Tudo está arranjado. Os preparativos para o treinamento já começaram.
Mas alguém chamado Ryoga pelo visto vai chamar mais atenção que deveria...
Ryoga havia ficado preocupado com o que Kitsune iria perguntar. O jovem logo quis saber do que se tratava.
— O que quer saber? Está tudo bem comigo. Não tenho segredo nenhum.
— Não foi sincero o bastante. Há algo que o impede de se abrir com seus amigos.
— Mais eu sou sincero!
— E você acha que sendo incoveninete estará mostrando sinceridade em suas palavras?
— Eu sou um brincalhão, um bobão! Nada pra se levar a sério.
— E seus amigos? Eles sempre levam na brincadeira?
— Claro!
— E porque Ethan vive dizendo para que se cale?
— É zuera, Kitsune. Sempre to de zoa com ele!
— Então diverte-te fazendo isso e acha que ele está gostando?
— Olha, a gente é amigo. Se eu posso do limite, eu peço desculpas sempre...
— E da última vez que fez isso Ethan não pareceu ter gostado, nem quando você usou desculpas...
— É... acho que não...
— Então irei perguntar novamente: O que há com você?
— De novo esta história? Kitsune, você já está me irritando com esse papo.
— Logo você que sempre leva tudo na graça?
— Isso tem limites! Só não entendo porque tanto interesse em mim assim.
— Ryoga, não esconda nada. Se estiver precisando de ajuda...
— EU NÃO SOU MALUCO! CARACA, PORQUE TANTO LERO-LERO?
— Não grite comigo! Tenha modos!
— Modos? A senhora que está me interrogando com perguntas idiotas e vem logo falar pra eu ter modos? Fala sério...
— Não seja insolente! Estou aqui, me preocupando com você...
— Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem.
— Bem, não acredito nisso. Há algo em você que não deixa expressar-se de forma concreta. Você esconde algo e vou descobrir...
— Vai... Vai perder o seu tempo... - Disse Ryoga, engolindo seco.
— Veremos... Bem, voltemos para junto dos outros.
— Vamos. Tá na hora mesmo...
Logo encontram os outros no jardim do templo. Como Kitsune havia prometido, o treinamento começaria essa manhã e Ethan estava muito motivado. Ele, já devidamente preparado, diz:
— Beleza, hoje começa.
— Ethan, não mostre tanta empolgação assim. Minha mãe não gosta disso. Seja humilde – Disse Maeti, segurando uma espada de madeira.
— Que isso? Eu acordei bem esta manhã.
— Puxa, como está animado hoje... - Disse Kaede, olhando para Ethan.
— Sim e pode vir o que vir...
Ao fundo, Kitsune, andando em direção a Ethan, diz:
— Gostei de ouvir isso. Bem ,comecemos o treinamento.
— Pode falar. Tô Pronto!
— Fique aqui no jardim por dois dias.
Todos que lá estavam ficam surpresos com o que acabaram de ouvir. Kitsune não parecia estar brincando, até porque Maeti não esboçou nenhuma emoção em seguida. Kaede, tão surpresa quanto Ethan, diz:
— Como assim, tia?
— Isso mesmo, ele deve ficar aqui.
— Mas...
— Deverá ficar aqui fora nestes dois dias, sem entrar no templo e só se alimentará com as frutas do jardim. Terá que procurar abrigo, caso chova, fora do templo.
— Mas para quê este treino? - Disse Anuon, confusa.
— Quero lhe avaliar. Saber se sabe improvisar.
Ethan, embora estivesse surpreso, estava mesmo determinado a seguir com o que Kitsune disse.
— Não, tudo bem. Vou encarar. Vai ser moleza...
— Pode não parecer, mas não é tão facil como aparenta - Disse Maeti, olhando para Ethan.
— Porque?
— Não poderemos, em hipótese alguma, ajudá-lo. Terá que se defender até de ameaças.
— Peraí, isso é sério?
— Sim e é melhor que esteja com a mesma energia de antes - Disse Kitsune, entregando a Ethan uma Boken.
— Minha nossa...
— Pode desistir, se quiser.
—Não cheguei até aqui para desistir.
