|
Tempo estimado de leitura: 4 horas
12 |
A noite já havia chegado em Arendelle, o céu estava completamente encoberto impossibilitava que as estrelas e a Lua iluminassem aquela terra castigada.
Os trabalhadores deixavam a mina aos trancos e barrancos após mais um dia terrível de trabalho. As crianças mais fracas eram carregadas por seus pais, outras mais velhas andavam de mãos dadas, entre elas a menina de olhos azuis que foi ajudada pela menina nova. Andava de cabeça baixa, sabia bem o que os vigias faziam com quem tentava fugir, olhou para suas chagas e conteve o choro.
– Vamos querida, não há nada que se possa fazer agora. – Responde sua mãe.
– Mas é tão injusto! – Exclama a menina. – Aquela garota foi tão boa, me ajudou e agora ela vai ser punida! Por que isso acontece mamãe, porque?!
A mãe da menina se agachou e abraçou sua filha, tentava a consolar, mas a situação só piorava e não sabiam por quanto tempo aguentariam.
“Oh, Deusa Althena e Grande Sif nos ajudem, não vamos aguentar por muito tempo! Nos ajudem... mandem o Dragon Master, ou qualquer um que posso nos livrar desta terrível situação em que vivemos!”
Olhou para o céu nublado e viu que ele se abriu um pouco, foi então que sentiu uma brisa passar por ela, não fria, mas feroz. Olhou de lado e viu um menino passar por ela, trajando um sobretudo velho e portando um longo embrulho nas costas. Andava a passos firmes em direção a mina, seus cabelos alvos prateados tremulavam com o vento, uma fraca luz da Lua que surgiu da abertura das nuvens o iluminava e longe um grande uivo podia ser ouvido.
O lobo estava caçando!
Dentro da mina, mais precisamente na sala verde...
– KKKKKAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!!!
Seus gritos ecoavam pelos cantos da sala, seus pulsos sangravam devido as correntes que os mantinham para o alto, seu pequeno corpo estava despido e suspenso fora do chão e sendo constantemente molhado, facilitando assim a indução de descargas elétricas disparadas pelos mascarados.
– Não parrem de mandar raios nela! Essa vadiazinha vai se arrepender de ter me atacado!!! – Rosna o vigia que estava com a mão direita enfaixada.
– Heh! Quem mandou vacilar, devia ter sido mais cuidadoso. – Diz outro vigia.
O vigia sem dedos olhou mortalmente para seu companheiro.
– O que disse?!
– Falei alguma mentira?
– Ora seu!!!
– Vocês dois parem! – Impõe o terceiro vigia. – Temos coisas mais importantes para fazer. – E olha para Anna que se tremia toda.
Estava com frio e machucada, tanto por fora, quanto por dentro, havia perdido tantas coisas em tão pouco tempo, a chance de estudar junto com sua amada irmã e agora sua amiguinha se fora...
– Ruby... – Murmura a princesa que abaixa a cabeça.
Desde que entrou na sala aqueles homens a estavam torturando. Arrancaram suas roupas a deixando nua, a penduram e agora estavam judiando dela. Fechou os olhos pensando em quantas pessoas aqueles monstros já haviam machucado... Adultos, homens, mulheres, velhos e até mesmos crianças! Pensar naquilo fazia seu coração doer ainda mais.
“Como podem existir pessoas assim, tão desprezíveis e más, que se divertem com a dor alheia... isso é horrível!!!”
– Ei! Eu não mandei parar! – Brada o vigia sem dedo. – Descarreguem mais eletricidade nela!!!
– Não... – Mas não houve como apelar, mais um jorro de água cai do teto a ensopando, os homens apontam suas lanças e mais descargas elétricas acertam seu pequeno corpo e ela não consegue conter o grito que escapa do fundo de sua alma.
– AAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!!!
– Isso sua vadiazinha, GRITE MAIS!!!
A princesa sem escolha fecha os olhos, tentando suportar aquilo tudo quando sua consciência se esvai e ela desmaia, até receber um tapa no rosto a acordando.
– Nem pense em dormi... nós só estamos começando!!! – Brada o vigia sem dedos que puxa sua lança que brilha na cor vermelha, a encostando na pele da menina que queima e outro grito de dor escapa de seus pulmões!
