Um Dia de Fé - A História de Um Paladino

Tempo estimado de leitura: 41 minutos

    14
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Devoção

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yoo!

    Bem, comecei a escrever essa história pensando em fazer uma one-shot de, mais ou menos, 3k de palavras... poreeeeem, finalizou tendo 8k e.e

    Sou péssimo com proporção, como vocês podem ver... Então, decidi transformar ela em uma mini história com três capítulos apenas. Apesar de já ter escrito tudo, não irei postar tudo de uma vez, pois estou com preguiça de editar

    E para aqueles que acompanham Os Cinco Selos e está se perguntando onde está o capitulo novo: TAVA ESCREVENDO ISSO AQUI CARAI, PERA QUE JAJA COMEÇO A ESCREVER UM CAPÍTULO NOVO, SEUS BOBOS

    Boa leitura ^^

    Faltava pouco para anoitecer quando o paladino, montando em seu corcel negro, havia finalmente chegado no pântano da região de Gundeberg, a última trilha para chegar em destino: o templo de Onorin, que outrora era local de proteção da deusa Fauce. Agora, o templo era infestado por criaturas nefastas, e isto já fazem muitos anos. Muitos outros paladinos e até mesmo caçadores de recompensas adentraram naquele paço, mas ninguém jamais voltou. Portanto, a única coisa que o paladino sabia era que deveria esperar o pior de lá.

    Seu nome é Sephar, porém não é o verdadeiro, no qual ele havia abandonado alguns anos antes. Sephar é um paladino de quarenta e cinco ciclos, com a barba volumosa e cabelos que tocavam os ombros, ambos grisalhos. Trajava uma armadura alternada em chapas de aço e os anéis da cota de malha, com uma maça acoplada no cinto e um escudo no alforje do cavalo. Sua força era retirada da bondade e compaixão da deusa Fauce. Contudo, nem sempre fora assim.

    Quando jovem, vivia nas ruas, roubando, contrabandeando e se envolvendo em esquemas ilegais. Isto mudou quando, aos trinta e dois anos, recebeu tantas facadas em uma briga que, ao cair no chão e sangrar até ficar pálido, questionou sobre o que de útil e bom sua vida trouxe para si e para o mundo... se alguém se importaria com sua morte. Enquanto sua visão se escurecia e sentia sua vida esvaindo junto ao seu sangue, ele chegava a conclusão de que não haveria uma única vivalma que se importaria. Enganou-se, porém, pois aquele que seria seu futuro mentor o salvou, o Alto Clérigo Ethelsan.

    Ora, Sephar não acreditou ao acordar que não estava no inferno, mas sim em um templo de Fauce. Naquele dia, ao saber que Ethelsan havia salvado sua vida mesmo sem ter motivos, seu coração se encheu de luz.

    — Não fora sem motivo — dizia o velho Ethelsan, acariciando sua longa barba branca. — A compaixão de Fauce o salvou, isto significa que Ela viu algo em você. Pois, apesar de benevolente e gentil, Fauce não é tola. Seu destino agora está em Suas mãos. A fé, meu bom homem, abre algumas portas e fecham as quais lhe levarão para o mau caminho. Não só isto, como também te dá forças para lutar e viver. Portanto, uma pessoa sem fé está destinada a solidão e ao fracasso. Fauce, em sua deliberada bondade, abriu uma porta para você, meu caro homem... o que você escolherá? Luxúria, gula e avareza, para morrer sozinho na escuridão... Ou fé, bravura e honra para ser abraçado pela luz?

    Sephar, sem pensar muito, escolheu a luz. A partir dali, passou os anos seguidos em aprendizado para finalmente ser ungindo em paladino sob a benção de Fauce. Não só aprendera a respeito Dela, como também sobre os deuses Thilran e Phorimor. Claro, como qualquer outro, ele acreditava nos três deuses, mas escolheu seguir os passos de Fauce, a deusa que lhe abençoava com sua força e bondade. Graças a suas experiências de batalhas na vida passas, logo se tornou um paladino poderoso e de confiança, dessa forma recebendo a missão de purificar o templo amaldiçoado de Onorin. Caso conseguisse ser bem-sucedido, tornar-se-ia um Alto Paladino.

