.

    — Ah mas... É tão difícil assim dizer que gosta ou não dela?

    — Milla... Você está me colocando numas posição um pouco delicada...

    — Minha nossa, desculpa! Eu sou mesmo uma boba...

    — Não, Milla... Eu que sou a culpada... Você fez uma pergunta simples. Eu que não tenho cap... Digo... *Eu não posso mentir pra ela! Toda essa situação... Eu preciso ser sincera*... Na verdade, Milla... eu não tenho coragem pra responder essa sua pergunta.

    — Porque?

    — Eu... Bem... *O que está acontecendo comigo? Porque estou sentindo esse peso no meu peito?*

    — Zoey? Você está bem?

    A loba cientista se levantou e foi para uma outra sala. Minha, observando, a seguiu e, ao chegar a sala, viu que Zoey estava chorando. A canina se sentiu aí seu lado e disse:

    — Zoey... O que foi?

    — Milla... Eu preciso mesmo te responder...

    — Não precisa. Olha, não se preocupa com isso, tá bom? Eu não quero você triste...

    — Eu não... Eu não gosto dela, Milla. Porém o trabalho da minha vida envolve a Asuka. Eu estou aqui pelos meus sonhos e não por causa dela, mas os custos pra isso foram muito altos...

    — Você deveria contar isso pra ela, sabia?

    — Ela sabe disso, Milla. Ela não se importa. Pra mim é um sonho de tornando realidade. Mas pra ela é só mais um de seus afazeres.

    — Zoey, o que que ela te fez?

    — Não diretamente a mim, mas a meus amigos. 

    — Hã?

    — Viemos juntos, todos nós... Desde a universidade. Asuka nos aceitou aqui. Mas aos poucos ela, com o seu brilhantismo inquestionável e também com sua arrogância e seletividade, os mandou embora da Agência.

    — Mas o que você fez?

    — Eu também pedi pra sair.

    — Zoey...

    — Só que meus queridos amigos me impediram. Joshua insistiu que eu ficasse, assim como meus outros amigos. Ele disse que “nosso sonho é todo seu. Vá em frente e termine o que começou”...

    A loba voltou a ficar triste mas, como sabemos, Milla tem um dom de ajudar pessoas nessa situação. A pequena canina não perdeu tempo e tudo mudou com uma simples frase:

    — Nossa, Zoey... Você realizou seu sonho.

    — Milla, o que...

    — Isso é muito legal! E daí se ela não dá o mesmo valor que você? Eu no seu lugar estaria muito feliz e bastante alegre. Nossa... Você realizou seu sonho! Não... Você realizou o sonho de todos vocês! Seus amigos... Eles te amam! Gostam tanto de você que confiou tudo a você. E olha o que você fez! Você conseguiu!

    — Milla... Eu... Isso que você disse...

    — Não tem porquê ficar chorando. Você é o máximo! E seus amigos também!

    Milla ficou com Zoey sentada a seu lado. A loba cientista não chorava mais, motivada a seguir em frente com seus sonhos. Talvez a pequena canina a fez refletir bem sobre o que conseguiu. Novamente Milla usou de sua ternura para ajudar alguém.

    Enquanto isso

    Ala Go – Setor S

    Edifício da família Daiyomondo.

    Viktor estava mesmo decidido a ir até o apartamento de Liane Saber. Ele tinha noção que era um grande risco e que Lilac pediu para que não arrumasse encrencas. Diante esse dilema, continua a caminhar conforme a orientação que recebeu de Sheng. Não demora muito e, depois de tomar o elevador, enfim chegou ao andar correto. Já a frente da porta, aperta a campainha. Logo é ouvidos passos por detrás da porta e, a abrindo, era Liane. A dente de sabre vestia uma bermuda de compressão estilo MMA junto com um top, ambos da cor preta. Ela, ao avistar Viktor, manteve seu semblante fechado como de costume, dizendo:

    — Hm... Então tomou mesmo coragem e veio. Sheng merece um agradecimento meu depois.

    — Muito bem... Eu estou aqui. O que quer conversar?

    — Entre... Creio que seja melhor um pouco de privacidade e, talvez, um assento confortável...