– AAAAAAAÍÍÍÍÍÍÍÍÍ!!!!!
– Isso mesmo, grite! Ninguém vai te ouvir aqui, nunca pudemos torturar uma princesa antes, se bem que depois disso duvido que alguém te reconheça como tal!
E continuo a agredir o pequeno corpo de Anna com sua lança em brasa lhe causando queimaduras em sua pele. As lágrimas se misturavam com a água gelada que caia do teto, sua pele ardia a cada rajada de raio e queimaduras feitas pelas lanças, ela logo pereceria se eles continuassem.
“Eu vou morrer....”
Olhou para o teto por onde jorrava aquela água tão fria.
“Eu vou mesmo morrer nesse lugar escuro e frio sem ter encontrado minha irmã e salvo minha mãe...”
Fechou os olhos e trincou os dentes com força.
“Alguém me ajude... por favor.... socorro...”
– Já chega! Já batemos e a eletrocutamos demais... hora do batismo dela!
A princesa não conseguiu ouvir direito as palavras, com sua vista embaçada viu o chão a seus pés se abrir e um liquido verde borbulhar bem abaixo. Aos poucos, as correntes que a prendiam vão descendo e seu corpo despido vai entrando naquele liquido verde e de imediato sua pele começou a arder, mas não conseguia gritar, pois seu corpo logo foi todo submergido e sua consciência foi se esvaindo...
“Maninha...”
Na área do porto subterrâneo, mais precisamente na água...
Ela nadava com toda as suas forças, sentia seu pequeno corpo arder devido ao sal da água, pensou em desistir, mas quando pensou que sua protegida estaria sofrendo, isso lhe deu mais forças. Minutos, horas, ela não sabia por quanto tempo nadou até finalmente chegar até as pedras do ancoradouro, fincar suas garrinhas e subir, quase caindo duas vezes, até que finalmente chegou à terra firme. A gatinha alada respirava fundo tentando recuperar o folego, quando ergueu seu rostinho se deparou com uma sombra a encarrando.
– Ajude-a... – Sua voz sai fraca. – Ajude-a... por favor... – E tomba no chão sem forças, para logo em seguida ser recolhida por aquela sombra que lhe faz um carinho na cabeça.
O Sol já estava nascendo, logo outro dia na mina começaria, um dos vigias deixa a sala verde e caminha até a área do porto.
– He, he, foi um show entanto.
Quando chegou a área dos portos sentiu algo, um calafrio percorreu sua espinha, de imediato pegou sua lança, acendeu sua chama verde e se virou, mas não havia nada.
– Será que estou vendo coisas, parecia até um... – Se virou novamente e viu um vulto pular sobre ele e algo longo e afiado passar por seu corpo. – Uma fera... – Murmura o vigia antes de seu corpo ser dividido em dois, um sangue negro jorrou de seu corpo que se incinerou em chamas verdes restando apenas cinzas no lugar que foram pisadas pelo assassino.
Dentro da sala os outros vigias se alarmaram.
– A Aura de Barque sumiu!
– Impossível, nenhum escravo teria coragem de nos desafiar, muito menos abater um de nós!
Os dois vigias se entreolham.
– Vamos averiguar, Lorn você fica! Sem esses dedos você só vai atrapalhar!
O vigia de nome Lorn se enfurece.
– Vão se ferrar! – Berra mostrando o dedo do meio da mão esquerda, quem nem é percebido pela dupla que deixa o local. – Bando de babacas, deve ser um cavaleiro, se for não terá a menor chance contra nós!
Se levanta e caminha até um canto da sala onde uma pequena porta de madeira cravada na pedra. O vigia aos e aproximar chuta a porta e diz com uma voz maliciosa.
– Não é verdade... Anna?
Lá dentro um pequeno choro é ouvido em resposta as palavras do vigia que ria.
– Não se preocupe, logo que aqueles otarios cuidarem de seja-la quem for continuamos com nosso joguinho, ok? – E se vira voltando para o meio da sala enquanto dentro do outro quarto uma pequena figura se escolhia de medo e de dor.
Fora da sala verde a dupla de vigias olhava em volta, mas não havia sinal de nenhuma pessoa, as tochas estavam apagadas, somente as lamparinas de suas lanças os iluminavam.