    Entretanto, agora, enquanto trafegava pelo fedorento pântano, refletia que aquela missão não era sobre ganhar mais renome como paladino, mas sim sobre sua redenção. Então, ele desceu de seu corcel e amarrou-o em uma árvore. Em seguida, ajoelhou-se no chão e pegou um colar gravado com a imagem de uma árvore cheia de frutos e pássaros em sua volta — o símbolo de Fauce.

    "Oh, grande deusa da Bondade e compaixão... a minha carne e meus pensamentos dedico aos Seus propósitos", pensava o paladino. "Há muito, em sua grandiosa bondade, a Senhora me salvou de uma vida regrada a pecados e da própria morte, trazendo-me luz e um propósito. Agora, chegou a hora de lhe recompensar a altura de seu generoso ato. Prometo-te purificar o templo de Onorin, outrora uma de suas belas casas, de todo o mal que lá habita. Até se isto significar pagar com minha vida... pois esta é minha redenção, Grande Deusa Fauce."

    Ao escutar barulhos de carroça e vozes, Sephar logo se levantou e levou sua mão a haste de sua maça. Para seu alívio, tratava-se de uma família de civis passando pelo pântano, e eles pararam para o saudar ao vê-lo.

    — Salve, nobre paladino — disse o homem. Ele soube que Sephar era um paladino por causa do colar que portava.

    — Salve. O que fazem por estas bandas? Não sabem que andar por aqui é perigoso?

    — Pela estrada principal também é, senhor — respondeu mulher. — O exército de Miriam por lá cavalga, indo para a guerra contra Tunor. Nós fugimos de lá para justamente escapar desta guerra, mas tememos que o exército nos capturasse.

    — Entendo.

    — E o que você veio fazer aqui, senhor paladino? — questionou a criança.

    — Quieto, Lunn — repreendeu o pai. — Não incomode o guerreiro sagrado.

    — Tudo bem — sorriu Sephar. — Estou em uma missão em nome da nobre deusa Fauce. Devo expurgar seu templo de vis demônios. Portanto, posso acompanhar vocês por um pedaço dessa viagem.

    A família aceitou de prontidão a companhia do paladino, ainda mais sabendo dos riscos que corriam de serem atacados por demônios na escuridão do pântano. Enquanto caminhavam, Sephar descobriu que o homem se chamava Nurik e a mulher Anala, e faziam bastante tempo em que estavam na estrada.

    — Senhor paladino — começou Lunn, o filho do casal. — Qual a diferença entre um clérigo e um paladino?

    — Ora, é uma dúvida bem comum. — Sephar sorriu. — Clérigos, desde muito jovens, estudam sobre os deuses nos quais somos devotos. Não só estudam, como discutem toda a ciência que isto envolve. Por exemplo... Como o poder de um deus pode influenciar nas árvores, flores, humanos, animais... Por conta disso, os clérigos são especialistas em magias. E, dada sua sabedoria, eles se tornam Altos Clérigos, podendo gerir templos e participar de cortes importantes. Nos, paladinos, também estudamos sobre nossos deuses, porém de uma forma menos aprofundada. Somos treinados como guerreiros, desde a arte da guerra ao combate, aprendendo mesclar nossa magia para combater demônios. Nós fazemos a frente na guerra contra os inimigos de nossos deuses. Quando nos tornamos um Alto Paladino, podemos comandar exércitos e participar de cortes. É claro, um clérigo pode se aprofundar na arte do combate, assim como um paladino na ciência da magia, mas isto é não é tão comum.

    — Entendi — sorriu Lunn, e prosseguiu com outra indagação: — Se não tivermos fé, vamos para o inferno?

    — Claro que não — respondeu de prontidão o paladino. — Fé não tem nada a ver com o lugar para qual você irá depois da morte. Fé é simplesmente o quanto você acredita em um deus e em suas ações e criações. — Ele deu de ombros. — Muitos de meu ofício dirão ao contrário, mas não concordo. Tenho fé que a deusa Fauce é bondosa e justa... E que bondade teria de enviar uma boa pessoa direto para o submundo só porque não tem fé? Se realmente é justa, e Ela é, então entende que, em um mundo corrompido como este, humanos sem fé tem razão de questionar. Ai que Ela deveria acolhê-los mesmo. Se até mesmo alguém como eu possuiu chances de redenção, imagine uma boa pessoa de coração!