    — Se não se importa, eu acho melhor conversarmos aqui no corredor mesmo.

    — Não. Eu o convidei, então devo dar as honras e ser uma boa anfitriã.

    — Sheng que me convidou na verdade. Você sequer teve a decência de ir até mim. Pois bem, eu vim até você. Como posso confiar em você ao estar dentro de seu apartamento?

    — Você não é um covarde. Ou é?

    Viktor sentiu a mensagem. Liane sabia mesmo usar bem as palavras. Consentido pelo acaso, o jovem humano se viu obrigado a entrar, com a dente de sabre fechando a porta em seguida. Seu apartamento era grande e bem iluminado, com três jogos de sofás no centro e, a frente, sua tv e aparelhagem de som. Pelas paredes era possível ver vários quadros com sua foto, onde em todas estava posando depois de uma conquista, tendo em vista que segurava um troféu ou medalha. Ao fundo era possível ver um corredor que levava aos outros quartos e, ao lado, a cozinha, que Viktor olhou rapidamente.

    Liane, caminhando a frente, foi até o sofá, se sentando. Ela, ao ver a aproximação de Viktor, diz:

    — Vamos... Sente-se.

    — Estou bem de pé.

    — Senta aí!

    — Droga... – O jovem exclamou ao se sentar – Você é sempre assim, invocada?

    — Meça bem suas palavras, tudo bem? Não estou fazendo nada... Na verdade estou bem light com você... ainda.

    — “Ainda”... O que você quer comigo?

    — Primeira pergunta: você lutou mesmo com o Sheng, não?

    — Sim.

    — Hm... Vamos, continue.

    — Eu acabei de te responder. Nós lutamos.

    — Como foi?

    — Como foi o que?

    — A luta.

    — Eu venci.

    — Grr... Você falando dessa forma soou meio arrogante.

    — Você vai começar a me rotular, é isso?

    — Você está com medo de mim. Eu sei que está...

    — Senhorita Liane, vá direto ao assunto.

    — Eu te vi na arquibancada hoje cedo... Porque saiu? Eu ainda estava lutando.

    — Por isso mesmo eu saí.

    — Como ousou fazer isso? Não tem noção que eu...

    — Eu perdi totalmente o interesse assim que você começou a me encarar, me provocando... Por isso eu saí.

    — Grr... Porque está fugindo de mim como um covarde?

    — Novamente me rotulando... Diga logo o que quer de mim! – A calma de Viktor havia acabado.

    — É tão difícil assim você não ter percebido? – Disse Liane, olhando nos olhos do jovem.

    — Hã? Do que você está falando? *Ela... Ela está olhando pra mim como se fosse um predador. Ela... Ela vai me atacar. Eu sabia que não deveria ter vindo...*

    — Viktor, nossa luta não significou nada pra você?

    — Que luta? Você me atacou do nada por um motivo ridículo. Eu só me defendi. Eu não tinha vontade alguma de te fazer mal.

    — Não minta pra mim! – Disse, se levantando, serrando seu punho a frente – Você aguentou meu punho... Você me golpeou... Contra atacou meu soco... Evitou ser destruído... E o pior: VOCÊ ME CAUSOU DOR!

    — Você me chamou aqui pra ficar gritando comigo? *Essa moça é maluca! Eu estou correndo muitos riscos aqui...* — Diga logo o que você quer de mim!

    — Me desafie...

    — Hã? Te desafiar?

    — Sim... Faça isso na frente de Asuka Tenjoin... Me desafie e lute contra mim!

    — E porque eu deveria fazer isso?

    — Não entende? Estamos destinados a lutar. Você venceu meu irmão... Agora sou eu... Isso não o motiva? Você tem muito poder em seu corpo que precisa ser liberado! Nossa luta será um acontecimento único, onde toda a família Daiyomondo Omna ficará sabendo... e o vencedor terá todos os louros da glória! Viktorius Ashem, você está prestes a entrar para a...

    Mas antes de ouvir mais de Liane, Viktor a interrompeu, dizendo:

    — Eu me recuso.

    — Como é?

    — Me recuso a te desafiar. Vou mais além: eu não quero praticamente nenhum contato com você.