– Está muito quieto e eu não me lembro de ter apagado as tochas da mina! – Murmura um deles.
– É porque não apagamos idiota, alguém fez isso, está aproveitando a escuridão do lugar para nos atocaiar! – Brada o outro. – Deve ter sido assim que pegaram o Barque.
O outro por outro lado desdenha:
– Feh! O Barque é um idiota, sempre despreocupado e sem atenção só um idiota cairia em um... – Enquanto o Vigia se gabava ele sente algo grosso se enrola em sua perna esquerda, apontou sua lanterna e viu que era uma corrente presa a um carrinho da mina que dispara arrastando o Vigia pelos trilhos. – AAAAHHHHHHH!!!
Seu grito de desespero é ouvido do outro lado da mina e logo depois silencio, o outro vigia não acreditava no que via. A aura do vigia arrastado também sumiu significando que estava morto.
“Isso não é possível! Ninguém normal conseguiria lutar contra nós, somos invencíveis, somos...”
O vigia restante ouviu um pequeno ruído como se algo estivesse andando pelos trilhos, apontou sua lança que começou a brilhar e sem hesitar invoca suas chamas.
– PHATON FLARE!!! – O jorro de chamas verdes encobre toda a pequena caverna que leva até o outro lado da mina, não importava quem fosse estaria morto agora reduzido a cinzas. – ACABOU!!!
Porém o barulho de algo andando pelos trilhos é ouvido novamente fazendo o sangue do vigia gelar, sua lança tremia em direção ao buraco, quando viu era um carrinho da mina, o mesmo que arrastou o outro vigia estava voltando e parou diante dele. Hesitante o vigia se aproxima devagar, estava sentido algo que nunca achou que sentiria em sua vida... medo!
“Bobagem! Você não deve sentir medo e sim inserir o medo nos outros!”
Caminhou até o carrinho, suas chamas nefastas tremulando, com sua mão esquerda puxou uma arma de fogo, a engatilhou e disparou dentro do carrinho e em seguida mandou mais uma torrente de chamas.
– MORRA MALDITO, MORRAAAA!!!
As chamas do vigia cobriram todo o carinho que começou a derreter, sorrindo por dentro da máscara estava satisfeito, havia se livrado do invasor.
– Pronto, missão...
Mas ele se calou na mesma hora ao sentir algo frio em sua garganta bem atrás dele.
– Errou o alvo, idiota...
Logo em seguida sua garganta e cortada pela faca que atravessou a vestimenta grossa do homem como manteiga. Inutilmente o vigia tenta conter o sangue que vazava de sua garganta aberta, mas já era inútil, caiu de joelhos e em seguida no chão duro de pedra e tem como última visão seu algoz, um garoto que portava algo longo em suas costas e em sua mão esquerda uma faca, mas o que mais lhe apavorou foram os olhos do menino, frios como os de um lobo e assim como os outros dois, o corpo do vigia foi consumido pelas chamas para depois se tornar cinzas.
– Menos três... falta um!
Dentro da sala o ultimo vigia andava de um lado para o outro, sentiu as Auras de seus companheiros sumirem, sua mente não conseguia compreender aquilo! Eram invencíveis, tinham magia, força sobre humana, conseguiam matar várias pessoas com facilidade, no entanto três deles foram abatidos e rapidamente.
“Será que um dos cavaleiros descobriu a mina e veio nos enfrentar? Não, impossível! Os sábios esconderam bem este lugar, nenhum cavaleiro conseguiria chegar aqui sem ser visto a não ser... que não seja um cavaleiro!”
Seus pensamentos são cortados por um barulho vindo de fora da sala, no reflexo o vigia saca sua armar com a mão esquerda e caminha a passos lentos até a porta, com sua mão sem dedos abre devagar a porta e mete sua mão com a arma para fora... apenas para vela sendo decepada de seu corpo.
– UUUUAAAAAARRRRGGGGG!!!! – O vigia se joga no chão e rola de um lado para o outro, primeiro foram seus dedos da mão direita, agora sua mãe esquerda inteira foi decepada. – MALDITO! QUEM FOI QUE FEZ ISSO!!!
