E como Ethan pediu, Kaede se propos a contar toda a história. E começa...
Kyoto, 25 de junho de 2002.
Kaede havia completado 2 anos. Seus pais haviam aberto um Dojoh nas proximodades da cidade. Tinham em mente disciplinar os jovens daquele lugar, usando artes marciais. Eram descendentes da família Rayka, muito admirada em sua cidade, por defender os mais fracos dos nobres na era Tokugawa a centenas de anos. Infelizmente esta família, naquela época, era perseguida por praticamente toda a nobreza, esta outrém ameaçada com o fim da era Tokugawa. Poucos samurais da família Rayka conseguiram sobreviver aos intensos ataques de assassinos pagos pelos nobres, que comemoravam a cada morte conseguida. A influência dessa família junto ao imperador era tão intensa que fez com que nomeasse vários membros da família como doutrinadores de sua palavra, a fim de serem usados como pacificadores.
Outra ameaça a sobrevivência desta família era a elite de samurais de todo o Japão, pois eram os únicos que disciplinavam mulheres para fazer parte de seu estilo, o Maratsu-kyoken, que consistia em preservar o bem mais importante: a vida.
Samurais em sua maioria, seguiam o Bushido, com exceção desta família, por defender uma filosofia de vida contrária aos princípios do Bushido. Com essa sua filosofia de “viva e deixe viver”, a Família Rayka sempre trouxe revolta e admiração de várias partes do Japão. Mesmo os seus maiores inimigos o respeitavam e procuravam, na medida do possível, não matar os mais jovens, caso houvesse duelos e enfrentamentos. Porém nem todos tinham esse pensamento.
Com a morte do Sr. Tisuoka Rayka, o maior líder do clã no fim da era Tokugawa, vários integrantes da família Rayka e seus discípulos se espalharam por todo o Japão, com o intuito de disseminar sua doutrina. Por fim, foi bem aceito pela milícia local, que passou a doutinar seus homens com tal técnica. Muitas pessoas, de aldeões e pequenos comerciantes nômades, se interessaram nesta doutrina e acabaram colocando-a em suas vidas, fazendo com que evitassem várias tragédias.
Honra e lealdade e, principalmente, amor a vida, começavam a tomar força nas demais locaridades rurais e, em menor proporção, em centros urbanos. De fato, o Maratsu-kyoken havia contribuído para a criação de uma identidade e de caráter aquela população sofrida por tantas mortes. E com isso acabou sendo incluída nos principais estilos de Kendo, Judo, Ninjitsu e em muitas outras.
Voltando a 2002...
A família de Kaede, com a inauguração de seu Do-joh, conseguiu chamar a atenção de vários jovens, de diferentes classes sociais. O material era cedido gratuitamente pelos donos, contanto que os alunos tivessem boas notas no fim de cada bimestre. Nem é preciso dizer que foi um sucesso, tanto na parte de aprendisagem do estilo Maratsu-kyoken quanto ao desempenho dos aluns na escola.
Todos na cidade haviam gostado da iniciativa, tanto que passaram a ajudar financeiramente, na medida do possível. Até mesmo os anciãos os admiravam e tentavam ajudar de alguma forma, conversando e contando histórias aos mais novos.
Tudo, porém, mudou quando um empresário apareceu no Dojoh para conversar com o pai de Kaede, que logo se colocou prestativo posts saudar seu visitante.
— Com licença, senhor... O que deseja?
— Oh, sim... Sr. Rayka, não é?
— Sim. Posso ajudar em algo?
— Perfeitamente... Tenho uma proposta a sua família.
— Qual seria, senhor?
— Seja subordinado a mim e ajudarei a fazer este Dojoh crescer além do que imagina.
— Mas como assim? Eu ser um empregado seu?
— Sim, e garanto que receberá muito bem...
— Senhor, é muito generoso mas não vim para esta cidade atrás de dinheiro...
— Não, é?
— Não. Faço essas coisas por prazer em ajudar as pessoas.
— E quem disse que não irá ajudar? Melhorarei as instalações daqui e ampliarei seu Dojoh, abrindo filiais por toda Kyoto.
—Não, não quero fazer isso. Se isso acontecesse, teria que abrir mão de várias coisas. As pessoas veem até aqui por um compromisso com eles mesmas.
— Como o que?
— O prazer em ensinar e aprender. Minha família, tradicionalmente, sempre ensinou a seus alunos de forma direta, usando somente um Dojoh.
— Mas não acha que isso é uma idéia arcaica? Tipo, se vocês distanciam do povo esta doutrina, de que forma acham que irão crescer?