    — Porque está dizendo isso?

    — Eu não sou como você. Só isso. E eu não vou te desafiar porque não tenho o mínimo interesse.

    Liane Saber estava mesmo transtornada. Ela começou a andar de um lado para o outro, sem conseguir aceitar o que acabara de ouvir. Mas a dente de sabre ainda manteve a calma, embora frustrada.

    — Isso... Isso que você disse... Não faz sentido.

    — Não precisa ter sentido. Você já ouviu minha resposta. Eu não vou te desafiar.

    — Você lutou contra meu irmão... e o venceu. Você lutou contra mim e... aguentou o meu punho... Me golpeou... Me causou dor...

    — Senhorita Liane, era só por isso que me chamou até aqui?

    — Viktor... O Sheng me disse. Vocês lutaram com tudo... Fizeram uma batalha épica, legitimando de vez o vínculo entre vocês dois...

    — *Do que essa mulher está falando?* Liane, acho que já vou indo... – Disse Viktor, se levantando – Essa sua conversa está mesmo me assustando...

    — Hã? Mas... Você lutou contra Sheng e o venceu! Deveria saber de suas responsabilidades ao ter feito isso!

    — Do que você está falando? *Isso está mais estranho ainda... Eu estou mesmo preocupado”

    Naquele instante Liane Saber estava confusa. Logo se colocou a pensar:

    — *Ele não pode ser tão inocente assim. A não ser que... Ah não é possível... Sheng não disse a ele sobre o que... Ah... Mas se for verdade, então ainda posso... SIM! Eu devo seguir em frente e conseguir o que eu quero! Hoje! Agora!*

    Viktor, estranhando como Liane estava se comportando, logo diz:

    — O que houve? Porque está aí parada?

    — Viktor, eu...

    — Olha, estou indo nessa. Não me...

    — Espere – Disse, num tom mais sério.

    — O que? – Disse Viktor, se virando.

    — Essa conversa ainda não acabou.

    — O que está acontecendo aqui? Você me chama, fala tanta coisa sem nexo algum... Eu não estou entendendo nada!

    Liane então caminhou lentamente em direção ao jovem humano, dizendo:

    — Você é como ela...

    — Ela quem?!

    — Asuka Tenjoin...

    — Hã? Mas como assim?

    — Você... Você é uma jóia que não foi lapidada adequadamente... Um lutador com potencial... Não! Você já é um guerreiro por natureza...

    — Porque está dizendo isso?

    — Você venceu um Daiyomondo... Numa luta justa e com várias testemunhas. Sua conquista foi eternizada e ninguém poderá tirar isso de você...

    Conforme Liane se aproximava de Viktor ele recuava, até que encostou contra a parede. A dente de sabre estava agora bem próxima, o olhando nos olhos. Ela então diz:

    — Me desafie.

    — Será que você tem algum problema de audição? Eu disse que não vou te desafiar não faz nem cinco minutos!

    — Me desafie...

    — Senhorita Liane, afaste-se de mim!

    — ME DESAFIE! GRR... – Disse, o jogando contra a parede e segurando com força seu pescoço. 

    Liane parecia ter perdido o controle. Viktor estava em uma situação bem delicada, onde a dente de sabre estava mesmo decidida ao que desejava. O jovem humano então logo pensou:

    — *Isso é ruim, muito ruim! Essa moça vai me agredir e eu terei de revidar... Droga! Onde foi que eu fui me meter?!*

    E Liane insistia em sua ideia descabida:

    — Você não pode simplesmente suportar meu punho e andar por aí... Não... VOCÊ DEVE ME DESAFIAR! AGORA!

    — Será que você poderia me soltar, por favor?

    — NÃO! GRR... – Disse Liane, gritando com Viktor, a poucos centímetros do rosto do jovem – A SITUAÇÃO ESTÁ INSUSTENTAVEL! VOCÊ DEVE ME DESAFIAR! Eu não vou deixá-lo sair daqui sem que antes faça isso... E VOCÊ VAI FAZER!

    Coisas ruins estavam prestes a acontecer. Viktor estava em um dilema. Porém naquele instante se lembrou de uma conversa com seu mestre, enquanto treinava em seu dojoh.