– Fui eu. – Responde uma voz fria que adentra a sala.
O vigia arregala os olhos ao ver o dono daquela voz fria, um mero menino! Estava sem camisa e seu copo e rosto cobertos por fuligem para servir de camuflagem. Em suas mãos faixas de pano estavam devidamente amarradas deixando os dedos para fora para usar suas armas sem que elas escorregassem de suas mãos. Sua calça era batida e toda suja, estava descalço com panos pretos cobrindo suas solas para não fazerem barulho e parte de seus cabelos estava preso por uma bandana de cor preta marrada a sua cabeça, apenas uma mecha branca escapava do pano que cai entre seus olhos que eram de um azul frio e sem brilho.
– Não é possível... você abateu três vigias?!
– Então esse é o nome de vocês? – Pergunta o garoto sem emoção. – Mas que grandes merdas vocês são, hein?
– Como disse?! – Rosna o vigia.
– Além de idiota é surdo, mas não estou aqui pra conversar e sim pra interrogar! – O jovem se aproxima e chuta o rosto do mascarado o erguendo do chão, pega a lança do mesmo que estava no chão e o empurra pressionando seu pescoço na parede o prendendo. – Acho que era assim que vocês torturavam o povo das vilas né?
– URG! Maldito! – O vigia tenta se libertar, mas não conseguia, ele não conseguia compreender como aquele moleque era tão forte. – Quem é você?! – Pergunta o vigia em pânico.
– Sou eu que faço as perguntas aqui babaca! – Pressiona mais a lança fazendo o homem ficar sem ar. – Cadê a menina que vocês prenderam?! – Inquere o garoto.
– URGGGG... menina, que menina?
O menino sem paciência puxa sua faca e crava na perna do homem que urra de dor.
– AAAAARGGGGG!!!
– Não me faça perguntar duas vezes... cadê ela?!
– O que você quer com ela? – Pergunta o vigia. – É algum cavaleiro... ou mandando por eles?
A resposta foi outra facada dessa vez arrancando um naco do braço do homem.
– UUUUAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!
– Última chance... CADÊ ELA?! – Rosna o menino apontando sua faca para o pescoço do homem que arfava em desespero, então com o braço sem dedos aponta para um canto. O menino segue a direção, mas antes de sair soca o rosto do homem com tanta força rachando a parede atrás de si o apagando. O guardião solta o vigia da lança o deixando cair no chão como um saco de lixo e se dirigi até o local indicado que era escuro e abafado.
– Anna!
Ele a chama, mas não ouve resposta.
– Anna, sou eu o Gládius eu vim te buscar, cadê você?
Novamente não ouve resposta e isso começou a preocupar o pequeno guardião, foi então que ele ouviu algo, era baixo e quase inaudível, mas para um assassino como ele.
“Um choro?”
O som de alguém chorando bem baixo foi captado pelo menino que caminha mais até achar outra porta, essa cravada na parede.
“Será que ela tá aqui?
Ele volta até onde deixou o homem e acende uma tocha para iluminar seu caminho. Com cuidado ele toca na maçaneta e abre a porta bem devagar olhou lá pra dentro, mas estava muito escuro, ergue a tocha e a viu...
– Anna... – Sua voz morreu ao ver a pequena menina que ele havia salvo dos lobos, conheceu e decidiu proteger. Seu sorriso e sua aparência delicada e jeito que encantava quem estivesse por perto não existia mais. Ele cai de joelhos e grossas lágrimas escapam de seus olhos, pois diante do pequeno guardião jazia a pequena princesa de Arendelle toda ferida e maculada. Estava jogada sobre um monte de palha, feridas profundas e chagas horrendas cobriam todo seu pequeno corpo, estava despida, seus cabelos ruivos morangos estavam curtos e lágrimas silenciosas escorriam de seus olhos que não eram mais da cor topázio, mas amarelos e sem brilho.
Ele se aproxima com cuidado, toca a cabeça da princesa que de imediato se encolhe e começar a chorar.
– Anna, calma sou eu o Gládius!
– Não... já chega por favor... – O pequeno guardião ouve aquelas palavras sentido seu sangue ferver, que atrocidades fizeram com ela para ela ficar nesse estado?
– Calma... eu não vou te machucar e vim te levar daqui.
