Hoje iremos conhecer um pouco melhor essa importante sacerdotisa.
Depois de conversarem sobre o treinamento de Ethan, Kitsune os apresenta a seus respectivos quartos. Tradicionais como de qualquer templo, eram bem arejados e continham somente um pequeno armário e uma cama ao chão, com um travesseiro.
— Bem Ethan, vc irá dormir no quarto que era de Kojita, mestre de Tikai. Aproveite e leia uma de suas anotações.
— Pode deixar. Muito obrigado, Kitsune.
Anuon somente observava sua antiga aliada, chamando sua atenção em seguida:
— Mais tarde precisamos conversar, Kitsune.
— Tudo bem, Anuon. Estarei esperando próximo ao lago.
Ela então segue até Kaede, dizendo:
— Kaede, venha. Durma no quarto onde passou sua infância. Está como antigamente.
— Puxa... e não é que está mesmo? Muito obrigada tia... digo... Kitsune.
— Hehehe... Pode me chamar de tia. Não me incomodo.
— Tudo bem, tia. Hehehe...
— Gostei de você, Kaede. Tikai tinha razão em dizer que era um amor de pessoa.
— Obrigada! Hehehe...
E Kitsune havia se esquecido de Ryoga, que estava junto com seu filho. Maeti então diz:
— Mãe... e o Ryoga?
— Ryoga?
— Sim, tia... Sou eu e este é meu nome. Onde vou dormir?
— Bem, não há mais quartos confortáveis aqui, somente um...
— Tá de boa. Topo tirar um ronco até na varanda!
— Poderia ser mais gentil? Não gosto de pessoas com esse seu palavriar.
— Desculpa aí, mas eu sou assim mesmo. E ainda fico assustado em estar falando com uma raposa.
— Eu sou uma raposa também, Ryoga. E você dialoga comigo tranquilamente.
— Mas você parece normal. Olha só sua mãe...
— Ei... Veja como fala dela, ouviu?
— Ué, mas ela não é uma raposa completa?
Kitsune não parecia estar gostando de como Ryoga se comunicava. Tanto que logo chamou sua atenção.
— Lhe pergunto: o que faz junto a Kaede e Ethan? Em nada acrescenta a sua busca aqui.
— Tia, eu só vim pra me divertir. Pensei que iria curtir o recesso da escola em Kyoto e acabei quebrando a cara. Agora te peço para que faça o favor de me mostrar o quarto pra eu dormir e acordar deste pesadelo.
— Deixa, mãe. Ele vai dormir comigo - Disse Maeti, olhando para Ryoga.
— Opa! que negócio é essa aí, raposo?
— O que foi? E é raposa!
— Que bagulho é esse de eu dormir com você? Tu tem essa cara bonita aí mas eu curto mulher, tá?
— Tem outra cama em meu quarto, que uso para meditar. Pode ser pra você?
— Ah bom... Aí sim.
— Pensou que era o que?
— Esquece...
— Você tinha interesse de dormir na minha cama junto comigo, é isso?
— Cara, esse papo ao não tá legal... Esquece...
— Tem problemas com raposas?
— Não. Eu tenho problema em dividir cama com outro cara, só isso. Mas como tu tem outra cama, tá de boa.
— Tem certeza? Eu tenho um abraço bem quente...
— Opa! Maeti... que isso, cara?! Olha, não sou disso não... - Disse Ryoga, completamente envergonhado.
— Hahaha! Você é muito divertido. Eu estou brincando com você, Ryoga.
— Ufa... Melhor cair na zuera do que cair na toca da raposa. Porque tu fez isso?
— Já fui confundido com uma garota. Já até me lançaram cortejos, hehehe...
— Tá, tu me pegou. Andróginos...
A noite cai...
Com todos já em seus quartos, Maeti mostra a cama a Ryoga, que deita logo a seguir. Já deitados, o jovem humano diz:
— Maeti, não é estranho ser o que você é?
— Por que diz isso?
— Bem, ser uma raposa no meio de humanos, mesmo você sendo híbrido, deve ser estranho.
— Eu não acho. Basta eu colocar o lenço na cabeça e prender minha causa pé básico do kimono. E você? Sente-se estranho em ser humano?
— Claro que não. Porque?
— Da mesma forma que sou uma raposa, você é um humano. Não escolhemos nossas raças. A natureza nos trouxe a vida assim.
— Hehehe... Mas que é estranho ver você, isso é.
— Porque diz isso?
— Pô, é novidade pra mim ver você. Tô um pouco bolado e custa a aceitar isso.
— Você está me discriminando?
— Não, cara! Que isso! Só estou confuso! Só isso!
— Porque você se comporta desta forma com as pessoas?
— Que forma?
— Geralmente fala com uma certa ironia em suas palavras, como se estivesse com a língua presa...
— Isso o incomoda?
— Não... A mim não pois sei que mantém esta atitude por causa de outra coisa.
As palavras de Maeti caíram em Ryoga com uma força absurda. O jovem humano, que demonstrou inquietude, diz:
— Co-como assim?
— Ryoga, a exemplo de minh mãe, tenho poderes também e com meu instinto de raposa já percebi que você se expressa dessa forma porque quer sublimar algo...