— Hahaha! Todos os discípulos de filmes que já vi, como Karate Kid, falaram isso e sofreram um bocado! Tu tá ferrado! - Disse Ryoga, mais uma vez brincando.
— Cala aa boca, Ryoga! - Disse Ethan, ameaçando seu amigo com a Boken.
E neste instante, Maeti olha para Ryoga, que logo fica sem graça. Kitsune percebe o que seu filho fez e esboça um pequeno sorriso, já sabendo que usou mais uma vez Maeti usou seus poderes em Ryoga. E, encerrando, Kitsune diz:
— Ethan, nos vemos dentro de dois dias. Boa sorte.
— Vocês não terão nenhum contato comigo nestes dois dias? Tipo, eu não sei lutar absolutamente nada...
— Não, começando agora.
— Boa sorte, Ethan. Estarei torcendo por você - Disse Kaede, com um sorriso.
— Força, humano. Você consegue, eu sei disso... - Disse Anuon, olhando para Ethan.
— Não queria estar em seu lugar agora, cara! Boa sorte! - Ryoga não deixou o hábito.
— Ah, tá... valeu pela força, Ryoga...
— Ethan, sei que é um rapaz forte e vai conseguir passar desta. Nos vemos dentro de dois dias - Kitsune fincou os exercícios de Ethan numa placa em seguida.
— Tudo bem...
Todos entram no templo, que agora é fechado pelo lado de dentro, para impedir qualquer ajuda a Ethan. Kitsune lacra a porta com seus poderes das trevas, as envolvendo com uma imensa sombra, para que ninguém veja o que se passa por fora e nem a Ethan ver o que se passa por dentro. Seu isolamento era total. Kaede diz:
— Kitsune, isso é prudente?
— Se ele realmente deseja ser um discípulo do Maratsu-Kyoken, então deverá passar neste teste.
— Mas e se não conseguir?
— Terei de manda-lo embora. Aqui não há lugar para fracos. Se você tem uma espada em mãos, você protege pessoas.
— Igual a minha tia... Ela também pensava assim...
— Como assim? - Perguntou Ryoga, olhando para Kaede.
— "Se o fraco não sabe se defender, que tente aprender. Mas se não aprender, deve ser protegido. Tanto o fraco como o forte devem viver, pois ambos se completam. Simbolizam a procura do equilíbrio". Era o que Tikai sempre dizia.
— Sim... Foi isso mesmo que minha mãe me disse quando aprendi o Maratsu-Kyoken - Disse Maeti, em tom de nostalgia.
— Afinal, em quanto tempo você aprendeu o Maratsu-Kyoken?
— Em duas semanas. Por que?
—O QUE? MAS COMO? Eu levei seus longos anos pra aprender...
— Me dediquei muito.
— Não seja modesto, Maeti! Sabe muito bem que o fato de ser uma raposa o ajudou a aprender mais rápido - Disse Kitsune, abraçando Maeti por trás de forma carinhosa.
— Acredito que raposas são sábias, não é? - Perguntou Kaede.
— Nem tanto assim. Raposas são ágeis. E habilidade conta para aprender o Maratsu-Kyoken de forma alígera. Nós raposas assimilamos naturalmente qualquer habilidade que assistimos.
— Resumindo: Ethan está ferrado - Disse Ryoga, com um riso.
— La vem você de novo... - Criticou Kaede.
— Mas é verdade. Se Maeti aprendeu depressa por ser uma raposa, Ethan não tem a mínima chance de aprender em duas semanas também Falando nisso, é o nosso tempo limite.
— Como assim? - Disse Kitsune, não entendendo bem.
— Nossa escola entrou em recesso por duas semanas. Ethan decidiu aprender o Maratsu-Kyoken neste espaço de tempo, aquele maluco...
— Mas como pôde pensar nisso? - Maeti não entendeu bem.
— Gostei deste humano. Veremos do que é capaz... - Disse Kitsune, com um sorriso.
— Ih olha só... A última pessoa que gostou do Ethan foi um a garota chamada Lupa... - Ryoga entregou logo todo o segredo.
— Ryoga, fica quieto! Não levante este assunto de novo! - Disse Kaede, chamando atenção do amigo.
— Lupa? A filha de Piece 1? - Kitsune logo se surpreendeu.