Ela se treme.
– Por favor... não me machuque... eu não quero mais ser torturada...
Ele morde o lábio com força.
– Ninguém vai te machucar, não mais! – Brada o menino que ergue o queixo da menina fazendo seus olhos doentes encarrarem os seus azuis.
– Eu... conheço você? – Pergunta a princesa bem fraca.
– Conhece sim... sou seu amigo, lembra?
– Amigo... – Anna abre mais os olhos, mas sua visão estava embasada, só enxergava borrões a sua frente. – Eu não consigo te ver...
– Não precisa, só saiba... que eu vou te proteger, pois esse é meu dever!
– Você... vai me proteger?
– Vou sim. Não vou deixar mais ninguém te machucar eu prometo!
Então com cuidado o menino envolve a pequena em seus braços se levanta e sente ela se encolher em seu peito e sussurra:
– Você... e... quente... tão frio...
O menino tenta conter as lágrimas, mas era difícil, ver alguém tão alegre e bonita sendo ferida de tal modo lhe fazia sentir ainda mais raiva do rei e do reino em que vivia.
“Pro Abismo com a guerra pelo trono! Não vou deixar usarem ela como eles bem quiserem, sejam Sábios, Cavaleiros, ou o maldito rei, ninguém iria mais tocar nela!”
Era a promessa que ele fazia para si mesmo como guardião e como homem!
Então com cuidado o jovem deixa aquele espaço horrendo em que a menina estava voltando para a sala onde deixou o vigia vivo, ele tentava se arrastar para fora, foi então que ele teve uma ideia, brilhante por sinal.
Reparou que havia uma alavanca em uma parede, com cuidado deixou Anna sentada, lhe fez um carinho e foi até o mecanismo, puxou a alavanca e uma comporta de metal se abriu revelando um liquido verde e borbulhante. Antes de invadir a mina o menino conversou com os habitantes do porto destruído e pegou todas as informações necessárias para sua invasão.
Outro dos ensinamentos de seu pai, “conhecer seu inimigo e seu território e usá-los a seu favor”.
E assim ele o fez, mas o que lhe deixou mais curioso foi quando disseram que as chagas e feridas eram causadas por um liquido verde que os vigias mantinham guardado em segredo.
– Então este é o segredo dos Sábios e de vocês... – Olha para o liquido e depois para o vigia e sorri, um sorriso de puro desejo de fazer alguém sofrer!
O pequeno guardião pisa nas costas do vigia o impedido de prosseguir e o pega pelo colarinho.
– Vai embora tão cedo? Ainda não acabamos... hora do granfinale!
– O QUÊ?! – Berra o homem que começa a ser arrastado por Gládius até a fenda. – Não espera, não faça isso!
O menino não respondeu.
– Acha que me matando vai salvar sua amiguinha é inútil! Mesmo que você a leve aos Sábios o antidoto só cura pequenas lesões e respingos da doença! Nós jogamos poucos nos escravos para botar medo, mas sua amiguinha foi mergulhada totalmente ela não tem salvação! – Berra o vigia. – Então não adianta me matar e se vingar, ouviu? VOCÊ NÃO VAI SALVA-LA!!!
E para sua caminhada, ergue o homem a sua frente e diz seco:
– Pode até ser que matar você não a salve... mas vai me deixar muito satisfeito!
Então com seu ódio e desejo de vingança aflorando, Gládius solta o vigia que cai na fenda cheia de liquido verde que começa a berrar em desespero, logo sua máscara começa a explodir, seu corpo a inchar e sangue escoava de seus poros e sem mais o que fazer o menino aciona o mecanismo fechando o ultimo vigia lá dentro.
– Que tenha uma boa acolhida no Abismo seu miserável! – E volta até sua amiga a recolhe em seus braços e deixa o local, caminha até a passagem que leva ao porto subterrâneo lá deitada sobre sua mochila com curativos estava a pequena gatinha alada e ao seu lado o presente que sua mãe lhe deu antes de deixar sua casa. Uma longa espada de metal enferrujado, devia medir quase dois metros e pesava uns 20 kg, mas era bem leve para ele. Foi com esta herança e suas habilidades que ele abateu os quatro vigias.