— Queremos mostrar as pessoas de que, se realmente elas querem mudar, que tratem de procurar algo que verdadeiramente importa em suas vidas. Se procuram por nós, é porque esão dispostas a mudar e nós dispostos a ajudá-las.
— Mas e esses alunos? Vocês acham que eles terão algum futuro se continuarem treinando neste lugar com o mínimo de estrutura?
— Todos aqui não estão por fama, nem mesmo por luxo. Somente por amor ao próximo. Não importa o quanto este lugar é humilde, o que importa para todos nós é o companheirismo e a honra. Com isso, todos nós somos ricos de coração. Nada e nem ninguém pode tirar isso deles.
— Não concordo com isso, senhor...
— Porque?
— Esse seu papo de honra e o que for, não fazem mais parte deste mundo.
— Porque diz isso?
—Simples: esses seus alunos irão crescer e se interessar por outras coisas. Coisas essas relacionadas com a atual realidade. Não há mais espaço nem aqui no Japão e nem no mundo para coisas desta natureza. Bancar o "zen" hoje em dia só faz com que as pessoas fiquem alienadas e esqueçam de seus verdadeiros problemas. É muito fácil influenciar os jovens...
— Se engana, senhor.
— Porque insiste nesta filosofia?
— O que faço é extremamente importante para a formação de caráter de cada jovem que treina aqui.
— Mas isso é ser ingênuo demais...
—É bem verdade de que eles irão se interessar e outras coisas, ainda mais neste nosso mundo, hoje com ligeiras mudanças. Os países ocidentais já começaram a nos bombardear com seus costumes e isso não tem volta. Os jovens realmente serão atingidos com culturas adversas às nossas, isto é fato.
— Ainda bem que reconhece...
— Mas se conseguir mostrar a eles a valorizar o que é mais importante, que é o amor a vida, já está de bom tamanho...
— Amor a vida? Acha mesmo que eles não sabiam disso antes de entrar aqui?
— O amor a vida não está relacionado a viver. E sim viver e deixar viver.
— Deixar viver? Acham também que não...
— Já sei o que iria dizer! E está enganado. O sentido de “deixar viver” está relacionado a bondade, de não se aproveitarem do mais fraco e até consigo mesmo. Se usarem de humildade para com seus semelhantes, sem sombras de dúvidas terão sucesso em suas vidas.
— Você realmente tem pensamentos bem arcaicos...
— Posso ser antiquado em minhas praticas, mas sei de que estes jovens, no futuro, saberão proteger sua cultura e principalmente o que acreditam.
— Hahaha... perdi meu tempo vindo aqui...
— Bem... adeus, senhor. Agradeço a visita.
— Não! É só um até logo...
— Nos veremos novamente?
— Pode-se dizer que sim... A forma que pode ser diferente...
— Do que está falando?
— Até a próxima, "samurai".
A noite cai.
Todos os alunos se despedem do Sr Ryaka e vão para suas casas. Durante o jantar, ele então conversa com sua mulher sobre o ocorrido e ela concorda com cada palavra que disse aquele homem.
— Fez muito bem! Aposto que ele era um daqueles empresários que estão popularizando este tipo de Dojoh pelo Japão só para ganhar dinheiro as custas do trabalho dos outros.
— Eu sei disso. E ele pensava que eu era velho. Hahaha... Só não disse isso a ele para não deixá-lo envergonhado...
— Bem, vou dormir. Estou exausta. Boa noite, meu bem.
— Até amanhã, meu amor...
Assim que sua mulher foi dormir, o Sr Rayka de dirigu até o quarto da pequena Kaede, que estava sonolenta.
— Kaede, minha filhinha... Você vai ser uma samurai tão forte quanto o papai um dia... Eu prometo a você, pequena Kaede...
— Espada... Espada...
— Sim, você vai usar uma espada...
— Murai eu!
— É sim, filha fofinha... bunitinha...
E todos vão dormir...
Ao amanhecer, logo todos sentan-se a mesa, onde a mãe de Kaede a está alimentando. Mas, ao ouvirem o noticiário, perceberam um fato que mudaria suas vidas.
— “Descobriram nesse exato momento dessa manhã de que o dono do Dojoh Rayka Maratsu-Kyoken assassinou o presidente das organizações de artes marciais unificadas, o senhor Soshiro Myura. O crime foi esta madrugada. O senhor Myura foi brutalmente morto, sofrendo retalhação por todo o corpo e teve sua cabeça decepada. A polícia agora se dirige a casa do assassino, a fim de encontrá-lo. Testemunhas dizem de que ele ensinava aos alunos técnicas de assassinato.”
O Sr. Ryaka logo se desespera com a notícia.
— O QUE HOUVE, MEU DEUS?
Continua