— Cara, co-como pode afirmar isso?
— Lhe digo uma coisa, Ryoga: não se engane Se tem problemas diga a nós, que o ajudaremos - Disse Maeti, olhando para Ryoga nos olhos.
— Eu, hein... Bo-boa noite, Maeti...
— Boa noite... E eu sei que você irá ficar pensando nisso a noite toda.
— Du-durma bem...
— Você também.
Já tarde da noite, com todos dormindo, Anuon acorda e se levanta, seguindo em direção a janela, saindo do quarto, indo para o jardim. Lá encontra Kitsune, que estava observando as estrelas segurando uma máscara de raposa.
— Kitsune, você cumpriu a promessa...
— Você já esperava por isso, reconheça. Mas venha... Veja as estrelas comigo. Estão lindas essa noite.
— Bem, devo reconhecer que estão lindas mesmo. Aqui neste templo a visibilidade delas é muito melhor que na cidade.
— Sim, claro, com tantas luzes...
— Tem razão.
— O que quer conversar comigo, Anuon?
— Bem, posso estar sendo uma péssima hóspede mas... Porque se uniu a Tikai?
— Anuon, mas eu já não contei a história toda? Você não acreditou?
— Acreditei sim, kitsune. Mas faltou coisas referentes a nós.
— A nós?
— Sim, os Anis.
— Sobre isso que quer conversar?
— Bem, eu quase matei Ethan, mas ele me fez abrir os olhos e acabei mudando meus pensamentos quanto aos humanos. Talvez existam humanos como ele, eu pensei. E pelo visto não fui a única...
— Penso da mesma forma. Não o conheço Ethan completamente, mas já percebi que tem potencial.
— Sim... mas e você?
— Bem, Anuon... Eu havia matado um humano antes de conhecer Tikai.
— Porque o matou?
— A mando de Piece 1.
— Mas Piece 1 falou do porquê do assassinato?
— Não me sinto muito bem falando sobre isso mas... Nada demais, só uma coisa.
— O que?
— Que ele era uma ameaça aos seus objetivos... E sim, Anuon: outros Anis haviam interagido com ele...
— Parece que ele está fazendo isso com todos os humanos que conseguem interagir conosco.
— Não sei, pois este humano não parecia gostar de animais.
— Não gostava?
— Não. Antes de matá-lo, eu o vi escrevendo algo relacionado a maltratou a animais.
— Muito estranho... Porque será então?
— Anuon, me desculpe mas não quero falar sobre o que fiz naquela noite.
— Mas ele era um mal caráter...
— Mal caráter ou não, ele era um ser vivo. Boa que somos os intrusos aqui.
— Impressionante como mudou, Kitsune. Não esperava que aquela raposa vingativa, que sempre sonhou em ser reconhecida por Piece 1, iria um dia se rebelar e começar a valorizar a vida de todos os seres.
— Sabe Anuon... Fui eu quem desenvolvi este texto - Disse Kitsune, se levantando e indo em direção a escrituras alí próximo – Tikai não gostava de escrever o que pensava do Maratsu-Kyoken por ter receio de que iriam entender de outra forma. Então percebi que, com estas palavras que escrevi, não há como alguém entender de outra forma.
— Sim... Eu entendo, Kitsune. E parabéns por seu empenho...
— Eu... a amava, Anuon. E apesar de tê-la em mim, ainda sinto sua falta - Disse a raposa púrpura, olhando para Anuon com um olhar de tristeza.
— Eu sinto muito, Kitsune... Mas acho que ela não gostaria de saber que está se torturando por sua morte - Disse Anuon, próxima a Kitsune.
— Porque diz isso?
— Seria melhor que esquecesse esse sentimento e valorizasse sua vida. Como você disse antes, agora há uma sacerdotisa aqui.
— Eu sei, Anuon e o faço. Mas dói em lembrar dos nossos momentos juntos.
— E ainda os tem, Kitsune. Não deixem as suas lembrançs lhe desviarem do seu objetivo.
— Obrigada, Anuon. Precisava ouvir isso de alguém.
— Bem, não precisa me agradecer... Eu... eu estou indo. Até amanhã.
— Até amanhã, Anuon.
Anuon então voltou para o quarto de onde estava e percebe que Ethan a observava pela janela enquanto conversava com Kitsune. O jovem diz:
— Ela é fenomenal, não é?
— Hã? Como assim?
— O que Kitsune fez por Tikai...
— Sim... Ela mudou muito, Ethan. Mudou de uma forma que...
— Como você mudou também, Anuon...
— Sim, mas... Se ela continuar se lamentando pela morte de Tikai, tudo o que fez por ela até hoje será em vão...
— Sei... entendo.
— Bem, vamos dormir...
— Vamos... Vem, se ajeita aqui na cobertura que está quentinho...
— Ah, não... Você precisa parar de me tratar assim. É vergonhoso.
— Larga de ser tímida, Anuon? O que tem demais?
— Ficar perto de você... Melhor não.
— Vem logo, tá quentinho aqui e você gosta. Não adianta esconder que eu sei.