Ali mesmo ele começou a cuidar de Anna desceu até a água do mar e a lavou, ela gemeu um pouco devido ao sal, mas era melhor do que nada, depois de lava-la a carregou até suas coisas e enfaixou todo seu corpo, incluído sua testa e parte de sua face. Depois pegou seu sobretudo o vestido na menina.
– Desculpa Anna, mas não tenho roupas pra você, vai ter que ser meu sobretudo mesmo. – Explica o menino que percebe que ela adormeceu. – Heh... ela nem me ouviu.
– Anna...
– Hum? – O menino se vira vê a gatinha acordando. – Bem-vinda de volta baixinha.
– Hein? – A pequenina abre os olhos e vê o menino sorrindo para ela, na mesma hora lágrimas começam a escorrer dos pequenos olhos da cor rubi como seu nome. – GLÁDIUS!!! – E pula no ombro do menino e começa a beijar sua bochecha.
– Ei, para isso faz cocegas!
– Você veio nos ajudar, obrigada, obrigada, obrigada! – Dizia a gatinha repetidas vezes enquanto beijava seu herói.
– Tá Ruby, já sei que você tá feliz em me ver, mas cuidado vai abrir seu ferimento.
– Ferimento? – A pequenina olha para seu corpo e percebe as ataduras em volta de sua barriga. – Foi você?
– Claro que fui eu! Ainda bem que eu tinha uma pomada para queimaduras dentro da minha mochila, se não seria difícil tratar você.
A gatinha arregala os olhos e mais lágrimas escorrerem por suas bochechas fofas e sem avisar ela dá uma lambidinha na face de seu salvador e diz:
– Não sabe como sou grata, mas e quanto a Anna...
– Está bem aqui. – Diz o menino.
– Quê? – A gatinha arregala os olhos ao ver sua protegida deitada no chão toda enfaixada. – Por Althena... – Desse do ombro do menino e encosta seu focinho no rosto de Anna. – O que fizeram com ela... – Pergunta enquanto lágrimas pesadas rolam por seu pequeno rosto.
– Só uma palavra Ruby... maldade! – Responde o pequeno guardião seco. –Apenas isso já descreve o que ela passou. – Se levanta e fita a entrada da gruta. – O pior é que a mergulharam em uma espécie de liquido verde borbulhante, isso causou os ferimentos no corpo dela.
Ruby ouve aquilo apavorada.
– Não... – E se lembrou das feridas que o pessoal do porto e da mina tinham. – Ela tá com a mesma doença que os trabalhadores e o pessoal do porto?!
Gládius abaixa a cabeça e responde:
– Está... eu não consegui chegar a tempo de impedi-los... sinto muito.
A gatinha alada estica sua patinha esquerda tocando na mão de sua protegida que dormia, lembranças dos tempos felizes e descontraídos que passaram juntas pareciam tão distantes agora.
– Parece que faz anos que deixamos o castelo, mas não, foram só dois dias... três contando com hoje e ela já passou por tanta coisa!
O menino não responde, sabia que não havia tido sucesso total em sua missão, afinal Anna estava viva, mas por quanto tempo? Para um guardião a proteção de um protegido era mais importante que sua própria vida, era isso que seu clã acreditava antes de serem traídos.
“Meu pai com certeza não teria deixado isso acontecer, mas eu não sou ele... fiz o possível, mas ainda não foi o bastante.”
Olha para Anna.
“Preciso salva-la por completo e para isso...”
Se volta para elas e diz:
– Vamos achar uma cura para ela!
– Hum? – A gatinha alada se volta para ele. – Nós... vamos?
– Sim, nós vamos! – Responde o menino com firmeza. – A Anna se ariscou para deixar Arendelle e eu vou cumprir esse desejo. – Volta seu olhar novamente para o mar. – Eles disseram que o antídoto que eles têm só cura pequenas lesões, por isso não adianta voltarmos ao castelo, temos que encontrar a cura fora daqui... em outra terra!
Ruby ouve atentamente o menino.
– Entendo. – Responde a gatinha. – Mas pra onde iremos?
O menino olha para sua mochila, caminha até ela a abre e puxa um papel que ele desdobra revelando ser um mapa.