    A conversa continuou com afinco até ao anoitecer. Sephar, desde que a lua começou a iluminar seu caminho, notou diversas movimentações por entre a mata, e sabia que se tratavam de demônios. Também sabia que eles não atacariam devido a sua presença, pelo menos não tão longe do templo. Por conta disso, continuou a caminhada junto com a família sem fazer pausa. Por sorte, eles foram atenciosos e aceitaram esta dica.

    Horas depois, o paladino parou abruptamente. Ele postou seu corcel na frente dos cavalos da família e impediu que continuassem.

    — Escutem... daqui para frente, a região está tomada por demônios nefastos — ele explicou. — Agora, vocês terão que subir para estrada principal para continuar seu trajeto ou voltar.

    — E você, nobre paladino? — perguntou Anala.

    — Irei continuar. Meu destino a frente se encontra.

    Após desejarem boa sorte ao paladino, a família seguiu com a viagem em direção a estrada principal. Sephar, no entanto, virou o corcel e manteve o trajeto.

    Conforme avançava, o pântano se tornava cada vez mais sombrio. As árvores detinham cada vez menos folhas, até se tornarem apenas galhos. O mau cheiro piorava, até se tornar claramente o odor pútrido de um cadáver. A água do rio, antes apenas lamacenta, agora esteve verde, coberto por uma gosma estranha. Sentia mais olhos sobre nele.

    Quando deixou a sombria floresta, deu de cara com a alta montanha que o templo encimava. Ele conseguia enxergá-lo, lá no topo sob a luz da lua. Também conseguiu enxergar demônios remexendo e esgueirando-se por entre as pedras. Sentia a maldade pulsando macabramente do lugar. "É aqui... finalmente", pensou.

    Sephar desmontou do cavalo e se equipou com seu escudo e maça. Depois, acariciou o focinho do animal.

    — Trói... você sabe para onde fugir caso eu não volte até meio-dia.

    Respirando fundo, virou-se em direção a trilha tortuosa que o levava para o templo de Onorin e começou a utilizá-la. As escadas erem desgastas e escorregadias. Haviam momentos onde a trilha fora destruída por deslizes de rochas, e Sephar tinha que tomar desvios ou saltar. Em alguns pontos, os degraus se tornavam muitos pequenos e íngremes, fazendo-o utilizar as mãos e quase cair.

    Depois de muito sacrifico nos lances, finalmente havia chegado em uma espécie de hospedagem, onde ficavam aqueles que eram visitantes para repousar ou para uma breve pausa. O local estava em ruínas e, não para a surpresa de Sephar, estava servindo de moradia para demônios, nos quais agora saíam e voltavam-se contra o humano.

    — Nobre deusa Fauce — murmurava o paladino enquanto os demônios o estudavam —, dê-me sua graça para que eu possa expurgar estas criaturas vis de seu paço.

    Em resposta, sua maça ficou envolvida em uma luz branca, que oscilava como chamas em uma tocha. Sephar notou de imediato que luz estava enfraquecida, dando a perceber que nem mesmo sua deusa detinha tanto poder mais naquela região. "Mas será o suficiente", pensou.

    O primeiro a avançar foi o cão infernal. Ele rosnava ferozmente enquanto corria, demonstrando seus enormes e afiados dentes, e saltou em direção ao humano. Sephar defendeu com seu escudo, arremessando o cão para longe. Em seguida, dois demônios esguios se aproximaram em uma velocidade surpreendente, cercando-o. Ele desviou dos golpes saltando e gingando com seu corpo, e na primeira brecha atacou mortalmente: com a maça, acertou uma das criaturas vis na nuca, fazendo-o desabar no chão já morto. O que restou hesitou, e Sephar não o finalizou porque percebeu a aproximação do cão em sua retaguarda.

    Ele aguardou a criatura vinda das profundezas do inferno se aproximar muito, então virou subitamente golpeando com a cabeça de ferro maciço da maça, destroçando os ossos e queimando a criatura. Como isto não fora o suficiente para matá-la, Sephar se aproximou e deu consecutivos golpes com sua arma até a besta enfim parar de tremer.

    — Volte para seu lugar, criatura amaldiçoada.