— Sim. Ela tentou nos atacar e...
— Peraí... Atacar? Que parada louca é essa? - Perguntou Ryoga, surpreso.
— Lupa é uma Anis, Ryoga. Ethan não te contou?
— Não... Caraca! O Ethan beijou ela até! Putz, meu brother teve caso com um de vocês... Se bem que ela era bonita...
— Você não sabe o que fala... - Disse Kitsune, irritada.
— Quem é essa tal de Lupa, mãe - Perguntou Maeti.
— É a filha de Piece 1. Ela é uma loba que sofreu uma mudança no seu DNA, quase como eu. Só que no caso dela, não havia escolha, ao contrário de mim.
— Como assim?
—Ela havia se transformado em uma humana. Mas ainda continuava a ter instintos e pensamentos de sua natureza original. Lupa é praticamente uma tabula rasa que não expõe nenhuma emoção humana.
— Sim... Ethan e Kaede quase foram mortos por ela. Se não fosse Fhor e eu, não estariam aqui agora - Disse Anuon, de forma séria.
— Fhor, você disse? Ele estava com vocês? - Perguntou Kitsune.
— Sim mas decidiu vagar sozinho. Já não está junto a Piece 1.
— Porque? Lembro-me que tinha até orgulho em serví-lo.
— Ethan o mostrou que os métodos de se fazer justiça usados por Piece 1 só o faria ser como aqueles humanos do centro. Ou talvez pior...
— Ethan disse isso?
— Sim.
— Agora sei porque Piece 1 teme o jovem humano. Ethan a cada dia que passa ganha mais a minha confiança e respeito...
— É um humano diferenciado. Foi ele quem me salvou...
— Uma jóia rara que deve ser lapidada com cuidado.
— Ele é bem decidido mesmo. Fraco, mas decidido.
— Kaede... Essas coisas começam assim, sabia? Tu tá falando bem do guri aqui mas duvido que diria isso na frente dele, haha! - Disse Ryoga, provocando a jovem.
— RYOGA, CALE A BOCA!
A risada de Ryoga era característica única dele. E mais uma vez Maeti olha para o jovem, que fica sem graça mais uma vez. Contudo, todos seguem para a sala principal, dentro do templo.
O tempo passa...
Já era de tarde, quase anoitecendo. Kaede estava sentada na sacada de um dos corredores do templo, admirando a paisagem das montanhas. Sem perceber, se assusta com a aproximação de alguém.
— Quem está aí?
— Sou eu, Kaede, Maeti.
— Ah, é você... Que susto.
— Me desculpe. Eu não queria...
— Nada, imagina. Eu que ando assustada mesmo.
— Sabe, eu nunca havia conversado tanto com humanos!
— Nunca? Mas você não vai na cidade? Creio que lá tenha muitos e...
— Somente para fazer compras. Falava somente o básico, pois as pessoas desta cidade não gostam de membros da família Rayka.
— Entendo... Fico triste com isso. Mas Maeti, não fique em pé. Sente-se, fique a vontade.
E o jovem raposa se senta ao lado da jovem humana. Embora Kaede tenha tentado deixar o jovem a vontade, era visível que Maeti não tinha lá muita iniciativa em conversar. Ela, percebendo isso, diz:
— Você se sente só aqui?
— Não. Converso muito com minha mãe.
— Mas não sente falta de pessoas da sua idade?
— Sabe, isso nunca passou por minha cabeça. Deve ser o fato de nunca ter tido um contato maior com humanos.
— Eu, por outro lado, não suportaria ficar longe de meus amigos.
— Eu entendo. Ficar ao lado da pessoa que gosta é ótimo.
Depois do que Maeti disse, Kaede fica logo com seu lindo rosto um pouco corado, evidenciando que estava envergonhada. Maeti, percebendo isso, diz:
— Kaede, porque seu rosto está vermelho?
— Hã... Ah... Na-nada não...
— Estranho... Vocês humanos tem hábitos muito estranhos...
— Falando em estranho... Posso fazer uma coisa? Só por curiosidade?
— Hã? Bem, diga. O que seria?
— Posso colocar as mãos nas suas orelhas?