– Aqui! – Aponta para uma terra ao norte de Arendelle, que tinha a cor dourada do Sol. – O reino de Corona, vamos começar por lá!
Ruby vê o mapa e meneia a cabeça em confirmação.
– Ok, mas como vamos chegar lá?
A resposta foi um sorriso nefasto do menino que a fez gelar.
– Tava esperando você perguntar isso, he, he, he.
A gatinha engole seco e pensa assustada.
“Esse sorrisinho maligno... coisa boa não deve ser!”
Uma hora depois um navio de pequeno porte entrava no porto subterrâneo, era o primeiro navio do dia que havia chegado para o carregamento diário. O capitão do navio manda os piratas prepararem as pranchas para embarque da mercadoria.
– Vamos lá seus vermes, quanto mais rápido carregarmos, mais rápido saímos dessa terra imunda!
– HO! – Urram os piratas. No entanto quando começaram a descer do navio repararam que a mina estava muito, muito quieta.
– Estranho... geralmente isso aqui está um caos. – Comenta o imediato do navio para o capitão.
– Concordo... está muito quieto. – Afirma o capitão que trajava um colete com várias pistolas presas em coldres, além de portar duas cimitarras devidamente embainhadas de cada lado de sua cintura. Seus cabelos eram loiros presos a um rabo de cavalo simples e sua era pele bronzeada.
O capitão do navio ao não ver nenhuma presença dos vigias ou dos trabalhadores fica desconfiado e também desse do navio.
– Vou até o outro lado da mina, preparem as caixas para embarque, vou ver o que esses vigias malditos estão aprontando.
– Sim senhor! – Brada os bucaneiros.
– Adewale, fique de prontidão, qualquer coisa zarpamos. – Diz o capitão a seu imediato. Um homem de pele escura, alto e forte maior que o capitão. Carregava uma grande arma em suas costas e uma longa cimitarra em sua cintura esquerda.
– Pode deixar! – Responde o imediato. – Só tome cuidado... esses homens de mascaras não são confiáveis.
O capitão sorri e com sarcasmo responde:
– Nem precisa avisar, se eles mexerem comigo, meto isso na cabeça deles! – Aponta para uma de suas pistolas. – Vou indo, volto logo!
Então o capitão segue pela passagem, teve que se curvar para passar pela passagem estreita.
– Espero que tenha acontecido algo muito sério para esses malditos não estarem no porto logo... – Ele se cala ao chegar do outro lado, seus olhos azuis se depararam com a mina vazia sem nenhum trabalhador e muito menos algum vigia, somente um menino de cabelos alvos sentado em cima de um barriu comendo o que aprecia ser um peixe assado e em seu ombro uma gatinha cor de rosa que comia um peixe maior que ela!
O menino ao ver o capitão ergue os olhos e acena.
– Puxa! Você demorou, hein?
– O... o quê? – Exclama o capitão sem entender.
– Vixe, parece meio perdido, mas eu não te culpo! – Exclama o menino que desse do barriu. – Você já deve estar acostumado a ver gente sendo maltratada aqui e sendo vigiada por um bando de covardes mascarados, mas hoje será diferente, ou melhor, para sempre!
O capitão olha desconfiado para o menino.
– Quem é você... e onde estão os vigias?
O menino dá um sorriso frio e responde:
– Estão mortos!
Os olhos do capitão se arregalam.
– Mortos?
– Sim... mortinhos da silva! – Responde o menino com sarcasmo.
– E posso saber quem foi o autor desta façanha? – Inquere o capitão apoiando sua mão esquerda no cabo de uma de suas cimitarras. Estava em alerta, o menino podia ser apenas um chamariz e os vigias poderiam estar tramando alguma coisa, afinal quem conseguiria matar um vigia, no entanto a resposta que o menino deu o fez arregalar os olhos.
– Quem os matou... fui eu! – Exclama o menino e o capitão pode sentir algo vindo dele, um ar feroz e destruidor como um animal prestes a dar o bote e aniquilar sua presa e em um piscar de olhos o menino havia sumido de sua frente e sentiu uma lamina fria encostar em sua garganta. – Por favor, meu caro pirata eu não quero tirar sua vida, então por isso tire a mão de sua espada e vamos conversar, sim?