    O demônio esguio retomou a coragem e saltou para cima do humano, agarrando-se em suas costas. Quando Sephar sentiu as garras começarem a rasgar seu pescoço, imediatamente acertou com o escudo a boca de demônio, estilhaçando seus dentes e derrubando-o. Para ter certeza que a criatura não se levantaria mais, o paladino estourou seu joelho com a maça. O demônio gritou de dor, mas fora silenciado com o escudo enfiado na boca.

    — Pereça.

    Sephar encostou sua maça no peito do demônio e a luz branca começou a queimar sua carne como se fosse fogo. A arma varou o corpo até tocar o solo, e só assim o humano se livrou da criatura.

    Ruídos, farfalhar, passos... Mais demônios se aproximavam.

    O paladino se recuperou e seguiu a passos rápidos pelo seu trajeto original, ignorando completamente o local em ruínas. De soslaio, conseguia ver cães demônios o cercando em seu encalço, e a movimentação na direção em que seguia.

    Ele tropeçou em pedra soltas e quase caiu porque a estrada estava polida demais em algumas regiões, mas ainda conseguiu se manter firme. O caminho tortuoso agora o levara para dentro de uma espécie de ravina, onde se via entre altas paredes naturais da montanha. Praguejou quando os demônios bloquearam o lugar pelo qual entrou e estavam começando a fazer o mesmo no local onde iria sair.

    Contudo, diferente do que esperava, o primeiro ataque veio de cima.

    Do topo da ravina, um demônio saltou e recaiu sobre o humano, derrubando-o. Seguidamente, as criaturas vis logo correram para tentar pegar seu pedaço de carne, amotando-se e brigando entre si.

    Subitamente, uma luz branca pulsou, e os demônios se afastaram os berros, pois este cintilar queimava suas carnes mais do que o próprio fogo. Então, ergueu-se Sephar, e pôs sua maça a trabalhar. A pesada arma oscilou de um lado para o outro, destroçando aqueles que tinham azar de estar no caminho. O barulho a cada impacto de ossos se partindo, carne sendo esmagada e o sangue esguichado era grotesco e alto. E assim o confronto seguiu; com o paladino massacrando as criaturas com sua maça e defende-se com o escudo, enquanto os demônios tentavam o matar, mas caiam um por um. Por fim, o humano estava de pé, ofegante e com o corpo banhando de sangue (sendo a maioria não dele), rodeado por criaturas sombrias estraçalhadas.

    Hesitou por um instante, olhando ao redor e recuperando o fôlego. No momento em que se certificou que não havia mais das sombrias criaturas, prosseguiu a passos lentos e mancos, sentindo a dor tomar conta de seu corpo conforme a adrenalina iria abaixando. Por sorte, estava quase chegando no templo, e isto se confirmava ainda mais quando via ossadas de outros fieis ao chão. Isto o atormentou mais do que pensava, mas não fora o suficiente para fazê-lo desistir ou temer sua missão.

    Chegando na última parte de seu caminho, uma escadaria de muitos degraus, um demônio alto e gordo bloqueava a subida. Ele devia ter quase dois metros; de pele vermelha, um amontoado de pelancas e caroços pútridos, e um dos dois chifres era serrado. Ao ver o estado do humano, ele riu de forma macabra.

    — Ah, olha só... mais uma presa vindo até mim em um estado deplorável. Isto facilita muito as coisas. — Ele riu novamente. — Aquiete-se, humano. Seu fim é agora.

    — Quem decidiu isso? — questionou Sephar.

    — Isso... o quê?

    — Que é o meu fim. Fora você? Se sim, sua palavra, para mim, é tão vazia quanto o vento. Minha deusa é a única que decide isso. — O paladino ergueu sua maça apontada para o céu. — Oh, minha benevolente Fauce, se ainda me abençoa nesta jornada, presenteie-me com um sinal.

    — Sua deusa não tem presença aqui, humano.

    Sephar abaixou a maça com fúria, apontando diretamente para o demônio.

    Um cintilar no céu.

    Ora, como um raio, um desolador feixe de luz branca irrompeu por entre as nuvens, atingindo diretamente a criatura grotesca. O feixe continuou a descer do céu até o momento que o corpo do demônio se reduziu pó.

    Como se nada tivesse acontecido, o paladino seguiu para a última parte de seu caminho, subindo as escadas sem muita pressa.


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