—Tss... Humano, você é muito chato.
— Gata tímida!
— Chega disso!
— Hahaha!
Depois da conversa amistosa entre Anuon e Ethan, todos vão dormir em uma tranquila noite de sono.
De manhã...
Nunca confortável manhã, com pássaros cantando, Ryoga é o primeiro a acordar. Se levanta ainda sonolento, esfregando os olhos, procurando pelo banheiro. Ainda não enxergava direito, por causa da claridade e entrou no toalete. Porém, quando estava lá dentro, entrou no banheiro e tentou ligar o chuveiro e...
— Estranho... Tá mole esta torneira... E estranha, é meio oval... mole... peludo...
E, depois de ficar repetindo estas palavras, logo surta:
— PELUDO? QUE DROGA É ESSA?
E abre o box do banheiro com extrema rapidez. E adivinhem: Ryoga estava com as mãos em Kitsune, enquanto ela tomava banho.
— CARACA, MALUCO! EU COLOQUEI A MÃO EM...
— TIRE SUAS MÃOS DAÍ, SEU ABUSADO! - Disse Kitsune, bastante irritada.
E o jovem recebe um soco tão bem dado que voa uns cinco metros para fora do banheiro. Todos já haviam se levantado e viram o vôo de Ryoga. Ethan diz:
— Cara, o que houve?
— Ah... O ouvido! Caraca... que soco, meu!
Kaede, que havia acabado de acordar, notou a movimentação estranha logo de manhã, dizendo:
— Ryoga, o que você fez?
— Oi, Kaede! Tudo bem? Bom dia!
— Não mude de assunto! Diga o que fez?
— Sabe, eu tava indo pro banheiro, afinzaço pra tomar banho, mais aí a torneira...
— Hã? Como assim? Você não disse coisa com coisa.
Maeti, a exemplo de Kaede, também havia acabado de acordar. E ficou surpreso com Ryoga.
— O que aconteveu aqui? Porque está com esta marca no rosto, Ryoga?
—Eu... Eu... Eu... caí!
— Você caiu... Mas machucou o rosto desta forma como?
— Caí de cara no chão!
— Mas vc está de costas para o chão - Disse Kaede, ainda mais confusa.
— É que eu caí depois... de bater com a cabeça... Na pia.
— Na pia? Como conseguiu isso? - Maeti continuou.
— Eu.. Eu... Eu fui pegar minha escova de dente e acabei dando uma cabeçada na pia...
— Ah, sim... Agora está explicado. Cuidado apra não se machucar de novo.
— Ah, tá! Podem deixar!
E, saindo do banheiro, Kitsune, nervosa, tornou a olhar para Ryoga no mesmo instante. Kaede, ao vê-la, diz:
— Bom dia, tia.
— Bom dia...
— Mãe, por que você está saindo do banheiro? Ryoga tinha acabado de sair daí também... E porque está com este estado de espírito? - Perguntou Maeti, ainda confuso.
— Sabem, tive um pequeno problema esta manhã...
— Problema?
— Sim, um problema de falta de respeito e quebra de privacidade...
E logo todos olham para Ryoga, que já havia saído do corredor quando Kitsune saiu do banheiro. Logo todos ficam sabendo do ocorrido e Kitsune diz:
— Terei uma séria conversa com este rapaz! Bem, vamos a sala principal nos alimentar. Maeti, porém, chama sua mãe e pede para que os outros os esperem na sala principal. O jovem raposa tinha um assunto em particular a tratar com sua mãe.
— Mãe, não poderia deixar de falar isso com a senhora.
— O que foi, Maeti?
— Como falou de Ryoga, decidi chamá-la para dizer-lhe isso: Ryoga esconde algo.
— Maeti, já lhe disse para não ficar usando seus poderes em humanos. Ainda mais um descelebrado como ele.
— Mas mãe, fiz isso por me importar com ele. Parece estar escondendo alguma coisa séria...
— Bem, vou conversar com ele... Na verdade, não sei porque mas vejo-o estranhamente.
— Ele te...
— Não diga mais nada! Já chega.
— Tudo bem... E Obrigado mãe.
— Vem, vamos... E não quero que volte com esse assunto do banheiro... nunca mais!
— Certo.
Todos tomam café tranquilamente. Maeti se encarregava do chá e sua mãe trazia os biscoitos e pães. Frutas também eram servidas, pois havia uma pequena plantação no jardim. Ao fim, todos se dirigem para o jardim, mas Kitsune logo chama Ryoga para ir com ela a um lugar. Chegando lá, era um pequeno jardim, dentro do templo, levando Ryoga ao delírio!
— Putz, você sempre nos mostra algo diferente toda hora. Ah e me desculpe pelo que fiz no banheiro. Faço mais não.
— Bem, desculpo você mas tenho algo a perguntar.
— Hã? Perguntar a mim?
— Sim... Ryoga, seu comportamento aqui nesse templo é bastante questionável...
— Olha tia... É meu jeito, tá? Não faço por maldade...
— Eu sei que não...
— Então o que...
— Você esconde um segredo, Ryoga. E estou aqui para descobrí-lo...
Continua.