    — Mestre, eu não gosto de lutar contra mulheres.

    — Trate de apagar isso de sua mente.

    — Hã?

    — No karatê esse conceito de seletividade não existe.

    — Mas mestre, eu nunca poderia levantar meu punho pra...

    — Eu entendo bem... Conceitos de equidade são fundamentos de caráter. Porém...

    — O que, sensei?

    — No karatê não existe distinção de gênero. Um carateca sempre é culpado pelo que faz, seja quem for. Você, ao levantar seu punho numa luta, não é contra um homem ou contra uma mulher: é contra um carateca. Ele se colocou a sua frente, sabe de seus deveres, assim como você.

    — Então eu não devo escolher quem devo lugar?

    — “Porque está lutando?” essa será a pergunta que você terá de responder quando chegar o momento. Você deve filtrar o que é digno ou não da luta. Em outras palavras, nunca, jamais, em hipótese alguma lute por causas pessoais, sejam suas ou de seu adversário.

    A lembrança clara e objetiva de Viktor o notícia a ter um comportamento mais adequado a situação. Ele, segurando o braço de Liane, diz:

    — Não.

    — O que?

    — Não. Eu não irei fazer nada disso. Eu não irei te desafiar.

    — Você é um...

    — EU DISSE NÃO! – Gritou Viktor, no rosto de Liane – Quando alguém diz não você atende o pedido... Porque senão é uma agressão.

    — O que você está...

    — ME SOLTE AGORA!

    Liane atendeu a ordem de Viktor a soltá-lo. Ela, assustada, diz:

    — O que... Mas...

    — Estou cansado disso tudo... CANSEI DE SER TRATADO COMO UMA CRIANÇA!

    — Viktor...

    — CALA A BOCA! Você passou mesmo dos limites! Sério, eu nunca havia gritado com uma mulher na minha vida antes... Mas no seu caso... No seu caso específico... VOCÊ É UMA FRAUDE COMO LUTADORA! UMA... UMA EGOÍSTA EXCÊNTRICA QUE SÓ SE IMPORTA COM O PRÓPRIO EGO! Levei muitos anos de minha vida me dedicando a construir meu caráter de forma íntegra e compreensiva... Eu errei diversas vezes pra finalmente acertar e essa é minha filosofia. Não irei jogar fora todo o meu sacrifício de me tornar uma pessoa melhor...

    — Mas...

    — CHEGA DE ME PEDIR QUE EU A DESAFIE! VOCÊ NÃO QUER UMA LUTA... VOCÊ QUER É SE PROMOVER! E isso é tão errado... Tão errado... ISSO É TÃO ERRADO QUE SUJA TODA A HONRA DOS VERDADEIROS LUTADORES QUE TREINAM TODO DIA PRA FORTALECEREM SUAS MENTES E CRIAR UM MUNDO MELHOR, MAIS JUSTO! Então, Liane Saber... Pela última vez... A minha resposta é não. E saiba que estou muito decepcionado com você...

    — Viktor... Eu... – Tentou dizer, dando passos para trás.

    — Eu nunca senti desprezo a alguém na minha vida... E acredite: eu não sinto isso por você... ainda. Então não jogue fora o que você conquistou por pura soberba.

    — Mas... Viktor... Eu...

    — Artes marciais servem para construir e não destruir... Se você vive desafiando os outros, então você tem algo pra provar a si mesma todos os dias. Ou seja, você não tem confiança no que você é e sim no que os outros vêem! Isso é desvio de identidade... e isso é um erro. Você se diz forte, e deve ser, mas a pergunta que eu faço é: o que você procura pra ser feliz? Somente vencer? Se sim, está enganada. Vencer significa ter êxito no que almejou trilhando um caminho tortuoso e cheio de desafios. E não espere que somar vitórias contra seus oponentes seja o importante: o caminho que você percorreu que te fez forte e vencedora e não as vitórias!