O capitão ouviu aquela voz fria e penetrante percorrer seu interior, sentiu seu sangue gelar, sabia por conhecimento próprio a astucia e sede de sangue de um assassino. Se há alguns minutos ele desconfiava que o menino pudesse ter matado os vigias, essa dúvida havia sumido na mesma hora. Obedecendo retira sua mão esquerda do cabo de sua espada.
– Bom... agora podemos senhor... qual é o seu nome?
O pirata por sua vez retruca:
– É fata de educação perguntar o nome de uma pessoa antes de se apresentar não acha?
– Eu estou com uma faca no seu pescoço. – Responde o menino com sarcasmo. – Sou eu que pergunto primeiro!
– Sim... e pela sua frieza e convicção vejo que é um bom assassino, no entanto... se quisesse me matar acho que já teria feito... só fique sabendo que se eu morrer, minha tripulação inteira ira contra você! – Exclama o capitão e para a sua surpresa o menino sorri.
– Já imaginava isso, por isso coloquei aqueles barris de pólvora bem na porta por onde você passou... Ruby!
– Em posição! – Exclama a gatinha alada que pula do ombro do menino e vai pra perto de um dos barris e assopra uma pequena chaminha fazendo o capitão arregalar os olhos.
–Não creio...
– Pois creia meu amigo! – Exclama o menino tirando a faca do pescoço do capitão e indo até o barriu que estava sentado. – Vocês levaram uma hora para chegar aqui, tempo de sobra para que eu pudesse me preparar, com a ajuda da minha amiguinha cuspidora de fogo selamos a entrada da mina, ninguém vai poder entrar aqui pelos fiordes, só tem uma saída... a do porto que você veio.
O capitão ouvia aquilo espantando, quem poderia ser aquele menino?
– Quem é você afinal?! – Inquere o pirata. – Uma criança normal não pensaria dessa forma!
O garoto por sua vez ri.
– Que dera eu fosse uma criança normal meu caro... mas vamos direto ao assunto eu tenho uma proposta para você e sua tripulação.
– Proposta?
– Isso aí e te garanto... – Abre o barriu. – Você não vai se arrepender!
O pirata se aproxima do barriu e ao olhar seu conteúdo seus olhos cintilam e um sorriso brota em sua face.
– Sou todo ouvidos! – Exclama o pirata que estende sua mão. – Me chamo Edward Kenway!
O pequeno guardião sorri e estende a mão cumprimentando o pirata.
– Gládius... Gládius Artorias é o meu nome!
O pirata assobia impressionado.
– Uau! Um sobrenome em homenagem ao cavaleiro que salvou este reino...nada mal!
– Pois é... fazer o que. – Responde o menino vendo que o pirata acreditou em seu nome falso, mas na verdade ele até que gostou do sobrenome.
“Eu ia precisar de um nome falso mesmo para vagar por aí... acho que Artorias não ficaria chateado de eu usar seu nome por um tempo.”
– Então... o que quer Artorias?
O menino desfaz seu sorriso e responde sério.
– Uma carona.
– Uma carona? – Pergunta o pirata.
– Sim... uma carona para fora de Arendelle... para mim, minha amiguinha alada.
O pirata se vira e vê a pequenina acenar para ele.
– E para... ela...
O pirata observa o semblante do menino ficando triste e depois acompanha o mesmo se levantar e ir até uma formação rochosa a sua direita, observa o menino se agachar e em seguida se levantar com algo em seus braços que o capitão reconheceu sendo uma pessoa, ou melhor, uma menina.
– Quem é ela?
– Ela... bom... – O menino olha para o semblante adormecido de princesa, mesmo com as chagas e ferida pelo corpo ela não deixava de exalar aquele ar de inocente e pureza que ela transmitia para todos a sua volta. – É meu motivo de estar vivo... – Responde o menino que fecha os olhos enquanto imagens de seu passado vinham a sua mente, um passado que ele queria esquecer, mas que volta e meia regressava para assombra-lo, que lhe transformou em uma arma viva, um assassino sedento por sangue, um monstro e que fez seus cabelos ficarem alvos como a neve.
Mas tudo isso era suprimido quando ele fazia algo que era apenas... proteger alguém...
Isso era ser um Guardião...
Esse era seu dever e sua redenção....