— Hã? Porque este desejo? - Disse Maeti, tornando a ficar um pouco desconfortável.
— É que são muito fofas e eu adoro acariciar meu cachorro... Tipo... Tipo... Tipo, sem ofensas a você, que é uma raposa.
— Bem... É... isso é inesperado, mas pode... Tudo bem. Pode tocá-las.
E a jovem se aproximou do raposa, levando suas mãos até as orelhas de Maeti. Enquanto as acaricia suavemente, a jovem percebeu que Maeti estava gostando, a exemplo da jovem.
— E não é que são de raposas mesmo? Bem curioso mesmo. Puxa, são tão fofas...
— Kaede... Está fazendo cócegas!
— Você está gostando, que eu sei! Hehehe...
— Kaede... Até está bom mas... acho melhor parar...
— Ah... olha... Você também está corado!
— Corado?
— Sim, com vergonha...
— Se estou também, então naquele momento você também estava... Porque?
— É... que... Sabe... Você... é muito bonito... e é gentil e amigável. Você já teve algum contato com garotas? - Disse Kaede, mais envergonhada ainda.
— Somente na cidade e falavam somente o básico, mas nenhuma procurou um contato tão próximo assim comigo como você. E você é uma bela humana.
— Maeti, obrigada. Fiquei até sem jeito agora.
—Não fique! Não combina com você.
E Kaede dá um leve sorriso enquanto olhava para Maeti que, talvez de forma inocente e ordeira, pegou em uma das mãos da jovem. Instintivamente os dois se abraçam e olham o pôr do sol, que ocorrera naquele instante. E curtindo juntos o instante propício, logo alguém os pega de surpresa.
— O mais novo casalzinho!
— RYOGA?! O que faz aqui? - Disse Kaede, soltando sua mão a de Maeti.
— Opa, desculpa por entrar assim... Mas vocês estavam demorando muito e decidi procurá-los. Tô vendo que encontrei... E que encontro...
— Será que você não tem noção do ridículo? A gente tava curtindo o por do sol e...
— Hehehe... Calma lá, minha cara! Não vi nada demais. Só vocês dois de mãos dadas e olhando o anoitecer... Qualquer casal de primos "mui" íntimos fazem isso. Na inocência...
— Do que ele está falando, Kaede? - Disse Maeti, com um tom inocente.
— Nada não, Maeti. É porque ele não perdoa o fato de você ser gentil e ele não.
— Putz! Essa doeu! Vamos, pois a raposa lá chamou pra jantar - Disse Ryoga, voltando para o corredor.
— Ryoga, poderia ser mais ponderado quando falar de minha mãe? - Disse Maeti, um pouco incomodado.
— Porque? Falei mal?
— Falou como se ela fosse um simples objeto! "A Kitsune"... seria sensato de sua parte ser mais educado.
— Tudo bem, desculpa cara.
E Kaede logo vai a frente. Ryoga iria logo a seguir, mas Maeti o puxa pelo braço, chamando-o para uma conversa.
— Escute, Ryoga, já está passando dos limites aqui neste templo. Seu comportamento incomoda a todos.
— Ei.. Tu tá estressado? Relaxa, cara. Só tô...
— Pela última vez: você passa por algum problema?
— E mais uma vez: NÃO! Tua mãe fez a mesma pergunta várias e várias vezes! Eu não estou...
— Não precisa gritar! Mais uma vez, mal educado. Vou dizer uma única vez: se voltar a tratar mal a qualquer um aqui e, principalmente, a minha mãe, verá-se comigo. Seja sincero comigo que irei ajudá-lo com todo prazer...
— Cara, vê se me esquece! Agora tu me ameaçando... Pensei que vc era legal e gostava de brincar, mas agora tô vendo que não passa de um almofadinha que nem o Ethan...
Depois do que disse Ryoga, Maeti não se conteve e coloca suas mãos sobre a cabeça dele e diz:
— O que há com você? Mostre-me agora!
— Hã?! Cara, o que tu tá fazen... Ah?! Na-não... O que você está...
E logo a cabeça de Ryoga é envolvida por uma aura branca, que emanou das duas mãos de Maeti. E o raposa, concentrado, diz:
— Mostre-me... o seu problema, Ryoga.
Continua.