    O olhar distante e atônito de Liane dava a devida noção do que Viktor fez a sua moral. Sem economizar o jovem praticamente a refutou sem lhe dar chances. Ela, pensativa, se colocou um dilemas e aprendizados:

    — *Esse stranger... Ele... Ele definitivamente é um gigante. Ele me colocou de joelhos com suas palavras, destruiu todos os meus argumentos, me diminuiu frente ao que eu mais tenho potencial... Eu fui aniquilada por ele. Não existe nada que eu possa dizer. Eu odeio admitir isso, mas... Eu fui vencida. E da forma mais dolorosa e humilhante possível: nas palavras sinceras dele.*

    Ela, tomando fôlego, diz:

    — Até hoje nunca ninguém falou assim comigo... Eu sempre procuro tomar a iniciativa na situação mas dessa vez eu fui pega de surpresa, Viktor... *Uma pessoa como ele é rara de encontrar... E ele está bem a minha frente... Eu o tratei mal, com indiferença... Mas quem eu quero enganar? Eu tive a chance e a desperdicei... Viktor, eu te... Eu não deveria ter esse sentimento... Eu tentei esconder isso de mim mesma, mas até uma Daiyomondo como eu sabe o que meu coração diz quando eu fecho a minha boca... Eu não sou digna...*

    — Deveria melhorar suas amizades. Porque esse jeito de viver não é saudável.

    — Você está completamente certo. Eu devo admitir isso... *Ele é perfeito... E eu, falhei. Não há o que fazer a não ser minha humildade...*

    — Que bom que entendeu... Eu sabia que entenderia.

    — Como pode ter essa certeza?

    — Você é como eu.

    — Como você?

    — Sim... Inocente. Não temos respostas pra tudo, então nossa mente brinca com nossos sentimentos e faz com que agimos feito crianças.

    — Viktor... Eu... Posso te pedir uma coisa?

    — Claro. Quais seriam?

    Ela então juntou suas duas mãos a frente, cobrindo uma com a outra, o reverenciando no estilo chinês e, se aproximando do jovem, perguntou:

    — Posso sentir sua mão?

    — Hm? *Isso... O Sheng também me pediu isso depois da luta... Então é isso. Deve ser um cumprimento gentil da família Daiyomondo* Ah... Claro! – Disse, lhe estendendo a mão.

    Ela carinhosamente apertou a não de Viktor, abrindo-a depois e passando seus dedos sobre a palma. Ela então diz:

    — Sua mão é macia e suave...

    — Hehe... Obrigado. E... Bem, eu posso fazer uma coisa?

    — Hã? O que quer fazer?

    — Posso te... abraçar?

    — Me abraçar? *Ele não pode ser tão fofo assim... Não é possível. Mesmo depois de tudo que eu fiz ele quer demostrar carinho?!*

    — E então?

    — Tudo bem...

    E como pediu, Viktor abriu seus braços, com Liane o abraçando com força,

    como se o estivesse agradecendo. Alí ficaram um tempo, fincando mais uma amizade. Ela, ainda o abraçando, pensou:

    — *Viktor, você era a pessoa que eu procurava na minha vida. Mas... Eu não mereço sua consideração. Sua amizade já me basta... Somos diferentes, mas iguais. Será meu segredo... E nenhum Daiyomondo saberá...*

    O que Liane quis dizer com isso? Ela gostava do Viktor? Bem, isso é algo que ficará para sempre guardado na mente da dente de sabre, que agora tem um novo amigo.

    Minutos depois...

    Ala Go

    Alojamento.

    Com Lilac e Noah sentados na sala, os dois conversavam:

    — O que fazemos agora, Lilac?

    — Temos que conseguir traçar uma estratégia para acabarmos de vez com essa desconfiança em nós.

    — Sim. Eu proponho então que...

    Mas antes que pudessem continuar com os planos, a TV ligou sozinha, mostrando o logotipo do Fighting Challenger. Lilac diz:

    — Hã? Você ligou a TV, Noah?

    — Eu não. Mas... Olhe, estão mostrando a exibição de hoje mais cedo

    Logo é mostrado pra melhores momentos das lutas. Porém, o foco foi maior para a luta de Asuka. O fato da TV ter ligada sozinha foi algo que aconteceu gradualmente em toda a Agência, então...

    Voltando ao apartamento de Liane Saber...

    Com os dois conversando já a um tempo, Liane diz:

    — Então estão aqui por estarem sendo investigados? Típico de Asuka Tenjoin...

    — Uma coisa que eu ainda estou com dúvidas... Você disse que eu era parecido com ela... Porque disse isso?

    — Hm... Asuka Tenjoin... A história dela...

    — Como assim?

    — Me diga, Viktor... Você não tem habilidades especiais, não é? Sheng me disse.

    — Eu não tenho. Na verdade tudo isso de habilidades especiais, Feng Shui, Chi etc eu desconheço totalmente. Eu só me garanto com o que eu tenho, que é meu karatê.

    — Então você só tem seu físico. Então minha analogia é real.

    — Como assim?

    — Asuka Tenjoin também não tem habilidades especiais.

    — O que? Eu pensei que todos daqui de Avalice tinha isso...

    — Não, você entendeu errado. Todos de Avalice tem pelo menos nirvana para potencialidades especiais. Asuka Tenjoin não.

    — Nossa! Mas como ela... Bem, muita gente quer lutar contra ela como você disse... *O que é nirvana?*

    — Isso não é um empecilho pra ela, aquela insolente... Mas eu a venero mesmo assim.

    — Do que está falando?

    — Bem, estou dizendo isso porque...

    E a TV também ligou, atrapalhando a conversa. Em toda a Agência aconteceu a mesma coisa. Desde onde Milla estava, junto com Zoey, a Carol também, que estava com Tayce. Até mesmo Lenzin vou o que estava acontecendo. Logo todos os agentes estavam assistindo obrigatoriamente a mesma programação. Foi quando que mostraram o histórico de Noah, onde trabalhava e com quem era aliado: o Team Avalice. E justamente sua luta no torneio T.O.R.M.E.N.T.A contra Ingris foi mostrada, com todos os detalhes possíveis, inclusive sua voz dizendo:

    — KAI NO SAN SANKAKKEI NO HINTO!

    Essa frase...

    Ela...

    Foi ouvida mais uma vez...

    Mas...

    Asuka Tenjoin pensou tem tudo, principalmente em sua amiga Ingris: ela, já em sua casa com Joshy, não teve conhecimento do que estava acontecendo na Agência. E a repercussão logo ganhou os corredores, criando burburinhos por todos os cantos: 

    — Isso... Isso é a doutrina do Kaipasu!

    — Um poder demoníaco! Aquele anônimo...

    — Então foi por isso que ele golpeou nossa grã mestra!

    — Temos um praticante do Kaipasu entre nós!

    — É um ser amaldiçoado!

    — Nossa grã mestra estava o tempo todo nos protegendo!

    — Evitem contato com ele!

    E essa bomba não foi bem digerida por Noah e, principalmente, Lilac:

    — AQUELA DESGRACADA!

    — Lilac... Ela divulgou o vídeo do torneio!

    — Isso destruiu totalmente meu raciocínio. Como ela pôde fazer isso?!

    — Ela... *Eu não posso acreditar... Ela fez isso mesmo... Isso... Isso é...*

    Noah parecia estar sendo dominado por uma raiva nunca vista, pois Lilac logo se surpreendeu:

    — Noah?! Porque está...

    — ASUKA, SUA MISERÁVEL! GRR... – Disse, caminhando rapidamente até a porta.

    — Noah, aonde você vai?

    — Onde eu vou? É lógico que é pra achar Asuka! 

    — Noah, não aja com...

    — Não agir? A sujeira toda estourou, Lilac!

    — Olhe... Tudo bem. Eu vou com você então. Vamos limpar essa sujeira juntos então!

    — Isso mesmo!

    Entretanto, surpreendendo os dois, todo o alojamento é fechado e lacrado em segundos, prendendo Lilac e Noah alí. Com os dois assustados, logo Lilac assemelha a situação a uma certa pessoa: 

    — Arthemis! Foi você, não? Apareça!

    E a IA felina se materializou na frente dos dois, dizendo:

    — Não posso permitir que sigam até Asuka-chan.

    — Sem chances, Arthemis! – Disse Lilac, irritada – Asuka passou dos limites dessa vez!

    — Pedido negado. Aguardem mais instruções.

    Mas Noah estava mesmo decidido a sair. Entre, sabendo que forçar a saída era inútil, voltou até Arthemis e diz:

    — Arthemis, você protege Asuka... Mas sabe que ela não é normal.

    — Aguardem instruções.

    — Corta essa! Abra a porta.

    — Pedido negado. Aguardem instruções...

    — Você... Você não passa de uma máquina, não? Só está fazendo o que foi programada a dizer...

    Lilac, olhando para Noah de forma surpresa, diz:

    — Noah, o que está dizendo?

    — É isso, Lilac. Ela é só uma máquina que pensa que é viva... Mas fique sabendo, Arthemis: você não tem alma nem personalidade. Você só age de acordo com o que Asuka te ordena. No fim você é só um instrumento que Asuka usa pra se regular...

    Conforme Noah dizia, Arthemis mantinha seu semblante calmo, como se fosse mesmo uma máquina. Mas as palavras duras não haviam terminado:

    — Asuka vai te apagar se você for contra as ordens dela, não? Tenho certeza... Ela não te vê como uma forma viva, porque você não é...

    Mas acho que havia um limite.

    — Cale-se, Noah Hibiki.

    — Hã? Arthemis, mas como que...

    — CALE A BOCAAAAAAAAHHHH!

    A voz de Arthemis se tornou aguda o suficiente para fazer com que Noah e Lilac precisassem tapar seus ouvidos, com a dragão sofrendo muito mais. Noah, abraçando Lilac, grita:

    — ARTHEMIS, PARE! A LILAC...

    Ela então interrompe seu grito, indo ao chão de joelhos. Com Noah levantando Lilac, os dois então olham para a IA felina: ela estava chorando. A dragão, tomando cuidado, se aproximou, dizendo:

    — Arthemis, você está bem?

    — Não... Não... Eu não estou... É a primeira vez que isso acontece... Eu não tinha registro dessa sensação... Eu ouvi isso tudo... Eu senti... Mas não há registro...

    — Você sentiu... dor? Foi isso?

    — Dor? Banco de dados confirma que dor é uma sensação ao haver explosão da bomba de sódio e potássio, recebendo neurotransmissores chamados sinapses...

    Mas Noah logo explicou bem:

    — Eu te magoei, Arthemis. É uma emoção e não uma sensação.

    — Eu... Eu... Isso causa danos aos meus sensores.

    — Não... Isso causou um dano, mas no seu coração.

    — Noah Hibiki...

    — Eu fiz isso de propósito.

    — Noah, então...

    — Você uma vez conversou comigo... Me disse que está viva e que não era uma máquina. Você acredita que... Não, você sabe que é uma pessoa.

    — Porque fez isso? Não é algo racional.

    — Porque emoções não são racionais. Isso que você sentiu... Eu senti. Eu ainda estou sentindo.

    — Noah...

    — Asuka divulgou o vídeo do torneio. Eu devo ser a pessoa mais odiada de toda a Agência! Asuka quer nos prender agora e...

    — Asuka-chan não me mandou prendê-los aqui. 

    — Hã? Mas então quem? – Perguntou Lilac.

    — Eu tive essa preocupação. Eu sempre os estou ouvindo. Mas eu sempre mantenho tudo o que dizem a sua privacidade. Mas eu não poderia deixar que fossem fazer mal a minha Asuka.

    — Arthemis, o que está acontecendo? Porque Asuka age de formas diferentes?

    — A tempos você percebeu, não é?

    — Sim. Me explique... Porque existe isso de Asuka-chan e Asuka Tenjoin? Asuka tem dupla personalidade... Eu sei.

    — Não. Ela não tem.

    — O que?

    — Asuka tem total controle e conhecimento do que faz. Ela quem designou essa forma de dizer seu nome.

    — Porque? Arthemis, se você está agindo por conta própria, por favor diga pra gente.

    — Eu... Eu posso dizer, mas...

    — Sim?

    — Para entenderem, terei de contar toda a história. No fim vocês tomem seu próprio julgamento...

    Com Noah e Lilac se sentando, Arthemis começou a contar a história...

    Continua.


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